Once Upon A Time escrita por Aline Gonçalves


Capítulo 2
Como tudo começou


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi, oi! Mais um capítulo. Espero que gostem ♥



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Geórgia.
       Oito meses atrás.

Capítulo 1.

Charlotte POV’s


Eu habitualmente não me atrasava pra escola, mas hoje era uma exceção. O barulho ritmado do som dos meus passos eram os únicos agora por aquele corredor sem um sequer sinal de vida, o fato é que só hoje eu poderia me atrasar, só que eu não tinha planejado mesmo fazer isso. Tinha me acordado mais cedo que o normal e mesmo assim, continuava atrasada.
Meus passos eram largos, e à medida que eu ia chegando até a saída de casa eu me sentia mais nervosa.
Nervosa?
Andei mais um pouco até finalmente chegar à saída do orfanato que eu chamo de “casa”.

- Parabéns, Cher. – Abigail minha “mãe” se pronunciou assim que me viu. Eu não queria que ninguém soubesse do meu aniversário, alguma coisa estava pra acontecer hoje, e eu sentia isso.
- Não fala em voz alta, mãe. – a reprimi com um sorriso no rosto.

A abracei e depois fui a encontro do meu carro. Ultimo ano na escola, nem acredito... Se bem que, ao contar pelas minhas súplicas do ano acabar logo, se já estamos em dezembro, a culpa não era minha. Estudar sempre fora meu foco, nunca tive amigos, ou ficantes, namorados, nem mesmo melhores amigas, sempre fui eu e eu mesma. As pessoas que eu chamo de “colegas de classe” sempre foram mais normais que eu... Quer dizer, dar um mortal pra trás sem querer jogando futebol não é lá a coisa mais normal do mundo, mas mesmo assim sempre continuei a viver minha vida normalmente, se há uma coisa que aprendi com essa minha vida, é que as pessoas sempre querem te mudar, e que vai haver pessoas que vão gostar de você pelo que é, mas também haverá pessoas que não vão gostar.
Isso soou meio terapêutico, não?
Chegando à escola estacionei o carro e fui direto pro meu armário, mas como sempre ouvindo os mesmos comentários.

“Esquisita.”. “Ela é de outro mundo.”. “Estranha.”.
 

O de sempre, devo ressaltar...
Abri meu armário encontrando lá uma carta, não parecia uma carta de aniversario, de aviso da escola ou coisa do tipo... Era uma carta diferente, com uma aparência velha, antiga.
Abri a mesma revelando seu conteúdo.

“Querida Charlotte,
 O colégio Collins High School, tem o prazer de lhe encontrar e de finalmente ter vossa senhoria como nossa aluna. Lembrando que sua matricula foi feita há 17 anos por seus pais, queremos muito ver nossa guardiã em ação.
Hoje à noite, um de nossos mentores irá lhe buscar em casa. Sua transição já deve acontecer.
Nos vemos em breve.


                                                                                                                        Santiago Manfroi.”

Collins High School? Matricula pronta há 17 anos? Guardiã? Mentor?
Agora o mundo pode parar porque eu não sei o que tá acontecendo.
Guardei a carta às pressas quando ouvir o sinal tocar, isso só podia ser algum tipo de pegadinha, alguém dessa escola deve ter descoberto que hoje era o meu aniversário e agora quer curtir comigo.
Entrei na sala um pouco mais agitada que o normal, e os centros das atenções ali era eu, como se fosse uma espécie em extinção no zoológico, bufei meio irritada e fui a minha carteira.
As aulas passaram lentas e tediosas, e quando me vi finalmente livre daquele lugar, uma enorme dor de cabeça me atingiu impedindo até então que eu me levantasse. Tudo ao meu redor girava, mas ainda sim me forcei a sair da sala, o que foi um extremo erro, uma vez que sair esbarrando em quase todo mundo, as pessoas me olhavam estranho, como se estivessem assustada comigo. Não dei importância, precisava ir pra casa o mais rápido possível, caminhei às cegas até o meu carro entrando no mesmo e dando partida.
O caminho todo até em casa foi assim: quase batia com o carro, a dor na cabeça só aumentava e eu sentia todo o meu corpo latejar.

