A Elfa Escarlate escrita por Koda Kill


Capítulo 16
Haja sal pra tão pouca cozinha


Notas iniciais do capítulo

Finalmente o reencontro da elfa com o mafioso... No que será que isso vai dar. Quem acha que eles vão ser descobertos?



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Me mexi desconfortável enquanto encarava a entrada da boate. Será que eu estava parecendo humana o suficiente? Tentei sufocar o medo que gelou meu sangue. Eu estava literalmente me entregando de bandeja para os humanos. É oficial, eu enlouqueci totalmente. Entrar na fila com todos aqueles humanos e falar com o segurança era impensável. Preferia tentar me esgueirar pela porta dos fundo, por onde eu fugi da última vez. O humano que me deu carona era um senhorzinho e veio bem devagar. O lado bom é que isso me ajudou a não enjoar. O lado ruim foi que demorou bem mais que o necessário. Só não tanto quanto as dez horas que levaria à pé.

Sai de perto da multidão o mais rápido possível e tentei conter um arrepio. Estar ali vulnerável no meio de tantos humanos era enervante. Nos sempre nos mantivemos escondidos, desde a idade média quando nosso povo começou a ser perseguido. Claro que eles focaram nos magos porque é uma das classes mais raras e poderosas e que causavam mais devastação no campo de batalha, mas não obstante várias espécies foram caçadas e outras até mesmo entraram em extinção. Ainda era possível, até onde eu sabia, encontrar partes dos nossos corpos em mercados negros sendo vendidos como curas milagrosas ou amuletos da sorte.

Lembro de passar semanas tendo pesadelos com eles arrancando minhas orelhas pontudas para fazer colares e chaveiros. Apressei o passo. Eu só queria encontra-lo e sair dali o mais rápido possível. As palmas das minhas mãos estavam suando como loucas. Nossa que frio na barriga, será que eu estava passando mal? Parecia que eu ia vomitar. Dobrei no beco escuro atrás da boate e fui me aproximando da porta lateral para tentar entrar sem que ninguém notasse. Mas pelos ruídos parecia que alguém já tinha tido essa mesma ideia.

— ... falando com os policiais e traindo a família?! Não esperava isso de você Mikail – Aquela voz... Continuei andando na direção da porta, tentando me esconder pelas sombras.

— Eu não disse nada eu juro! – Disse outra voz desesperada. Comecei a notar uma pessoa de joelhos e outras de pé próximo a ela. Meu pé chutou uma garrafa vazia e soltei uns 30 xingamentos na minha mente. Parei congelada. Que merda! 

— Quem está ai?! – Ordenou a primeira voz irada. – Apareça ou eu vou começar a atirar. – Será se ele iria disparar flechas na minha direção? Mas que droga de garrafa. Porque os humanos tem que ser tão porcos e deixar tudo jogado pelo chão? Sinceramente. Escutei um barulho esquisito metálico, não conseguia identificar do que se tratava. Alguns passos vacilantes vieram lentamente em minha direção. Merda, merda, merda. Eu tinha que fazer algo.

— Eu só quero entrar na boate pela porta lateral, não quero confusão. – Falei saindo das sombras e me aproximando das figuras nas sombras.  Aquele era...

— Luna? –Disse Yuri surpreso. Ele segurava algo prata que reluzia na luz fraca do beco. O homem de joelhos choramingava e ao lado de Yuri os rapazes bêbados do outro dia pareciam bem sóbrios dessa vez e com rostos sombrios. Ele entregou o objeto prata para o escravo de Ava e murmurou algum em seu ouvido. Se eu fosse humana, jamais teria escutado, mas é claro que com minhas orelhas de elfo eu conseguia. – Levem ele para a sala preta. 3 dedos. Cuidem disso. – Não tinha dado tempo de me arrumar, não tive tempo de nada e agora ele estava vindo na minha direção com seu olhar intenso. Os garotos começaram a levar o homem que chorava embora.

— Yuri... – Comecei, mas na verdade eu nem sabia o que eu ia dizer. Ele estava tão perto agora e eu parecia grudada no chão de nervosismo. 

Quem era aquele cara chorando? O que eu interrompi? Será que ia me achar feia já que não estava arrumada como da última vez? Não precisei me preocupar com isso por muito tempo. Ele veio determinado na minha direção me agarrou e me deu um beijo que roubou todo o meu ar. Senti minhas pernas ficarem fracas e tive que lembrar de como ficar em pé. Eu só conseguia pensar na sensação dos seus lábios nos meus, suas mãos grandes e fortes segurando meu rosto e no seu corpo perigosamente colado no meu.

