Once Upon A Time escrita por Aline Gonçalves


Capítulo 3
Um novo começo


Notas iniciais do capítulo

Hey, posto agora nos fins de semana ok?
Comentem, por favor!



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Estava cansada, o voo até Nova York havia sido longo, e agora eu estava de novo dentro de um carro, mas diferente de antes eu não estava partindo, e sim chegando.
Marcus diferente de antes, agora não falava mais nada sobre o campus, durante todo o percurso ele tinha me dito de como eu iria me adaptar, ou como as coisas iriam fluir mais rápido que o inesperado, mas na verdade, nada disso me confortava uma vez que a única figura mais próxima que eu tenho de uma mãe desde que nasci, havia ficado na Geórgia.

- Eu to te dizendo Charlotte, você vai adorar o campus... – ele novamente voltou a falar.
- Marcus, por favor, eu realmente não to animada. – e com o que eu acabara de falar, ele se calou. Eu podia até ter concordado em ir, mas nunca fora e nem seria uma escolha minha, a segurança de todos lá – ou do mundo, segundo meu próprio mentor – dependia de mim, e eu me via em tal situação, que a única coisa que sentia era pena.
Pena de mim, pena por não poder tomar minhas próprias decisões, pena por ter laços em um mundo onde eu nunca decidir entrar...
Então seria assim a vida toda? Eu nunca poderia sequer tomar minhas decisões?

Chegamos a um lugar vazio, literalmente vazio, era um terreno baldio, só tinha areia. Era como um deserto, Marcus tinha pegado o telefone e atendido uma ligação, fiquei esperando por minutos, talvez até horas, e nada. Não havia acontecido nada, e eu já estava me irritando com tal fato. Porque era assim que eu me sentia agora, na maioria do tempo eu ficava com raiva por nada e saia descontando em qualquer um que aparecesse na minha frente, meus sentidos estavam apurados, minha cabeça era uma névoa e meu corpo uma total complicação. Eu já não sabia mais o que estava em seu lugar e vez ou outra eu tinha febre das mais altas.
Bufei constatando que não iríamos sair dali e o olhei.

- E aqui é a parte em que você se diz ser um assassino em série e eu corro até minha tão dolorosa e desesperada morte? – perguntei meio impaciente. Marcus por outro lado riu, pelo menos ele tinha senso de humor.
- Calma Charlotte. Estou falando com o Sr. Manfroi. – continuou então a conversar com a pessoa do outro lado da linha. Fiquei analisando o nada quando uma coisa me ocorreu.
- Eu conheço esse nome. – murmurei
- Ah senhor, vejo que nossa guardiã lembra-se de seu sobrenome. – Marcus comemorou, ele e o outro homem continuaram conversando por mais vinte minutos, até por fim, desligar.
- E agora, pra onde vamos? – perguntei. – Não tem nada aqui, Marcus. – falei como se fosse o mais obviu possível.
- Cher, posso te chamar assim, não é? – perguntou e eu assenti. – Então Cher, você tem que aprender a ter calma... – ele deu um breve aviso para que só depois eu pudesse gritar com o medo que eu tive. Do lado de fora, onde estava somente o carro, e consequentemente nós, o chão havia começado a cessar, olhei espantada para ele que apenas murmurou um “tudo bem.” E continuei a olhar até onde aquilo iria, para minha maior e total surpresa, o chão cessou em um circulo um pouco maior que o tamanho do carro, onde nós começamos a descer obviamente, assim que chegamos a tal parte subterrânea dali, Marcus ligou o carro e estacionou o mesmo numa vaga, sai do veiculo ainda a tempo de ver o chão subir mais uma vez. Olhei pra Marcus com uma feição confusa e ele riu de leve.
- Marcus, o chão cessou, e... Estamos aqui embaixo... O meu Deus, o chão acaba de cessar como uma espécie de elevador para veículos... Onde estamos? – perguntei afobada andando de um lado para o outro com as mãos na cabeça. Era tudo novo pra mim, e as coisas estavam acontecendo rápido de mais, e eu não estava conseguindo digerir tudo a tempo suficiente para mais novidades da minha nova vida.
- Cher, você esta no campus. – ele falou depois de dar uma breve gargalhada da minha suposta crise. – Aqui é o Collins High School, Charlotte. – eu ainda não havia mudado a feição de repleta surpresa, ele por outro lado abriu os braços e girou de forma como se mostrasse um “novo mundo”. Ele pegou minhas malas e então fomos caminhando pelos corredores enquanto conversávamos. Paramos em frente ao que ele disse ser meu quarto, onde me dissera que eu não teria companheira alguma, ficaria sozinha, segundo ele, seria um privilégio do diretor da escola. – Aqui você vai encontrar pessoas como você, vamos treinar suas habilidades, e ver suas fraquezas... – ele disse.
- Então quer dizer que eu estou numa espécie de treinamento, aonde vocês vão me expor ao “perigo” e procurar minhas fraquezas? Nossa to me sentindo a pessoa mais segura do mundo. – meu tom de ironia podia ser percebido de longe, e eu ainda não sabia como ele simplesmente não “explodiu”.
- Charlotte, eu sei que isso tudo é muito novo pra você e que há uma semana você nem sabia disso tudo, desse mundo. Mas acho que ficar em negação pra sempre não vão fazer as coisas melhorarem. É sua vida agora, aceite ou não, sua família... Você tem um legado. – ele respondeu convicto. – Não faça a morte dos seus pais serem em vão... – e então ele saiu, me deixando mais abalada do que eu imaginaria ficar. Tocar no assunto da morte dos meus pais era doloroso. Doloroso porque de certa forma, minha vida inteira eu fui escondida de um mundo do qual eu deveria ter pertencido, e olhando assim de longe, só me afastaram. Como se tivessem planejado, e eu era tão fraca, tão impulsiva... Que encarar isso agora, tudo de uma vez, tendo que deixar de crer nas minhas crenças, ver as coisas de um lado totalmente diferentes, me assustava... Tudo isso só me assustava. Eu parecia uma criança de sete anos perdida em algum supermercado a procura da mãe desaparecida.

