Erick parecia estar com vergonha depois de toda aquela ceninha sensual. Ele tinha um sorrisinho no rosto, era um spadachin afinal, e não colocou a camisa de volta. Que bosta. A elfa à minha direita girou a garrafa que caiu em uma maga. 

— Quem nessa roda você beijaria? – Eu acho que a maga se chamava Morgana ou algo assim. Ela sorriu e jogou o cabelo.

— Com certeza o Yngvarr. – O espadachim ao lado de Erick sorriu.

— Me dá um beijo então. – Disse ele. Os dois se inclinaram para o centro da roda e deram um beijo.

Bebi mais, estava me sentindo como um peixe fora d'água. Era isso que rolava nas festas do instituto? Parecia bobo e meio vulgar. Não que eu estivesse em posição de julgar visto que estava ali de bom grado só para esquecer dos meus próprios problemas. Talvez todos ali estivessem fazendo o mesmo. Pelo menos agora era a minha vez de fazer as perguntas. Cruzei os dedos enquanto a garrafa girou e soltei um risinho reprimido quando caiu em Íris. Hora da vingança.

— Íris, qual foi a coisa mais nojenta que você já fez? – Sai dessa sua vaca. Quero ver você sair como a gostosona agora. Olhei para ela triunfante. Ela me encarava com um sorriso falso que não escondia sua raiva muito bem. Vamos ver quem vai ser humilhada aqui.

— Arrisco. – É claro que a princesa não queria ser vista como nojenta, mas não iria escapar tão fácil. Ela se afastou para pegar a bebida e olhei ao redor maldosa. Tinha que pensar em algo que ela odiaria. Não podia ser algo muito extremo ou ninguém concordaria.

— Que tal se ela tiver que imitar um peixe se debatendo fora d’água? – Liz soltou uma gargalhada. Parece que mesmo em seu grupo ela tinha inimigos.

— Eu apoio. – Disse ela. Erick também concordou. Provavelmente para ficar bem na fita da Liz. Ava me apoiou também. Não foi difícil conseguir que mais uma pessoa concordasse. 

— E aí, qual meu desafio? – Perguntou Íris virando um copo em seguida.

— Você vai ter que fingir que é uma peixe se debatendo fora d’água

— Tá falando sério? Que desafio mais sem graça. – Disse ela irritada

— A maioria decidiu – Falei levantando os braços sem esconder minha satisfação. Se humilhe na minha frente, otária. Ela captou o recado, posso dizer com certeza pelo modo que me encarava. – Ou você prefere a cauda? Acho que até peguei leve.

A contra gosto ela se estirou no chão e começou sua encenação patética. Não importava como fizesse, não tinha como ela parecer legal ou sexy fazendo isso. Todos começaram a rir muito. Não é tão legal ser alvo das risadas, não é Íris? Ela demorou apenas alguns segundos e levantou com o rosto vermelho de raiva. De repente aquela festa ficou muito mais agradável. Claro que minha felicidade não durou muito tempo. Quando chegou a vez do Yngvarr a garrafa caiu em mim novamente. Ele parou para pensar.

— De quem você gosta Luna? – Cerrei os dentes em um sorriso não muito convincente. Não podia arriscar. Ironicamente.

— Arrisco. – Os olhos de Íris brilharam. Levantei pra pegar a bebida. Eu definitivamente estava bêbada. Um copo a mais não faria mal. Só tinha que aguentar mais um pouco. Aquele jogo não levaria a noite toda certo? – Qual o desafio?

— Você vai ter que ir até o refeitório... – Não parecia tão ruim. – Só de roupa íntima. – Íris parecia radiante. Meu queixo caiu. Eu teria que ficar de roupa íntima na frente de todos? A morte de repente pareceu mais atrativa. Tentei passar minhas opções mentalmente. Poderia ajudar se eu tivesse alguma opção. Engoli em seco. Ava me encarou gesticulando desculpa. Ela foi minoria. – Claro que alguns de nós vão te seguir à distância para ter certeza de que o desafio foi cumprido.

— Eu vou – se voluntariou Yngvarr levantando.

— Eu também – Disse Liz sorrindo conspiratória. Todos me encararam esperando que eu fizesse algo. Eu estava paralisada de vergonha. 

— Desistiu? – Perguntou Íris me pressionando. Bom, não tinha volta agora.

