Entre Luz e Trevas escrita por Bryden Rivers


Capítulo 9
Fraqueza carnal




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O quarto onde me colocaram era pequeno, pouco úmido, as paredes pareciam se aproximar cada vez mais de mim sempre que ao tentar dormir, fechava os olhos, e os abria novamente, e enquanto estava deitado, tentava compreender o significado de tudo aquilo. Numa conversa anterior, Adália, disse que não acreditava que Kelly havia me dado a pedra sem saber o que aconteceria, ela havia me dado aquela pedra por um motivo. Não era uma coincidência. Se eu acreditava? No que não poderia acreditar agora? Tinha visto muito nos poucos dias que estava aqui, mais coisa que vi em toda minha vida, no Orfanato.

Seguir esta linha de pensamento me levou para o meu antigo dia a dia, acordar, escola, voltar, ajudá-la em suas tarefas do Orfanato, estudar e ler, dormir. Não tinha amigos lá, nada que me prendesse.

Isso era vida? Eu estava preso — não no Orfanato, Kelly sempre fora muito amável com todos — mas em mim mesmo, e isso era sufocante, nunca havia tido tanta liberdade e não podia culpá-la, mas agora tinha tanta liberdade que sentia que estava me afogando, não sabia o que deveria fazer. De uma hora para outra, todas as portas a minha volta foram escancaradas, e agora, as olhava, como um abismo, decidindo em qual pular.

O som alto de uma tosse seca chamou minha atenção, vinha do quarto do fim do corredor, conseguia sentir isso. Levanto, abro a porta, e vejo a luz irrompendo pelas brechas da porta. O som continua forte, e ritmado; quando abro a porta, vejo um senhor idoso sobre uma grande cama e ao seu lado, segurando sua mão, Adália.

Então aquele era seu avô. Aquela figura pálida, e magra, não parecia com nenhuma das descrições de Adália, ele tinha participado de um levante para retirar a influência do exército do Império das Trevas, conseguindo uma cicatriz em seu ombro, e vivendo às espreitas depois da derrota. Agora ele era apenas um senhor cansado, que não podia mais sustentar a família por causa das varias sequelas que a velhice lhe trouxera.

Mas mesmo assim, tinha um sorriso confiante no rosto, como se dissesse que havia feito o melhor que podia ter feito, e se sentia orgulhoso. Havia visto essa expressão várias vezes antes, sempre que surpreendia Kelly em algo...

Estava começando a me sentir culpado por ter sumido daquele jeito. Eu tinha que voltar.

— Não havia dito que tínhamos visitas, Adália. Fez de novo não fez?

— Não foi minha culpa dessa fez. Quero dizer, só parte dela. — ela o respondeu.

Aquele homem deitado parecia totalmente diferente da mulher que havia encontrado lá embaixo mais cedo, parecia ter um espírito bem mais calmo e superprotetor, era difícil acreditar que ele realmente tinha lutado em um levante.

Era ele agora que me olhava.

— Por que não me contam sobre isso? Imagino que tenha uma boa história.

A expressão dele pouco mudava enquanto Adália contava tudo, inclusive sua suspeita, e sobre Selena.

— Não me surpreendo mais com nada. Mas, se tem essa suspeita por que não o leva para consultar seus antepassados no Uno da Água? O Ancião com certeza o receberia, vocês até chegariam a tempo do Festival.

— Tem certeza? — perguntei.

— Por que não? Não seria má ideia, o norte fica com um clima ótimo esta época do ano, foi lá que conheci sua avó.

— Tem certeza? — Agora foi a vez de Adália perguntar, ele começou a rir, ele entendeu o sarcasmo.

— Isso seria possível? Adália, você me levaria? — Uma sombra pareceu passar sobre seu rosto, transformando-se em neutra sua expressão que antes era apenas de surpresa.

Só durou um segundo aquela impressão.

— Claro. — Foi aí que sua voz falhou.

O esguio senhor mudou seu olhar, agora era tristeza. Tinha algo ali, ele ainda estava escondendo algo.

— Se quiserem, podem ir até amanhã. — Agora foi à vez dele, a frase era curta, mas dava para sentir o peso de cada uma das palavras. Parecia uma ordem, e não gostava dela, era igual a que a Adália havia me dado quando me conheceu; eles não sabiam o que fazer.

Ele a queria longe. Era o resultado de seguir aquela lógica, agora a pergunta era: por quê?

Então me lembrei de sua condição, ele sabia que estava morrendo.

Novo resultado: Ele não queria que ela o visse morrer.

— Nós vamos. — eu confirmei rapidamente sem ter a certeza se era a coisa certa a fazer.


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