Os lamentos do cara ajoelhado sumiram, nada mais existia naquele momento. Nenhum outro problema estava a vista. Tudo que importava era estar ali. Ele se afastou a contra gosto enquanto eu tentava buscar um pouco de ar e enfiou seu rosto no meu pescoço dando beijos na minha pele. Minha mente parecia tomada por uma névoa, não conseguia pensar direito. 

— Senti sua falta. – Sussurrou ele no meu ouvido fazendo minha pele se arrepiar e meus sentidos se aguçarem novamente. Tentei me afastar, mas ele me segurou no lugar. – Pensei que nunca mais iria te ver. – Ele me encarou com seus olhos tristes que pareciam os olhos de um filhote de lobo pidão. Como eu poderia resistir aquele homem? Nem pude acreditar quando eu mesma, por vontade própria, busquei seus lábios novamente para mais um beijo intenso. Suas mãos passearam pela minha cintura e esbarraram sem querer na minha adaga. – O que é isso? – Senti meu rosto fazer uma careta, eu queria mais.

— É só minha adaga. – Suas sobrancelhas subiram e ele soltou uma gargalhada. Não entendi a graça e só fiquei observando o quanto ele ficava lindo quando estava sorrindo. Era tão diferente de quando ele estava sério e parecia um cara perigoso. Na verdade ele ERA perigoso e provavelmente seria minha ruína. - Devo me preocupar? - Perguntou ele se afastando um pouco.

— Não. - Respondi enquanto beijava seu pescoço, Estava com tanta saudade do seu cheiro.

— Vamos sair daqui – Que droga eu iria para o inferno com aquele cara sem piscar duas vezes. Apenas assenti.

Meu coração derreteu quando ele sorriu novamente, parecia que podia iluminar todo o beco com seu sorriso. Ele pegou minha mão e me arrastou para a sua moto que estava bem próximo da saída da boate. Eu não estava ansiosa por essa parte, mas de certa forma eu estava aliviada por não ter que entrar naquele local fedorento novamente. Yuri me entregou aquele elmo esquisito novamente e eu subi em sua moto.

— Eu tenho um lugar aqui na cidade que podemos ficar sem ser incomodados. – Disse ligando a moto. Eu tinha q admitir, o barulho que aquela coisa fazia era até que bem legal. Ele olhou para trás por sobre o ombro e agarrou minhas mão, colocando-as na sua barriga definida. Ele devia se exercitar bastante. – Segure firme. - Com o rosto vermelho aproveitei a desculpa para poder passar as mãos em seu corpo sarado.

Eu mal tive tempo de pensar antes que ele acelerasse e saímos em disparada pelas ruas da cidade. Meu coração parecia que ia sair da boca com a velocidade e a proximidade dos carros. Fechei os olhos e escondi o rosto em suas costas. Como eu podia confiar nessa pessoa que eu mal conhecia? Será que eu voltaria viva hoje? Senti sua mão na minha perna. Era quase como se ele tivesse lido minha mente e estivesse me tranquilizando. Seu toque fazia minha pele queimar e meu coração acelerar loucamente. Apertei-o um pouco mais forte. Não abri os olhos até sentir que estávamos diminuindo a velocidade. Seu cheiro era tão bom e suave. De certa forma não queria me afastar, mesmo que significasse ficar em cima daquela gerigonça.

Yuri parou a moto e esperou que eu descesse. Passei alguns momento lutando para tentar tirar aquela coisa da minha cabeça sem sucesso. Ele veio até mim e delicadamente o retirou. Dava para ver que ele era alguém poderoso, ele tinha essa energia. Mesmo assim era sempre tão gentil e compreensivo comigo. Isso era mesmo desconcertante. Senti meu rosto virar um pimentão quando ele segurou minha mão para me guiar. Meu coração parecia que ia sair pela boca. Olhei ao redor evitando seu olhar. Parecia uma espécie de restaurante ou cantina. Quando entramos um barulho alto e estridente soou, machucando um pouco meus ouvidos sensíveis.

Ele apenas entrou com confiança sem falar nada. Ninguém o abordou. Seguimos andando para longe das mesas e entramos por uma porta. Um cheiro maravilhoso invadiu meus sentidos. Meu estomago quase roncou de fome. Olhei encantada ao redor, nunca tinha visto uma cozinha humana de perto. Era tão branca e cinza, dezenas de pessoas corriam de um lado para o outro envolvidas em fumaça e vapor. Algumas gritavam com pressa e todos pareciam 100% concentrados no que faziam, como se suas vidas dependessem disso. Era como se fossemos praticamente invisíveis para eles.

