A Elfa Escarlate escrita por Koda Kill


Capítulo 28
A pista de dança pode decepcionar




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Eu não iria permitir que Will estragasse a nossa diversão. Eu merecia uma folga.  Arrastei Yuri para o meu da pista de dança. Ele achou engraçado. Quando estávamos camuflados no meio da multidão e dançando ele me olhou curioso.

— Você sempre fala assim com ele? - Direto ao ponto.

— Sempre, ele me irrita demais.

— Não é a toa que você está na detenção. - Mostrei a língua pra ele brincando e rindo. - Se não fosse tão fofinha já teria sido expulsa.

— Eu não sou fofa! - Ralhei irritada. - Sou perigosa! - Não queria ser mais um troféu fofinho e sim uma guerreira de alta periculosidade. Comentários como aquele me tiravam do sério. Pelo menos ele estava só brincando.

 Viramos as bebidas enquanto Gil e Ava se aproximavam. A música ali era agradável e animada, não era tão ensurdecedora como na boate humana. Meus ouvidos élficos agradecem. Parecia quase irreal aquela cena. Eu me divertindo em meio aos meus amigos. Era tão estranho que não podia ser real. A qualquer hora Gil e Yuri iriam se afastar com certeza. Era estranho que eu quisesse acreditar que não? Era tão bom rir com eles deixar os problemas de lado. Muito melhor que ficar bebendo sozinha e pensando com meus botões. Não que eu fosse admitir isso, jamais!

Tive que me recompor quando avistei Cadman entrando com a vagaba Adams. Era difícil não sentir meu orgulho ferido. O que ela tinha que eu não tinha? Não que eu sentisse falta de Cadman. Só me sentia… inferior. Como se eu não valesse a pena o suficiente para ser assumida. E ver ele fazendo por ela tudo o que eu tanto desejei e implorei que ele fizesse por mim era um golpe e tanto na minha autoestima.

Ela era insuportável, detestável, odiada… e mesmo assim ele a assumia na frente de todos. Será que ele queria que eu fosse mais insensível como ela? Bem, não importa de qualquer maneira. Ava percebeu meu olhar e se esforçou para me distrair. Isso me arrancou um sorriso. Ela me virou para que eu ficasse de costas para o casal de pombinhos que se pegava bregamente. Pena que dessa forma eu fiquei de cara com Will e Vairë.

É impressionante como até mesmo a distância e sem fazer nada aquele cara conseguia fazer meu sangue ferver de ódio. E aquela professorinha se inclinando em cima dele e com risadinhas não estava ajudando em nada. Biscate. Me esforcei pra esvaziar minha mente. 

Amanhã lidaria com todo o resto. Essa noite eu só quero dançar e sorrir com meus amigos. Gildar começou a fazer macacadas e Ava e eu caímos na gargalhada. Ele puxou ela pra dançar e começou a fazê-la rodar sem parar. Eu sentia minha barriga doer de tanto rir. Até Yuri timidamente tentava nos fazer sorrir daquele jeitão todo travado dele. Era muito engraçado. Nem me lembro quanto tempo passamos na pista de dança de tão divertido que estava. Esses dois eram bem divertidos quando queriam. 

— Vou procurar pela Íris, ela me prometeu que viria hoje. - Disse Ava olhando ao redor.

— Talvez tenha se atrasado para fazer uma entrada triunfal. - Disse revirando os olhos 

— Com certeza! Essa é uma ótima ideia. - Disse sorrindo enquanto se perdia na multidão. A pista de dança ficava cada vez mais apinhada conforme a noite ia passando. Eu nem conseguia mais ver Will, nem mesmo se eu quisesse. Os movimentos de dança ficavam cada vez mais limitados. Então não foi surpresa quando eu esbarrei em alguém no meio daquela confusão.

— Opa! Des…

— Que merda! - Ralhou a Vagaba Adams tão alto que as pessoas ao redor olharam curiosas. - Tinha que ser você, né? Tudo isso é despeito porque o Cadman está comigo?

— Eu nem vi que era você, não foi de propósito. - Respondi ficando irritada.

— Ah ta, até parece! - Disse jogando os cabelos e quase me atingindo com eles. - Ele me contou tudo sobre o lance de vocês e como você não supera ele.

— Que? Isso não é verdade - Até os meninos pararam de dançar lentamente tentando entender o que estava acontecendo.

— Não adianta fingir sua fracassada. Você acha que eu não saco qual é a sua? Sei que você não está acostumada com atenção já que ninguém se interessa por você. Mas não adianta vir atrás do meu homem, supera!

— Como se todo mundo não odiasse você de tão insuportável que você é! - Aquilo estava passando dos limites. Eu nem fiz nada, não tinha nem visto que ela estava por perto. - Eu não estou nem aí pro Cadman!

— Sei! - Respondeu irônica. - É melhor não bancar a louca comigo como você fez com ele. - Senti meu sangue ferver. Yuri se aproximou como quem fosse interferir. Não queria causar problemas para ele, ainda mais com professores ali. Ele não podia arriscar como eu que não tinha nada a perder. 

— Cala a boca Vagaba-Adams, você não sabe do que está falando! - Sua mão veio mais rápido do que eu pude antecipar. Senti minha bochecha arder com o tapa que ela me deu. Escutei barulhos de surpresa ao meu redor e olhares curiosos.

