Pacífica escrita por RoxyFlyer21


Capítulo 1
Pacífica




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A porta do elevador se abriu finalmente, e uma grande porta branca guardava a entrada da casa de meus pais. Com um grande suspiro, pensei comigo mesma em como estava aliviada que o dia tinha acabado. Saí com a mão dentro da minha bolsa, que por desvantagem tinha a alça tão longa que toda vez que eu procurava pelas minhas chaves, a bolsa de couro detonada caia. Por sorte quanto mais eu chacoalhava a bolsa com minha mão, mais eu escutava o som metálico batendo contra todas as outras tranqueiras de lá dentro. Com algum esforço, e com preguiça demais para parar e apoiar a maldita bolsa na porta, eu achei as chaves e abri a porta.

Papai e mamãe haviam saído, como notei ao perceber que metade das luzes da sala estavam desligadas, e apenas o lustre da sala de jantar iluminava a silhueta dos móveis. Logo no vestíbulo havia uma mesa alta de vidro, onde todos os membros da família costumeiramente repousavam as chaves dos carros e celulares. De tão cansada, acabei colocando minha bolsa também. E tirei meu cachecol que há algum tempo havia começado a me enforcar, colocando-o em cima da pequena pilha.

A noite estava avançada, como pude notar o brilho dos prédios vizinhos e o horizonte da cidade destacado pela escuridão no fundo. Nenhuma estrela no céu, infelizmente. E essa mesma pálida iluminação jogava sombras pelos cantos e pela mobília da casa na qual eu nasci.

Até a luminosidade do lustre da sala de jantar estava de certa forma fraca, e a esguia figura que se curvava diante de um laptop parecia ainda mais pálida do que de costume. Era Shin, meu meio-irmão mais velho.

Eu podia ter apenas dezessete, e ele dezenove, mas ele agia como se eu fosse uma criança de oito e ele um adulto de trinta. Foi mais ou menos assim que nos conhecemos, logo depois que minha mãe morreu. Meu pai se casou com a mãe dele quando éramos apenas crianças, e eu logo me apeguei muito a mãe de Shin, diferentemente dele. No começo achei que ele me odiava, sempre quieto e com olhos esbugalhados que pareciam questionar tudo e todos ao seu redor. Mas era o nosso redor a partir dali.

Porém, conforme crescíamos, acabei percebendo que ele era daquele jeito mesmo, reservado mas não tímido, orgulhoso mas não egocêntrico. As vezes, ele podia intimidar as pessoas, e apenas as que o conheciam muito bem sabiam que ele não fazia de propósito. Ele conseguiu me intimidar durante muitos anos, sempre me matando de curiosidade ao seu respeito, enquanto me mantinha afastada. Acho que essa curiosidade ainda existe hoje em dia, ainda que seja manifestada pelas maneiras mais incompreensíveis.

De qualquer forma, nossa amizade, ainda que de certa forma indefinida e confusa, nos deu também liberdade e confiança. Acho que foi com essa confiança que andei, sem tomar consciência dos saltos altos e grossos da bota que usava sobre o jeans, em sua direção. Como mais que esperado, ele não moveu um músculo do computador, e ele mantinha um dedo repousando sobre seus lábios, completamente compenetrado em qualquer que seja o trabalho que estava fazendo.

– Shin! Cheguei em casa!

Sentei na cadeira a sua frente, mas ele ainda não havia largado a atenção da tela.

– Sim, eu posso perceber isso.

Uma garrafa de vinho tinto repousava ao lado de um copo de cristal, mas soube logo de cara que não havia sido Shin que a abrira, e sim papai. Na minha mente, recriei o momento no qual papai se aproxima de Shin na mesa de jantar com a garrafa, bebericando seu vinho predileto enquanto espera mamãe dar os últimos retoques antes de sair para jantar fora. Arrumando os brincos de topázio, um dos pares com os quais fora presenteada pelo papai em seu 20º aniversario de casamento, ela se apressa para a porta, chamando por papai. Já havia presenciado essa mesma cena tantas vezes que não restava duvidas. E o detalhe mais confiável é que Shin permaneceu sentado, olhando para seu computador, durante o tempo todo até agora.

