Os humanóides reapareceram. Desta vez, estavam sussurrando algo minimamente compreensível. Tinham um líder. Era um menino alto de ombros largos. Usava uma sobretudo preto aberto, calça e luvas de couro pretas. Estava sem camisa, não era bombado, mas era definido. Basicamente lindo. Cabelos negros rebeldes, olhos inteiramente (inteiramente!) negros e boca rosada. Chegou perto de mim, que estava encolhida no canto do galpão. Aproximou-se de meu ouvido.

– Hey, querida – disse com uma voz sedutora.

– Você é real ou é só mais uma ilusão do meu cérebro? – Olhei para ele, meus olhos estavam inchados e vermelhos, de tanto chorar, mas o rapaz pareceu não se importar.

– Isso depende de você. O que acha que eu sou? – sorriu. Tinha um lindo sorriso.

– Eu acho que você é uma ilusão, sendo assim, eu posso te dizer que você é muito gostoso e sexy. – sorri como uma drogada.

Ele pôs uma das mãos no meu rosto e se aproximou. Ah, eu estava tão grogue que não parei pra pensar se eu estava ou não com Jace - cuja pessoa eu estava morrendo de ódio - só sei que eu queria muito beijar aquela boca rosa. E beijei. Falando sério, que beijo maravilhoso.

– Você é linda, Lucie. Linda demais pra ficar guardando toda essa dor. O que você acha de por essa dor pra fora?

Olhei para ele incentivando-o a continuar falando.

– Ali em cima daquela mesa. Tem uma lâmina. Ela vai te ajudar a pôr tudo isso pra fora, meu amor. – Me deu mais um beijo. – Vou pegá-la pra você.

Quando ele voltou, tinha a lamina na mão. Me entregou e com um movimento, fez seu exercito de Sméagols sussurrarem em coro "você, ele e nós" repetidamente. "Vamos, Luce, vamos. Você consegue, ponha isso pra fora", sussurrava o garoto com uma voz incrivelmente sexy em meu ouvido.

Eu queria muito jogar aquela lâmina fora, mas não consegui. Minha alma estava sofrida, e eu precisava colocar aquilo pra fora de mim, e se aquele era o único jeito, eu o faria.

Apertei a lamina contra minha coxa e a movimentei para o lado. Ah, doeu. Doeu muito. Mas a dor veio acompanhada com uma sensação de alívio gigantesca.

– Está faminta, Luce? – perguntou o menino enquanto recolhia o meu sangue dentro de um recipiente de plástico.

Eu estava. Há quanto tempo eu não bebia sangue? Ele me entregou o recipiente e eu bebi.

Eu sei, sei que beber o próprio sangue faz mal pra um vampiro, mas eu estava faminta.

Logo, o sangue da minha perna coagulou e eu ainda tinha sede, então fiz mais um corte. Pus mais sangue no copo e bebi. Era um ciclo vicioso. Alguns minutos depois, minhas pernas estavam cheias de cortes, e eu nunca ficava saciada. Quando percebi a maluquice que estava cometendo, levantei a cabeça para falar com o garoto. E adivinhe só? Sim, ele não estava mais no galpão. Soltei a lamina e peguei o pote de "doces". Coloquei a lamina ali dentro e joguei-os pela minúscula janela que tinha atrás de um armário. Decidi que nunca iria usar aquilo de novo, apesar de saber que não seria fácil.

Meus pensamentos voaram até Jace e Paola. Eu estava com ódio dos dois. Há três dias eu já estava ali naquele galpão e eles nem apareceram. Provavelmente sequer tentaram me achar.

Acho que minha melhor opção é ficar com Simon... este ao menos fica perto de mim. E ele me ama. Ele me mantém aqui por que ele me ama. E talvez eu o ame também... de uma forma bruta e diferente.

De repente Simon entrou no galpão.

– Simon. – o chamei enquanto me levantava

– Está falando comigo? – perguntou

– Tem outro Simon aqui? – ele bufou e caminhou até mim – Eu não quero mais ir embora daqui

– Não quer fugir mais, princesinha? – disse relembrando das outras vezes que eu tentara.

– Não. Eu... eu quero ficar perto de você. Você é meu amigo, Simon. E eu amo você.

– Isso é ótimo. – ele sorriu. Nunca havia percebido o quanto ele é bonito. Ok, ele é lindo. – E um beijo, será que rola?

Eu soltei uma risada fraca e me aproximei dele. Suas mãos foram do meu rosto à minha nuca, me puxando para me colar a ele.

– Você é rápido – disse com a testa colada na dele. Ele sorriu e logo voltou a me beijar.

Como ele consegue ser tão cruel e apaixonante ao mesmo tempo? Isso é tão sexy.

*

– Simon, vamos no McDonalds? – perguntei dando-o um selinho.

"Um selinho, Luce?". É, é isso. Eu e Simon estamos namorando e ele é perfeito. Quanto a Paola e Jace? Apareceram por aqui sete dias depois de eu ter sido raptada. Ele chegou querendo dar mil e um socos no rosto de Simon, mas eu jamais deixaria isso acontecer. Joguei na cara deles dois o tempo que eles levaram pra me encontrar e até mesmo falei que não iria voltar pra casa com eles e que os odiava. Jace saiu chorando enquanto Paola tentava consolá-lo. Fui eu quem havia sofrido, não ele! Eu precisava de consolo enquanto aqueles Sméagols nojentos me perseguiam!

– Você adora gastar dinheiro, viu, garota? – disse enquanto abria a porta do carro.

– Não, eu adoro você. – ri.