Estava em mais um treino com Takao, nós éramos os únicos na quadra e o motivo era que hoje era sábado e não tínhamos aula ou treino. Em um mês teremos um amistoso contra a Seirin e nós temos que ganhar e como agora o Takao é a minha dupla isso significa que temos que treinar todos os dias sem exceção. Ouço a porta do ginásio ser aberta e após fazer mais uma cesta de três pontos me viro para encarar quem é, mas só pela risada do meu parceiro de equipe eu já sabia quem era.

                Kotoko Oizumi, a jogadora de vôlei do fundamental que de algum jeito fizera com que eu me apaixonasse por ela e no meio disso tudo estamos juntos. Desde aquele dia em que eu a encontrei no parque na volta do treino e eu quase a perdi nós estamos juntos. Nunca demos um nome exato para o que temos, dar nomes significa obrigações e cobranças e isso apenas complica o simples. Eu gosto de Kotoko, da presença dela na minha vida, dos beijos dela e do modo como me sinto perto dela. Porém ela tinha uma expressão séria e me olhava nos olhos enquanto marchava até aqui, o que houve agora?

                - Shin-kun, o que você está fazendo aqui? Você tinha combinado que iria assistir o meu jogo para nós sairmos depois – ela diz entrando na quadra e vindo até onde eu estava.

                Seus cabelos ruivos com leves cachos estavam presos no topo da cabeça em um rabo de cavalo, ela usava uma blusa verde de um tom próximo ao meu cabelo, uma calça jeans escura justa, sapatilha e uma enorme bolsa de lado preta onde devia estar o seu uniforme do jogo. Admito que ela estava muito bonita, mesmo com as bochechas coradas devido a distancia que ela deve ter percorrido correndo para chegar até o meu colégio.

                - O jogo contra a Seirin é em um mês por isso os treinos são a minha principal prioridade, não posso ficar desperdiçando tempo a toa – digo lhe explicando em tom calmo aproveitando para arrumar o meu óculos.

                Não entendia qual era o drama de Kotoko, ela era esportista e fazia parte do time de Vôlei do seu colégio ela deveria saber que vencer está acima de tudo. Já assisti alguns dos seus jogos – sem ninguém saber, afinal não somos namorados para eu ficar indo em todos os seus jogos como um ávido torcedor – e o time pode não ser o melhor, mas eu vi o quanto elas se esforçam e querem ganhar. Então porque este ataque repentino? Droga o meu horóscopo havia me precavido sobre problemas no relacionamento

Tenha muito cuidado hoje canceriano pois vejo grandes mudanças no seu futuro graças as suas ações. Seu item da sorte de hoje é  um chaveiro de coração verde ele vai ajudá-lo nos problemas com a sua namorada.

                Ela se aproxima de mim e tenta me dar um tapa na cara, o que há com ela está na TPM? Seguro seu pulso impedindo que sua ideia  absurda realmente aconteça, olho em seus olhos e vejo que ela parecia se segurar para não chorar enquanto tenta soltar a mão. Esse drama todo é só porque não fui assistir um jogo treino não oficial dela com outra escola? Ela pode ser mais nova, mas eu esperava um pouco mais de maturidade dela.

                - Eu te odeio Shintaro Midorima, odeio o fato de ter me apaixonado por você! – ela grita tentando se voltar, levo um susto com suas duras palavras e acabo a soltando – queria nunca ter te conhecido seu... SEU SEM CORAÇÃO!

                E então ela joga algumas coisas em cima de mim antes de sair correndo do ginásio sem olhar para trás. Paro para ver o que ela jogou em mim e vejo que são... Bombons de chocolate e um caranguejo de pelúcia com uma blusa da Shutoku nº6? Ela havia feito aquilo a mão? Mas porque.

                - Você esqueceu que hoje é o dia dos namorados? Sério como você pode ter esquecido do dia dos namorados? – falou Takao me olhando indignado.

                Pego um dos bombons da caixa verde que estava no chão e o mordo, até que estavam gostosos mas Kotoko não sabia cozinhar então como... No mesmo instante me lembro de todos os band-aid que pareciam se multiplicar pelos seus dedos durante a semana. Arrumo os óculos enquanto me pergunto o que fazer.