Ainda naquela noite, eu liguei pra Abigail contei pra ela que tinha chegado bem, que o Marcus havia sim me tratado bem e que eu demoraria a voltar. Choramos por cerca de horas talvez, ela queria que eu voltasse, e eu queria ir embora. Tínhamos os motivos perfeitos para assim dizer minha partida, mas então à imagem do sacrifício dos meus pais passou por minha cabeça, e eu me vi forçada a concordar com minha própria consciência. Eu não queria que a morte deles tivesse sido em vão.
Afinal de contas, eles haviam morrido por mim!
Isso conta muito.
Tratei de arrumar uma desculpa esfarrapada e desliguei a ligação, peguei minhas malas ainda do mesmo jeito em que eu e Abigail tínhamos fechado, e as coloquei em cima da minha cama onde eu as abri e comecei a arrumar “meu quarto”.
Não estava com sono, já tinha tomado banho, arrumado minhas roupas no guarda-roupa, havia colocado quadros na parede... Tinha decorado todo aquele ambiente como meu.
Passava das duas da manhã quando eu resolvi sair do quarto por estar com fome.
Eu não podia negar, aquele lugar era incrível! Parecia que eu estava um século depois do que realmente estava. O lugar era todo feito de titânio, não sei bem ao certo, talvez por estarmos no subterrâneo fosse assim. As portas se abriam com sua presença, como aquelas que têm no shopping, mas a única coisa que diferenciava as mesmas era o modo como abria. As portas daqui abriam de dentro pra fora numa linha vertical desenhada na mesma, que pelo que eu percebi, assim que passávamos sobre elas, as luzes do cômodo seguinte automaticamente acendiam, enquanto a do interior apagavam.
Andei mais alguns minutos até parar de frente a um tipo de painel onde tinha um mapa, e pelo que eu pude perceber, eu não estava longe da cozinha. Continuei andando e ao passar por um corredor, a porta da cozinha abriu, entrei na mesma agradecendo mentalmente. Abri uma das geladeiras de lá e peguei um copo, despejando no mesmo uma boa quantidade de suco de laranja, fui até uma das prateleiras e encontrei um bolo, parti o mesmo e sentei na bancada admirando mais um local ali. Aquela cozinha era enorme, acho que nela cabiam mais o menos no mínimo umas quinze pessoas, continuei comendo normalmente quando de repende a luz apagou, olhei assustada para todos os lados procurando alguém, mais não havia ninguém ali.

