Leo estava trabalhando no Bunker 9 desde o almoço. Estava tão concentrado no trabalho no Argo || que nem havia ido ao pavilhão do refeitório jantar. Só se lembrava de a um ponto tirar um sanduíche de seu cinto, mas não fazia idéia de que horas era aquilo.

-Buford, consegui! - Gritou ele, ajoelhado no chão, após ouvir os roncos enormes do motor. - Consegui fazer outra parte do motor funcionar. Mas tenho que lembrar de amanhã perguntar para algum filho de Hécate se ele consegue fazer hologramas nas paredes do salão de jantar. Uma filha, eu espero.

Ele conferiu rapidamente o relógio em seu pulso, e arregalou os olhos.

-Ah, caramba, já é uma hora da manhã! Aquelas Harpias vão acabar me comendo algum dia, por Hefesto....

Ele desligou as luzes e equipamentos ligados no painel principal e saiu para o vento frio do meio da floresta do acampamento.

Olhou para os lados e arregalou os olhos. Encostada a pedra onde ficava o Bunker, alguns metros mais longe de onde Leo estava, estava uma garota. Pelos sons abafados e o rosto escondido por suas mãos, ela estava chorando.

Ele começou a se aproximar, cauteloso, da garota. Tentando descobrir quem era, constatou que não poderia ser uma filha de Hefesto. Suas meio-irmãs sabiam onde ficava o Bunker, e esse obviamente não era o caso da garota. Depois de perceber a capa prateada e a tiara prateada em seu cabelo, tudo ficou claro. Era uma das caçadoras. As Caçadoras de Ártemis estavam no acampamento novamente, apenas por três dias. Aparentemente tinham “assuntos importantíssimos a tratar com Quíron”, seja lá o que significava isso.

Ele engoliu em seco. Se aproximar de uma caçadora com certeza não poderia ser uma boa idéia. Mas não podia deixar a garota chorando daquele jeito.

-Er... Olá. - Ele parou a frente da garota.

-Quem em nome de Zeus.... - A garota levantou o rosto, e Leo logo reconheceu os olhos eletrizantes e os cabelos pretos. Thalia Grace.

-Você esta bem? - Ele perguntou, sentando ao seu lado.

Thalia ignorou a pergunta e continuou o encarando, séria. Mas Leo engoliu em seco e continuou:

-Seu nome é Thalia, certo? Sou Leo Valdez. Não sei se você lembra, mas já nos encontramos antes. Eu estava em uma missão com Piper e seu irmão, Jason.

-Eu me lembro. - Ela disse, continuando com sua postura séria e ameaçadora.

Leo suspirou.

-Então, têm algo que em que eu possa, ãh, te ajudar?

A garota olhou para o céu noturno acima deles.

-Ah não ser que você saiba como convencer Hades e Artemis de fazerem algumas loucurras, acho que não. É, é o que eu pensei. - Ela disse, olhando para os céus, e soltou uma risada de escanario.

Leo ficou em silencio alguns segundos, confuso com a resposta dela, que simplesmente não o significou nada.

-Bem... Algo mais especifico?

-Céus, eu não acredito que você esta me perguntando isso. Achei que todos já soubessem, que maravilha. Você faz idéia de que dia é hoje?

Leo tentou se lembrar se havia algo importante hoje. Passava tanto tempo no Bunker 9 que não estava muito antenado no que acontecia no resto do acampamento.

-Ãh, quinta feira?

Ela suspirou, sem tirar os olhos do céu.

-Bem que eu queria.

Ele a olhou, esperando por respostas. Ela o olhou de canto de olho, e, vendo que ainda estava confuso, voltou o olhar para o céu novamente, com um sorriso e a voz e olhar embrigados:

-É aniversário do Luke. Ou pelo menos seria. Annabeth passou o dia chorando hoje.

Leo arregalou os olhos:

-Annabeth consegue chorar?!

Thalia arregalou os olhos e explodiu em risadas.

-Ah, cara! - Ela disse, entre risos.

-Ah, eu, er, me desculpe, é que ela é meio séria, e assustadora, e... - Leo tentou se desculpar.

Thalia riu mais ainda.

-Caramba, eu não rio assim desde antes de virar pinheiro. Antes de eu virar caçadora. Antes de Luke se revoltar contra os deuses... - Ela se deitou no chão e soltou um suspiro, com lagrimas nos olhos. - Castellan idiota.

Leo se sentia um intruso na vida da garota, cada vez mais confuso.

-Ãh... Luke Castelan... Era aquele cara da guerra de Cronos? Que tinha se revoltado contra o Olimpo mas depois se matou pra salvar o acampamento ou algo assim. Vocês eram próximos?

-Ah, cara! - Thalia repetiu, rindo novamente.

-Ãh... Desculpe?

-Foi mal. É só que eu nunca conheci alguém assim tão.... Desenformado. Que aparentemente não sabe nada da minha história. Bem que eu queria que todos fossem assim. Sabe quantos olhares de pena eu recebi hoje?

-Eu... Se você não se importa, eu gostaria de saber da sua história. - Ele disse, sem jeito. Ele realmente estava curioso.

Leo se deitou ao seu lado, hesitante.