Eu peguei a taça, rodopiando o liquido antes de tomar um gole. Encostei na cadeira aveludada, desgastada porém ainda confortável a meus músculos cansados. Uma massagem ia tão bem agora!

Eu, com a minha mania de sempre usar mil correntes no pescoço, senti a minha de prata deslizar para dentro do meu decote. Era o meu colar mais especial, delicada e com um único pingente de Santa Maria pendurado. Peguei-a, e comecei a brincar com ela entre meus dedos, e quando fiquei entediada, levei meus olhos ao semblante de Shin.

Ele podia ser mais velho, mas seu rosto ainda possuía algo de imaturo nele. Reparei no seu cabelo sedoso negro ébano, que de tão comprido já cobria as orelhas e caia inevitavelmente pela sua testa, quase cobrindo seus olhos. Ele era o cara mais desleixado com a saúde que eu conhecia, sempre deixava para cortar o cabelo quando já não conseguia enxergar as paginas dos livros mais. Seus olhos, tão negros quanto seu cabelo, quase sempre detinham um ar desinteressado e preguiçoso, e eram os mais difíceis de ler. Sabe aquele dizer, “os olhos são as janelas da alma?” Bom, não com Shin. Nunca se consegue ler os pensamentos dele, ou ao menos saber o que está sentindo. No entanto, eu, com anos de observação e pratica, notei que ele de vez em quando deixa escapar suas emoções pelo seu corpo.

Seu dedo indicador ainda estava em seus lábios finos, e a outra mão permanecia sobre o teclado do laptop. Ele usava uma camiseta de linho preta que estava arregaçada até os cotovelos, e eu pude ver pela abertura a sua corrente, semelhante a minha de prata, apenas a sua contendo a medalha de Santo Antonio.

Era tarde, e eu não queria ficar sozinha aquela noite.

Silenciosamente, levantei e agachei ao lado da sua cadeira, cruzando as mãos sobre seu ombro. Vi que ele estava no word, mas quando procurei não achei nada que se relacionasse com qualquer trabalho seu da faculdade ou estagiário. Comecei a dar de cara com adjetivos e advérbios, uma singela descrição aqui, outra ali, mas o que me deu a pista definitiva foi quando percebi a presença de aspas, indicando conversas.

– Você voltou a escrever?

Ele pareceu finalmente se dar conta da minha presença, e imediatamente abriu uma pagina em branco.

– Não sei ainda.

– Ah, qual é, Shin, nós dois sabemos o quanto você é bom!

Ele tirou o dedo da boca, e digitou algo no teclado.

“Não quero me perder”

Eu descruzei meus dedos, apertando a tecla de espaço e digitando algo em resposta.

“Você não vai se você não deixar”

“Quem me garante”

“Eu”

Ele ficou ainda alguns segundos observando a tela, e eu, com alguma coragem vinda do funda da minha inconsciência, beijei-o na bochecha. Assim que tomei consciência do que tinha feito, meu coração cresceu em chamas. Por um segundo, pensei que tinha cometido o maior erro da minha vida, e o silencio varreu silenciosamente o ambiente. Se tratando de Shin, qualquer coisa é imprevisível, e eu me surpreendi quando ele alcançou o teclado mais uma vez.

“De novo”

Assim que li o que ele havia escrito, tão simples e de certa forma timidamente composta pela fonte do word, senti uma curiosa martelada dentro de mim. Dessa vez, prendi delicadamente o queixo de Shin entre meus dedos, apreciando a pele macia como veludo, e estalei outro beijo brincalhão na sua bochecha. Mas não parei. A brincadeira para mim deve ter tomado chãos mais sérios, pois quando me dei por mim estava demorando mais no contato dos meus lábios com sua pele.

Sentia o leve perfume dos seus cabelos, e vez ou outra acabava por beijá-los também. Quando senti ser o bastante, ele não digitou, mas disse.

– Para mim beijos só são dados na cama.