- Oi? – perguntei meio receosa. – Tem alguém ai? – continuei a perguntar, soltei um grito abafado quando vi uma sombra passar entre um canto e outro, corri apressadamente até o outro lado da bancada e de lá abri uma gaveta e peguei a primeira faca que vi. – Marcus, é você? Olha, isso não tem graça. – o medo em minha voz estava bem claro, e foi então que o copo de vidro – o único devo ressaltar. ­– que estava atrás de mim, caiu, se espatifando em mil pedaços no chão. Girei meu corpo o mais rápido possível pra trás, mas não tinha absolutamente ninguém ali. Corri até a porta, mas a mesma não abriu. – SOCORRO. – gritei. Eu ainda ouvia barulhos sim atrás de mim, mas não ousei olhar com medo do que veria, continuei a segurar a faca em minhas mãos como se minha vida dependesse disso. E então, do mesmo modo que a luz foi embora, ela voltou. Misteriosamente. Só agora me permitir olhar pra trás, não tinha nada, nada além do copo quebrado em cima da... Oh meu Deus. A porta abriu e eu larguei a faca no chão correndo o mais rápido que pude até meu quarto, ao chegar nele sentei na cama e vi o quão tremula eu estava. Aquilo só poderia ser brincadeira, o copo estava no chão eu tinha escutado o barulho dele quebrando, eu não estava ficando louca. Um copo não poderia se concertar sozinho, até porque vidro não cola. Céus... Alguma coisa me diz que por aqui, isso vai ser a menor das minhas dores de cabeça.

O dia mal amanheceu e eu já estava de pé, eu não havia conseguido dormir quase nada naquela noite, uma vez que só me passava à cena na cozinha, era seis da manhã e eu realmente não acreditava que alguém iria me acordar a essas horas. Comecei a ficar sem opção do que fazer, e olhar para o meu teto já estava ficando tedioso, abri meu guarda roupa e de lá tirei uma roupa simples, fui em direção ao meu banheiro onde me despi e tomei meu banho. Depois de vestida, peguei meu celular e tentei ligar para Abigail mais uma vez, só que por algum motivo agora meu celular não tinha mais sinal algum, bufei irritada e comecei a andar de um lado para o outro, eu não queria sair do quarto, estava apavorada com o que tinha acontecido comigo, eu não queria conhecer os outros, tampouco ficar aqui. Eu queria ir pra casa, só Deus sabe como eu quero isso.
O barulho de batidas na porta me trouxe a realidade.