Thalia suspirou. Continou sem olhar para ele, encarando as estrelas.

-Ah, certo. Luke... Eu não acredito que eu realmente vou fazer isso. Luke foi a pessoa mais corajosa que eu já conheci. E acho que a mais idiota também. Quem fez as piores escolhas. Bem, voltando no tempo, eu fugi de casa aos 12 anos. Uma história complexa. O importante é que, após algumas semanas, encontrei Luke. Ele tinha 14 anos na época. Acabamos virando... Companheiros de viagem. Acabamos até mesmo dependendo um do outro para a nossa sobrevivência. Afinal, os monstros nos atacavam todos os dias, o tempo todo. Sobreviver era realmente uma luta. Após várias semanas, encontramos Annabeth. Ela só tinha 9 anos na época, e não passava de uma linda garotinha assustada e normalmente cercada de monstros. Mas ela provou também ser muito corajosa, ainda naquela época. E assim sobrevivíamos... Eu, Annabeth e Luke. Morando na estrada. Sendo atacados por monstros. Assaltando lojas de conveniencia de postos de gasolina. Eramos felizes, apesar de tudo. Afinal, eu tinha Luke. Ele me tinha. E ainda havia a pequena Annabeth. Mas uma hora Grover nos achou. Eu ainda não sei se isso foi uma coisa boa. Mas pareceu boa na época. Então, já estávamos na colina subindo para o acampamento. Uma dezena de monstros nos atacava. Nós fazíamos o melhor que podíamos, mas eram muitos, e muito poderosos. Eu sabia que não conseguiríamos. Luke ficou louco quando percebeu o que eu iria fazer. Foi a primeira vez que eu disse que o amava. Cercados por monstros, prestes a morrer. Que ironia. Então, eu me sacrifiquei. Por eles. Para que eles conseguissem chegar ao acampamento. No último momento, meu pai, Zeus, me transformou em um pinheiro. Quando viu que eu iria morrer. Mas eu já havia feito o que queria. É aquele pinheiro lá na entrada do acampamento, sabe? Zeus, cada minuto que eu passei dentro daquele pinheiro... Cada minuto eu permaneci pensando em Luke. Em nossos beijos, em nossas vidas. Algumas vezes Annabeth também passava por minha mente. Mas, mais de uma vez... Eu ouvi a voz de Luke. De verdade. Vinda do outro lado do pinheiro. Falando com uma árvore, qualquer um o acharia louco, haha. Ele falou comigo antes de partir do acampamento pela última vez, antes de se juntar ao exercito de Cronos. Ele disse que iria me vingar. E, é claro, disse que me amava. E me amaria para sempre... Ah, deuses! Idiota, idiota, idiota! - Ela já estava em lágrimas, sempre encarando o céu, e Leo continuava a olhar a sua face. - E então eu acordei. Annabeth já tinha 13 anos, e a primeira noticia que eu recebi foi que Luke agora era mau. Pelos deuses, eu quase me juntei a ele. Foi por tão pouco.... Por isso que me juntei a Artemis. Para me manter na realidade. Não deixar meu amor por Luke me iludir, para não acabar me juntando a ele. Ele estava errado, eu tinha que me lembrar daquilo. E, eu ainda seria a semi-deusa da grande profecia. O mundo provavelmente iria acabar por causa de um amor adolescente. Que lindo. Ha. Ha. E aí, ano passado, na luta final... Annabeth veio chorando.... Não conseguia pronunciar nada. Perseu me deu a noticia. O quanto eu ainda choro.... Pelo menos ele fez o certo no final. Se sacrificou para que todos se salvassem. Exatamente como eu fiz. Idiota, filho de uma.... - Ela se virou para ele repentinamente, antes de concluir a frase, o dando um susto por alguns segundos. - E é aqui que nós estamos.

Os seus olhos elétricos ainda estavam cheios de água, mas mesmo assim ela o assustava.

-Gostou da minha história, Valdez?

Leo engoliu em seco.

-É... Interessante. - Ele falou, hesitante.

-Concordo. 

Ela então começou a mover seu rosto em direção ao dele. Leo arregalou os olhos quando percebeu o que iria acontecer. Mas levou seu rosto um pouco na direção ao dela. E ela continuava avançando... Seus lábios estavam tão próximos... Ele fechou os olhos. Já podia sentir o cheiro de seu hálito doce... Sua respiração morna...

-Eu não vou te beijar, Valdez. - Disse ela.

Quando Leo abriu os olhos, ainda mais confuso, ela já estava de pé, alguns passos adiante.

-Tenha uma boa noite, Valdez. Espero que a sua história seja tão interessante quando a minha. - Então ela se virou e partiu em direção a floresta.

Leo continuou parado, confuso, com a boca semi-aberta. “Cara”, ele pensou, “O que acabou de acontecer mesmo?”. Depois de alguns segundos, ele resolveu que não acharia resposta aquela pergunta. Só pode concluir que aquela garota o assustava mais do que qualquer monstro. Ele então se levantou, se sentindo meio tonto, e começou o conhecido caminho para o acampamento por entre a floresta, se lembrando por um instante de tomar cuidado para não ser pego por uma Hárpia.