Depois de ficar lendo e relendo a mesma linha durante quase uma hora, Ichigo desistiu de vez de tentar fazer o seu dever de casa de Português. Ela já estava no seu limite, estava exausta, e ficar tentando conjugar verbos não era a melhor maneira de relaxar.

Fechando o seu livro com um pouco de irritação, a Mew esticou os braços acima da cabeça, flexionando os dedos como se eles fossem garras.

A pobre garota não tinha conseguido parar de pensar em Kisshu e Tsuki. Será que eles eram mesmo namorados, ou ela estava se preocupando a toa? Ichigo pensou ter certeza disso quando Tsuki dissera que os dois iriam dividir um quarto, mas por outro lado Kisshu tinha olhado para ela como se... Realmente estivesse feliz em vê-la de novo...

Bom... Particularmente Ichigo também tinha ficado feliz em revê-lo. Mas então surgira Tsuki. A bela, forte, digna e irritante Tsuki. Como ela poderia competir com alguém de tão alto nível como aquela alien?! Se tivesse que escolher entre as duas Kisshu certamente escolheria a outra!

" Não que eu esteja realmente competindo com ela." Ichigo se repreendeu mentalmente. " De maneira alguma eu e o Kisshu poderíamos ficar juntos... Quero dizer... Nós somos tão diferentes..."

- Eu estou cansada demais para ficar pensando nessas bobeiras, nyah...  - Ela gemeu se erguendo da cadeira e olhando para fora da janela de seu quarto. - Já está tarde, é melhor eu ir pra cama.

Ela foi lentamente até sua cômoda e se trocou para um pijama simples cor-de-rosa, depois foi até o banheiro escovar os dentes e pentear os cabelos para finalmente poder correr de volta para o quarto e se jogar na cama, por último ela apagou as luzes e então relaxou os músculos na sua cama macia.

Tinha escola dali a algumas horas... Que maravilha... Ela não tinha terminado o maldito dever... Quem sabe ela conseguisse copiar de uma de suas amigas amanhã de manhã antes da aula começar... Porém, ela se preocuparia com isso mais tarde... Tudo que ela queria agora era um pouco de descanso, por mínimo que fosse, e tentar dormir sem aqueles malditos pesadelos.

*******

Se tele portando silenciosamente no escuro céu noturno, Kisshu apareceu pouco acima da casa de Ichigo. Ele olhou ao seu redor. Todas as luzes estavam apagadas e o bairro envolta da casa estava tranquilo e silencioso. Sorrindo levemente, o alien flutuou até a janela do segundo andar e espiou através do vidro, a procura de sua gatinha.

Seu estomago deu um solavanco e o seu sorriso desapareceu dando lugar a uma expressão confusa e assustada.

Ichigo estava jogada em sua cama, com as cobertas reviradas, e o rosto estava exibindo um terror mudo, como se ela estivesse vendo alguém morrer bem diante de seus olhos e ela não pudesse fazer nada a não ser olhar. Mesmo estando do lado de fora do quarto Kisshu conseguiu ver algumas lágrimas escorrendo pelas faces da garota.

Imediatamente Kisshu enfiou as mãos pela fresta da janela que fora deixada aberta e a puxou totalmente para cima, abrindo caminho. então, apoiando-se no para-peito ele passou pela janela quarto adentro, pensando que teria sido muito mais fácil fazer isso dois anos atrás. Uma vez lá dentro ele se endireito novamente e flutuou até a cama no centro do quarto, cuidando para não fazer o menor ruído.

Ao se aproximar ele sentiu um aperto forte no coração. Estava ainda pior do que ele pensara. Não somente seu rosto estava contorcido com dor como ela se remexia inquieta na cama, além de ficar murmurando. Não era possível entender nada, soava mais como gemidos do que com qualquer outra coisa.

Kisshu havia ido até lá, na esperança de que ela ainda estivesse acordada e que eles pudessem conversar um  pouco. Ter que esperar o dia todo o havia deixado louco, mas ele queria ter certeza de que ninguém estivesse por perto para interrompê-los. Porém, aparentemente, ela devia ter ficado cansada o suficiente para ir para a cama cedo, pois seus livros escolares ainda estavam em cima da escrivaninha empilhados de qualquer jeito e com algumas páginas abertas feitas pela metade.