Mas também não paramos naquela sala aquecida. Ele continuou atravessando a cozinha até uma outra porta nos fundos que se abriu para um luxuoso corredor. Quando a porta se fechou, todo aquele caos ficou para trás e mergulhamos no silêncio novamente. O longo corredor parecia vazio à primeira vista, mas conforme avançávamos homens de preto apareciam no meu campo de visão. Assustada, cheguei ainda mais perto de Yuri, segurando seu braço com as duas mãos. Os homens pareciam conhece-lo e apenas acenaram com a cabeça sem dizer nada. Será que ele estava me levando para a minha morte? Fui muito descuidada e apenas me permiti ser levada para dentro de um covil humano. 

Quem eu estava querendo enganar? Iria até o inferno com ele mesmo que isso significasse minha ruina, era por isso que eu estava ali afinal. Ele me levou através de uma porta suntuosa e finalmente chegamos à um escritório. Aquilo foi... diferente. Não sabia que as construções humanas tinham tantas camadas. Será que isso era normal? Me mexi nervosa, tinha tanto que eu não conhecia sobre ele, eu mal sabia por onde começar. O silêncio começou a me deixar apreensiva, mas Yuri parecia relaxado e satisfeito. Ele pegou uma garrafa e serviu algo em dois copos e então me entregou um deles.

— Estaremos seguros aqui. Aceita um pouco de Vodka? – Aceitei o copo por educação, não fazia ideia do que era aquilo. Parecia água. Aproximei do meu rosto para sentir seu cheiro, era peculiar. Tentei dar um pequeno gole e descobri que pelo menos o gosto não era tão ruim. Coloquei minha mochila no sofá e o observei-o cautelosamente. Ele parecia feliz, encostado em sua mesa. Suas mãos tiravam algo amarrado no seu pescoço e ele começou a desabotoar os primeiros botões da sua camisa.

Ai meus deuses ele estava tirando a roupa? Sem mais nem menos? O que eu fazia agora? Engasguei com a bebida. Ele apenas levantou uma sobrancelha e sorriu. Eu queria desesperadamente falar com ele, beija-lo e abraça-lo, mas parecia que eu estava grudada no chão. Agora que ele estava na minha frente eu não fazia ideia do que dizer ou fazer. O que os humanos gostam de fazer? Ele suspirou e por um segundo pareceu tão cansado e mais velho. Que idade teria? Eu não fazia a menor ideia, não sabia nada sobre ele.

— Quantos anos você tem?

— 30 e você Luna? – Cada vez que ele dizia o meu nome era como se fosse música.

— 18 - Tava mais pra 48, mas não tinha como explicar para ele toda a questão da idades elficas e como nós sobrevivemos por várias centenas de anos.

— Tão nova para alguém que domina facas, me pergunto que tipo de criação você teve... – Queria tanta conhece-lo, mas esse tipo de pergunta ou insinuação era extremamente perigoso para nós dois. Por quanto tempo eu conseguiria esconder a verdade dele? Acho que não muito, dava para ver que ele já estava ficando desconfiado. Será que todos os humanos eram tão sagazes assim?

— Minha mãe sempre gostou desse tipo de coisas. – Não deixava de ser verdade. Afinal ela era uma grande comandante do exército imperial. 

— Que interessante. – Seu olhar curioso me dava arrepios, no bom e no mal sentido. 

— Quem era aquele homem no beco? – Seu rosto se fechou e ele pensou por um tempo.

— Apenas alguém que descumpriu regras. – Não pude evitar de lembrar de Hans e senti meu rosto pesar. – Você o conhecia? 

— Não, ele só me lembrou alguém. – Disse vagamente, seu rosto parecia intrigado.

— Gostaria de saber mais sobre você.

— É mais seguro para nós assim...

— Quanto mais você diz isso, quanto mais te conheço... Não posso evitar de me perguntar: Quem é você realmente, Luna? 

— Seria melhor se você ignorasse essas perguntas 

— Ignora-las pode ser muito perigoso para mim também. E se você estiver atrás de mim? 

— Porque eu estaria atras de você? - Perguntei intrigada. Será que os humanos eram tão nervosos que era comum perseguir uns aos outros?

— Tenho muitos inimigos que adorariam me derrubar. - Então se aproximou de mim me deixando ainda mais nervosa. — Você está com a Cosa Nostra? - O encarei confusa.

— O que é isso? - Ele apenas me encarou intenso. - Eu vim sozinha. - Respondi sem entender nada. Não fazia ideia do que ele estava falando. Era algum tipo de código? Ele continuou me encarando intensamente por alguns segundos enquanto bebia sua vodka, como se estivesse tentando adivinhar meus pensamentos e então se aproximou e me beijou suavemente.

