[Jeremias/Pirata]

“ Jer, só estou lhe mandando esta mensagem pois sei que você se preocupa muito com a Arianna, então sente-se porque lá vem: Ela acabou lutando contra um Hipaléctrion e no fim acabou inconsciente, bateu a cabeça numa pedra.

Ela está na ala hospitalar, os filhos de Apolo cuidaram muito bem dela e não teve nada grave, mas ela ainda não acordou. Acho que você vai querer passar aqui, isso foi recentemente. Tome cuidado ao vir, não se sabe o que está por ai.

Rov”

Quando essa mensagem apareceu em minha folha, nem precisei pensar muito. Apenas avisei para Acidália que tinha que partir para ajudar meus amigos (não mencionei Arin, terreno perigoso) e vim o mais rápido que pude. Quem diria que roubar uma Mercedes é tão fácil?

Antes, um pequeno PS.

Desde que deixei Arin partir com Tony, não esqueci Arin completamente. Não como eu esperava esquecer. Havia noites em que ela me visitava em sonhos e eu me perdia em seu amor. Havia dias que ficava triste por enganar Acidália, mas no fundo acho que ela sabe que nunca me terá por inteiro, não que eu não goste de Acidália e a antiga Athenas. Eu aprendi a amar aquele lugar, ainda mais agora que eu ajudo nos assunto de comunicação entre a deusa Athena e os cidadãos do lugar.

Mas uma noite não foi Arin quem me visitou em sonhos, foi outra pessoa. Uma deusa na verdade. Afrodite apareceu para mim, toda linda usando charme na voz para me encantar ao dizer belas palavras que tocaram fogo em meu coração adormecido. “Um bravo nobre como você, jovem semideus, não merece uma vida sem amor. Sem o doce gosto da paixão e de beijos que façam a vida valer a pena. Ah não meu lindo semideus, você não merece isso. É por isso que eu estou lhe dando mais uma chance, mais uma chance para o amor. Mas você pode optar dessa vez também... Deixar ou aproveitar. Você pode escolher novamente”. Afrodite falava num tom lindo, que me deixou levemente nauseado de tão magnífica que era sua voz. Ela vestia um manto grego rosa bebê como seda (se é que isso é possível) e seu cabelo loiro ondulava em suas costas como se a brisa marítima batesse neles. “O que você quer dizer com isso minha deusa?” Perguntei. “Paciência meu jovem semideus, em breve você entenderá e me agradecerá pela segunda oportunidade”. A deusa piscou para mim e sumiu num estalo de luz dourada. Acordei num sobressalto.

Continuando...

Roubei a Mercedes e cheguei aqui. Não foi fácil, lutei contra uns pássaros de Estinfália que são umas aves demoníacas comedoras de gente, com pequenos olhos malignos e bicos afiadíssimos cor de bronze. São capazes de retalhar sua vítima até os ossos. Só o barulho os derrota, e foi isso que fiz. O resto do caminho foi tranquilo e o caminho de descer a colina com um carro louco e frear bruscamente antes de acabar com todo o campo de morangos, foi feito em segundos. Desci que nem louco sem nem ligar para os campistas me olhando como se eu fosse um fantasma romano, os Lar.

Cheguei a casa e vi minha Bela Adormecida num sono superficial, mas alheia a tudo que acontecia a sua volta. Parecia tão frágil no sono, mas eu sabia que bastava gritar “MORRAM MONSTROS!” Que ela acordava num sobressalto, louca para lutar.

O problema é que eu odiava o Anthony por deixar isso acontecer. Ele devia protegê-la com a vida e não deixar que ela saísse dos limites para acasalar/lutar com um Hipaléctrion assassino. Pelo menos ele devia ter ido junto. Poderia até ser ele deitado nessa cama agora.

- Preciso... Pirata.

Não acreditei quando Arin sussurrou essas palavras antes de sairmos do quarto dela.

