Quando Hermione o salvou pela primeira vez, ele pensara que era sua mãe o abraçando naquele momento, de uma forma tão divina, o fazendo acreditar que nunca mais teria medo de algo na vida. Mas o tom de voz mais intenso o fez perceber que não era sua mãe, e sim a Granger, o salvando de todas as dores daquele mundo.

Fora o momento mais alucinante de toda sua vida. Tanto para ele, quanto para Hermione.

Não lembrava de muita coisa: apenas a escuridão, o abraço dela, as mãos e as palavras constantemente repetidas "eu vou te salvar". Não sabia se eram para acalmá-lo, ou se ela era um anjo para dizer aquilo, mas sentiu que era verdade, pois no dia seguinte sentiu uma falta sufocante. Por um momento, ele chorou como uma criança separada da mãe. Pelo medo, pelo arrependimento, e por saber que nunca sentiria aquele momento de de uma aura tentadora cruzando sua vida.

Passara anos tentando fugir dos desertos que tinha dentro de si, e a garota resgatava de seus pesadelos em apenas alguns instantes.

Precisava salvá-la para ser salvo outra vez? Precisava manter em segredo para acontecer de novo? Por favor, quero ser tirado daqui, pediu.

Sempre amou heróis, menos ela. Ela estava mais para algum tipo de resgate milagroso, ou alguma médica boa demais para ser verdade. Se rezasse também, será que ela viria?

A segunda vez que ela o resgatou, fora por pedido dele. Ele iria morrer, mas ela o encontrou perdido na vida que escolhera seguir, e o ajudou a encontrar a luz novamente.

– O que você tem, Malfoy? - a pergunta saiu mal educada, ele estava bêbado e chorando, implorando pela ajuda dela na porta de seu apartamento.

– Um corte enorme implorando por sutura.

– Onde? - ela se desesperou o deixando entrar.

– Na minha vida.

Dessa vez ela não o abraçara, apenas lhe servira uma xícara de chá, e Draco pensou que talvez ela deveria ter colocado algum sentimento naquele bebida quente que curasse sua dor. Estava amando ela e suas salvações.

Já sabia que Granger o havia curado de sua dor, e de sua vida. Mas ainda reinava tanto sofrimento, que o deixava confuso.

Imaginou que o beijo dela fosse uma mágia pura e intensa, lhe daria uma vida repleta de felicidade, de hinos belos e lhe pouparia de futuros abismos.

Na terceira vez, ela já era uma mulher perfeita. Hermione era a amostra de uma mulher que sua mãe adoraria conhecer.

Não o salvou - ele se enganou.

Nem mesmo um toque em sua pele para livrar da culpa de não te-la pegado para si. Ela apenas lançou-lhe um sorriso e acenou com a mão, depois de anos sem vê-lo. Sera que ela esqueceu, que ele ainda precisava de salvação? Que faltava uma lacuna esperando o ponto final? Doeu tanto. A dor de não ser salvo, foi mais absoluta, da certeza de que precisava de ajuda.

Parecia mais uma comunhão de todos os centímetros de seu corpo juntando-se para cederem ao sofrimento.

Eu preciso fugir de mim mesmo, pensou.

– Malfoy?

– Apenas me salve, Granger. Pela terceira vez...

– Do que?

– De mim.

Ela o beijou. Fora o momento mais espetacular da vida de Draco. Mais expressão do que grandes pinturas europeias que lembravam sua infância, e mais vida do que a sensação de respirar. Poderia morrer naquele momento que teria cumprido com tudo.

Hermione salvara Malfoy três vezes. Ela era seu ponto, sua luz. Depois do beijo, ele nunca mais inalara a vontade de ser salvo naquela vida.

Suas dores o resignaram a entender que para se fundir com tal ser cheio de nobreza, coragem, uma heroína tão absoluta, precisava viver na escuridão por um tempo.

Não houve quarta vez.