[Rovena Marie]

Cheguei ao Mundo Inferior como uma convidada, pela porta da frente e com um empregado fantasmagórico pra me oferecer algo para beber e quem sabe uma romã.

- Não obrigada, quero Hades, onde ele está?

- Venha.

Segui o fantasma para dentro do palácio negro de Hades. Tudo ali era negro como o Mundo Inferior, mas o luxo sustentava o palácio. Rubis, esmeraldas, diamantes e todo tipo de mental precioso enfeitava as colunas dóricas que sustentavam o teto de abóboda do lugar, pequenos lampiões com fogo grego crepitava e ao longo das paredes cenas de tudo quanto é tipo de morte ao longo do tempo era retratada. Desde mortes por varíola, fome, trincheiras até armas de fogo e outros tantos tipos de torturas. Todos meios de eliminar uma vida.

Continuei caminhando atrás do fantasma e ele me levou a uma sala ampla com dois tronos negros no centro, como uma sala de visitas do Senhor do Mundo Inferior.

- O mestre já vem, espere aqui- O fantasma fez uma leve mesura e saiu de perto de mim.

Estranho. Ele mandava uma fúria me raptar e depois me tratava como uma hóspede, com direito a entrar pela porta da frente e ficar sozinha na sala de visitas.

- Rovena Marie... – A voz de Hades apareceu antes do corpo imortal- Que honra, uma visita sua!

- Senhor Hades...

- Não se curve!

Eu não havia feito nenhuma menção de me curvar, mas sorri para ele.

- Então, vejo que admira meu palácio!

Hades com seu cabelo cacheado e grisalho, sua barba no melhor estilo “não ligo pra nada” e sua túnica negra sorriu para mim, como se fôssemos velhos amigos compartilhando um segredinho.

- De fato, a arquitetura do prédio é magnífica, e os pilares dóricos com a abóboda dão um charme muito especial para o lugar e todo essa vastidão negra dá uma valorizada no ambiente.

- Filhas de Athenas, sempre ligadas a coisas inteligentes de mais!- Hades riu. ( ‘-‘ )

- Desculpe. Força do abito.

- Creio que sim, mas sente-se!

Olhei ao redor e não vi nada onde eu pudesse me sentar e quanto eu estava quase sentando no chão Hades bateu palmas e uma poltrona negra fumegante surgiu para mim, meio hesitante eu me sentei nela e senti um frio descomunal nas pernas, mas continuei ali.

- Saiba que não quero machuca-la, nem nada do tipo, mas Jace não precisa de você em missões como essa. A parte do “solitário” é pra ser seguida, além de que até hoje você atrapalhou meus planos...

Continuei calada.

- Em Athenas, Jace estava tão próximo de me dar o elixir! Mas você me atrapalhou mocinha, e muito! E o que eu quero? Quero apenas que Jace pegue meu Elmo e traga ele para mim, então a profecia pode se completar e vocês podem viver a vidinha de vocês.

- Eu não atrapalhei nada, Jace fez o certo!

- Nunca... Conteste... Minha... Palavra!- Enquanto Hades falava cada palavra o ar foi faltando em meus pulmões e senti que eu estava prestes a morrer de uma forma que já fora retratada nas paredes do palácio.

- Pare Hades!- Perséfone gritou e Hades imediatamente parou de quase me matar.

- Você me jurou que não machucaria a menina! Ela vai conhecer o quarto dela, então não a incomode mais Hades!- Perséfone veio em minha direção e pegou meu braço me guiando até meu quarto no palácio de Hades.

Caminhamos em silêncio até que a sala de Hades e o próprio deus saíram de nossa vista, quando chegamos a uma escadaria.

- Desculpe por Hades, mas ele só está furioso com você pelo elixir...

- Eu sei.

- Ele ama muito o filho, eu sei disso. Todo o ano que Jace passou aqui, ah! Foi o melhor ano, Hades estava a maioria do tempo de bom humor e passava a maior parte do tempo ensinando a Jace como funcionam as coisas por aqui e então ele largava do meu pé!- Perséfone riu e não consegui deixar de rir com ela.

- Então ainda não gosta daqui?- Perguntei com ousadia.

- Não é que não gosto. Ainda sinto muita falta da luz do sol, mas com o tempo ficar aqui passou a ser muito suportável, Hades sabe ser gentil quando quer. O problema é que a função dele é ser mal em tempo quase integral.