- Pirata... eu.... Pirata.

Corri para o lado de Arin, ela parecia estar delirando falando meu apelido com frases desconexas.

- Pirata... gosto... não... Amo.

O quê?

Cheguei mais perto da cama dela e peguei sua mão, Anthony estava imóvel na soleira da porta, seu rosto coberto de sombras.

- Arin o que você disse?- Perguntei para ela.

Arin abriu os olhos lentamente e focou seu olhar em meu rosto, quando percebeu que eu segurava sua mão ela puxou a mão para longe de mim.

- Pirata?

-Sim...

Seus olhos se iluminaram e ela me abraçou forte. Um abraço que cura qualquer dor no coração que eu ainda tivesse, um abraço que me sufocou.

-Arin, o que houve?

- Pirata eu estava com saudade! Porque estou aqui?

Olhei de relance para Anthony que se aproximava lentamente para perto de nós.

- Você lutou contra um Hipaléctrion e bateu a cabeça numa pedra. Eu a tirei de lá e trouxe para cá- Anthony falou se aproximando da cama e sentando ao lado de Arin.

- Eu não me lembro de nada... Mas obrigada.

- Arianna eu... – Anthony foi para pegar a mão de Arianna e ela se retesou para longe dele, mais precisamente no meu colo.

- Não se aproxime de mim! Jer, por que ele quer me tocar? Você vai deixar isso acontecer?

Todos nos olhávamos confusos, cada um em sua confusão particular.

- Como assim Arin?- Perguntei meio em dúvida.

- Como assim Arianna? Eu sempre toquei em você e modéstia a parte, você ama me tocar- Anthony fez uma nova tentativa de chegar perto, mas Arin apenas se entrelaçou ainda mais em mim.

Foi então que entendi. A nova chance que Afrodite me dera. Arin perdera parte da memória quando bateu a cabeça na pedra e Afrodite havia de algum modo mudado as lembranças dela, de modo que ela lembrasse apenas de mim e não do Anthony. Agora a Arin achava que eu era o namorado dela e não o Anthony. Fiquei confuso, o que eu faria agora?

- Você nunca me tocou! E eu nunca toquei em você! Jer, não acredite nele ele só quer destruir nossa relação- Arin olhou preocupada para mim, como se isso fosse realmente muito importante para ela.

- O QUE?- Anthony acabou gritando.

- Calma Anthony- Comecei me desvencilhando de Arin- Deve ser a batida, alterou as faculdades mentais dela.

- Não alterou nada! Eu estou ótima Jer! Vamos sair daqui agora? Não gosto de ficar perto desse garoto, ele me dá calafrios- Arin começou a levantar e foi em minha direção, eu não sabia o que fazer.

Foi então que Anthony foi mais rápido e correu para tentar sacudi-la ou colocar alguma ideia a força na cabeça dela e então Arin pegou minha adaga que eu ganhei de Sócrates que estava na bainha na cintura e colocou na garganta de Anthony.

- Olhe aqui garoto, eu não te conheço e nem ao menos sei seu nome e não quero tocar você nem nada do tipo, então fica na sua e não estraga o meu relacionamento okay?

Reparei que o ar começou a ficar carregado e vi que Anthony estava prestes a dar uma descarga de energia em Arin, então fiz o que qualquer um faria.

- Arianna! Pare já com isso, vá pro seu chalé agora! Preciso conversar com Anthony.

Dia de sorte. Arin obedeceu ao tirar a lâmina da garganta de Anthony e colocar de volta em minha cintura, depois me dando um beijo nos lábios (!!) e saindo porta a fora.

-Olhe Anthony, eu não sei o que Hades está...

Anthony me interrompeu.

-Não estou a fim de papo por hoje.

E saiu.

Fiquei sozinho ali pensando no dia louco que havia ocorrido até que ouvi um sussurro de uma certa deusa que me deu mais uma chance.

“Então querido, gostou do presente?”