E então eu corri.


Corri desesperada procurando meus amigos. Eu estava sozinha, todas as luzes de Nova York estavam apagadas por conta da catástrofe. Tentava em vão canalizar todo o meu poder para conseguir achar pelo menos alguns de todos os outros alunos da minha escola... Tudo estava quieto demais, e eu já não podia mais chorar, Leon estava em algum lugar, e por mais que eu não quisesse acreditar, finalmente havia chegado a hora pela qual fui preparada por toda uma temporada. Foi como Marcus tinha me dito. Eu iria ter de enfrentá-lo sozinha, pois na altura do campeonato, todos em que eu podia contar estariam mortos. Agora era a hora. Ou era matar, ou morrer. Mas morrer não seria tão fácil, uma vez que se eu permitisse acontecer, toda a humanidade estaria condenada há uma eternidade no inferno...
Minha visão começava a ficar embaçada, mas eu não podia, teria de ser forte, toda vez que eu chorava todos os meus sentidos ficavam confusos e eu não podia sequer me defender sem causar mais estragos que antes.
Uma sombra passou por mim assim como sua risada maléfica, oh ele tinha me encontrado!

- Se perdeu bela dona? – perguntou perto do meu ouvido. Ele estava atrás de mim. Que todos os deuses e o próprio Deus me ajudem, mas agora ou era morta por Leon, ou Leon era morto por mim. Não tive tempo de pensar, meu corpo tinha sido jogado contra uma parede. Minhas costas bateram contra a mesma com tamanha força que se fosse um humano no meu lugar não sobreviveria, mas na verdade não importava.
Eu não era uma humana.
Me levantei com certo esforço, eu não podia fraquejar agora, não na frente dele.
- Está doendo certo? – voltou a perguntar vindo a meu encontro com aquele sorriso. Ele me olhava docemente, e então eu soube exatamente o que ele faria a seguir.
Meu corpo começou a se contorcer de dor e meus gritos eram músicas para os ouvidos dele. Meus poderes nem se comparava aos seus... Era como se ele entrasse no meu corpo e fosse matando cada célula em mim, uma por uma, devagar e lento, me proporcionando a pior dor que eu já havia sentido.
- Cadê meus amigos? – forcei minha voz a sair.
- Estão todos mortos querida. Assim como você vai ficar e toda a humanidade. – ele cuspiu aquilo em mim.
- EU NÃO VOU DEIXAR ISSO ACONTECER! – gritei sentindo todo o meu corpo se desfazer à medida que ele me olhava tão imenso que eu podia jurar que ele via minha alma.
- Oh querida Cher, você vai sim! – ele então se aproximou de mim, eu queria sair daquele pesadelo o mais rápido possível, aquele não era meu mundo, nunca fora afinal.
- Onde... Onde está ele? – meus olhos já não reproduziam tais lágrimas, e agora eu só sentia a dor. – Cadê o Harry? O que você fez com ele, Leon?
- Aquele traidor já recebeu o castigo que mereceu. – se aproximou de mim. – Eu confiava nele, sabia guardiã? Você o fez me trair. Eu não só perdi um aliado como você perdeu um brinquedinho. – riu seco.
- Você... Ma... Matou ele? – céus, aquelas palavras doíam. Pronunciar aquilo em voz alta doía mais que pensar que poderia ser verdade.
- Digamos que não. A morte seria fácil de mais pra ele, querida. – meu maxilar travou e eu engoli seco, Leon deveria estar torturando o Harry...

O torturando por minha causa.

- Por favor... Deixa ele fora disso. – implorei meu corpo já não aguentava mais nada, minha respiração começara a ficar falha e tudo ao meu redor estava embaçado.
- Como posso deixa-lo fora disso, guardiã? – suas mãos ásperas alisavam agora meu rosto. Ele segurou meu queixo firme e apertou. – ME RESPONDA COMO POSSO DEIXA-LO FORA DISSO? – gritou.
- Só não o machuca... Por favor, não o machuque, seu problema sempre foi comigo, ele não teve nada haver com isso. – as lagrimas só caiam e eu não me preocupava mais em saber se ele me olhava vitorioso ou não, Harry era o que importava agora... E no momento, eu não podia fazer absolutamente nada para salvá-lo.
- Pobre guardiã, apaixonada pelo vilão. – ele me levantou segurando agora no meu pescoço, e cada vez ficava difícil de respirar. – Foi bom te conhecer, guardiã. Mas eu confesso que esperava mais, não uma garotinha inexperiente. – sua mão apertava cada vez mais meu pescoço. – Suas ultimas palavras. – pediu brincalhão. E eu poderia dizer tudo, mas a única coisa que eu consegui pronunciar foi aquilo que ficou preso na minha garganta por muito tempo, uma coisa que eu nunca consegui dizer pra ele. Ele já havia se declarado tantas vezes pra mim, que eu até tinha perdido a conta, mas o fato é que eu nunca tinha pronunciado porque achava errado, ele havia me traído me apunhalado pelas costas, e eu então julguei que ele não deveria saber que o mesmo sentimento que ele fluía por mim eu fluía por ele, mas agora, a beira da morte eu realmente vi o que importava pra mim. E não era o fato de ser a guardiã, ou que Harry tenha me traído, tentado me matar, ou nada. Era o que ele havia feito por mim, o sentimento que ele deixou vencer, ele abriu mão de sua vida, correndo risco. Ele enfrentou tudo, e esteve comigo nos piores momentos. E eu só queria que ele ouvisse o que eu tenho pra dizer agora... Se eu tivesse ao menos um ultimo desejo, seria que ele escutasse aquilo que ele lutou tanto pra conseguir ouvir.
- Eu te amo, Harry.

Meu cérebro tinha bloqueado todas as lembranças que agora me vinham à tona. Tudo o que eu era, e o que fui me tornando a partir do dia em que entrei no Collins High School. Tudo havia mudado desde então, a forma como eu agia, meus medos, tudo!
E eu me encontrava em tal situação que vários flashbacks se encontram em meu interior.
Sou maluca de pensar assim, mas se é pra morrer que eu morra lembrando como tudo aconteceu.

Eu sou Charlotte Evans, e essa é a minha história.