- Charlotte? – a voz do Marcus soou do outro lado da porta. Imediatamente a porta ficou transparente me permitindo ter total visão de quem era.
- Pode entrar. – e em poucos segundos ele havia entrado. – Por que a porta não abriu? Quer dizer, elas abrem automaticamente com a nossa presença. – afirmei tentando entender.
- Ainda bem que percebeu e me perguntou isso. – riu. – É como se fosse um convite, as portas de todos os quartos só abrem quando você convida. Caso não queira que alguém entre, não convide. Ou se não, retire o convite. E quando chega alguém elas ficam transparentes, fazendo então você ter total visão de quem é, mas isso só acontece do lado de dentro do quarto, porque do lado de fora continua sendo metal. – eu ainda não tinha entendido o porquê de tudo aquilo, mas decidir afirmar. – Quer ver? – perguntou e eu afirmei. – Retire o convite. – disse simplesmente.
- Como assim? – perguntei confusa.
- Apenas diga “eu retiro seu convite para entrar no meu quarto.”
- Tudo bem. – murmurei, respirei fundo e olhei bem atenta para saber o que aconteceria a seguir. – Eu retiro seu convite para entrar no meu quarto. – e então o mais estranho aconteceu, Marcus estava um pouco longe da porta, mas algo fazia com que ele cambaleasse para trás, e por mais que ele tentasse ficar, não conseguia. Até que ele chegou do outro lado da porta e já estava no corredor, quando simplesmente a minha porta fechou e não tornou a abrir com a presença dele. – Isso é incrível, Marcus! – falei indo em direção à porta que se abriu e me permitiu ver mais uma vez meu mentor.
- Que bom que gostou. Agora vamos que temos um longo dia pela frente. – concordei e fomos então para o que ele disse ser o pátio, lá tinha varias pessoas, umas com seus amigos e outras com mentores, assim como eu. – Tá vendo aquele pessoal que tem mentores como você? – ele perguntou e eu concordei olhando. – Eles também são novatos, estão aqui pela primeira vez, mas já sabiam de suas origens, eles só estavam esperando a idade certa para serem chamados.
- Então quer dizer que eu sou a única na idade deles que não sabia que nada disso existia e que isso seria apenas um mundo de ficção? – perguntei rindo de leve e ele me acompanhou. Ser uma estranha não era um problema pra mim, nunca fora afinal. Eu só não queria pertencer a esse mundo, pra mim isso tudo era nada mais, nada menos que nada. Eu não acreditava em “poderes” ou em “vilões”, isso tudo era fantasia na minha mente, mas enquanto eu estivesse aqui, teria que fingir acreditar. Fingir. Era isso que eu tinha que fazer.
- Bom dia a todos os alunos! – um homem no alto do pátio dava as boas-vindas. – Sou Santiago Manfroi, diretor e dono daqui, espero que tenham gostado. Hoje vamos começar apenas com as apresentações básicas, mas amanhã começamos a trabalhar duro, hoje os veteranos vão mostrar a todos os novatos como tudo funciona. – todos os veteranos fizeram um barulho em reprovação. – E já sabem nada de celular aqui. – e ao terminar de dizer aquilo, ele discretamente olhou pra mim. Fiquei meio desconfortável com tal ato, mas resolvi não me manifestar, as apresentações continuaram e Marcus me levou pra conhecer algumas pessoas, até que num impacto eu cai no chão.
- Me desculpe. – pedi assim que vi que havia esbarrado em um homem. Olhei disfarçada pra ele que agora se levantava, me levantei também e então aquela sensação ruim que tive na cozinha voltou. Era como se ele tivesse feito aquilo, como se estivesse me espiando. Ele não parecia novato, uma vez que todos aparentavam ter entre dezesseis a dezoito anos.
- Olhe por onde anda, da próxima vez. – e dizendo isso, ele saiu. Olhei meio perplexa para Marcus e ele se aproximou.
- O que foi aquilo? – ele perguntou.
- Eu... Eu não sei. – respondi e olhei pra trás, ele estava me olhando. – Eu só esbarrei nele. – balancei minha cabeça em negação e voltei minha atenção às pessoas que Marcus me apresentava. Mas o rosto daquele homem continuou a assombrar minha cabeça por toda manhã, me irritei levemente pelo modo que as pessoas me olhavam, o modo como Marcus me apresentara como “guardiã”. Eu não era um Deus afinal de contas, um simples nome não iria mudar nada do que eu era, ou minha capacidade. Uma vez que eu nunca reagira bem a pressão.
- Cher, o treinamento começa daqui a vinte minutos. Vá conhecer outras pessoas. – Marcus falou com entusiasmo na voz. Obedeci ao mesmo e fui conhecendo só por vista algumas das pessoas que eu veria frequentemente naquele lugar. Andei até chegar a uma parte do lugar onde só tinha escombros, e lá me encostei tendo total visão de tudo tinha varias pessoas ali e eu me vi totalmente perdida.
- Querendo fugir das boas vindas também? – uma menina sentou do meu lado. A olhei de relance com um sorriso no rosto, ela era linda. Seus cabelos longos eram negros, seus olhos violeta e sua pele tão clara quanto a minha. – Sou Ella Lemer.
- Charlotte Evans, mas pode me chamar de Cher. – ela pareceu se espantar com o que eu acabara de dizer.
- O meu Deus. – pôs a mão na boca. – Então é real, você... Você existe. – a confusão no olhar dela era mais assombrosa que minha face, eu não sabia do que ela estava falando, mas estava tão perdida quanto a mesma, olhei de um lado a outro vendo que ninguém percebia o que estava acontecendo ali, mas ainda assim eu me sentia sendo vigiada, alguém me observava e eu sabia disso. – Você é a guardiã. – e foi então que tudo voltou a fazer sentido. Ela sabia da minha existência, sabia do tal legado que minha família pertencera, sabia que meu sobrenome era tão tenebroso quanto falaram. Ela sabia de muito, mas nada sobre mim.
- Pois é. – respondi meio desconfortável.
- Qual... Qual o seu poder? – ela perguntou e eu parei até mesmo de respirar.

Qual era o meu poder?
Eu chego a ter poderes?

Eu não sabia se tinha poderes, e se tinha não sabia quais. Fazia cinco dias desde a tal “transição”, mas também fazia cinco dias que Marcus não me falava sobre nada disso. Todas as nossas conversas eram baseadas em como tudo mudaria de agora em diante, em como eu teria que saber dizer “adeus” mesmo querendo não dizer, em como eu teria que ser forte mesmo fraca.
E agora tudo começara a não fazer sentido, porque eu sabia que todos ali presentes sabiam seus “poderes” ou suas habilidades, seja lá como se chama. Quanto a mim... Eu não tinha ideia dos dons que possuía, e isso era considerado sim uma fraqueza.

Talvez minha maior fraqueza.

