[Rovena Marie]

Depois de passado o baque da perda de James e da partida sem rastros de Jace, consegui conversar racionalmente com Quíron, coisa que eu não andava conseguindo fazer.

Chegou um tempo que meus irmãos montavam guarda para cuidar se eu não sairia no meio da noite sozinha para procurar Jace. Foi um tempo negro e de muita tristeza, o pior é a cara que todo mundo fazia para mim, com pena. Pena pela perda dos garotos que eram meus pilares no mundo caótico de semideusa.

- Olá Quíron, precisamos conversar- Cheguei na Casa Grande logo após o almoço, havia se passado uma longa semana desde a perda de meus garotos.

- Sente-se Rovena, mas hoje vamos falar racionalmente- Quíron já estava acostumado com minhas crises de choro, raiva e estresse.

- Sim Quíron, eu estou melhor, eu juro. O tempo cura algumas feridas.

Sentei no sofá a frente de Quíron e esperei que ele começasse com nossa conversa, mas não o fez então presumi que eu deveria começar.

- Quero pedir que me deixe sair para procurar Jace.

- Rovena já tivemos essa conversa antes e...

Interrompi-o.

-Desta vez é diferente Quíron, não vou sair do nada e procurar sem nenhuma pista. Vou vasculhar as coisas de Jace no chalé e tentar achar algo que me dê uma ideia.

- Se achar algo concreto e que te leve a algo realmente, pensarei em autorizar ou não a missão de resgate.

- Tudo bem, obrigada.           

Levantei para sair, mas Quíron falou:

- Já pensou que ele pode ter ido de vontade própria, para algo particular e não queira ninguém mais junto? Já pensou que ele pode não estar correndo perigo?

Parei na soleira da porta e contemplei a colina Meio- Sangue.

- Não tiro conclusões sem antes ver de fato o que acontece. Vou até o final pelo meu amor.

Sai sem esperar uma resposta verdadeira de Quíron, eu sei que ele começaria com mais um longo discurso sobre eu estar sendo insana e dominada pelo amor, aquilo que cega várias pessoas e as deixam sem o mínimo de sensatez e blá blá blá.

Quíron sabia ser muito chato e antiquado quando queria.

Caminhei em direção ao chalé 13, o lugar onde meu amor costumava a ficar.

- Olá Rov, procura algo?- Um dos irmãos de Jace estava treinando esgrima em frente ao chalé e viu minha aproximação.

- Sim, eu queria ver as coisas de Jace. Procuro alguma pista do desaparecimento dele.

-Entendo... Mas ninguém até agora conseguiu tocar nas coisas dele, ao redor da cama dele o fogo grego crepita o tempo inteiro, é como uma maldição e a palavra “Renegado” não saiu da cama dele ainda.

- Posso mesmo assim?

-Claro, vamos.

O menino mais novo do chalé 13 me levou para dentro e reparei com uma melancolia doentia que aquele fora o último lugar onde nos amamos.

- Sabe, eu sinto falta de Jace, eu amo meu irmão.

-Eu também sinto falta dele e também o amo, por isso que quero achar algo dele.

-Quer ficar com algo? Como uma lembrança de um morto?- O irmão de Jace parou abruptamente e me encarou com raiva.

-Não! Não é nada disso...

-Então o que Hades é?

- Eu quero uma pista pra conseguir ir atrás dele, apenas assim Quíron vai me deixar sair.

O garoto me analisou e por fim, se deu por vencido.

-Okay, vamos achar algo então. Sei que você ama muito meu irmão.

-Obrigada.

Cheguei perto da cama de Jace e reparei que a palavra “Renegado” ainda queimava na cama, mas não havia nem sinal do fogo grego que o irmão de Jace havia dito, estranho.

-Que estranho, o fogo não está aqui... - Como se ouvisse meus pensamentos o irmão exaltou.

Andei ao redor da cama, e nenhum fogo grego crepitante se anunciou, então toquei levemente na palavra que havia se formado na cama de Jace, mas um fogo vermelho vivo se acendeu e o irmão de Jace me puxou para trás, mas uma chama irrompeu sobre minha mão e foi em direção á única lembrança que Jace havia deixado comigo, o anel de compromisso. O fogo dançou ao redor do anel e estupefata o vi penetrar no anel e como uma chama viva queimar. Senti no mesmo instante que Jace estava vivo e bem. A chama que se instalou em meu anel foi um presente de um deus, com ele eu sempre saberia se Jace estaria bem ou não.

