Quando Atena e os demais cavaleiros chegaram no último templo antes de Kali encontraram uma figura curiosa, mas imponente.

Setsuna não estava queimando seu cosmo, que mesmo em repouso dava medo de sentir. Tinha uma expressão serena, seus traços andróginos lhe davam delicadeza e força. Sua shakti em tons azulados brilhava com altivez.

Era impossível sabe o que passava na cabeça daquele homem que os olhava.

–Por que nos atrapalha, Atena?

A voz melodiosa tomou conta do ambiente. Não era áspera nem raivosa, Setsuna parecia conversar casualmente, o que dava mais tensão ao ambiente.

–É minha missão proteger a Terra. - respondeu Stephanie.

–Nós, devas, temos corpos mortais mas almas do deuses hindu. Diz que sua missão é proteger a Terra, mas a que custo, Atena? Os gregos, mesmo convertidos em facetas romanas, devastaram os outros deuses. Podem até ter uma aliança com Odin, mas duvido muito que um dia ele não venha se voltar contra vocês de verdade. - Setsuna desceu um degrau do elevado onde estava. - Deuses como você, Atena, desejaram o controle absoluto e nos colocaram para dormir. Diz proteger a Terra, mas apenas deseja o domínio dela e sem ameaças estrangeiras, se colocam a lutar entre si e divertir Zeus.

Elys e Rêgo olhavam Stephanie e Setsuna. Que conversa era aquela?

–Os erros cometidos pelo meu pai foram de antes de meu surgimento. Se eu pudesse dar a vocês seus antigos corpos, eu lhes daria. Mas isso não tira o peso do crime que estão querendo cometer ao matar milhares de humanos inocentes! - respondeu a deusa grega, sem cortar o elo que trocava com o olhar firme.

–Morte e renascimento andam juntos. Esta é a era da destruição e renascimento. Sempre foi a missão de Kali e minha quando o momento chegasse. Eu não odeio os humanos como Valento por exemplo. Reconheço a bondade em muitos, mas o mundo está prestes a entrar em colapso. Os helenos não tem deuses que convertam a força da renovação como nós. Atena, por respeito a sua história, volte para seu Santuário e viva em paz seus últimos momentos, abandone a causa que está perdida.

–Não irei desistir dos humanos... O que os outros deuses pensam ou deixam de pensar sobre isso não me importa. Diz que o mundo inteiro precisa renascer? Cada ser humano tem esse poder por si só e não cabe a nós, deuses decretar o fim! - disse Atena, apontando o báculo para o deva.

–É com pesar que lutarei então... deusa Atena... cavaleiros...

Setsuna invocou sua arma, uma lança que eles esticou a deixando grande, brandindo e girando com maestria, apontando para o grupo que invadia seus domínios. Após o término do movimento, surgiu mais 2 lâminas, tornando a lança um tridente.

–Eis a arma de Shiva... Trishula... - murmurou Elys.

O alvo de Setsuna era Stephanie, que foi prontamente defendida por um esquife de gelo e Elys tirando a reencarnação de Atena do caminho ao notar que o gelo não deteria a arma divina por muito tempo. Tal qual a libriana previu, o gelo criado por Rêgo se despedaçou. Os três cavaleiros de ouro se puderam na frente da deusa.

Rodrigo avançou, iniciando uma luta feroz, golpeando com sequencia de socos, que Setsuna girava o tridente para defender tranquilamente. Logo foi empurrado, dando espaço a Elys para atacar e novamente cada golpe nada fazia efeito. Setsuna também a jogou longe e logo defendeu o golpe de Rêgo. Mesmo sendo uma luta de três contra um, Setsuna fazia frente aos cavaleiros com a tranquilidade de quem passeia pelo shopping sem compromisso. Os cavaleiros de ouro elevaram o cosmo, lançando seus golpes, que novamente pararam no Trishula.