- Ah, deixa, eu sei, sou muito curiosa. – Ella disse ao perceber que eu estava ficando mais desconfortável que o normal. – Mas posso esperar mais cinco minutos para saber.
- Cinco minutos? Como assim? – eu não havia entendido nada do que ela acabara de dizer.
- O treinamento, Charlotte. – falou como se fosse a coisa mais obvia do mundo, e eu continuei fazendo cara de quem não estava entendendo nada. Ela prosseguiu. – Os veteranos vão para o estádio, mostram seus poderes, e o diretor escolhe um calouro por vez para que ele faça a mesma coisa. – meus olhos se arregalaram com tudo o que eu tinha acabado de ouvir. O que eu mostraria a eles na hora que fosse chamada? Deus, o que eu faria? Provavelmente todos ali iriam rir de mim quando eu não mostrasse nada, porque eu não sabia o que mostrar. – Tudo bem? – ela tornou a perguntar.
- Sim... Eu só preciso falar com o Marcus, meu mentor.
- Tudo bem, nos encontramos no estádio. – e depois disso, eu sai. Desviava das pessoas e ia em direção onde eu tinha visto Marcus pela ultima vez, e para minha sorte, ele ainda estava lá.
- Precisamos conversar. – segurei o braço dele com um pouco de força e ele me olhou preocupado, fiz sinal com a cabeça para que ele me seguisse e fui para um lugar mais reservado.
- O que aconteceu? – ele me olhava como se quisesse encontrar algum problema em mim.
- O que vai acontecer quando eu for pro meio do estádio e não mostrar poder algum por que eu não sei o que mostrar? – minha voz mostrava o quão irritada eu estava.
- Eu estava falando disso para o Sr Manfroi, e ele propôs o seguinte. – Marcus fez menção para que sentássemos e eu o segui, estávamos um de frente pro outro. Ele respirou fundo e prosseguiu. – Como não sabemos o que exatamente você faz você vai lutar com a afilhada do Sr Manfroi.
- Lutar? – sobressaltei essa palavra tendo em mente que aquilo não seria bom. – Vocês querem me matar? – perguntei já de pé.
- É o único jeito. Eu prometo que nada vai te acontecer. – e dizendo isso ele saiu. Fiquei olhando para o local onde o mesmo tinha acabado de sair ainda perplexa com o que ele me exigiu. Marcus tinha me exigido isso sim, ele não havia me dado alternativa a não ser essa, portanto ele tinha exigido. Um sinal começou a tocar e todos os alunos e mentores foram para o que eu acho ser o estádio, sentaram todos nas arquibancadas e de lá o Sr Manfroi prosseguiu dando continuidade a minha suposta morte.
- Pessoal esse ano vamos começar diferente. – todos ali presente fizeram barulho de reprovação. – Em vez de vocês mostrarem seus poderes como todos os anos, hoje vocês vão duelar! – a gritaria em aprovação agora era bem nítida, eu via a euforia disso em alguns, e o medo em outros. – Novatos e veteranos, uns contra os outros. E para começar eu vou escolher. – eu não sabia se era a primeira a lutar ou a ultima, mas silenciosamente eu rezava pra ser umas das ultimas, quanto menos me olharem, melhor. Mas acho que minhas suplicas haviam sido em vão, pois no segundo seguinte, o Sr Manfroi disse tudo que eu menos queria ouvir. – Esse ano, recebemos ate que enfim, nossa guardiã. – os alunos só faziam gritar, e eu tentava me esconder atrás do Marcus que comemorava junto com os outros. – Então para dar as boas vindas, ela vai começar! – olhava confusa para Marcus que agora me incentivava a levantar, ele estava de pé sorrindo segurando minha mão, e tudo aconteceu tão rápido que eu me vi no centro do estádio junto com o diretor, o Sr Manfroi. – Aplausos para Charlotte Evans! – ele gritou e todos pareciam comemorar com minha presença, eu me sentia inteiramente desconfortável com toda aquela atenção, olhei por toda a extensão de relance e vi que enquanto todos comemoravam com aquilo, um par de olhos escondido por um óculos escuro me olhava serio, ele estava em pé, perto da porta, e a linha da sua boca era tão reta que eu desejei por um momento saber o que ele estava pensando. – Ela vai lutar contra minha afilhada, Kristen Guidotti. – e a euforia parou assim que ele disse aquele nome, agora todos ali só faziam cochichar entre si, ora eles olhavam pra mim, ora pra uma garota que estava sentada conversando junto com as amigas como se não desse importância alguma para o que estava acontecendo. Ela levantou calmamente e se direcionou ao centro do estádio onde estávamos. – A única regra é que não vale matar. – e dizendo isso ele saiu, junto com Marcus. A garota que estava na minha frente, Kristen, se eu não me engane, ficava me olhando, esperando alguma ação minha, mas eu também a olhava, eu estava esperando acontecer alguma coisa para começar a correr.
- Você esta com medo de mim. – ela falou calma, mas sua voz esbanjava perigo. Todos poderiam nos ouvir, já que estava o maior silencio, eles estavam assim como ela, esperando algum ataque meu. Mas a única coisa que minhas defesas emitiam era que eu deveria correr pra bem longe dessa garota.
- Eu não estou com medo. – minha voz denunciava a mentira, e ela riu ao perceber isso.
- Está mentindo. – disse e depois levantou o braço, na mesma hora meu corpo todo foi pra cima, flutuando sobre a gravidade só pra logo depois ele ser arremessado contra a parede e cair de forma bruta no chão. Minhas costas doíam de forma que eu jurei não aguentar toda aquela dor, e eu já estava ficando mais do que irritada com todo aquele publico, eles estavam com os olhos arregalados pelo que havia acontecido. É se fosse eu no lugar deles não faria diferente. – Me deixa ver se entendi. – agora quem flutuava era ela. – Você perdeu os pais quando pequena e foi criada num orfanato onde ninguém quis te adotar por te achar estranha. – eu tentava levantar, mas alguma coisa me prendia no chão, uma coisa mais forte que o normal e eu sabia que era ela que estava fazendo isso. – Sua transição foi há cinco dias, e nesse mesmo período você não sabia de nada sobre poderes ou até mesmo que era uma guardiã, e meu pai te colocou pra lutar comigo por pura curiosidade. Porque ninguém, nem mesmo você sabe quais são seus poderes, se é que você tem. – ela terminou de falar tudo aquilo, e eu não sabia como ela sabia de tudo. Ela olhou pra Marcus que tinha o cenho franzido e Sr Manfroi que parecia estar orgulhoso de sua afilhada ser tão habilidosa.