— Posso virar mais uma dose antes? – Perguntei em desespero. Eu torcia que não lembrasse nada disso amanhã. Pelo menos já era bem tarde e a chance de ter alguém nos corredores era ínfima. Eles começaram um coro de “vira, vira, vira” Até que eu terminasse de virar mais um copo. Vamos logo com isso. Agradeci mentalmente a Ava por ter me obrigado a usar um sutiã legal e deixei o vestido cair no chão. O que é claro gerou mais gritinhos de empolgação. Antes que eu perdesse a coragem abri a porta e sai correndo pelo corredor.

Para minha sorte parecia estar deserto. O desafio não falava nada sobre ir devagar então fui o mais rápido que eu consegui. Não era muito distante então aquela tortura não duraria muito tempo. Olhei para trás e vi Liz e Lucas tentando me acompanhar discretamente. Teria sido mais efetivo se eles também não estivessem bêbados.

Já estava dobrando a parede do refeitório quando conferi mais uma vez se eles estavam acompanhando visto que seriam as testemunhas. Eles surgiram logo atrás, mas do nada os vi com expressões assustadas e Liz empurrou Yngvarr de volta pelo caminho que vieram. Olhei para frente sem entender e quase esbarrei em um cara debruçado na maquininha dos lanches. Não dava para ver seu rosto, mas dava para ver que estava alcoolizado pelo jeito que ele se apoiava e cambaleava.

Ele não me notou de cara. Obrigado por ter aprendido a me mover sem fazer barulho eu mesma. No segundo que eu o reconheci xinguei mentalmente Íris de todos os palavrões conhecidos. Aquilo não podia estar acontecendo.

Ele parecia estar tomando um suco. Comecei a andar para trás bem devagar, sem fazer barulho e tentando não chamar sua atenção já que ele não me notou. Por favor, cara, não olhe pro lado, por favor... Quando seus olhos amarelos se fixaram em mim, Will cuspiu fora todo o suco da sua boca em jato quase me molhando no processo. 

— Que porra... – Disse virando de lado novamente e limpando a boca. Ele olhou para a embalagem do suco atentamente. – Não é possível, estou delirando agora? Eu juro que nunca mais vou beber – Ele parecia estar falando sozinho. É colega eu também já fiz essa mesma promessa várias vezes. Boa sorte com isso. Eu acho que se o visse de roupa íntima pelos corredores do instituto minha primeira conclusão seria a loucura também. Fiquei imóvel e sem falar nada. Talvez eu conseguisse me safar dessa me fingindo de miragem. – Enlouqueci de vez?

Queria gritar que sim. Só não o fiz porque tinha medo de que minha voz tornasse tudo vergonhosamente real. Ele virou para mim e me encarou de cima a baixo bem devagar. Senti meu rosto esquentar, não tinha como esconder nada. Eu queria muito ter sua habilidade de teletransporte e sumir como ele naquele momento.

Ele deu um passo na minha direção e esticou a mão como se quisesse me tocar para ter certeza. Prendi a respiração nervosa sem conseguir me mexer. Quando chegou a centímetros pareceu desistir com a mão suspensa no ar. Balançou a cabeça e desapareceu. Respirei aliviada e comecei a andar bem rápido de volta. Encontrei Liz e Yngvarr imprensados em um vão.

— Vamos logo! – Sussurrei quando passei por eles e comecei a correr. Entrei no quarto batendo a porta ao passar e me encostei na parede esbaforida. 

— E então? – Perguntou Íris. Estávamos todos tentando recuperar o fôlego.

— Alerta vermelho um professor viu a Luna! É melhor a gente encerrar a festa antes que eles venham atrás de nós!

Isso lançou todos em um caos. Corri para pegar meu vestido enquanto Ava vestia sua blusa. Tinha caras pulando da varanda e garotas juntando seus pertences por todo lado. Saímos dali apressadamente e corremos de volta para o quarto. Não sei bem porquê, talvez por toda a adrenalina, mas quando chegamos em segurança começamos a gargalhar sem parar. Acho que pode ter sido de desespero.

— Qual foi o professor? – Perguntou Ava enquanto se recuperava.

— Will, mas ele estava bêbado. Achou que estava alucinando. – Isso a fez rir ainda mais.

— Nossa você vai acabar matando ele do coração. – Disse sem fôlego. Não tinha nada que eu pudesse fazer além de rir e torcer pra que ele esqueça de tudo aquilo. Deitei na cama e apaguei.