Um verdadeiro pandemônio. De uma forma que jamais poderia ser criada por magia como foi o desafio enfrentado pela Titânia com tanta garra e força. Um caos. Dragões, que de uma hora para outra surgiram do portal que acreditávamos ser a nossa salvação. Muitos mortos e feridos por toda a parte. Sem falar que praticamente todos os magos mais fortes que se encontravam no local estavam muito debilitados.

Nossas chances de sobreviver eram pequenas, mas somos a Fairy Tail. Lutamos até o final, e não será o final até que nós ganhemos. É assim que sempre fomos. É assim que sempre seremos.

Olhei ao redor. Dragon Slayers, unidos, enfrentavam os poderosos dragões de centenas de anos atrás. Até mesmo a pequena Wendy dava o máximo de si. Até mesmo Cobra, antigo inimigo, quem diria, está lutando ao lado deles. Nós, incapazes de lutar contra tais poderosos seres, nos víamos cercados por crias, se é que assim posso dizer, de um dos dragões. No alvoroço em que nos encontrávamos, se perder do grupo era uma coisa frequente. Erza se separou do grupo maior. Logo depois, Canna, juntamente de Wakaba e Macao, sumiram. Já não avistava mais a Levy. O que havia acontecido com eles, eu não poderia dizer. Somos uma família. Tentamos proteger uns aos outros. Mas não somos deuses. Só posso torcer para que estejam bem.

Entretanto, no meio da confusão, magias sendo lançadas na direção dos filhotes de dragão ao mesmo tempo que eles lançavam seus ataques em nós, percebi algo. Algo que eu deveria ter percebido mais cedo.

Juvia. Onde ela estava? Estava aqui, agora a pouco. Estava ao meu lado como sempre esteve, desde aquela luta, anos atrás, contra a Phantom Lord. Ela sempre me acompanhou, com aquele jeito um pouco esquisito e até meio psicopata dela de me seguir. Sempre ao meu lado. Mas e agora? Onde diabos ela se meteu? Será que algo a aconteceu? Será que está ferida? Ou, quem sabe, morta? Cercada pelos inimigos? Indefesa? ONDE ELA ESTÁ?? Quem irá me seguir de agora em diante? Como eu vou sobreviver sem ela ao meu lado? COMO?

Comecei a correr. Atacava os mini-dragões quando se metiam em meu caminho. Precisava encontrá-la, precisava salvá-la. Precisava dela. Mas desde quando eu fiquei assim? Não me lembro ao certo. Talvez, no momento em que nos conhecemos. Ou mais tarde, quando ela entrou na Fairy Tail, mostrando a todos seu colar com um pingente no formato da marca da guilda. Pode ter sido em Tenroujima.

Mas eu acho que eu me dei conta de que eu realmente sentia algo muito forte por ela quando Erza me disse para tomar alguma atitude. Nunca pensei que eu passaria uma noite em claro como aquela, apenas pensando, refletindo, buscando respostas para as minhas infinitas perguntas. O que eu sentia por ela? Eu sentia, realmente, algo mais do que um simples laço de nakamas pela maga da água? Infelizmente eu encontrei as respostas para a minha vida em um momento horrível. No meio dos Jogos Mágicos e, posteriormente, de uma guerra entre humanos e dragões, extintos a séculos. E agora nem eu sei se terei como me confessar de uma vez por todas. Não sei se ela está viva. Muito menos se nós dois sobreviveremos a esse ataque.

Aumentei a minha velocidade, desviando dos destroços e dos magos de outras guildas. Até que eu ouvi duas vozes conversando. Parei abruptamente. Era ela. Sã e salva. Preciso dizer a ela tudo o que eu sinto antes que seja tarde demais. Fui caminhando rapidamente em sua direção, quando percebi que uma das crias de dragão se preparava para atacá-la e a pessoa com quem ela conversava que, sinceramente, nem parei para ver quem era. Pulei em cima das duas, jogando-as do chão. Foi por pouco que não fomos atingidos. Mas ela estava bem, e isso era o que importava.