Foi ai que alguma coisa despertou em mim, e de novo eu sentia que ia explodir de dentro pra fora, minha pulsação era acelerada e eu sentia meu coração querer sair pela boca, tentei mais uma vez levantar e consegui. Kristen pareceu surpresa com isso, e de novo me arremessou para longe, dessa vez eu parei do lado do homem misterioso que eu tinha esbarrado mais cedo, ele me olhava com um sorriso vitorioso no rosto, o estádio todo se mantinha em silencio, e com certa dificuldade eu levantei de novo. Minhas mãos queimavam e meus olhos ardiam, eu não sabia o que estava acontecendo comigo, mas diferente da outra vez agora eu não sentia dor, eu sentia a necessidade de extravasar. Fiquei encarando a garota que ainda flutuava, e por um segundo desejei também fazer aquilo. Meu olhar sobre ela era tão profundo que eu senti a alma da mesma se assustar pelo modo que a olhava. Eu não tinha percebido, mas de novo o barulho voltou a surgir naquele local, e quando dei por conta eu também estava flutuando assim como ela. Sorri sinicamente para garota sem saber mais o que eu poderia fazer, foi então que ela começou a me enforcar só com o olhar. Eu me sentia tonta e prestes a desmaiar, quando algo em mim extrapolou de novo, tudo o que eu sentia a explosão de dentro pra fora aconteceu e dessa vez, Kristen foi arremessada contra a parede e depois caiu. Calmamente meu corpo foi indo de encontro ao chão, olhei pra ela que parecia não conseguir levantar mais e virei às costas prestes a sair.

- Primeira regra: nunca dê as costas ao seu inimigo. – e dizendo isso ela levantou de forma rápida e depois arremessou alguma coisa sobre mim. Eu sentia o objeto vir ao meu encontro rápido, mas quando o mesmo ficou a menos que um centímetro de distancia, eu o fiz parar. Não sabia como, mas fiz.
- Se você tem amor à vida, nunca mais tente me nocautear por trás. – falei virando lentamente. Olhei pra ela que estava tão espantada quanto os outros, sorri debochadamente e toquei na mesa a minha frente, segundos depois o objeto que eu acabara de tocar havia virado pó. Distanciei meus braços do corpo e abri as mãos, onde em frações de milésimos todo o estádio estava tomado por uma ventania sem igual.

