O Mistério De Scarabas escrita por Angie Ellyon


Capítulo 19
Arraste-me Para a Morte


Notas iniciais do capítulo

Emoções finais galerinha! hahaha
Boa leitura! '')



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A vantagem de se meter em encrencas que envolvem fantasmas é que você sabe até onde pode chegar - ou, no meu caso, até onde não pode  chegar.

O antigo mapa nos indicava o caminho mais estreito; porém, era o mais rápido a ser seguido. Os Blake poderiam estar a um palmo de distância de nós, mas não poderíamos nos preocupar em pegá-los; mas sim em atrasá-los. O pior é que talvez, além da Vingativa, os outros fantasmas também estavam atrás de nós. Era por medo dos caçadores? Natasha estaria entre eles?

- Aquelas coisas continuam nos seguindo! - advertiu Claire. Estávamos nos espremendo em uma caminhonete pequena. Sete pessoas falando - menos eu. Meus pensamentos estavam longe, e mal notei quando escutei Rebecca dizer meu nome:

- ...não é, Valerie? - 

- O quê? - eu me virei pra ela.

- Você tá estranha desde que brigou com Alice no parque - disse Sara. - O que tá acontecendo?

Um trovão rimbombou acima de nós, e coloquei a cabeça pra fora. A Vingativa parecia nos acompanhar.

- Não é nada de mais. - procurei explicar. - Só estou preocupada.

Eles iam rebater, mas um solavanco fez a caminhonete chacoalhar com força, fazendo nosso sangue gelar.

- O que foi isso? - Lauren murmurou.

Em seguida, a caminhonete freou de repente, fazendo com que fôssemos lançados com violência para a frente.

- Aahh!!

Fui a primeira a olhar para trás e ver um espírito que segurava a caçamba da caminhonete. Ele não parecia fazer esforço nenhum - nem mesmo quando John pisava fundo, fazendo os pneus afundarem na terra.

- Temos companhia. - falei.

O fantasma disse:

- Vocês querem pegar fantasmas? Estamos aqui agora. Mas não vamos nos entregar tão fácil.

Eles achavam que éramos os Blake.

- Vocês se enganaram. Nós não somos...

Não havia como explicar.

O fantasma quebrou o vidro e, de uma só vez, tentou agarrar um de nós, mas John arrancou com toda a potência, fazendo-o perder o equilíbrio e sumir no ar.

- Pisa fundo!

Mal conseguia controlar minha respiração.

Mais à frente, outra figura apareceu, mas a reconheci.

- Pare! - gritei.

Era Natasha.

Só que ela estava muito doente. Parecia cansada e acabada.

Mas fantasmas não ficam doentes.

- Natasha! - exclamei, feliz por vê-la. - O que houve?

- Tem que acabar com isso agora, Valerie. - disse ela, sussurrando. - Os fantasmas estão desesperados.

- Mas por que está assim? - insisti, preocupada. 

- Os fantasmas têm...superiores - contou ela. - No nosso mundo...

- O Campo Espectral - falei, e ela franziu o cenho.

- Como sabe?

- Estou por dentro disso.

- A Guarda espectral quer você, Valerie - falou ela. - Eles acham que você  é o motivo da revolta dos fantasmas.

Estranhei o fato de Natasha não ter me contestado; querendo saber o motivo de eu estar me arriscando. Ela era sempre cuidadosa...

- Eles maltrataram você? - eu quis saber.

- Isso não importa agora - respondeu ela, segurando minhas mãos. - Está perdendo tempo. Eles podem...pegar a sua mãe.

Engoli em seco, e assenti.

- Estarei logo atrás de você. - acrescentou ela.

Voltei à caminhonete, e John arrancou com ela, passando pelo exército de fantasmas. Ao ouvir que minha mãe poderia estar no meio, tive uma estranha sensação.

- O que Natasha disse à você? - perguntou Steve.

- Que temos que nos apressar - resumi. - Parece que mais alguém quer nos pegar.

A caminhonete começou a patinar, e notei que o terreno por ali estava um pouco encharcado devido às chuvas recentes. Uma neblina densa tomava conta da visão. A água da chuva acumulada parecia formar um rio que secava. Pelo caminho, várias cruzes marcavam covas desconhecidas.

- Annie morava perto do rio? - indagou Claire, e logo percebemos a ponte recém-restaurada que dava acesso à Scarabas. A mansão da Vingativa devia estar alagada.

- Vamos mesmo assim? - falei.

Os Blake não pareciam estar por ali. Ao chegar mais perto do enorme casarão, fui tomada por arrepios. O portão abriu-se num rangido. Tudo por ali estava tomado por plantas parasitas que se emaranhavam entre si, formando um bolo.

Tudo estava no completo silêncio. Haviam alguns túmulos elegantes, com anjos esculpidos que os ornamentavam. Nos assustamos quando corvos voaram e grasnaram acima de nossas cabeças.

Chegamos até a varanda suja e abandonada. A casa parecia gigante vista dali. Respirei fundo e fui a primeira a subir as escadas.

- Espera, Valerie! - grunhiu Lauren. - E...se os Blake nos pegarem?

- O corpo de Natasha está aqui - expliquei.

- E esses fantasmas? - acrescentou Sara. - Se eles aparecerem?