- A chama te queimou?- O irmão de Jace estava preocupado e analisava minha mão onde a chama havia tocado- Nenhum queimado e o anel brilha muito mais, como se a chama estivesse viva ali, estranho...

O garoto olhou para mim em busca de uma explicação lógica para aquilo, mas eu sei tanto quanto ele.

- Também não entendo...

Ficamos em pé e comecei minha busca por algo que me diga onde Jace está.

- Pode ficar a vontade, tenho aula de história da mitologia agora.

- Tudo bem, obrigada.

O irmão de Jace saiu do chalé e me deixou sozinha com a cama de Jace. Deitei sobre a cama e senti o maravilhoso cheiro de sândalo dele impregnado na cama, sem me conter chorei. Chorei lágrimas amargas de solidão e saudade.

Depois de um longo tempo de angústia me virei para cima e me deparei com um envelope preto com letras douradas entre as ripas do beliche de cima. Uma carta escrita por Jace, eu nem podia acreditar! Ali ele me diria tudo e eu finalmente poderia encontra-lo e recuperar um pouco de minha sanidade!

Peguei rapidamente o envelope que continha minhas respostas e sentei no chão com as costas apoiada na cama. Abri um pouco hesitante e trêmula a carta. Um papel branco com uma linda grafia se anunciou.

"Darling,

Se você está lendo isso é porque já parti. Desculpe se não falei para onde estava indo, mas eu tentei agora a pouco e você acabou dormindo. Vou ir daqui a pouco e você dorme lindamente, sob a fraca luz do chalé você parece um anjo sereno e belo, queria poder ficar com esse anjo, mas não posso. Não enquanto tiver este assunto na cabeça, desculpe Darling.

Antes de tudo, lembre-se sempre que te amo e de sua promessa de que nunca irá me esquecer, posso não voltar, mas vou fazer o máximo para retornar para você. Me imagine como Odisseu, eu o rei de Ítaca com uma linda mulher em casa e ter que partir para uma guerra quase perdida. Mas há esperança minha Penélope, com o amor no coração de um homem, sempre há esperança. Aguarde-me e assim como Penélope, prometa que vai ficar ai e me esperar. Se eu não chegar até o pôr do sol do quinto dia do terceiro mês a partir de hoje, bem ai você já sabe... O pior aconteceu, mas tenha fé nos deuses. Voltarei minha Penélope e criaremos num futuro uma família tão bela e unida como Odisseu teve com Penélope. Eu te prometo minha dama, me aguarde na segurança do acampamento. Não vá atrás de mim, é perigoso e eu não te dou permissão para isso.

Não sofra de amor por mim, faça algo útil e entre nas atividades do acampamento, não se isole eu (em hipótese alguma) gostaria de vê-la isolada e sozinha. Sei que vai doer e que você ficará muito tempo triste, mas volte a viver. Por mim Darling.

Tenho que partir, você começou a ficar inquieta na cama, acho que pressentiu minha partida. Estamos ligados pela alma Darling, nada vai nos separar. Tenha bons sonhos nesta noite, pois eu sei que um inferno a aguarda. Desculpe por tudo.

Sempre seu, Jace Stephen".

Cai em lágrimas grossas e cheias de amor. O que pensar diante disso? Nada esclarecedor para mim, apenas um pouco reconfortante. Joguei a carta ao meu lado e caiu mais um papel de dentro dela. Uma foto na verdade.

Nos dois nos campos de morangos, é uma foto com quatro divisões. Na primeira delas estamos de costas para a foto, olhando o horizonte. Na segunda Jace me beija, sei disso porque naquele dia ele me presenteou com o melhor beijo de minha vida. Na terceira Jace está sobre mim, também me beijando e na quarta e última, estamos deitados lado a lado e rimos furiosamente.

Atrás, um poema de Shakespeare.

“Duvida da luz dos astros,

De que o sol tenha calor,

Duvida até da verdade,

Mas confia em meu amor.

William Shakespeare”.

Tenho uma cópia, não se preocupe. Sempre seu, Jace Stephen.

Guardei a foto bem junto a meu corpo e corri para meu chalé, apenas uma coisa me faria bem agora. Under the bridge.