Eu sabia que era eu que estava fazendo tudo aquilo, mas simplesmente não sabia como parar. Era como se fosse outra parte de mim, uma parte guardada a sete chaves e que aos poucos ia se libertando, eu não tinha intenção alguma de machucar Kristen, mas outra parte minha tinha sim. E infelizmente era aquela parte que estava me dominando agora.
Joguei o corpo dela contra a parede de novo como se fosse uma marionete, e em algum ponto disso eu escutei o Sr Manfroi e o Marcus gritando, me pedindo pra parar, e eu tentava como eu tentava ter controle sobre meu corpo.
A ventania feita por mim ainda não tinha cessado, e agora sobre minhas mãos se formavam bolas de fogo, por três segundos eu tive controle sobre mim e recuei, mas depois era tarde demais, eu já estava jogando varias delas sobre a pobre Kristen que agora criara um campo de força com a mente. De novo eu emiti uma explosão, onde oitenta por cento do escudo da mesma fora atingido.
Comecei a flutuar de novo, e agora das minhas mãos não saiam mais fogo, e sim cristais com as pontas mais finas que eu já havia visto, se isso passasse por aquele escudo cortaria até a alma dela. Mas parte de mim não dava à mínima.
Com oitenta por cento do seu campo de força quebrado, os outros por centos não eram nada. Continuei a jogar os cristais sobre ela, e aos poucos seu escudo ia se quebrando, ela estava ficando fraca. Quando eu havia quebrado tudo e não deixado restar nada, senti um peso me derrubar bruscamente no chão.

- CHARLOTTE! – a pessoa gritava me sacudindo, eu estava cega, não via nada a não serem borrões e sentia meu corpo lutar contra aquele que ainda estava em cima de mim. – Não resista. – e dizendo isso meus olhos foram fechando quase que instantaneamente.

Eu estava na porta do orfanato de novo, via minha mãe brincar com as crianças no parquinho que tinha no quintal, todas as outras freiras estavam rezando e eu fui diretamente para o meu quarto. Ele estava do mesmo jeito que eu havia deixado desde que fui embora, sentei na cama e fiquei olhando os retratos.

- É um quarto lindo. – uma voz soou do meu lado. Olhei assustada e vi que era o mesmo homem que eu tinha esbarrado. Por que ele estava ali? – Eu sei você deve estar se perguntando por que eu estou aqui com você não? – ele limitou a falar apenas isso, concordei silenciosamente apreciando o timbre de sua voz. Ele falava lento e grave, sua voz era doce, e seu sotaque era de um britânico. Ele agora estava sem os óculos, me permitindo de ver a cor de seus olhos, e que olhos! Eram os mais lindos que eu já havia visto em toda minha vida, sua pele era clara, seus cabelos cacheados e castanhos, sua boca carnuda e vermelha traçavam uma perfeita linha reta, e seus olhos eram um verde cristalino jamais existente. – Eu estou fazendo isso. – sua voz voltou a se pronunciar, mas eu estava tão absorta em seus detalhes que acabei por demorar mais do que o normal para absorver o que acabara de dizer.
- Como assim? – perguntei.
- Você ia matar a Kristen, lá no campus. – e como uma bomba, tudo o que eu achava ser apenas um sonho, tinha voltado.
- Eu... Eu... – abri a boca varias vezes, mas não saia nada.
- Por que não parou? – ele perguntou. – Todo mundo lá no estádio gritava pedindo pra você parar, mas parecia que você não escutava... Minha única solução foi pular em cima de você e entrar na sua mente, te trazendo ao que eu acho ser seu lugar de paz. – ele esclareceu as coisas. Meus olhos estavam cheios de lagrimas e se aquilo era apenas um sonho, eu não queria acordar, não queria sair dali. – Responda Charlotte... Por que não parou? – voltou a perguntar.
- Eu tentei, eu juro. Mas não era eu controlando minhas ações, era... Era como se fosse uma parte de mim. – depois que eu falei aquilo ele pareceu parar um pouco e pensar.
- Vou te levar de volta a realidade, e me desculpe, mas você não se lembrará de nada disso. – e assim, tudo ficou escuro.

As vozes ao meu redor não faziam sentido algum, e eu sentia um peso enorme na cabeça. Eu estava sendo carregada para algum lugar e tinha total consciência disso, mas estava fraca até mesmo para abrir os olhos. A única coisa que eu me lembrava era que eu estava perto de matar Kristen, e depois disso eu tinha apagado. Meu corpo voltara a formigar de forma constante, eu já não estava mais sentindo as mãos ou os pés, meu coração estava disparado e minha cabeça uma constante agonia.
Abri os olhos devagar, a luz me cegou por um breve momento e eu me vi confusa ao encarar o homem que me segurava. Grunhi e me mexi desconfortável em seus braços, ele me olhou e sorriu tímido e continuou caminhando para qualquer que fosse o lugar que estava me levando.

