Hold On escrita por Meredith Kik


Capítulo 8
De Sophie para Kay




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- É, o que eu esperava. - Ela sussurrou.

- Desculpe, eu só...

- Não, está tudo bem. Sério. - A morena o interrompeu. Sua voz não transmitia raiva ou algo assim, ela estava na verdade bastante calma. - Obrigada por ter me devolvido, essa carta é muito importante pra mim.

- Eu imaginei que fosse. Por isso vim aqui. - Os dois ficaram em silêncio por um tempo, somente caminhando lentamente e ouvindo o barulho da noitinha. - Era pra sua irmã, não era? - Thomas perguntou, curioso. Sophie respirou fundo.

- É, era pra ela. - Ela respondeu, se calando em seguida. Ficou sem falar por um tempo, até que Thom ouviu sua voz novamente. - Foi tudo muito estranho pra mim. Quando eu era pequena Katy era uma inspiração pra mim, quando perguntavam o que eu queria ser quando crescesse eu apenas dizia que queria ser igual a minha irmã. Ela era linda, gostava de ajudar as pessoas, era inteligente, engraçada, sempre brincava comigo do que eu quisesse e quando eu quisesse, me ajudava com os deveres de casa, me ajudava a estudar, me dava conselhos sobre menininhos, me maquiava... ela era minha melhor amiga. Katy era muito animada, odiava ver qualquer pessoa que ela gostasse de baixo astral, inventava festas por qualquer motivo... - Sophie pausou e deu uma risada baixa. - Os vizinhos sempre reclamavam e ela sempre ficava com muita raiva disso. Era impossível não gostar dela. E de repente do nada tudo mudou. Eu até hoje não sei o que fez com que ela mudasse. Ela era tão linda. Não sei quem diabos colocou na cabeça dela que ela não era. Não sei que animal fez com que ela não se sentisse bem com quem ela era, eu não sei. Foi perto do aniversário de 19 anos dela. Ela queria a qualquer custo estar linda pra festa e queria porque queria emagrecer. Eu falei pra ela que não precisava, que ela era linda do jeito que ela era, mas ela não me ouvia. - Ela pausou.

Thomas ouviu que Sophie estava soluçando, e quando a olhou, percebeu que seus olhos estavam cheios de água. Ela estava chorando. A garota passou os dedos embaixo dos olhos e limpou as lágrimas. Respirou fundo e voltou a falar:

- Ela começou a mentir, a gente perguntava pra ela se ela tinha comido e ela dizia que sim, mas não tinha. Quando não aguentava mais ela comia compulsivamente e depois induzia o vômito. Tomava laxantes, diuréticos, ela fazia qualquer coisa pra emagrecer. Ela estava acabando com ela. Achava que pararia no momento em que quisesse. Ela dizia para os meus pais que estava fazendo dieta, e eles acreditavam. Eu comecei a achar muito estranho, ela emagrecia muito rápido, muito rápido mesmo. Estava o tempo todo querendo fazer exercícios, e se não fizesse ficava estressada o dia inteiro. Cada vez que eu via Katy ela estava mais magra, e a medida que ela ficava mais magra eu percebia que ela ficava mais fraca também. - Sophie olhou para Thomas, novas lágrimas estavam em seu rosto agora. - Minha mãe e meu pai estavam muito preocupados, eles obrigavam ela a comer na frente deles. Mas do que adiantava? Ela vomitava tudo depois. Um dia, num final de semana qualquer, ela estava no quarto, há muito tempo, em silêncio. Ela estava em depressão, a gente sabia, foi então que a chamamos pra almoçar e ela não respondeu. Eu fui no seu quarto, a chamar. Quando abri a porta, a vi no chão, desmaiada. - A morena estava soluçando demais, olhava para o nada enquanto andava, em sua cabeça, via um filme das cenas mais horríveis de toda sua vida. - Um dia antes, ela tinha estudado comigo, sempre que eu pedia ela estudava. Eu pensei que ela estivesse bem. Sabia que estava fraca, mas ela disse que estava melhorando, e havia prometido a meus pais que havia parado com a dieta que estava fazendo. Ela parecia bem disposta. Não acreditei quando a vi ali no chão, e tudo que fiz foi gritar e começar a chorar demais. Foi o segundo pior dia da minha vida. Meus pais chegaram e levaram Katy correndo para o hospital. Lá eles diagnosticaram que ela sofria de Anorexia e bulimia, disseram também que o caso dela era muito grave, e que Katy estava pesando 34 Kg. Meus pais e eu ficamos loucos. Ela estava realmente muito magra, mas não estava parecendo que estava tanto. Nos culpamos muito, como foi possível isso? A garota fraca, na nossa frente, convivendo com a gente todo dia... E só fomos reparar que havia algo errado quando ela desmaiou? Ela fingia muito bem, muito mesmo, queria a todo custo parecer bem disposta na nossa frente, mas não estava. Kay passou um tempo no hospital, internada. Lá nutricionistas tomavam conta da alimentação dela, as coisas eram mais fáceis. Depois de um tempo deram alta pra ela, ela parecia muito bem. Ela me disse que estava bem. Fiquei o tempo todo com ela, dormia com ela, conversava com ela, não queria sair de perto dela por nada. Estava sentindo alguma coisa, sentindo que tinha que ficar perto da minha irmã. Não queria perdê-la. Meus pais me falavam que ela estava bem também, eu ainda a achava muito magra, mas acreditei que fosse o período de recuperação. Afinal, ela não poderia engordar tudo que ela emagreceu da noite pro dia. - Sophie parou de andar, ela estava chorando muito a essa altura. Thomas não sabia o que fazer. A menina tinha parado de falar e soluçava compulsivamente. Sentou num banco do jardim, nos fundos da mansão, Thomas sentou ao lado dela e com os dedos dele secou as lágrimas da menina que não paravam de sair. Sophie respirou fundo e soltou o ar, devagar.

- Ela não estava bem? - Thomas perguntou, cuidadosamente.

- Aparentemente ela estava, eu achava que ela já estava melhorando. Não estava mais com medo de perdê-la. - Ela respondeu. - Quando acordei pra ir pro colégio, um dia, estranhei ao ver que Katy estava acordada. Ela estava no seu quarto, parecia nervosa com alguma coisa, mas quando viu que eu estava a olhando do corredor sorriu e desejou que eu tivesse uma boa aula. Aquilo me fez ter certeza que estava tudo bem, e fui tranquila pra aula. - Thomas ouviu novamente Sophie começar a soluçar, mas aquilo, desta vez, não a impediu de continuar. - Foi a última vez que a vi. - Ela pausou e olhou para o garoto. Limpou suas lágrimas com os dedos e continuou, respirando fundo e depois soltando o ar. 


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