- MÃE! – gritei assim que sair do carro. Algumas das freiras amigas da minha mãe me viram chegar e foram me cumprimentar.

Mais tudo ficou escuro, e eu então senti todo o meu peso de encontro ao chão.

Acordei com minha cabeça doendo, e eu já não estava mais na frente da minha casa, e sim na minha cama deitada. Todo o meu corpo formigava, e minha boca clamava por água.
As vozes dentro do quarto denunciavam uma séria discussão entre Abigail e uma voz desconhecida por mim. Eu não sabia ao certo se choramingava pela dor que sentia ou se ficava quieta esperando a mesma passar, a primeira opção me pareceu bem convincente, porque foi exatamente isso que eu fiz, choramingando baixinho e me contorcendo com tamanho desconforto, chamei a atenção das duas pessoas discutindo em meu quarto.

- Querida? – Abigail disse em tom materno e preocupado. Abri os olhos e pisquei algumas vezes, querendo me adaptar a tal luz, cocei um pouco meus olhos e olhei em volta, ali só tinha a Abigail e um homem, como eu havia imaginado.
- Meu corpo... – gemi sentindo toda aquela dor de antes me atingir em cheio.
- Você disse que isso iria passar. – Abigail falava olhando para o tal homem. Ele negou com a cabeça e foi se aproximando de mim.
- Charlotte, o que exatamente você está sentindo? – ele perguntou alisando meu rosto e era quase como se eu sentisse a paz me dominar.
- Dor... É como se eu fosse explodir de dentro pra fora. – minha voz fraca era esguichada por minhas próprias palavras. O homem continuava a me olhar, e logo depois se levantou e olhou para uma Abigail preocupada.
- Ela está em transição. – foi tudo o que ele disse para ela. A expressão no rosto da minha mãe havia mudado completamente, ela parecia surpresa. Tão surpresa quanto eu.

Foi ai que a dor se tornou algo insuportável e eu temi não aguentar nem respirar. Gritei o mais alto que pude, meu corpo foi puxado pra cima e num baque, fui de encontro a minha cama novamente.

- FAÇA PARAR! ISSO ESTÁ MATANDO ELA! – ela gritava com o homem que só me olhava. Ele estava tão confiante de que aquilo iria passar que eu duvidei se também acreditara. Eu sentia meus olhos mais uma vez pesarem, sabia que o que viria a seguir era um próximo desmaio, mas eu me forcei a ficar acordada. – Cher... Querida... Fale comigo. – ela pediu agora percebendo que aos poucos eu fechava os olhos e respirava fortemente.
- Água... – foi tudo o que eu conseguia dizer. Eu me sentia seca áspera por dentro. Como se toda a água do meu corpo tivesse sido retirada sem dó. Sentia todas as minhas células arranharem umas nas outras, minhas veias eram quase que estranguladas por meu próprio sangue.
- Vá buscar água logo pra ela, Abigail! – o homem que tinha um semblante confiante agora não passara de mais um ali naquele quarto preocupado comigo. Minha mãe saiu às pressas em busca de água, e o homem correu em minha direção e segurou minha mão, há apertando um pouco. – Charlotte, aguente mais um pouco. Eu temia que ele soubesse da sua existência. – ele disse um pouco mais preocupado. – Vai ficar tudo bem... – ele disse. Aos poucos minha mão ia folgando mais na sua, e meu corpo entrara em um efeito de combustão. Eu sentia que estava tremendo toda, como se estivesse entrando em uma convulsão, mas ainda assim não era isso. – Não feche os olhos... – ele dizia balançando mais ainda meu corpo. – Não feche os olhos, guardiã... ABIGAIL! – e como um furacão, ela entrou com uma jarra de água e um copo. O homem sentou perto da minha cabeça e a levantou, pegou o copo com água e me fez beber, meu corpo inteiro estremeceu de tamanha alegria por aquele líquido entrar em contato com minha garganta e eu agradeci mentalmente cinquenta vezes por aquele homem não ter saído do meu lado. Ele novamente me deitou e agora com mais calma eu podia enfim prestar atenção nele.
Seus olhos claros chamavam atenção graças aos seus cabelos tão negros como a noite. Sua pele também era clara, e ele aparentava ter seus trinta anos.
- Se sente melhor? – perguntou quando finalmente, minha respiração estava relaxada. Assenti levemente com a cabeça não confiando em minha própria voz. – Acho que o pior já passou. – e falando isso, pude ver todos os músculos da minha mãe relaxarem junto com os meus. – Você pode nos deixar a sós, Abigail? – perguntou.
- Claro. – disse antes de sair.
- Creio eu que, você deve estar se perguntando o que foi tudo isso. – disse sentando-se na poltrona ao lado da minha cama. – Vou lhe explicar tudo, guardiã, mas antes vou me apresentar. Sou Marcus, seu mentor. – e então como num surto, tudo veio à tona.
- Men... Mentor? – perguntei. Ele assentiu devagar e eu me forcei a sentar. – Argh. – grunhi sentindo minha cabeça doer levemente.
- Me diga exatamente como você esta se sentindo. – ele afirmou atencioso, e foi ai que eu só então me permitir saber como me sentia.


