É tão horrível morar num orfanato onde as crianças têm entre 2 e 7 anos. Únicas exceções? Eu, Jade Mitchell, prazer. E meu melhor e único amigo, Fred. Nós vivemos em exclusão total, nem mesmo as freiras gostam de nós. Digamos que seja minha culpa. Parece que tudo dá errado quando eu estou por perto.

Como qualquer outro órfão por aqui, não tenho ideia de quem são meus pais. Que eu saiba, estou aqui desde que era recém nascida, "um pequeno monstrinho insignificante" - dizia Irmã Ieda, que sempre fez questão de me odiar e de me lembrar a cada dia que eu sou uma pedra em seu sapato. Vejam só, ela se importa comigo.

Quando eu era pequena, alguns adultos ainda prestavam atenção em mim, mas alguém sempre deixava escapar que eu tinha TDAH e Dislexia, e eles desistiam de me levar para casa e me dar uma vida. Agora, quase ninguém tem interesse em levar pra casa uma garota problemática de 12 anos, que vive se metendo em confusão.

Fred? Não está aqui há tanto tempo, mas as pessoas também não têm nenhum interesse nele. Ele perdeu os pais num acidente de carro há alguns anos, e isso também prejudicou suas pernas de alguma forma, e agora ele anda mancando e usa apenas calça, seja inverno ou verão. Fred afirma que não é algo agradável de ver, e eu não sinto vontade e não insisto.

Estávamos em mais um daqueles dias de visita, eu e Fred nos escondíamos no sótão pois sabíamos que, de qualquer forma, ninguém nos adotaria. Sinceramente, eu não desejava isso. Não conseguiria me imaginar vivendo em outro lugar, com outras pessoas. Sentando-me à mesa para jantar e conversar. Dormindo em outra cama, acordando e indo para escola. Talvez meu destino fosse continuar naquele orfanato, sendo rejeitada por todos.

- Você acha que alguém vai nos adotar? - Fred me perguntou, observando pela janela os casais entrando, felizes, pela escadaria do orfanato.

Fred quer uma casa nova, e não faz questão de enconder isto. Sei que sente muita falta de quando ele tinha um lar e uma família. Gostaria bastante de entender, porém, na verdade, nunca tive uma família, e nem um lar.

- Eu já perdi minhas esperanças. - Fred não tem nem tempo de confirmar com a cabeça quando a porta é aberta de súbito, e a Irmã Ieda nos cumprimenta com um sorriso maléfico.

- Olá monstrinhos. - Ela disse fechando a porta atrás de si. - É hora de acertar umas contas.