- Chegamos- Perséfone anunciou e abriu uma enorme porta de metal também negro, ela rangeu ao ser aberta, mas exibiu um quarto completamente de prata, com uma enorme cama de dossel e várias poltronas, travesseiros e até mesmo uma TV onde estava passando a TV Hefesto.

- Uau!- Exclamei pasma ao ver tanta coisa linda num lugar com tão pouca beleza.

- É incrível o que uma mulher com apenas seis meses á luz do dia pode fazer com a informação que absorve não é?

- É verdade- Eu ri e entrei no quarto, Perséfone entrou junto e fechou a porta.

- Gostou?

- Sim! É incrível, obrigada. E obrigada por me salvar também.

Sentei numa poltrona e Perséfone sentou também em minha frente.

- De nada Rovena, é que eu não suporto ver Hades fazendo com outras pessoas o que ele fez comigo. E não coma nada que ele lhe oferecer, principalmente as romãs, coma apenas o que eu lhe trouxer, está bem?

- Sim. É que foi pela romã que você teve que ficar aqui não é?

- A fruta estava tão suculenta! E foram apenas seis sementes! Ah, se eu pudesse voltar atrás... – Perséfone hesitou e depois completou- Acho que eu faria tudo de novo, Hades apesar de tudo, atrás dos milênios têm se mostrado um bom marido.

Ficamos um tempo em silêncio até que Perséfone assoviou e um empregado fantasma apareceu em nossa frente.

- Traga minha comida para cá, hoje quero comer com Rovena.

- Sim minha senhora- O fantasma fez uma mesura e sumiu através da porta.

- Depois que comemos que tal um passeio pelo meu jardim? É lindo, você vai gostar, ao longo do tempo eu colecionei muitas sementes raras que só crescem aqui no Mundo Inferior e se você quiser, pode conhecer o quarto de Jace, o Cão Infernal dele...

- Espere! O Cão Infernal do Jace?

Perséfone me olhou como se tivesse acabado de falar a maior idiotice do mundo e explicou:

- Sim, Jace têm um Cão Infernal que ele cuida quando fica aqui, ele sempre foi muito dócil e por isso não serve pra os fins de Hades, então Jace colocou nele o nome de Legolas e cuidou dele desde então...

- Legolas? Mas que nome mais retardado pra um Cão Infernal!

- Eu sei!- Perséfone riu e eu ri também.

Foi então que a comida chegou, grandes travessas contendo vários tipos de comida. Estrogonofe, bife ao molho pardo, arroz “colorido” (como minha mãe costuma dizer, minha mãe mortal), saladas variadas, lasanha, rocambole de frango, massas, panquecas de carne e até mesmo uma variedade de bebidas.

- Nossa! Você sabe comer bem!- Falei pra Perséfone depois que o fantasma que trouxera a comida saiu.

- Uma deusa precisa se alimentar devidamente, sirva-se!

Perséfone comeu praticamente de tudo um pouco, enquanto eu peguei estrogonofe e o arroz colorido in memoriam. Depois acabei experimentando o rocambole e bebi um suco de uva mais perfeito do que o de Kapo (sim, eu amo Kapo de uva).

Ficamos um tempo conversando e esperando o êxtase da comida maravilhosa passar e então fomos até o jardim de Perséfone.

Quando saímos, foi que pude reparar no Mundo Inferior verdadeiramente. Tudo ali parecia o caos, como se todo o mal do mundo fosse contido ali, além da vasta escuridão e das figuras negras que cortavam o céu, como se estivesse prontas para sugar minha vida com um beijo mortal.

- Por aqui Rovena, não olhe muito ao redor, espere meu jardim e verá a beleza!

- Certo...

Continuei caminhando e fiz o que Perséfone me mandou, andei sem analisar muito a paisagem que se desenrolava ao meu redor, quando enfim chegamos ao jardim dela, me senti feliz por não precisar pensar muito nas milhões de pessoas sofrendo ali. Ou quase pessoas.

- Entre!- Perséfone abriu a porta de uma espécie de estufa e entrei no amplo espaço.

Era hipnótico como tantas plantas nasciam e floresciam ali. Árvores frutíferas, flores e tudo quanto é coisa nasciam ali, sob os cuidados de Perséfone.

