Eu assoprei o café e dei um gole. Talvez eu estivesse sonhando – com ele todas as possibilidades são lógicas – o café desceu queimando na minha garganta e ele – já ao meu lado – me cumprimentou.
(...)
Já estávamos dentro do carro agora e eu estava dirigindo. Houve um breve – breve mesmo – espaço de tempo em silêncio, até que ele começou a falar.
“Como dormiu a noite?”
“Humm, bem. E você?”
Ele sorriu. “Sim, claro.”
“Então. O pessoal está começando a chegar, hã?”
“É...”
“Empolgado?”
“Sim e não.”
“Por quê?”
“Porque eu vou ter que trabalhar mais e ficar mais longe de você.” Ele disse com um tom severo, que me fez corar.
“Ora, mas nós nem nos conhecemos a mais de um dia.” Eu disse sem graça.
“Eu reconheço quando uma pessoa é especial.” ele explicou.
“Ah.”
Ele ficou me fitando esperando que eu dissesse outra coisa.
“Então, isso quer dizer que nós somos amigos, ou algo do gênero?” Ele sempre conseguia o que queria - no caso, fazer-me falar algo - quando usava os olhos (aliás, ele sempre conseguia o que queria independente dos olhos).
“Algo do gênero” ele disse em um tom sacárstico, que me fez estremecer. Mas estremecer de uma maneira estranha, uma maneira desconhecida, e não estremecer de medo.
Chegamos. Saímos. E fomos trabalhar. Cada um estava ocupado com a própria função. Nenhum outro artista muito importante havia chegado ainda, então as coisas estavam... Meio que calmas.
(...)
Eu conversei com o resto do pessoal e chegou a hora de ir embora. Assim como no estúdio o dia estava de todo muito calmo, então eu fui embora, jantei no restaurante do hotel e depois de ter voltado para o meu quarto e lido um livro eu adormeci.