Os beijos haviam de uma certa forma me tranquilizado, e minha pálpebras ameaçavam cerrar-se com uma versão mais calma do sono. Eu falava mole, contrastando com a voz forte porém quente de Shin. Sempre amei aquela voz, ainda mais pelo fato de ele não desperdiçar palavras.

– Aí não dá, só se você quiser que isso vire incesto.

Eu havia me levantado e, sentando em seu colo, virei meu corpo de forma a repousar minha cabeça em seu peito. Não era para ser novidade, visto que muitas vezes antes eu havia feito a mesma coisa nele. Quando éramos mais novos, eu gostava de irritá-lo deitando em seu colo e fingindo estar dormindo, apenas para ele me carregar até meu quarto e me colocar para dormir. No entanto, fazia um tempo de anos que eu não fazia isso, mas eu me senti incrivelmente bem.

Deitada daquele jeito tão perto dele, eu era capaz de observá-lo atentamente agora. Seu semblante, por mais que exteriormente ainda parecia compenetrado na tela do computador, eu sabia que era apenas um disfarce. Ele não estava focando em nada e, fazendo assim, me dava a pista para entender que estava mergulhado em pensamentos. Seus ombros haviam se contraído com meu toque, e eu mantinha uma mão em seu ombro e a outra em seu peito. Uma mão ele ainda repousava no teclado, mas a outra, eu havia sentido, ele subiu pelas minhas costas, oferecendo-me apoio. E a mão dele estava quente contra o tecido fino da minha camiseta branca.

Ele ainda estava pensando no que eu havia dito. As palavras “beijo,” “incesto,” e principalmente “cama” estavam surtindo efeito em sua mente extremamente racional. E na minha também, extremamente emocional.

Novamente sem muito controle sobre meu corpo, deslizei minha mão que estava em seu ombro para seu rosto, obrigando seus olhos a encontrar os meus. Nesse momento percebi o quanto nossos rostos estavam próximos.

– E se.....

Nesse instante, não sei como mas nossos lábios se encontraram. Apenas os lábios, abafando as suas palavras. Não me lembro se eu havia puxado sua cabeça em minha direção, ou se ele havia levantado minhas costas para ele, ou talvez uma combinação dos dois, mas sei que ambos haviam fechado os olhos. A visão já era; o silencio dominava o redor, anulando a audição. O tato e o olfato eram os únicos sentidos que nos restavam.

Estando no meio daquele impasse, a um milímetro do paraíso, eu percebi uma coisa. Meu coração estava palpitando incontrolavelmente, e graças a minha mão em seu peito, senti o de Shin batendo tão forte quanto. Desde pequena, eu sabia que o amava, mas ainda não havia entendido as profundezas desse amor. Agora eu entendo. “Incesto” Se for, que seja!

Nossos lábios se tocaram uma vez mais, tão suave que quase nem senti. Mas meu coração sim. Foi ele que me beijou de verdade, e fui eu que, levando minha mão a seus cabelos macios, aprofundei o beijo. Logo nossas línguas já estavam explorando cada canto, sem deixar nada para trás. E ele era bom. Atrevi-me a mordê-lo de leve nos lábios, e ele respondeu sugando meu lábio superior. Infelizmente, tivemos que cortar por um segundo, para pegar ar, porque o beijo parecia que não ia parar nunca. Por um momento pensei que a mente dele tomaria esse curto intervalo para colocar algum juízo nos seus pensamentos, mas fui surpreendida quando ele me puxou de volta, me beijando intensamente.

Como esperado, ele havia largado a atenção do laptop, e agora as suas duas mãos passeavam por minhas costas. Reservado no começo, eu sabia que teria que induzi-lo as carícias. Meus dedos ora brincavam com suas madeixas, ora passeava pela sua nuca e pescoço. Produzindo um arrepio gelado delicioso que correu toda a minha espinha, as mãos de Shin abriram caminho por debaixo da minha camiseta. Primeiramente apenas nas costas, eu me ajeitei de forma a indicá-lo a minha barriga também. Nosso beijo agora havia tomado novos ares e eu, beijando o caminho de seu rosto até alcançar sua orelha esquerda, dei leves mordidinhas arrancando, para meu prazer, leves suspiros seus. Mas como Shin sempre foi a criança mais competitiva que eu já vi, ele inventou um jeito de me fazer gemer mais alto. Deslizou seus lábios até meu pescoço, ora mordendo, ora sugando e beijando-o. Isso provocava arrepios intensos na minha pele, e eu sabia que a cada arrepio ele ia com mais força.