                - Você não vai atrás dela? Desse jeito vai ficar sem namorada – disse Takao ainda tagarelando.

                Pego os presentes de Kotoko e saio da quadra sem falar nada, ela não era minha namorada e nós não tínhamos combinado nada. Eu não estou errado e quando ela se acalmar as coisas vão se resolver e eu vou comprar um presente para ela. Dia dos namorados, como eu ia saber que era hoje se eu nunca tive uma namorada antes?Aliais nós nem somos namorados, nós somos apenas nós. Nunca demos um nome exato, logo ela vai entender que esse foi apenas um ato infantil e tudo voltará ao normal.

                Só que ela não me ligou para dar boa noite ou falar qualquer coisa, ou deu sinal de vida no domingo. Na verdade ela simplesmente não apareceu durante toda a semana seguinte, ela não atendia os meus telefones e parecia ter desaparecido completamente. Faço mais uma cesta durante o treino, mas eu não conseguia me concentrar não quando olhava para a arquibancada e via que ela não estava ali. A sensação de estar perdendo-a era forte e era impossível continuar fingindo que ela não me incomodava, que a falta de Kotoko não me desestabilizava.

                - Você devia ir atrás dela antes que ela arrume um novo namorado, sabe? – disse Takao se metendo onde não era chamado e bem no meio do treino! – a Oizume tem bastantes fãs por causa do vôlei.

                Takao podia ser um idiota irritante e sorridente demais quando quer, mas ele tinha razão quanto a isso.  Se eu ficasse esperando que ela tomasse a iniciativa nós provavelmente nunca voltaríamos a ficar juntos e eu nunca mais a veria, e então eu fiz o que nunca achei que faria, sai no meio do treino sem falar nada a ninguém usando assim o meu segundo pedido egoísta do dia e por uma garota. Não era para me favorecer, favorecer as minhas habilidades ou o meu ego, era por Kotoko e porque eu tinha que andar rápido se quisesse chegar antes do fim do treino dela.

                O colégio dela era bem longe do meu, porém a sorte estava do meu lado – junto com o telefone rosa, meu objeto da sorte do dia – e eu cheguei faltando 30 minutos para o fim do jogo. Ela estava tão incrível quanto nos jogos que eu assisti. Os passes e os cortes eram incríveis e eu nunca a tinha visto com roupas tão curtas quanto hoje. O shorts preto de lycra era curto e colado em sua pele, a blusa branca era um pouco solta mas estava colada devido ao suor e os longos fios ruivos presos em um rabo de cavalo no topo da cabeça. Ela estava concentrada e não me olhou nenhuma vez. Quando o treino acabou a técnica foi falar com todas as meninas e assim que as dispensou eu fui andando até ela. Sentia todos os olhares das companheiras de time dela sobre mim, mas ignorava isso porque ela continuava andando como se eu não estivesse aqui.

                - Kotoko nós precisamos conversar – digo indo até ela e tocando em seu ombro.

                Ela se vira para me encarar e eu engulo em seco ao ver toda a mágoa na sua voz, o modo como ela parecia frágil e a ponto de se partir. Eu me sentia horrível por ter feito algo assim com ela, porque a pior coisa que poderia acontecer era eu saber que a culpa era toda e completamente minha.

                - Nós não temos nada para conversar e eu tenho que me trocar – ela disse com a voz baixa mas me olhando nos olhos e de modo sério – a sua prioridade acima de tudo não é treinar? Porque está perdendo tempo com trivialidades como assistir um mero treino meu.

                Arrumo os meus óculos enquanto sinto o meu rosto corar fortemente com aquela cena, as minhas palavras realmente a afetaram. Droga eu não sou bom com as palavras e nem sei o que dizer, sou claro e objetivo é assim que eu ajo falo a verdade nua e crua, mesmo que de forma polida. Porque eu nunca tinha estado com alguma garota antes de Kotoko e eu não sei o que falar para arrumar as coisas. Apenas fiquei ali parado, na frente do vestiário feminino, esperando ela sair. Tentando resolver as coisas, porque parece que a estou perdendo mais a cada instante.