- Pra... Pra onde estamos indo? – minha voz era fraca e esguichada.
- Sr Manfroi pediu que eu te levasse a enfermaria. – respondeu. E eu mais uma vez o olhei confusa, como eu precisara ir a enfermaria se Kristen era quem estava machucada.
- Mas... Mas e a Kristen? – um nó se formou na minha garganta só em pronunciar seu nome e pensar que ela poderia estar morta.
- Ela também já esta lá... A propósito, sou o Noah.
- Acho que já sabe quem eu sou, Noah. – ri sem humor e ele me acompanhou. – Também acho que posso andar sozinha, afinal. – entendendo meu pedido ele me pôs no chão. Assim que fiquei de pé, tudo começou a girar rápido demais e minhas pernas fraquejaram, apoiei todo meu corpo na parede e tentei em vão andar, Noah que estava atrás de mim via tudo e não sabia o que fazer, até que eu quase caia sobre meu próprio peso e ele me segurou forte na cintura. – Obrigada. – murmurei ainda tonta.
- Acho que não, você não pode andar sozinha. – e ao terminar de dizer, já estávamos nos mesmos postos de antes.

Ele andando, e eu em seus braços.

- Você levou a sério a tal luta de mais cedo. – falou convicto. Abaixei a cabeça um pouco desconfortável e fechei os olhos bruscamente.
- Não quero falar sobre isso, Noah. – respondi quase num sussurro.
- Tudo bem. – Ele continuou a me levar e eu me perguntei se essa enfermaria era assim tão longe mesmo ou se ele estava enrolando. Encostei minha cabeça em seu ombro e discretamente sorri ao sentir seu perfume madeira adentrar por minhas narinas.
Acho que cochilei, ou voltei a desmaiar, pois quando acordei já estava deitada na minha cama. Eu não estava mais na enfermaria, e nem sei se cheguei a ir. Minha respiração estava calma, e meu corpo todo relaxado, minha cabeça não estava mais confusa e meu corpo não formigava mais. Era como se tudo estivesse voltado ao normal, mas ainda assim eu me via naquele quarto e naquele local no qual eu nunca pertenceria.
 

Levantei mais disposta e depois de um tempo sai do quarto.
As pessoas me olhavam estranho, muitos aparentavam raiva, outros respeito, e alguns... Medo.
Eu não sabia pra onde estava indo, meus pés só me guiavam a algum lugar que eu queria saber onde, parei de fazer qualquer coisa quando me dei conta que não saberia mais voltar para meu quarto.
- Que bom, além das pessoas não gostarem de mim, pra completar eu não sei como voltar. – resmunguei.
- Olha, ela fala sozinha. – uma voz atrás de mim soou zombeteiro. Olhei rapidamente para trás e dei de cara com Noah sorrindo todo galanteador. Eu não sabia como agir depois de ontem, todos estavam me olhando estranho, eu não tinha nenhum amigo e eu não encontrei mais aquela garota. Então sim, eu estava falando sozinha por não ter com quem falar.
- Olha, você se lembra de mim. – Disse com voz de desdém, Noah sorriu e negou alguma coisa só para depois ficar me encarando com os braços cruzados no peito.
- Acho que é meio difícil esquecer de você. – Respondeu no maior tom de normalidade. Era só eu ali que estava sentindo a segunda intenção? Acho que sim.
- Acho bom você não estar flertando comigo! – Respondi sorrindo nervosa.
- Teria algum problema se eu flertasse com você? – Ele perguntou esbanjando novamente aquele sorriso que para mim era fofo.
- Sim. Porque assim eu teria vergonha de pedir para você me ensinar como voltar para a “civilização”. – Eu não estava brincando. Realmente Noah era minha única salvação para voltar sem nenhum problema.
- Você tá perdida? – Ele estava em um misto de surpresa e malicia.
- Pode-se dizer que sim.
- Vem, eu to indo para o refeitório. – Noah disse passando em minha frente.
- Fica perto da cozinha? – O incidente ainda não havia sido esquecido por mim, acho que nem tão cedo seria. Covarde, eu?
- Sim. – Sua feição mostrava o quanto aquela minha pergunta havia sido idiota e eu fiquei com mais vergonha ainda por conta disso. Noah era um homem bonito, eu não queria fazer papel de boba.
- Obrigada. – Ele respondeu. O olhei assustada sem entender. Ele sorriu e apontou para a sua cabeça dando a entender exatamente que ele havia escutado meus pensa... O MEU DEUS! – Não se envergonhe, já ouvir coisas bem mais depravadas sobre mim.
- Você... Você não fez isso?! – Perguntei incrédula e pela primeira vez desde que eu conheci Noah, eu o ouvi gargalhar. – Idiota. – Murmurei rindo baixinho da minha própria situação.
- Como eu já havia dito... Escutei coisa pior. – Rindo por fim de mim, eu o acompanhei por aqueles corredores.
 


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem xx



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