A arma divina estava envolta por chamas. Os inimigos se encaravam com respeito, demonstrando o foco. Elys tomou a frente, iniciando novamente a luta, a amazona de Libra estava mais ágil, com o intento de tirar a arma do deva. Seja o guerreiro hindu ou a mãe da atual forma de Atena, ambos os ataques e defesas eram sincronizados. E então um grande calor surgiu e num giro do Trishula, Elys foi lançada longe, rachando uma das ombreiras.

–Não sejam teimosos. Eu não sou como os outros. Carrego séculos de vida acumulando cosmo, cosmo esse de uma divindade primordial. - disse Setsuna.

Chamas novamente envolveram a arma, que era apontada para o grupo heleno. O deva apenas sussurrou:
–Serpente da Renovação...

As labaredas investiram contra os cavaleiros de ouro na forma de uma enorme serpente, os derrubando com inúmeras rachaduras na armadura. Os três estavam caídos no chão,sentindo dores horríveis pelo impacto e pelas queimaduras do golpe, tentando se levantar. Steph continuava a olhar nos olhos de Shiva sem medo, altiva e confiante como uma deusa deve se comportar.

O deva começou a caminhar em direção a deusa, com calma, mas teve os passos detidos pelo cavaleiro de Sagitário.

–A luta não terminou, Setsuna... - resmungou Rodrigo.

Setsuna apenas o olhou de canto de olho e depois precisou saltar de lado para evitar ser congelado por Rêgo. O olhar do deva não demonstrava nada, mas ele logo tomou posição de luta novamente. Avançou contra Rêgo, o golpeando com o cabo do tridente e num giro de corpo, chutou o cavaleiro de Sagitário que se levantava de novo. Mas isso distraiu o deva, que levou um golpe de Elys, soltando o tridente e se chocando contra uma parede. Steph queria poder lutar junto também, mas não era hora, precisava se guardar para enfrentar Kali. Setsuna se levantou, iniciando alguns movimentos a medida que seu cosmo era elevado de novo e de novo, mais e mais alto.

A temperatura do lugar aumentou, o que fez o cavaleiro de Aquário também elevar seu golpe, tentando usar suas habilidades para tornar a temperatura mais suportável. Rêgo travara os dentes, tamanho esforço tinha de fazer, o cosmo do inimigo era monstruoso.

–Continuem a luta. - rosnou. - Vou procurar manter a temperatura possível...

–Rêgo...

Criou por fim uma parede de gelo ao redor de Steph para proteger a deusa das altas temperaturas. Rodrigo e Elys avançaram, não dando tempo para Setsuna reagir e pegar o Trishula.

O deva dançava a cada golpe que rebatia, mas o cavaleiro de Sagitário percebeu algo muito estranho acontecendo. Tinha impressão de estar vendo riscos alaranjados e a temperatura parecia aumentar de novo. Foi quando captou um olhar estranho do inimigo e tudo que teve tempo foi de saltar para trás puxando Elys junto.

Uma grande massa ardente se estendeu, as chamas pareciam ter fome de cosias a queimar. O trabalho de regular a temperatura por parte de Aquário praticamente se tornou impossível.

–Deuses! Que calor infernal! - resmungou a amazona de Libra.

–Dança da Destruição Flamejante... Dancem até virarem cinzas, cavaleiros helenos!

As chamas se expandiram e estavam prestes a devorar sem piedade, quando o poderoso e gentil cosmo de Atena os preencheu, aliviando e empurrando as chamas para trás. Steph saiu da proteção de gelo, novamente caminhando para encarar Setsuna.

–Seu olhar é perdido, Shiva. Algo lhe incomoda, não?

Os dois se encaravam.

–Não é nada. Não tem algo que me incomode.

–Kali também não tem um corpo como os demais. Eu pedi que secretamente investigassem sobre a garota. Parvati Kaur.
Uma leve mudança no olhar do deva. Atena teve certeza que atingiu algum ponto no coração dele.

–Qual é o segredo por trás dela?