- Veja, está é uma semente de uma flor estranha e sombria que não precisa da luz do sol para crescer- Perséfone colocou a semente na terra e afofou a mesma, regando-a e em pouco tempo uma linda flor negra surgiu dali.

-Uau!- Exclamei admirada com a beleza da flor.

- Esta é uma orquídea negra- Perséfone apontou para outras espécies de flores e plantas- E ali são cogumelos, ali meimendros e heléboros.

- É tudo muito lindo Perséfone. Você tem um talento enorme com as plantas.

Muito inteligente para uma filha de Athena.

- O que você esperava? Minha mãe é Deméter!

Perséfone andou até uma romãzeira e tratou de cuidar da planta.

- Ah minha querida o que houve? Está tão caída! Precisa de água e muito amor para ser aquela árvore linda que me prendeu aqui!

Fiquei observando a linda deusa fazer seu trabalho e em pouco tempo e muitos sussurros com a planta, ela começou lentamente a revigorar e as folhas feias começaram a cair, em seu lugar novas começaram a nascer. Uma magia incrível.

- Prontinho, minha romãzeira está nova agora, mas não coma da fruta, a não ser que queira ficar por aqui um bom tempo, tipo a sua eternidade- A deusa falou vindo em minha direção.

- Eu sei, não irei comer nadinha que seja do Reino de Hades, ainda preciso voltar para Jace.

- Aliás, como você veio parar aqui? Foi na força bruta mesmo?- A deusa curiosa quis saber.

- Não. Na verdade a Fúria apareceu lá onde estávamos acampados e disse que apenas com um sacrifício é que ela daria o recado de Hades para Jace e o sacrifício no caso, eu. Então eu vi que eu devia isso pro Jace sabe, ele já tinha se sacrificado com o elixir e agora tinha chegado a minha vez de fazer algo por ele.

- Então você veio de livre e espontânea vontade?

- Sim, mas deixei uma coruja cuidando dele, ela manda uma mensagem para mim se algo acontecer com ele.

- Hum...- A deusa olhou em volta e seu sorriso se iluminou novamente- Que tal conhecermos Legolas? Ele vai adorar ter alguém para brincar!

- Será mesmo? Mas ele não muito grande pra brincadeiras?

A deusa riu.

- Não! Ele vai te adorar, mas cuidado que ele costuma lamber quem gosta. E é muito nojento!

Dessa vez rimos juntas.

-Vamos, por aqui- A deusa tomou a dianteira para a parte de trás do jardim dela, onde um enorme espaço amplo se abriu, com um gramado incrivelmente verde para o Mundo Inferior.

Caminhamos até chegarmos á sombra de uma árvore velha e escura, onde a deusa assoviou. Ficamos um minuto imóveis, apenas esperando e então um enorme Cão Infernal surgiu da sombra da árvore, correndo e latindo, feliz por ter sido chamada.

- Legolas, esta é Rovena, namorada de Jace- A deusa falou acariciando a enorme orelha do animal.

- E este é Legolas, o Cão Infernal do seu namorado- Perséfone me chamou para mais perto e Legolas se aproximou também, como se quisesse me dizer que não faria nada que um Cão Infernal normalmente faria com um semideus.

- Olá Legolas, como vai?- Acariciei o topo de sua cabeça e o cão infernal latiu e abanou o rabo em resposta.

- Ele é lindo e cheiroso- Comentei ao sentir o cheiro de produtos de beleza para pets.

- Ah sim! Jace ensinou os empregados a darem banho no Legolas, agora ele toma banho todos os dias e sempre fica limpinho! Antes era Jace quem dava banho nele.

Imaginei meu lindo príncipe das Trevas dando banho nesse enorme Cão Infernal, jogando água para todo lado, sem camisa...

- Legal!- Exclamei afugentando outros pensamentos insanos.

- Que tal dar um passeio com Legolas? Pode conhecer o Reino com ele, depois é só você falar casa que ele te traz de volta para cá.

- Pode ser...

Montei nas costas de Legolas e a deusa me olhava com um olhar brincalhão.

- Mostre o Reino para Rovena, Legolas, e depois a traga para casa. Seja legal com ela e nada de passar perto do Tártaro. Vai!

Em poucos segundos a deusa Perséfone virou um borrão em minha visão e minha viajem pelo Mundo Inferior começou na companhia do Cão Infernal Legolas, de Jace.