Not Today escrita por Ikarus


Capítulo 10
Capítulo 9 — Mentiras


Notas iniciais do capítulo

Eita, lasquêra.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/374395/chapter/10

Estavam todos dentro. O hospital era iluminado pelos raios que invadiam o interior por janelas e persianas entreabertas. Francis liderava o grupo à frente, suando frio e muito nervoso, todavia sabendo que tinha de mostrar firmeza pela moral da equipe. De pistola empunhada, podia ver o quanto tremia. O resto do grupo estava muito ocupado vigiando os outros lados, por sorte.

— Ei — a voz de Gilbert tirou-o de um transe. Sua mão estava sobre a pistola, estabilizando-a. — Você é o líder. Aja como um.

Francis nunca fora alguém que pertencesse à linha da frente. Sempre ficara atrás. Agia melhor sem pressão, ao seu próprio ritmo. Atrás de um par de binóculos e da mira de seu rifle de precisão, e não segurando uma pistola, a menos de 3 metros de seu alvo.

Era sempre ele, Gilbert, o primeiro a lidar com a volatilidade do front, do combate corpo-a-corpo. Com a frieza de um assassino, ele era exatamente o que Francis não era: rápido e preciso quando a emergência se fazia necessária.

António era tão forte quanto Gilbert, mas seu tempo de reação era muito maior. Era ótimo em seguir ordens e oferecer assistência em qualquer caso, mas era muito dependente de uma figura de liderança.

Lentamente, essas três mentes voltavam a sentir a sincronia de quando pertenciam ao mesmo esquadrão. Erzsébet podia sentir a energia de anos de convivência juntos, as muitas campanhas que cumpriram com sucesso. Ainda assim, algo não estava certo. A tensão entre Gilbert e Francis não estava resolvida. Aquilo lhe daria problemas.

O albino não confiava no loiro e vice-versa. Ele o seguia bem próximo, como se esperasse pelo deslize e fosse assassiná-lo ao menor movimento suspeito.

— Por aqui — Francis sussurrou, sinalizando ao grupo para que iniciassem a trajetória pelo novo ambiente.

O ar estava impregnado com a putrefação de alguns corpos que jaziam espalhados. Por enquanto, nenhum inimigo. Os passos dos membros do grupo eram silenciosos e lentos. Cautela definia bem o ritmo das cinco pessoas.

Conforme avançavam, podiam ouvir os gemidos dos zumbis ficarem mais e mais altos. Poderiam estar no andar de baixo, do lado de dentro de alguns quartos, mas o efeito psicológico era terrível. Era como se estivessem respirando sobre sua nuca, prontos para atacar.

De repente, Gilbert parou e começou a revirar a própria mochila.

— Gilbert, isso lá é hora pra fazer isso?! — Erzsébet tentou interrompê-lo, fazendo sinal para que o resto do grupo parasse. Sua voz vinha em um sussuro agressivo e impaciente.

— Rapidão — o homem retrucou, tirando um caderno de dentro de sua mochila. — Aqui. Acho que isso pode ajudar.

Era o caderno que encontrara na mochila de um outro sobrevivente. Francis tomou-o de suas mãos, rapidamente folheando por suas páginas.

— … É um diário de um médico daqui. Tem um mapa que leva a um andar no subsolo, de acesso restrito.

— Pode ser um laboratório. Justamente do que precisamos! — Emma sentiu-se mais aliviada proferindo essas palavras. Erzsébet sorriu.

— Mas se as coisas não mudaram, os próximos andares vão estar infestados — Gilbert interrompeu.

— Quantos zumbis por andar?

— Uns vinte.

— São três andares e mais um subsolo? Acho que conseguimos. Qualquer coisa, corremos — Francis murmurou a última parte.

— Odeio seus planos, mas não tenho sugestão melhor. Vamos seguir em frente.

No segundo andar, depararam-se com dois infectados corredores, vagando pelos quartos. Andavam encurvados como os outros, mas seus movimentos eram mais precisos, pareciam mais conservados do que os infectados normais (que geralmente não tinham um braço ou uma perna ou alguma outra parte importante). Eram máquinas ideais para matar, pensou António. Era cada vez mais difícil não pensar naquilo tudo como uma grande conspiração.

Passaram o primeiro andar com dificuldades. O espanhol quase tropeçara em um zumbi jogado no chão. Estavam no térreo e só precisavam chegar na porta que dava acesso às escadas do subsolo.

Havia muitos zumbis espalhados pelo pavilhão. A locomoção de um grupo de cinco pessoas era perigosíssimo num lugar infestado como aquele. Mas estavam tão perto…

Já podiam ver a estranha porta no fim do corredor, quando foram cercados por um grupo de cinco infectados. Foi rápido demais para poderem se esconder, e a primeira reação de Francis foi congelar em seu lugar para depois tentar erguer a arma.