— Porque você não rasteja de volta pro buraco de onde você saiu? Sua ninguém. Acha que alguém sentiria sua falta? - Olhei timidamente ao redor, todos me encaravam surpresos. Ninguém mexia um músculo. Ninguém disse nada. - Acha que alguém sente falta da sua mãe? Ela era uma ninguém que nem você. - Falou bufando e resmungando “comandante” sarcasticamente. - Se coloque no seu lugar sua merdinha e pare de incomodar os outros. Ou vou ser obrigada a te lembrar dele. 

Eu podia sentir os olhares ao meu redor, uma rodinha havia se formado. Senti meus olhos se encherem de água. Com a visão turva tentava segurar as lágrimas. Só não chora Luna, só não chora, eu dizia pra mim mesma. Não que estivesse adiantando muita coisa. Cada segundo de silêncio e de olhares apáticos era como tortura.

— Melhor ser uma ninguém do que alguém desprezível. - Gritei. Alais pegou um copo de vinho de alguém próximo que eu já não conseguia distinguir quem e derramou na minha cabeça. Uma grande mancha vermelha começou a se espalhar pelo meu vestido.

— Se coloque no seu lugar, vagabunda. - Não conseguia mais responder. Parecia que eu estava pregada no chão. Não conseguia levantar a vista e encarar todos aqueles olhares. Alais bufou. - Você nunca vai ser ninguém na vida. Sai do meu caminho.

Ela passou por mim batendo no meu ombro. Senti uma mão segurar meu braço.

— Luna… - Dizia Gil com uma voz de pura pena que parecia me torturar mais ainda. Me sentia tão patética e humilhada. Ainda mais chorando ali na frente de todas aquelas pessoas. Todas elas assistindo o quão insignificante eu era. Todas elas concordando silenciosamente. Puxei a minha mão soltando-a e finalmente conseguindo me mexer sai rapidamente da multidão que abria caminho em direção à saída. 

Olhando uma última vez para trás pude ver que a festa continuava como se nada tivesse acontecido. Pessoas dançavam totalmente alheias e bebiam no bar. Realmente não importava o que acontecesse comigo eu não era nada. Passei pelos portões da C.A.V.E ignorando os sentinelas que guardam a festa em direção ao jardim onde os soluços irrompiam freneticamente de dentro de mim. O choro era incontrolável e eu me sentia o ser mais patético de toda a face da terra.

— Você está bem? - Perguntou Will se aproximando. Sempre ele.

— Será que você não pode me deixar em paz pra variar?! - Gritei irritada. Não precisava que ele assistisse a minha humilhação de camarote. Será que eu era apenas um assunto interessante para a corte fofocar quando ele voltasse ao castelo? 

— Eu só vim ajudar. - Tentou explicar ele calmamente.

— Eu não quero a sua ajuda! - Gritei perdendo o controle. - Porque você tem sempre que se intrometer?! - Ele me encarou magoado enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Eu só estava cansada de tudo isso. Agora que o meu limite havia sido ultrapassado eu não conseguia voltar.

— Entendi, peço desculpas, senhorita. - Falou ele formal. Ele ia saindo quando pareceu se lembrar de algo e parecendo estar com raiva, completou. - Decidi qual será o meu pedido, da aposta.

— O que?! - Gritei irritada.

— Esqueça o que aconteceu naquele armário. Eu estava bêbado, foi só um erro tolo. - Eu estava completamente transtornada àquela altura. Parecia que eu ia vomitar, meu estômago retorcia de todas as formas possíveis. Eu dei um empurrão nele e sai andando apressada de volta ao instituto.

É claro que eu havia sido apenas um jogo pra ele, uma distração em comparação com as professoras maduras e lindas do instituto. Me sentia ridícula de sequer cogitar que pudesse ser algo diferente. Até parece que alguém naquele lugar me enxergava, que dirá um cara tão importante e poderoso como Will. Nem Cadman me quis, seria tolice pensar que o mago real poderia se interessar por mim. Só Hans havia sido diferente, ainda que platônico, e ele estava morto. É claro que eu não passava de entretenimento para aquelas pessoas.

Como pude ser tão tola de pensar que poderia ser diferente. Eu sempre havia sido rejeitada. Até mesmo pela minha própria mãe que nunca se interessou em trocar mais de 3 palavras comigo. Porque com eles seria diferente? É claro que eu não tinha nada de interessante que pudesse fazer alguém olhar pra mim além de para satisfazer seus desejos fúteis. Entrei correndo e aos prantos no quarto e peguei o celular. Eu precisava sair dali, ir pra longe. Depois de ligar algumas vezes Yuri me atendeu.

— Luna? - Respondeu ele surpreso.

— Você pode me buscar agora? - Eu não conseguia me controlar, não conseguia parar de chorar.

— O que aconteceu? Estou no trabalho meu amor.

— Por favor Yuri, por favor. - Implorei. Alguns segundos de silêncio se passaram enquanto eu apenas chorava.

— Vá para a estrada sim? - Apenas concordei e desliguei o celular jogando-o no esconderijo. Peguei minha mochila, troquei de roupa e depois de prender a adaga na minha coxa sai às pressas. Não queria correr o risco de esbarrar com Ava, se é que ela viria atrás de mim. Devia estar distraída com suas amigas e nem notaria.

Me dirigi aos fundos do instituo. Joguei a mochila por cima do muro e comecei a correr como se tivesse treinando. Passei pela guarita cumprimentando um dos professores com a cabeça baixa e tentando parecer despreocupada. Dei a volta e procurei a mochila por algum tempo antes de sair em disparada pela floresta enquanto lágrimas quentes insistiam em escorrer pelo meu rosto.

 


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Notas finais do capítulo

Mais um capitulo que ninguém lê kkkkkk até o próximo



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