Como rei ele estava sempre ocupado. Seja com papéis, reuniões ou ouvindo reclamações de seu povo, Thorin era um homem ocupado. Mas ele sempre arrumava um tempo para seus sobrinhos quando eles pediam. Ás vezes saia do meio de uma conversa importante somente para resolver algum problema banal de Fili ou então para ver o quão bom Kili estava ficando no arco e flecha.

Mas hoje foi diferente.

Kili passou correndo por Thorin enquanto ele conversava com Dwalin sobre orcs rondando suas fronteiras. Thorin chamou o seu nome mas Kili o ignorou, ou então não o escutou. Thorin esperou ver Fili passar e ir conversar com o irmão mas isso não aconteceu. Ele provavelmente estava em outro lugar então.

"Conversamos sobre isso depois."

"Mas Thorin nós precisamos decidir o que fazer antes que--"

"Depois, Dwalin."

Thorin seguiu Kili e o encontrou no jardim. Ele estava debruçado sobre a fonte que jorrava água cristalina e nessa água Kili via seu reflexo. Thorin limpou a garganta para avisar de sua presença e começou a se aproximar lentamente. Kili fungou e parou de se olhar na água.

"Aconteceu algo, Kili? Parece chateado."

"Não é nada, meu rei. É bobagem."

Thorin colocou a mão em seu ombro, "Tolice. Não sou seu Rei agora, Kili. Sou apenas Thorin. Converse comigo."

Kili se virou para olhar seu tio e sentiu vergonha. Seu lábio inferior tremeu levemente. "É só que... Eu estou cansado. Cansado de ser motivo de piada o tempo todo."

"Motivo de piada? Eu não entendo," Thorin franziu o cenho. Quem seja que fez isso com Kili iria se ver com ele.

"Sobre... sobre minha aparência."

"Sua aparência?" Thorin ficou confuso. Porque alguém faria piada sobre a aparência de Kili? Não fazia sentido.

"Eu não sou como os outros anões, tio! Meu nariz é anormal e eu mal tenho barba! Os outros debocham disso e ficam me chamando de 'elfozinho'. Eu odeio isso! Porque tenho que ser diferente? Eu odeio minha aparência!" Kili desabafou e se jogou no peito de Thorin. O rei começou a acariciar as costas de Kili com movimentos gentis, sussurrando palavras doces em seu ouvido até acalmar o anão mais jovem.

"Shhh pequenino... Não fique chateado com o que os outros dizem. Eles não sabem de nada. Você é precioso, Kili."

Kili fungou e levantou a cabeça que estava deitada no peito de Thorin. Suas bochechas estavam molhadas de lágrimas. "Thorin. Eu não sou. Ninguém nunca me quis antes. Eu sou desagradável aos olhos, eu sei disso. Não precisa tentar me alegrar."

Pelos céus. Se Kili somente soubesse... "Kili isso não é verdade. Muitos anões te querem... Até demais, devo acrescentar. Você que não percebe."

"O que? Quem?"

Thorin limpou a garganta. Ele não queria entrar em detalhes pois isso era extremamente desagradável para ele. Se Thorin pudesse trancaria Kili no castelo para somente seus olhos o apreciarem. Era um pensamento egoísta, mas era o que ele sentia.

"Não importa. Quem eu quero nunca vai me querer, afinal." Kili falou interrompendo os pensamentos de Thorin.

"Quem é? Quem você quer?" Thorin meio que rosnou, mas foi então que Kili lhe olhou com o olhar mais doce que ele já lhe deu, e o brilho vindo deles deixou tudo claro para Thorin.

“Olhe nos meus olhos, Thorin e verá a verdade neles.”

“Estou olhando, Kili. Estou olhando.” Thorin sentia seu coração batendo forte no peito. Como saindo de um transe, Thorin sacudiu a cabeça e respirou fundo, com um leve sorriso no rosto que era tão raro de ver nos dias de hoje. Ele pegou a mão de Kili na sua e a levou até os lábios para beijar. Os olhos de Kili arregalaram com o gesto.

“Meu doce menino... Eu tenho negócios a tratar agora mas conversaremos mais tarde. Por agora pare de chorar e vá fazer aqueles doces deliciosos que só você sabe fazer.”

Kili sorriu largamente. Ele adorava cozinhar para seu tio pois isso sempre o deixava feliz. E hoje foi Thorin que o deixou feliz, por pedir algo tão simples mas que somente Kili fazia para ele.
“Vá, Kili. Faça seus doces deliciosos para mim. E mais tarde provarei algo ainda mais doce.”

Kili corou e Thorin lhe beijou a mão novamente, e finalmente voltou para dentro deixando um agora sorridente Kili para trás. As brincadeiras de Bofur estavam completamente esquecidas agora.