Olhos Estreitos escrita por ericalopes


Capítulo 4
04. Hero (Herói)


Notas iniciais do capítulo

Glenn sendo Glenn, Dog sendo Dog, Andrea sendo a minha diva preferida.



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- Parem os carros! Voltem! – gritava uma voz desconhecida.

A silhueta de Glenn já havia ultrapassado meu campo de visão e ele devia estar adentrando os corredores.

- Eu estou aqui, eu estou aqui! – ele gritava enquanto corria para o meu quarto. Em meio segundo ele caia ajoelhado diante de mim.

- Tá tudo bem? – ele perguntou ofegante.

Eu me esforcei para segurar suas mãos.

- Estou fraca, mas estou viva. Meu coração está batendo, e muito forte. – minha voz foi interrompida por um batalhão adentrando a casa. O som das botas era tão alto que era como se a casa fosse desabar a qualquer momento. Em um minuto o quarto estava lotado. Eu ainda não conseguia ver as coisas com total nitidez. Mas quando vi aquele negro gigante e de olhos arregalados eu não tive dúvidas.

- Dog? – eu disse com a voz quase inaudível.

Ele não respondeu, só soltou uma gargalhada enorme e mexia os braços inquietos. Creio que ele gostaria de abraçar a mim ou a alguém. Ele era mesmo gigante, parecia uma grande muralha. Mas tinha uma cara engraçada que quebrava todo aquele visual monstruoso.

- Eu disse que você conseguiria garota, eu disse! Eu não disse pessoal? – ele pediu para que os outros confirmassem.

Voltei os olhos a Glenn. Seus olhos puxados não impediam que eles se mantivessem arregalados. Engraçado como eles pareciam grandes naquele momento. Entendi o porque Daryl o chamou de Coréia durante uma conversa.

- Eu estou aqui. – eu repeti sem muita consciência das palavras. Eu queria poder dizer algo mais. Mas eu estava salva, era só isso que eu podia dizer.

- Obrigado. – eu disse observando cada um daqueles rostos borrados dentro do cômodo pequeno. Agradecendo a cada um deles da forma que podia naquele momento.

- Você perdeu muito sangue, não se esforce muito e mantenha os olhos fechados. Seus olhos estão sensíveis a luz agora. – disse o Doutor. Ele era branco, tinha uma barba acinzentada contrastando com os olhos. Um formato de cabeça um tanto quanto estranho. Que mais tarde eu confirmaria que não era culpa do embaçamento dos olhos.

- Levaremos você para o trailer ok? – a voz que disse isso era de Rick. Ele era alto, branco do tipo que fica vermelho ao sol. Tinha lindos olhos azuis e um cabelo loiro levemente torrado. Parecia um anjo, eu me atreveria a dizer. Temo que passei muito tempo olhando para aqueles olhos e que alguém tenha notado. Mas creio que foi uma visão divina pós morte.

Eles me colocaram numa espécie de maca improvisada, e com um cuidado inimaginável comandado por Glenn, me levaram até o tal trailer. Realmente meus olhos não suportavam a luz. A cada flash que ultrapassava minhas mãos eu sentia uma lâmina dilacerar minha cabeça. Glenn percebendo meu incômodo pousou sobre meus olhos o boné que vestia.

- É uma walker pai? – perguntou uma voz infantil assim que adentramos o trailer.

- Não, ela está apenas doente. Mas não é uma walker. – respondeu Rick para seu filho.

Esforcei-me para levantar a cabeça e ver o pequeno garoto, mas ela pesava mais que uma tonelada e o esforço foi inútil. Deitada sobre um colchão fofo e extremamente quente graças a estar do lado de uma janela, senti por completo a sensação de estar a salvo.

Glenn tirou o boné do meu rosto e fechou a cortina deixando somente o calor suficiente para me esquentar passar.

- Está bom assim? – ele questionou.

- Ótimo – respondi com total sinceridade. Aquela era a temperatura perfeita.

- O Doutor Petterson vai cuidar de você ok? – Glenn deu o aviso e foi saindo. Seu olhar parecia preocupado a todo instante, sempre atento e brevemente arregalado.

- Fique. – eu pedi instantaneamente.

Ele olhou pra trás, deu um sorriso rápido e se sentou sobre uma pequena mala. O Doutor entrou no trailer e fez toda a sua habitual checagem.

- Como se sente? – ele perguntou esbanjando pela primeira vez um sorriso. Dos grandes e sinceros.

Eu parei um pouco para buscar as palavras certas sobre como eu me sentia naquele momento. Se é que podia se explicar.

- Feliz. E bastante mole e leve como se fosse uma pena. Como se eu só tivesse a cabeça e o resto do corpo não existisse. É muito estranho. – defini. Ouvi um coro de risadas infantis do lado de fora próximo a janela. Parecia então que não havia somente o jovem Carl ali e que os outros assim como ele eram bastantes curiosos.

- Isso vai passar em algumas horas? O seu sangue vai voltar a coagular com mais rapidez até normalizar e você vai ter o resto do seu corpo de volta ok? – eu acenei com a cabeça concordando. Infelizmente o movimento a fez doer agudamente.

- Dor de cabeça? Terá que aguenta-la algumas horas até que eu possa medica-la. Nesse momento eu só preciso do seu sangue correndo.  Então, deite e espere. – ele pediu meio que ordenando e eu mesmo que quisesse não teria condições de desobedecer suas ordens.

Uma mulher alta adentrou o trailer sorrateiramente. Era realmente esbelta. Beirava os 30 anos e tinha cabelos loiros incandescentes.

- Olá – ela cumprimentou timidamente.

- Oi – eu respondi ainda mais tímida que ela.

- Andrea. – ela se apresentou.

- Lara. Lara Collins. – me apresentei.

Dei-me conta que não havia me apresentado a ninguém até aquele momento, ninguém sabia o meu nome.

- Apenas descanse Lara. Vamos Andrea, as apresentações ficam para depois ok? Vamos Glenn. – convidou Petterson.

Glenn e Andrea sorriram pra mim e saiam, quando eu os interrompri.

- Ele pode ficar? – pedi ao Doutor.

Ele me olhou e olhou a Glenn com certo pesar, mas foi irredutível na decisão.

- Você precisa descansar Lara.

- Eu não vou conseguir fazer isso sozinha. – argumentei.

Petterson então abandonou os argumentos e fez sinal para que Glenn ficasse comigo. Ele de pronto se sentou de volta ao baú e sorriu um sorriso largo para mim. Retribui tentando acompanhar a intensidade mas não consegui.

- Eu estou aqui, agora descanse como ele pediu.

- Yes, sir. – respondi provocando uma gargalhada baixa.

Qualquer coisa me faria sorrir aquele dia, mas eu não sorriria pela piada ou pelo mesmo motivo que os outros. Eu sorriria porque estava viva.

Lá fora muitas pessoas observavam o lugar aonde eu estava. Curiosas e cochichando baixo.


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Notas finais do capítulo

Apresentações feitas? Hora de começar de verdade!