— Porque sinto que você será a minha ruína? – Seu olhar triste me encarou. Senti um arrepio ao perceber que sentíamos a mesma coisa. Eu não sabia como respondê-lo, meus olhos se encheram de lágrimas ao pensar que só por estar ali aquilo poderia significar nossas mortes. Tentei não imagina-lo vagando as ruas após perder sua sanidade com a remoção de memórias. Ele se assustou com minhas lágrimas – Veio mesmo para me matar? – Ele parecia surpreso.

— Não, mas é perigoso estarmos juntos. Eu não deveria ter vindo. – Meu ouvidos sensíveis captaram um barulho do lado de fora, alguém se aproximando. Encarei a porta por onde entramos. Meu coração acelerou, poderia ter sido rastreada? Me escondi atrás de Yuri e segundos depois alguém bateu.

— Senhor Ivanov, a mercadoria já chegou, devo trazer para avaliação? – Disse a voz do lado de fora.

— Mande deixar aqui, vou examinar mais tarde. – Será que ele é um mercador?

A porta se abriu e dois homens altos como um armário entraram carregando uma caixa de madeira e a pousaram em um canto da sala. Eles me encararam por alguns segundos e Yuri colocou seu braço casualmente ao meu redor. Esperei que eles saíssem, entretanto eles apenas encararam Yuri.

— Pakhan pediu que você confirmasse a qualidade da mercadoria antes de liberar os...entregadores. - Insistiu o rapaz vestido de preto me olhando disfarçadamente.

Yuri suspirou e evitou me encarar por alguns segundos antes de se mover para perto da caixa. Com um gesto dele os caras que trouxeram a caixa para dentro do escritório a abriram. Era difícil enxergar algo com tantos caras ao redor, mas eu conseguia ver um material preto e brilhoso. Pude ver ele sacar uma faca do terno e perfurar um dos muitos embrulhos pretos dentro da caixa. Ele levou o pó branco à boca com o dedo mindinho e depois de alguns segundos guardou a faca andando de volta em minha direção. Será que era algum ingrediente para a cozinha que eu tinha visto? Fazia sentido. Talvez fosse algum tipo especial de sal.

— Pode libera-los está de bom tamanho. - Afirmou ele guardando a faca. - Só peça para eles misturarem um pouco menos de farinha da próxima vez, ou nossos lucros podem cair. - Respirei aliviada, farinha... Parecia algum tipo de tempero. Fazia sentido que fossem ingredientes para a cozinha que passamos mais cedo. - Lembrem-se de pedir com muita educação. 

Era realmente algo relacionado à cozinha. Será que ele era o dono daquele restaurante? Parecia ser. Não sabia que os restaurantes humanos eram assim. Não deixa de ser interessante. Os homens o encararam intensamente antes de fechar a tampa da caixa e se retiraram sem dizer nada. Terminei com o suco e o pousei em uma mesinha próxima. – Posso fazer uma pergunta Luna? - Sua voz estava estranha, seu olhar sombrio.

— Sim?

— Como sabia que alguém ia bater na porta? 

— Só escutei um barulho do lado de fora. – Seu cheiro era embriagante, estava pela sala inteira. 

— Em uma sala com isolamento acústico? Você é mesmo intrigante. – Ele encarava meus lábios sorrindo enquanto meu coração lutava contra minhas costelas. Ele era muito inteligente, não sei como conseguiria esconder minhas habilidades dele. Não era apenas um humano idiota, ele era sagaz. Ele começou a levantar minha blusa e ofeguei de surpresa. – Vamos ver o que você tem aqui. – Ele estava mesmo fazendo aquilo? Assim do nada? Contrariando meus pensamentos sujos e inapropriados suas mãos seguraram o cabo da minha faca e a puxaram. Ele se afastou um pouco e a analisou com atenção. – Nossa parece até uma fabricação artesanal. Onde você comprou? É linda.

— Eu ganhei – Menti. – Da minha mãe. – Eu estava ficando boa nisso. Bom pelo menos para isso minha mãe estava servindo. Já era mais participação do que ela teve nos últimos 18 anos. Ele brincou com seu peso e observou sua lâmina com atenção por algum tempo. Enquanto isso aproximei da sua mesa com certa curiosidade. Tinha tantas coisas ali que eu não fazia ideia do que poderiam ser. Yuri pousou a faca parecendo satisfeito e se aproximou de mim. 

— Tem mais alguma coisa escondida que eu deveria saber? -  Apenas neguei com a cabeça e seus olhos se suavizaram. – Ótimo – Disse vindo na minha direção com um olhar malicioso e me segurando firme em seus braços. – Quero aproveitar todo o tempo que posso com você.


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Notas finais do capítulo

E ai qual a sua parte favorita da história ate agora? Comentem!



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