                Ela é a última a sair, todo o time já havia saído. Ela usava o uniforme de marinheira típico do fundamental e que a fazia parecer menor e mais nova, ao mesmo tempo que estava linda. Arrumo os meus óculos e seguro o meu item da sorte do dia, eu ainda não sabia direito o que falar.

                - Eu não sabia que era o dia dos namorados, ou que você tinha feito planos e todas aquelas coisas legais – digo por fim, tentando formular algo que a faça voltar a sorrir e fazer as coisas voltarem ao normal.

- O problema não é esse Midorima – ela diz e eu engulo em seco, ela não me chamava pelo sobrenome desde aquele beijo – o problema é que eu cansei desse relacionamento unilateral. Eu assisto todos os seus treinos, todos os jogos, sou sempre eu quem ligo, eu quem mando mensagens, eu que me importo com as suas coisas, nós só saímos quando você quer e... Só eu digo que te amo... Eu não quero mais isso, não quero ser a garota do fundamental deslumbrada por namorar um cara mais velho que é um dos melhores do Japão no basquete. Eu também quero me sentir amada, me sentir importante.

Algumas lágrimas já escorriam de seus olhos, estávamos no meio da quadra e ela parecia completamente despedaçada.  Eu estava a perdendo rápido demais, aquilo estava fora do controle demais. Era assim que ela se sentia? Foi assim que eu a tratei? Eu nunca tive uma pessoa tão próxima de mim quanto ela, uma pessoa que gostasse e se importasse tanto quanto ela.  Eu apenas me acostumei com ela sempre ali por mim, não pensei que ela necessitasse de mais. As coisas estavam boas de mim e achei que também estavam para ela, talvez tenha sido isso que tenha destruído tudo para nós dois.

- Eu...Eu nunca tive uma..uma...garota na minha vida, isso é estranho para mim Kotoko. Eu apenas me acostumei com as coisas do jeito que estavam, elas eram boas para mim e eu achei que também estava tudo bem para você... Apenas não vá embora – digo a encarando nos olhos enquanto arrumava os meus óculos.

-  Me desculpe Midorima mas não posso mais viver de migalhas isso vai me destruir aos poucos. Só me deixe seguir em frente – ela diz com a voz tremula e então sai correndo.

Uma lagrima solitária escorreu por minha face quando a vi sair correndo em direção a porta do ginásio para finalmente ir embora. Eu a havia perdido, perdido a única pessoa que era tão importante para mim quando o basquete e eu sabia que a culpa era minha por não ter sido bom para ela. Isso porque o meu horóscopo me disse que eu teria um bom dia e eu estava com o meu amuleto da sorte do dia. Porém nem isso parecia me ajudar.

E então eu percebi que foi sempre ela quem correu atrás de mim, e mesmo que eu tenha dado o nosso primeiro beijo ele só ocorreu graças ao medo de perdê-la. Talvez ela tivesse um pouco de razão e eu não a merecesse só que acho que eu era egoísta demais para aceitar perdê-la e foi movido pelo meu egoisco que eu corri atrás dela e a abracei forte.

- Koishiteru Kotoko-chan – sussurro em seu ouvido e a sinto chorar baixo no meu ouvido, minhas bochechas estavam vermelhas e eu apenas arrumo os meus óculos.

Ela se vira e de repente sinto  seus lábios tocando os meus em um beijo roubado, era a primeira vez que ela iniciava o beijo e não o contrário. A puxo pela cintura para perto de mim, para ter certeza de que não há havia perdido. De que havia conseguido concertar tudo, porque por mais humilhante que seja eu amava aquela garota demais, acho que até mais do que eu amava o basquete. Kotoko Oizumi que bela bagunça você fez na minha vida.

*No Japão você diz Daisuki para amigos e ficantes, diz Aishiteru para namoros mais sérios e Koishiteru para a pessoa com quem você quer passar o resto da sua vida.