Not Today escrita por Ikarus


Capítulo 8
Capítulo 7 — Cinco


Notas iniciais do capítulo

ADIVINHA QUEM TÁ DE VOLTA, SIM SOU EU. E dessa vez o capítulo é comprido, confettis para mim.



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Um grande estrondo rugiu pela estrutura do prédio. A explosão com certeza não fora forte o suficiente para derrubar a construção, mas o tremor que acompanhou a intensa onda sonora derrubou quem não estava preparado. O pobre homem amarrado veio ao chão.

Emma, desesperada, levava as mãos à cabeça.

— Ah, não… Eles devem ter ouvido a gente!

Erzsébet aproximou-se da grande janela da sala de controle, franzindo o cenho ao perceber que a horda se aproximava.

— Merda… Vão nos cercar aqui dentro.

— Me soltem, caralho! Eu sei uma outra saída!

Gilbert urrou, ainda jogado no chão e preso à cadeira. Debatia-se, tentando sair de sua prisão de correntes e madeira.

— Não há outra saída, — Francis interveio antes que alguém pudesse se manifestar. — O quê, acha que pode me fazer de trouxa de novo?

— Puta que me pariu, de todas as pessoas no mundo pra me infernizar, por que logo você?

— Ouvir essa sua voz me dá refluxo.

— Na-na-não, vocês não vão brigar no meio desse apocalipse zumbi também! — António interrompeu-os, levantando a cadeira de Gilbert, mas não o soltando. Virou-se para Francis. — Fran, eu não sei qual foi a briga dessa vez, mas o objetivo de todo mundo aqui é sobreviver. Se ele sabe da saída, então vamos deixar que ele nos ajude e depois vemos o que fazemos com o Gilbert, ok?

Francis rosnou, levando a mão ao rosto, impaciente. Gilbert ele e António já foram melhores amigos em um passado remoto. Lutaram lado a lado no exército e até montaram um bar juntos. Mas isso no passado. O hoje era uma realidade um tanto amarga.

— Ok.

Emma cuidadosamente destrancou o cadeado que segurava as correntes ao corpo do novo integrante do grupo. — Agora nos diga por onde é a saída.

— Então. Não tem.

O choque foi grande. Mas não tão grande quanto o murro que Erzsébet deu em Gilbert. Em questão de milésimos, atravessara a sala e preparara um forte soco na face do agora não-tão-desconhecido sobrevivente.

— Mentiroso do caralho! — Suas mãos já lhe apertavam a garganta. António não fazia questão de parar a violenta ação da ex-policial sobre o velho amigo. — A gente acreditou em você! — Mais um soco. Provavelmente quebrou o nariz dele. — Me dá um motivo pra eu não te matar!

Rapidamente, um chute acerta a lateral dela, mandando-a para longe. — Para, caralho! Dá pra gente fugir pelo telhado! E você, solta a porra desse extintor! — Bradou, finalmente apontando para Emma, assustada, que já se aproximava por trás novamente.

Com todo o barulho da briga, não ouviram os zumbis se aproximarem. Quando perceberam, já estavam na metade do corredor.

Francis empunhou a pistola e ficou de prontidão à porta da sala. — Rápido, saiam pela janela! Eu seguro eles—

Gilbert, impaciente, tomou a arma do francês. — Você era o cara que menos sabia usar uma pistola no nosso pelotão. Se quiser ajudar, ajuda a loirinha aí e não me enche o saco. Com uma velocidade impressionante, sacou sua própria pistola e disparou três vezes. Quatro zumbis caíram, fazendo os próximos tropeçarem. — Não se esquece de pegar a porra do rádio, ainda dá pra usar.

Francis teve de admitir que o outro estava certo. Pegou o rádio e ajudou Emma a subir.

No topo do prédio, quatro sobreviventes analisavam a situação. Com muita sorte, era possível chegar ao topo do prédio vizinho, o hospital. Mas não precisavam ter pressa. Os zumbis não tinham capacidade física ou mental de realizar escaladas complexas como a que acabaram de realizar. Logo Gilbert estaria com eles também.

— Bom, eu tenho alguns enlatados aqui na mochila, então podemos acampar aqui em cima pela noite. Até amanhã, essas coisas já vão ter saído do prédio. — Emma comentou um pouco aliviada.

— Ainda bem que eles são burrinhos, né–

— Ai, caralho, alguém me puxa! — Gilbert apareceu, pendurado. Francis e Erzsébet, estando mais próximos da beira foram rápidos ao ajudarem-no. — Que cês tão fazendo aqui, tem uns caras que conseguem subir aqui!

— Ah, mano, cê tá brincando…

— Corre, caralho!

E, realmente, alguns zumbis tinham sim a capacidade de chegar ali. Os cinco correram em direção à beira oposta, percebendo que pular para o topo do hospital talvez não fosse tão fácil quanto imaginavam.

— Tóni, eu não vou conseguir pular isso aqui! Eu não sou que nem vocês que têm preparo físico! — Emma desabaria em lágrimas se não estivesse com a adrenalina a mil e com raiva do resto do grupo.

— Calma, vamos pular juntos, ok? Aqui, vamos tomar distância…

Francis e Gilbert já haviam pulado. Erzsébet ficara na retaguarda, protegendo o casal. Entretanto, havia apenas duas balas no pente e quatro zumbis subindo.

