Foi uma hora de conversa. Não, de monólogo. Apenas Hanna falando.

— Tudo começou há 7 anos atrás quando eu me mudei de Connecticut pro Upper East Side e entrei pra Thomas Jefferson High School. Eu era ninguém. Usava aparelho nos dentes, óculos, era gorda, o tipo de clássico de perdedora. Não havia nenhum dia que eu não me pegava olhando aquelas garotas lindas, magras e inteligentes. Além de tudo, meu pai é alcoólatra e batia na minha mãe. Nada legal. Isso fez com que eu tomasse, hm, medidas drásticas.

— Medidas drásticas?

— Ah! Eu comecei a praticar cutting e a ter bulimia, você sabe, esses problemas de adolescentes. Só que eu estava em desespero, totalmente descontrolada, então eu tive uma ideia. Eu me esforcei pra virar o melhor que sempre fui. Tirei o aparelho, arrumei o cabelo, emagreci e virei o que sou hoje. Quase isso. Eu achava que se eu ficasse bonita, quem sabe eu não ficaria popular? Pois não rolou.

Tudo muito normal até agora. Milhares de garotas na minha antiga escola faziam isso. O que tinha de tão mal?

— Eu estava louca, eu precisava ser vista. Então eu fiz algo. Havia um professor de matemática, o sr. Miller, que era um cara muito bonito e muito gente boa. E me adorava. Foi o que eu precisava.

Já estava imaginando que rumo essa história ia tomar, mas fiquei calada.

— Um dia, depois que todos haviam ido embora, eu literalmente me joguei pra ele. Tirei toda a minha roupa e fiz com que parecesse que ele tinha me forçado a algo. Pegaram ele no flagra e ele está preso até hoje. Depois disso, eu virei ''a coitadinha'' da escola e todos começaram a me adorar.

Fiquei meio chocada, mas não queria demonstrar isso. Talvez isso fosse normal por aqui

— No 9° ano eu já era A garota do colégio. Eu era popular e adorada por todos, menos por Jason, por quem eu sempre fui apaixonada. Ele tinha uma namorada, a Bethany. Super fofa. Menos pra mim, obviamente. Depois de todas as loucuras que eu já havia feito, essa foi só mais uma das minhas artimanhas. Eu paguei um garoto qualquer pra que ele a beijasse de surpresa e fiz questão de que Jason visse tudo. Claro que ele terminou com ela. Foi uma humilhação e tanto. Depois disso, foi apenas um estalo pra que Jason fosse meu, assim como aquela escola.

Ok. Essa menina era uma maníaca.

— O problema é que agora o colégio acabou. Eu não posso mais me esconder por trás de pom poms. E eu também não posso negar que percebi que Jason nunca me amou. Mas eu o amo tanto, é difícil deixa-lo ir. Por isso eu tento de tudo pra conquista-lo, mas nada parece funcionar.

Percebi que ela ficou calada e era a minha vez de falar algo, só não sabia o que.

— Hanna, uma pergunta: você se arrepende de tudo que você fez?

— Lógico que sim, Taylor. Como não se arrepender de ter botado um bom homem na cadeia e uma garota no fundo do poço? Eu seria um ser humano muito ruim.

Precisava ajudar essa garota. Era uma questão de princípios.

— Olha, Hanna, eu vou ser bem sincera com você: o Jason fala muito de você, isso não podemos negar. Mas eu não vejo admiração na fala dele quando ele fala de seus méritos. Eu não vejo aquele brilho no olhar quando ele fala de algo sobre o relacionamento de vocês. Acho que você merece coisa melhor.

— Eu concordo com você. - disse Hanna, secando as lágrimas que haviam caído - Você é muito legal, senhorita Hudson.

— Você também é, Han. Prove isso. Prove que você não é só mais uma garotinha fútil por aí.

— Eu irei. Obrigada, Tay.

Ela me abraçou. E eu fiquei feliz. Por que? Porque eu senti que aquele seria o começo de uma amizade que duraria pra sempre