Entre Luz e Trevas escrita por Bryden Rivers
Notas iniciais do capítulo
Nós fomos, simplesmente, abandonados. Muitas daquelas crianças, que agora correm pelo pátio como se não se importassem com suas posições, não tem o simples conhecimento de seu passado, mas também há aqueles que decidiram fugir da casa de seus pais e foram pegos, sem contar os que foram deixados na porta deste orfanato, sem um adeus, sem que olhassem para trás.
Eu sou um deles.
Era uma manhã clara, o que me pareceu um ultraje, faltava cerca de três dias para o meu aniversário — Se é que posso chamar o dia em que fui deixado em um Orfanato de aniversário — Eu ainda estava deitado, no quarto; e não conseguia pensar em nenhum motivo para me levantar.
A porta destrancada foi aberta por Kelly. Ela aproximou-se lentamente da minha cama e sentou-se ao meu lado, passando a mão pelo meu cabelo e olhando intensamente em meus olhos. Entendo isso como um aviso para não me atrasar para a escola.
Me arrumei, sai do quarto e comecei a vaguear pelo Orfanato, quando cheguei ao pátio, não vi mais nenhuma das outras crianças que antes brincavam, então olhando para a torre do relógio, vi que estava muito atrasado, e comecei a correr em direção a o portão. Quando cheguei à escola, os alunos ainda estavam se dirigindo à sala, havia chegado a tempo, uma sensação de alívio me recuperou da longa corrida.
O prédio onde ficava a escola era formado por dois grandes blocos de salas, mas não havia motivo pra mantê-los, sendo que os poucos alunos não completariam o primeiro.
Durante aula eu costumava olhar discretamente à janela, algo que já havia me acostumado, o vidro da janela pareceu começar a dividir-se, formando trincos. Frestas de luz passaram discretamente, e então começaram a se mover, como numa dança, quando pisquei, o vidro voltou ao normal.
Quando voltei da escola, cumpri minhas obrigações e procurei por Kelly, que havia se tornado a responsável por nós quando o padre morreu e a Diocese se recusou a enviar outro para um local tão afastado, então ela montou uma organização para nos ajudar, e a Diocese permitiu que continuássemos a morar no Orfanato.
Encontrei Kelly no jardim, apreciando o aroma das orquídeas que tinham acabado de desabrochar, me sentei ao seu lado, Kelly me entregou um papel e acenou para um pacote, quando o abri, vi sua letra esguia e cuidadosa, li que ela me pedia para abri-lo em três dias, na data do meu aniversário. Eu acenei com a cabeça e então ela saiu. Quando cheguei ao quarto, coloquei a caixinha sobre a escrivaninha e olhei de relance para o cadeado que a trancava.
Passaram-se dois dias desde que Kelly havia me entregado a caixa, os dias corriam normalmente, chegando a me esquecer de sua existência.
Acordei no meio da noite, já era costumeiro isto acontecer, a maioria dos meus pesadelos cumpria este papel, eles não eram sobre monstros ou catástrofes, eram sobre eu falhar, diante de todos.
Lá fora já estava escuro, e um leve brilho iluminava o quarto, olhei de soslaio, e quando levantei, constatei que o brilho provinha das brechas da caixa e que o cadeado desaparecera. Ao abri-la, vi uma pedra de coloração azulada, e seu brilho, desvaneceu. Então senti um vento gelado soprando forte, e comecei a sentir uma tontura seguida por uma longa sensação de êxtase e logo, estava caindo e perdi a consciência.
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