— Vamos lá… Um…

Um disparo. O nervosismo impedia a húngara de mirar direito, mesmo tendo sido treinada para não se entregar ao estresse da situação. O tiro não acertou nada.

— Dois…

Esperou mais um pouco. Os mortos-vivos já estavam sobre o topo e já corriam em direção a eles. Que absurdo era aquela velocidade? A habilidade física deles se comparava com a de uma pessoa normal! Deu o tiro, que acertou um deles.

— Corre, caralho! — Erzsébet já dava a meia-volta, preparando-se para a corrida.

— Três! Vai!

Os últimos três correram a toda velocidade, confiando cegamente naquele pulo milagroso… O chão estava a mais de 15m. Qualquer erro de cálculo significaria uma morte horrenda. Por sorte, conseguiram… E assim o fariam os perseguidores mortos. Sem nenhuma bala no pente, Erzsébet não podia impedi-los.

Porém, o vulto vermelho rapidamente prostrou-se à frente, um ímpeto de força tomando-o num último esforço para arremessá-los contra o buraco que separava as duas construções. Francis e António rapidamente o imitaram, cada um com um zumbi.

Esperaram prontos para mais espécimes inteligentes, que por sorte, nunca vieram. E finalmente permitiram-se sentar e descansar, arfando unos.

Todos tinham ido dormir após a breve janta. Todos menos Erzsébet. Insistiu em montar guarda por parte da noite, mas era só uma desculpa para poder montar e desmontar sua arma mais algumas infinitas vezes.

Puxa martelo… Puxa trava. Corpo, slide, cano, guia. Desencaixa. Encaixa. Puxa slide. Verifica mola. Começa de novo. Puxa martelo…

— Bom, tem gente que monta e desmonta arma quando bate o tédio. Eu bato aquela bronha. — Aquela risada seca veio do lado direito dela. — Tá esperando alguém ou eu posso me sentar aqui?

Deu de ombros e ajeitou-se para o lado oposto. — Devia estar dormindo.

— Eu adoraria, mas o clique-claque da sua pistola não me deixa.

— Que pena. Não vou parar porque você pediu.

— Nem se eu pedir com jeitinho? — Mais risada. Aparentemente, os outros estavam tão cansados que pareciam não se importar com um megalomaníaco rindo alto. — Tá, tá. De qualquer forma, eu teria de ficar acordado. Essas feridas não vão desinfetar sozinhas, né?

Desenrolou as faixas que cobriam seu pulso. Erzsébet olhou de relance, mas assustou-se quando olhou uma segunda vez. Tentando segurar seu tom de voz, cochichou afobada:

— Você foi mordido! Caralho, a gente precisa achar uma vacina–

— Não, não, escuta! Eu sei que é difícil de acreditar… Eu acho que tô infectado, mas o vírus me melhorou. Eu não sinto tanto sono. Não sinto dor. Parece que os meus reflexos melhoraram, até. Esse vírus me deixou forte. Não sei o que é, mas por enquanto, é um fator positivo.

— Essa coisa ainda vai te matar.

— Não é como se eu tivesse opção. Sabe… a ogiva.

— Ah. A ogiva. — Ela o observava limpar a ferida obviamente infectada em seu pulso. As faixas estavam amarelas de pus. Um nojo. Era bom que não tocasse naquilo. Ter sido infectada uma vez já era suficiente. O que a levava a pensar sobre o tal Fantasma. Aquele sexto sentido maldito dela não parava de apitar. — Por que me salvou aquela noite?

Ok, ela tinha descoberto. Como, Gilbert não sabia. Tinha certeza de que cobrira seu rosto. Mas de que adiantava esconder o jogo? Talvez pudesse confiar em Erzsébet por enquanto.

— Bom, eu poderia ter te deixado pra morrer. Você teve sorte. Não é muito comum as pessoas aguentarem dez horas depois da mordida.

— E como você sabe disso?

— Ah, fiquei um tempo estudando um maluco que foi mordido. Já faz um tempo que eu tô por aqui. Quase duas semanas. Mas mudando de assunto, ouvi falar que você se casou com o primo Rode. E aí?

Roderich, primo de Gilbert. Filho e herdeiro de um empresário abastado. Namoravam desde o colegial e acabaram se casando uns anos depois. Aí ela descobriu que nem tudo era um mar de rosas, e ele descobriu os podres dela também.

— Já faz uns dois anos que nos divorciamos.

— Credo, que rápido.

— Também, com esse seu mau-olhado.

— Eu?! Com licença, eu tenho coisas mais úteis pra fazer.

— Tipo se alistar no exército e transar com puta todas as noites?

— Tipo me alistar no exército e transar com puta todas as noites.

Os dois riram. Já foram melhores amigos quando crianças. Moravam perto um do outro naquela cidade que hoje era cenário para o apocalipse. Uma pena as pessoas mudarem da água pro vinho. Uma pena amizades sinceras murcharem como flores.

Ele repetiu um ano e ela continuou em frente, achou um namorado, se casou, se formou, teve sua própria vida. Ele saiu da escola, se alistou no exército e serviu. Tentava preencher aquele vazio de qualquer jeito. Tornou-se fútil, não tinha objetivos… Até conhecer seus amigos. Francis e António.

Mas isso é história pra outro capítulo.


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Notas finais do capítulo

Reviews me dão mais vontade de escrever ehehheheheheheheh