Ouvi Lion gritando e me levantei. Eram Lyon e Meredy que estavam lá, alem de nós dois. Juvia disse algo, ainda caída. Estendi a minha mão para ela. Quando ela se levantou eu me decidi. Era agora.

— Juvia, preciso te dizer uma coisa. — Vi a sua expressão se alterar. Ela tem uma mente muito fértil. Certamente desconfia que eu vou me declarar. Mas Lyon e Meredy estão aqui... Será que eu deveria fazer isso mesmo assim? Talvez seria mais adequado só nós dois, admirando o sol que ela tanto ama, em uma praia seria bom. O mar de Ul. A água de Juvia. Um bom lugar para nós dois.

— O-O que é?! — Ela perguntou com aquela carinha dela, deleitada com a possibilidade de uma declaração... Não sei o por que de não ter percebido esse amor que eu sinto por ela mais cedo. Perdi tanto tempo... E agora tem pessoas perto de nós... Não vou conseguir dizer nada agora...

— Não... Não é nada importante, mas... — Seria correto dizer agora? Com meu irmão, que também a ama, aqui ouvindo tudo? Mas ela me ama, e Lyon sabe muito bem disso. O que eu faço??

— Pode ser importante para Juvia! — Seus olhos começaram a brilhar. Ela levou as mãos aos seus lábios. Iria chorar? Fechei meus olhos e respirei fundo. Era agora ou nunca. Segurei seus ombros. Ia dizer tudo aquilo que estava preso em meu peito. Que se dane quem ouvir. Estamos apenas eu e minha Juvia aqui. Era agora.

— Juvia!!!

Então foi tudo rápido demais. Mas ao mesmo tempo tudo se passou em câmera lenta diante dos meus olhos. Com o grito do Lyon, soltei Juvia rapidamente, ao mesmo tempo em que ela se virou de costas para mim, vendo um filhote de dragão pronto para atacá-la. Sem pensar duas vezes, me joguei em sua frente, empurrando-a para o lado ao mesmo tempo.

E o poder que saiu da boca do dragão em miniatura atingiu o meu peito em cheio.

É engraçado. Engraçado como antes o meu peito doía por angústia, sofrendo para revelar meus sentimentos. Agora, doía ao ser perfurado. Mas uma pontada de felicidade se encontrava em meu ser. Eu salvei minha amada. E é isso o que realmente importa.

Senti meu sangue subir pela garganta e tossi-o para fora. Mas ainda havia uma chance de eu sobreviver, certo? Viver feliz ao lado de minha Juvia. Afinal, onde está o Lyon está a Chélia atrás. Com o seu poder de cura... Quem sabe? Até porque eu não posso deixar a Juvia sozinha. Não posso.

Fui caindo para trás. E senti meu corpo sendo perfurado em vários lugares. Em minha barriga, no meu braço direito... Na minha marca da Fairy Tail. E foi aí que eu soube que não sobreviveria. Olhei para baixo, para o meu corpo, totalmente perfurado, e senti um fraco sorriso se formar em meus lábios. Eu consegui. Salvei Juvia.

Mas e os meus nakamas? Nunca mais os veria. Não brigaria mais com o Natsu até a morte ou até a Erza nos separar. Nunca mais veria a Lucy brigar com o Natsu. Nunca mais veria a Canna beber até desmaiar, ou veria o Elfman gritando que é homem e que as coisas são "de homem". Nunca mais veria a Mira secando aqueles infinitos copos da guilda. Nunca mais ouviria os sermões do mestre. Não veria a Azuca crescer. Não veria a Wendy se tornar uma mulher. Nunca mais veria o Happy. Ou a Charlie. Ou o Lily. Ou Gajeel. Ou Levy. Ou qualquer outro membro de minha família.

Nunca mais teria Juvia me perseguindo.

Mas ela estava a salvo. Lyon cuidaria dela por mim, disso eu tenho certeza.

Ela sobreviveu e sobreviverá.

E é isso o que realmente importa.