[Jace Stephen]

Acordei e me deparei com minha perna muito dolorida. Ela estava enrolada num pano azul e sangue seco o cobria, mas não havia mais vestígio de sangue correndo. Minha cabeça doía um pouco e meu braço que eu havia deslocado latejava muito.

Peguei mais ambrosia e comi, guardei mais um pouco para levar comigo e tomei um pouco de néctar. A dor no ombro parou quase completamente, mas eu ainda não conseguia fazer movimentos rápidos ou muito bruscos. Com a perna já era outra história... Eu não conseguia quase me manter em pé, doía mais do que qualquer coisa que já senti na vida. A dor de cabeça já havia parado e então consegui chamar meu amigo peludo.

Pulei, me arrastei, cambaleei, fiz malabarismos para ficar mais longe do acampamento improvisado, onde assoviei o mais alto que pude. Em pouco tempo vi Legolas saindo da sombra de uma enorme pedra de gelo. Meu amigo infernal estava sempre pronto pra me ajudar.

- Shhh Legolas! Não fique latindo!

-Au!- Legolas se aproximou de mim e esfregou o focinho gelado em meu braço, como forma de dizer Oi.

- Oi pra você também amigão. Preciso ir pro Mundo Inferior, pro palácio de meu pai, pode me levar?

- Au!- Legolas agitou o rabo animado e se abaixou para eu subir em suas costas.

- Vá com calma, porque minha perna dói muito está bem?

Subi nas costas de Legolas depois de muito esforço e dor. Apenas o movimento de erguer a perna já me exauriu forças. Fiquei pensando em como eu lutaria caso Rovena tivesse sido machucada nesse tempo. Creio que um ou dois dias, não sei.

- Vamos!

Dei o comando para Legolas que voltou para a sombra de onde havia vindo e deitei com o peitoral nas costas de meu amigo, a fim de não me cansar muito mais. Fechei os olhos e me deixei embalar pelo movimento do Cão Infernal. Em pouco tempo Legolas latiu e reparei que estávamos na porta do palácio de meu pai.

Desci de Legolas e parei um pouco para respirar, minha perna ainda me matava aos poucos. Tirei o Elmo da cabeça e o segurei nas mãos, empunhei a espada e fui adiante. Nada poderia me parar.

Continuei caminhando em direção a sala de visitas, onde meu pai sempre recebia as pessoas que o visitavam, desejados ou não. Meu pai já me esperava em seu trono, olhando com expectativa para a porta por onde eu passei. Cheguei perto e meu pai sorria para mim, um sorriso de satisfação.

- Pai... – Curvei-me diante de meu pai.

- Filho! Você conseguiu!- Hades veio em minha direção, mas recuei uns passos, protegendo o Elmo.

- Duvidou que eu conseguisse?

- Não! Mas ainda assim, é um feito e tanto!

- Sei que sim, onde está Rovena?

- Ela está bem, Perséfone a protegeu e passou a maior parte do tempo com ela.

- Você está mentindo!- Gritei em sua direção e empunhei a espada em sua direção.

- Não meu filho, ela está num quarto ao lado do seu, apenas o esperando. Ela viu sua missão e agora dorme.

- Quero ver antes de entregar o Elmo- Falei desafiando meu pai.

- Pois bem.

Hades bateu palmas e filamentos negros se formaram, como um espelho e mostraram Rovena deitada numa das camas de um dos quartos do palácio dormindo. Não havia nenhum ferimento e nenhum temor em sua expressão. Ao lado dela, Perséfone lia um livro e cuidava de minha namorada até durante o sono.

- Está vendo? Perséfone a protege- Meu pai disse dissolvendo o espelho de filamentos negros.

- Sim...

- E não és mais Renegado, como poder ver.

Apenas olhei para meu pai, indeciso se entregava o Elmo ou fazia outra loucura qualquer.

Foi então que me lembrei de minha perna e meu momento de adrenalina passou, me fazendo cair no chão de dor pela perna. Arfei de dor, mas não larguei a espada e muito menos o Elmo.

- Esta ferido! Não vi antes. Posso te ajudar, quer?- Meu pai começou a andar lentamente em minha direção, apenas assenti com a cabeça, a dor estava ficando insuportável em demasia.

Hades se aproximou de minha perna e eu a estendi de modo que ele pudesse fazer o que queria. Meu pai puxou a atadura e pressionou o dedo polegar com força contra o furo feito pela espada, não me contive e larguei os itens que eu segurava, urrando de dor.

O que apareceu ser um momento infinito de dor, acabou se revelando apenas uns segundos e meu pai aguardava pacientemente em pé em minha frente.

Olhei para minha perna e reparei que eu não sentia mais dor, mas um buraco negro havia se formado no local, como sinal do toque das trevas.

- Isso é perigoso, a cura através dos filamentos negros, mas você é forte e ficou apenas essa mancha negra. Levante-se- Meu pai estendeu a mão em minha direção e a peguei.

Levantei e pude me firmar na perna até então comprometida. Estava curada. Peguei o Elmo do chão e minha espada, a prendi no cinto e estendi o Elmo a frente.

Hades o pegou e o Elmo pareceu vibrar, como se estivesse feliz de rever o seu mestre. Hades o colocou na cabeça e desapareceu instantaneamente. Fiquei temeroso de meu pai me tocar e me matar.

- Finalmente! O Elmo voltou para mim!- Hades falou um tanto longe de mim.

- Então, ainda sou seu filho mais poderoso?

Hades apareceu novamente em seu trono, havia tirado o Elmo e o segurava do lado direito do corpo.

- Você nunca deixou de ser meu filho mais poderoso Jace. Você sabe, você é meu favorito e apesar de todas as desavenças, eu ainda me orgulho de você. Mostre para os outros deuses que não são apenas os filhos de Zeus e Poseidon que são poderosos. Você é mais do que muitos que já vi.

- Ob... Obrigado pai- Gaguejei diante de tamanho elogio.

- Agora vai, encontra a tua namorada que já deve estar morrendo de saudade de ti.

- Sim pai.

- Ao lado do seu quarto, como eu disse.

- Sim pai- Comecei a ir em direção aos quartos, mas a voz de meu pai me parou novamente.

- E tenha juízo, pois ela é uma boa semideusa.