Ele desceu por todo o meu pescoço, distribuindo beijos pelos meus ombros até no decote. Percebi que ele ficou incerto, meio sem saber se eu o deixaria continuar ou não, e minha resposta veio rápida. Beijei-o na boca, um daqueles beijos molhados de um minuto sem parar, enquanto desabotoava sua camiseta.

Eu já havia me ajeitado em seu colo, e felizmente a cadeira era grande e confortável o suficiente para acomodar minhas pernas ao redor do corpo dele. Ele deslizava as mãos pelo jeans das minhas coxas, e eu pude deduzir seu desejo de poder retirá-lo. A hora das duvidas e perguntas havia ficado para trás há muito, muito tempo.

Desabotoando o ultimo botão, comecei a beijá-lo no pescoço também. Sendo um nadador desde pequeno, sua musculatura era forte e definida, e eu senti a inicial rigidez cedendo aos meu toque conforme eu o beijava. O próximo passo era, sem duvida, o dele.

Percebendo o sinal verde, ele pareceu fazer com que tudo demorasse o máximo possível, apenas para me matar aos poucos de desejo. Ele desceu dos meus lábios ao meu pescoço, do meu pescoço para o colo, do colo ao meu decote, e parou ai para retirar minha camiseta. Eu pude ver ele gastando um tempinho para admirar meu sutiã, e eu agradeci aos deuses por ter escolhido algo um pouco mais sexy do que o usual sutiã cor de pele. Preto, com um pouco de renda e um minúsculo lacinho rosa na frente, Shin rodeou minhas costas em seus braços e me deitou na mesa de madeira da sala de jantar.

Ele parou por um segundo, prendendo uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e deslizando os dedos pela minha face. Seus olhos estavam mais claros do que nunca, beirando a uma azul ébano, e logo eu notei que o fogo do seu olhar foi substituído por um brilho tímido. Seus dedos agora alisavam minha sobrancelha direita, repousando em seguida nas minhas bochechas. Eu peguei seus dedos nos meus, pressionando seu toque suave contra minha pele.

Ele esbanjou um meio sorriso, e se aproximou para me beijar. Seus lábios primeiramente repousaram nos meus, delicadamente, e com o mesmo cuidado prolongaram-se na minha testa. Foi aí que percebi. Sua mente havia falado mais alto que seu coração. Ele tinha dado ouvidos a razão, a sua fria e cética lógica. Ele sabia o quanto estávamos errados, e eu, percebendo o que ele queria dizer pelos seus olhos, não pude controlar uma pequena lagrima de escorrer pela beirada.

– Nós... – suavemente, ele havia começado a falar, e parou apenas para limpar a lagrima. – ......nós não podemos.

Eu não iria desistir assim tão fácil. Minha mão esquerda ainda repousava dentro de seus cabelos, e em uma tentativa um tanto desesperada o puxei para mim. Mostrei-o como havia nos beijado um minuto atrás, com toda a minha paixão e desejo ainda vivos, e por um minuto pensei que o tinha convencido. Ele respondeu, brincando com minha língua uma ultima vez antes de sair do transe. Já era.

– Mel, não....tente.

Ele retirou minha mão da sua nuca, apertando-a atenciosamente. Eu abri minha boca para dizer algo, mas ele logo entendeu e abriu um meio sorriso fraco.

– Venha....

Ele deslizou uma de suas mãos para a parte de trás das minhas pernas, e a outra para as minhas costas, tomando-me pelos braços como ele costumava fazer quando eu tinha dez anos e ele, doze. Eu enlacei minhas mãos ao redor do seu pescoço, deixando o sono me embalar. Mas eu sabia que o sono não era o único que tinha esse efeito pacifico sobre mim.


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