Os infectados rosnaram para o grupo, mostrando os dentes. Gilbert e António rapidamente abaixaram a arma de seu companheiro, que percebeu que os disparos só chamariam a atenção dos demais zumbis.

— Agora é a parte em que a gente corre — O espanhol disse, puxando a namorada para si e começando a correr na direção contrária.

O francês e a húngara logo seguiram-no, mas Gilbert foi ao encontro dos inimigos.

— Eu sou imune! Vão indo na frente que já alcanço vocês!

António, impaciente, volta com o companheiro — Não posso deixar ele sozinho! Vão, vão! Nos encontramos depois!

O grupo se divide. Francis e as garotas correm por corredores livres, lidando com um ou dois zumbis lentos até chegarem na estranha porta de aço reforçado. Era necessária uma senha para que a entrada fosse permitida.

— Ah, droga…! Meninas, vou precisar que cubram as minhas costas enquanto eu tento encontrar a senha!

Erzsébet já se preparava em sua posição, mas Emma não estava certa de si, empunhando uma pistola pela primeira vez. Três avançavam em uma velocidade moderadamente preocupante.

Enquanto isso, Gilbert e António corriam em círculos pelos corredores para tentar distrair seus perseguidores, em vão.

— Merda, eles são rápidos!

— Então eu dou um jeito.

No meio da corrida, o alemão dá meia-volta e corre de encontro aos zumbis. No mometo certo, ele se abaixa, dando uma rasteira em dois deles. O espanhol imita-o, colidindo-se certeiramente contra a canela de um deles. Sorriu ao sentir os ossos do perseguidor defunto fraturando. Gilbert rapidamente levantara-se, desferindo um chute rápido contra a caixa torácica de outro, que fora jogado contra a parede com violência.

Mas apesar dos golpes poderosos, eles continuavam se levantando. Não conseguiriam lutar para sempre, decidindo correr novamente na esperança de encontrar Francis com as portas abertas.

O francês já se desesperava quando viu a pequena lâmpada acender-se em verde.

— Consegui! Entrem, vamos!

Os três entraram, esperando pelo momento certo de fechar as pesadas portas de ferro. Assim que os últimos dois chegaram, empurraram-nas de volta, por pouco deixando os perseguidores entrar. Francis selou a entrada novamente com o código e respirou aliviado. Gilbert e António estavam apoiados um no outro, batalhando para respirar e acalmar seus corações novamente. Estavam finalmente a salvos.

— Bom trabalho, galera — Francis sorriu, aliviado.

— Calma… O Gilbo não tá bem — António desesperou-se, segurando Gilbert que convulsionava violentamente.

— Erzsébet, me ajude a imobilizá-lo, rápido!

O albino respirava fundo e rápido, engasgando com a própria pressa. Seus braços e pernas moviam-se bruscamente, como se estivesse sendo eletrocutado. O espanhol segurava suas duas pernas, enquanto o francês e a húngara seguravam um braço cada.

— Emma, atire nele — Francis ordenou.

— Não! — ela se negou.

— Ele mentiu! Ele não é imune porra nenhuma! Atire logo!

Na hesitação de atirar, Gilbert se liberta, jogando os três que o seguravam para longe. Quando tentam aprisioná-lo, ela grita:

— Não se aproximem! Não segurem ele! Só estão piorando a situação!

— Emma, ele não é imune!

— Ele mentiu para nós!

A jornalista belga tremia muito. Suas mãos mal conseguiam segurar a arma e suas pernas mal sustentavam o peso de seu corpo. Ela olhava para o homem que se encolhia contra a parede, instintivamente protegendo-se contra o possível tiro.

— Eu confio nele! Parem com isso ou eu…! — e mirou para os três — Ou eu atiro em vocês!

— Emma, por favor…!

— Ninguém vai atirar em ninguém! Parem com essa palhaçada! — Era António. Ele pôs se entre o cano da arma e os alvos. O espanhol estava afobado da corrida e da situação, mas estava determinado a impedir uma desgraça — Gilbert disse que não estava infectado e eu acredito nele. Parem já com isso, Erzsi e Fran… Não precisamos de mais mortos. O que quer que esteja acontecendo com ele vamos resolver depois, com mais calma e sem armas.

Emma chorava, soltando a arma e indo ao encontro de Gilbert com António, que já se acalmava por conta própria. Erzsébet nunca pensou que chegaria a ser a favor da execução de seu amigo. Nunca se sentira tão… suja.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Not Today" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.