Eu sentia meus batimentos lentos e acelerados ao mesmo tempo, e por mais que eu tenha bebido uma boa quantia de água, minha boca estava seca. Eu me sentia estranha, como se não fosse eu em meu próprio corpo, toda minha pele formigava, e eu não sentia minhas mãos ou meus pés. Tudo estava em seu devido lugar, mais ao mesmo tempo no lugar errado. Minha cabeça ora era nítida ora confusa...
Confusa!


- Eu me sinto confusa. - foi à única coisa que eu pude dizer que realmente expressava o que eu estava sentindo.
- Só tente relaxar... – ele pediu, e eu respirei fundo. – Eu preciso ter certeza que você está bem... Precisamos ir hoje. – eu o olhei tentando entender o que ele estava querendo dizer.
- Como assim “Precisamos ir hoje?” – perguntei, minha voz estava um pouco mais firme, mas não tanto. – Pra onde vamos, Marcus?
- Collins High School. – respondeu. Levantei um pouco meu tronco e o encarei. Eu ainda não tinha entendido.
- Eu não vou a lugar algum. – respondi convicta dos meus pensamentos. O homem a minha frente me olhou com um sorriso sacana nos rostos, como se eu estivesse brincando. Então ele não estava levando a serio nada do que eu estava dizendo, era isso? – Do que está rindo?
- De você. – ele levantou e bebeu um pouco da água que minha mãe trouxe pra mim. – Charlotte, você não tem escolhas. Ou vai, ou morre. – como assim “morre”?
- Se eu não for você vai me matar? – engoli em seco quando a pergunta soou por minhas cordas vocais.
- Eu não quero e nem vou te matar, muito pelo contrario, estou aqui pra lhe proteger. – Marcus disse tentando me acalmar desses pensamentos, e de alguma forma funcionou. Ele me trazia calma, tranquilidade, fazia com que tudo parecesse bem. E eu me peguei de novo o analisando, eu só poderia estar maluca, mas ainda assim fiz a pergunta.
- O que acontece? ... Digo, se eu não for com você? – e de novo naquele mesmo dia me vi fazendo a centésima décima oitava pergunta pra alguém.
- Eu não posso te contar agora, mas preciso que saiba que será algo muito ruim. – seu tom cauteloso denunciava que ele estava medindo as palavras. A batida na porta nos interrompeu e eu agradeci mentalmente por quem quer que fosse.
- Desculpe estar atrapalhando, mas sua mãe me pediu pra vim aqui ver se você e seu amigo querem algo. – Meredith, uma das freiras mais velhas falou.
- Não quero nada.  – Marcus respondeu.
- Meredith obrigada pela preocupação, mas por enquanto eu e o Marcus só estamos conversando. Por favor, diga à mamãe que eu estou bem, e se precisar a chamo. – falei olhando pra ela, que sorriu e depois saiu do quarto.