Kisshu parou de vaguear em pensamentos e voltou seu olhar para Ichigo. Sua pobre Koneko-chan ainda estava presa num pesadelo. Ele não aguentou mais. Flutuando até mais perto, ele gentilmente descansou seu peso sobre a cama e com cuidado e devagar colocou ambos os braços ao redor dela e depositou sua cabeça na curva do pescoço dela. a Boca ficou contra o travesseiro o o nariz no cabelo dela, permitindo que ele inspirasse seu doce cheiro de morango. Ele sentiu que ela parou de se remexer debaixo dele e viu que seus gemidos haviam cessado.

Ele continuou sentindo o cheiro tão doce de seus cabelos. Ele torcia para que ela não acordasse... Ou, se ela acordasse, milagrosamente o deixasse ficar, mesmo que ele tivesse que ficar sentado no chão.

Mas não. Algo muito pior aconteceu.

Ichigo quase inconscientemente sentiu Kisshu lá, mesmo que fosse pouco, ela sentia. Em seu sono, ela sentiu algo em volta de si com a mão. Então, maio que involuntariamente ela disse:

- A-Ayoama... Kun?

A mente de Kisshu foi inundada de raiva. Ela estava pensando nele? Aquele menino humano? Tinha algum único momento em que ela não estivesse pensando nele? Será que havia sequer um espaçinho em seu coração para Kisshu? Em menos de um segundo, ele se afastou dela bruscamente e se lançou janela afora.

Foi bem na hora.

Assim que ele se puxou para longe dela, os olhos de Ichigo se abriram, mas ela não virou a cabeça a tempo de ver o alien correndo para por fim sumir por sua janela. Em vez disso, ela se sentou lentamente, hesitante, e tudo o que viu foi que sua janela estava escancarada deixando que um ventinho frio invadisse o quarto.

Sua cabeça estava um pouco confusa. Ela tinha sido pega pelo pesadelo mais uma vez, mas alguma coisa tinha sido diferente dessa vez. Quando ela estava chorando sobre o corpo do Aoyama-kun, ela sentia uma súbita presença calorosa ao seu lado... Porém ela não tinha sido capas de dizer se era somente no sonho, ou se aquela presença era real. Aos poucos, o sonho desaparecera e ela conseguiu distinguir, ainda em seu estado semi-consciente, que não era sonho e que alguém estava realmente ali, abraçado a ela. Como ela tinha acabado de olhar para o Aoyama, ele foi o primeiro que lhe veio a mente. Ela não tinha certeza se somente tinha pensado ou se tinha falado mesmo o nome dele em voz alta.

Então, quase violentamente, o calor foi arrancado dela e com rapidez ela forçou seu os olhos a se abrirem, mas ela não tinha sido rápida o suficiente para ver quem era. Enquanto o vento fazia as suas cortinas sacudirem levemente, a garota franziu a testa, tentando fazer com que o seu cérebro ainda meio adormecido pensasse direito.

Poderia ter sido... Mas não! Por que ele viria até ali?

- Kisshu... - Ela disse com calma. Seria ele quem estivera em seu quarto agora pouco? Mas se fosse, o que ele estava fazendo ali? Será que ele... a tinha abraçado?

Os olhos de Ichigo se arregalaram, assustada com essa possibilidade.

- Talvez fosse... - Ela concluiu em voz baixa, tentando ligar seus pensamentos. - Então quando eu disse "Aoyama-kun", ele...

Ichigo pareceu pensar por um momento, mas então sacudia a cabeça freneticamente em sinal de negação, afastando qualquer pensamento.

- Isso é ridículo. - Ela afirmou, mais para se convencer do que para qualquer outra coisa. - Era apenas parte do meu sono.

Ela voltou a se deitar e fechou os olhos.

********

Lá fora, Kisshu já voava longe. Sobrevoando a cidade, com o rosto contorcido de raiva, ele não conseguia pensar em mais nada além do que ela havia dito.

"Ela ainda ama o Aoyama. Será que ela pensa nele o tempo todo? Será que ela pensa nele tanto quanto eu penso nela? Porque eu  nunca parei de pensar nela, nem nunca irei. Eu não posso. Ela é tudo que eu quero."  Disto, Kisshu tinha certeza. Mas estava começando a perder as esperanças. Se já fazia dois anos desde que Aoyama tinha morrido e ela ainda tinha sonhos com ele, então é claro que ela não havia deixado de amá-lo e nem pensara muito sobre Kisshu. Talvez ele devesse desistir.

"Mas eu vim aqui para protegê-la. Portanto, mesmo se que eu não tenha o seu amor, eu irei mantê-la segura de qualquer coisa." Firme em sua decisão, ele voou de volta para Café Mew Mew, onde tinha certeza de que Taruto estava dormindo e que não ouviria quando ele entrasse.