Marcus e eu continuamos conversando por um bom tempo, até que eu pedi pra ele sair, pois precisava dormir. Mamãe e as outras freiras junto com mais algumas crianças ainda foram-me “visitar” e depois disso tudo eu pude dormir.
Falha minha.
Eu não conseguia dormir, e sabia disso. E por mais que eu tentasse pegar no sono, eu não conseguia. A conversa com Marcus me deixara assim, meus pensamentos me deixaram assim, eu não estava normal e tinha total consciência disso.
Me perguntei o que meus pais biológicos eram, o que faziam. Até então, eu não sabia nada sobre eles e também não tinha vontade alguma de saber. Mas Marcus sendo Marcus me deixou com uma incrível curiosidade sobre a vida dos mesmos. Agora eu sentia vontade de saber quem eram as antigas amigas da minha mãe, como era o trabalho do meu pai...
Marcus havia me contado várias coisas a respeito sobre o que estava acontecendo, e mesmo ele sendo sincero diversas vezes, eu ainda sentia que ele me escondia algo. Ele sempre media as palavras e quando eu tocava sobre o assunto ele dava um jeito de fugir do mesmo.
Hoje era sexta, e fazia exatamente quatro dias desde meu aniversário, e desde que tudo sobre minha nova vida aconteceu. Eu estava terminando de fechar minha ultima mala, enquanto Marcus e Abigail conversavam sobre alguma coisa, olhei atentamente para o meu quarto tentando decorar cada detalhe por mais mínimo ou qualquer que fosse dele. Eu não sabia para onde estava indo, não sabia como seria lá, qualquer que fosse a lembrança da minha casa seria um ótimo começo para não desistir. Marcus uma vez me disse que minha mãe poderia sim correr risco se eu continuasse no orfanato, e meu melhor refugio seria no Collins. Mas isso era o que ele dissera...

- Já está pronta, querida? – Abigail entrou no meu quarto, me obrigando a sair definitivamente dos meus devaneios.
- Não. – respondi. – Eu não quero ir embora, mãe. – a encarei com lágrimas nos olhos. Ela veio ao meu encontro e me abraçou, eu havia segurado o choro a quatro dias, desde que eu soube que tinha que ir embora, eu me mantive forte, via minha mãe chorar e a confortava dizendo que tudo iria ficar bem. Só que agora era diferente, eu estava a poucos minutos de ir embora, de deixar toda minha vida pra ir sabe-se lá pra onde. Um soluço escapou por minha garganta e meu choro intensificou, Abigail apertou mais forte o abraço e eu quase que pude sentir o nó na garganta dela.
- Vai ficar tudo bem, Cher. – ela disse calma. – Mas agora você precisa ir. – nos soltamos e ela estava sorrindo, mas assim como eu, também havia lágrimas em seus olhos, e eu não sabia por quanto tempo ela iria segurar tudo aquilo. Abigail sempre fora minha mãe, deixa-la seria a mesma coisa que me separar de uma parte de mim, eu nunca havia amado tanto uma pessoa como eu a amava, e segundo Marcus, isso era uma fraqueza. E eu não poderia ficar aqui, porque se ficasse, a única mãe que me restara também morreria.
- Charlotte. – Marcus me chamou, e eu soube que sim, aquele era o meu ultimo minuto em minha casa. Peguei minhas malas e com a ajuda de minha mãe, fui até a saída onde o mesmo já me esperava dentro do carro.
- Até depois. – eu disse pra ela e de novo a abracei.
- Eu te amo. – ela disse antes de soltarmos o abraço. Coloquei as malas no carro e entrei no mesmo tendo em mente uma coisa: eu estava indo, mas não sabia se iria voltar.


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Notas finais do capítulo

Reviews? Xx