- Calma, ok? - disse-lhes. - Vai dar tudo certo.

Com esse pensamento, empurramos a porta, provocando um grande eco no antigo salão abandonado. Silêncio. Nossos passos eram comedidos. Nem mesmo o vento sussurrava por ali.

- Fiquem atentos. - falei.

Era difícil saber por onde começar. A casa era enorme, e não sabíamos se estávamos seguros ali ou onde poderia estar o corpo de Natasha.

- Escutei alguma coisa. - sussurrou John, apontando para o corredor.

- É melhor nos separarmos - sugeri. - Assim, ganharemos tempo.

Meus amigos fizeram muxoxo, um tanto receosos, mas era a melhor opção no momento.

O único caminho que me restou foram as escadas. Subi até chegar ao andar de cima, onde me deparei com mais dois corredores. Engolindo em seco, escolhi primeiro o da direita. As duas primeiras portas estavam trancadas. Na terceira, havia um quarto abandonado, onde entrei. Retratos velhos na parede e uma pequena escrivaninha eram os únicos objetos por lá.

Senti o assoalho mexer. Mas como, se estava sozinha?

Foi quando notei um espelho grande escondido debaixo de um pano. Quando o retirei, levei um susto quando a imagem da Vingativa apareceu.

Saí correndo, fechando a porta com força. Respirei fundo mais uma vez e segui na direção contrária. O corredor por lá era mais estreito e cheio de teias de aranha.

- Pessoal? - chamei, mas não houve resposta. Eu estava sozinha.

O quarto onde estava era grande, mas não tinha nada por lá; a não ser pela banheira.

A banheira onde Natasha morreu. Engoli em seco.

Meus passos ecoaram. A janela trincada e quebrada refletia a luz do sol. Me assustei quando um corvo apareceu voando do nada.

A banheira estava imunda e cheia de sujeira e lama acumulada. A torneira jorrou água de repente, me assustando outra vez. Eu estava tensa demais.

De repente, uma mão agarrou meu pescoço e me jogou para trás. Logo vi a figura enraivecida de Alice.

- Você não desiste, não é, Valerie? - disse ela, se aproximando.

- Alice, sério, se manda daqui - falei, levantando. - Essa história não vai acabar bem. A Vingativa está com raiva. Os fantasmas estão com raiva...

- Vão todos por inferno! - vociferou. - Nunca mais vamos ter que ter medo deles!

Estava fora de controle. O mais estranho é que eu me sentia fraca; quase febril. Algo em mim estava errado. Minhas pernas bambearam.

- Pare com isso. Agora.

Como um anjo salvador, escutei a voz quase irreconhecível de minha mãe. Ela também parecia doente como Natasha. O que aconteceu?

Alice a percebeu e sorriu ironicamente.

- Ah, Valerie! Não está um pouco grandinha pra chamar a sua mamãe pra te defender? - debochou ela.

Cerrei os punhos.

- Ela não me chamou - disse minha mãe.

- Você não vai continuar com isso. - a voz de Natasha ecoou pelo quarto. Alice pareceu um tanto surpresa.

- Agora só falta a Vingativa aparecer também! - Alice me empurrou. Com o impulso, agarrei-a junto à mim, o que fez o chão ceder e caímos no térreo. Tossi e me levantei de imediato.

- Maninha! - Rony apareceu e retirou Alice, que parecia tonta.

- Valerie! - Steve e os outros apareceram também. Os fantasmas de minha mãe e Natasha reapareceram.

- Vocês têm que sair daqui - advertiu minha mãe, séria e preocupada. - A Guarda Espectral está atrás de vocês.

- Mas e a Vingativa? - quis saber.

- Ela está presa. - contou Natasha, e senti um arrepio. - Eles a pegaram e nos torturaram pra descobrir vocês.

Uma risada seca soou. Alice ria, perfeitamente tranquila.

- Está rindo do quê, sua idiota! - berrou Claire.

- Ingênuos. Amadores. - murmurou Alice. - Neste exato momento, meu trabalho está quase feito e em breve o mundo conhecerá os fantasmas.

Fixei meu olhar nela e me aproximei.

- O que está dizendo com isso? - minha voz saiu num sussurro; tamanho era o meu medo.

- A Vingativa está detida pelos próprios fantasmas - ela olhou as unhas. - E chamei alguns dos meus contatos até aqui.

Todos nós arquejamos em uníssono.

Você o quê?! - vociferei.

- Os fantasmas estão fracos, não vê? - ela gesticulou como se fosse óbvio. - Não vai demorar para que não tenham mais força pra ficar invisíveis. Com a ponte restaurada, logo chegarão aqui.

- Você está se escutando? - resmunguei. - Percebe o que está prestes a fazer?

- Chega de os vivos serem feitos de bobos - argumentou ela. - Estou fazendo um bem; e não um mal como pensa. Pense bem. Os fantasmas se divertem nos pregando peças e rindo da nossa cara porque não podemos vê-los. A microfonia não existe; é fantasma. Quando a internet cai; foi um fantasma que fez. Aquele barulho irritante do quadro arranhando também é fantasma. Quando uma coisa some, foi um fantasma que pegou. A TV chiando; as luzes que piscam; barulhos de porta e passos à noite... - ela se exaltou. - Tudo são obras dos fantasmas!

- Isso pode ser verdade - disse-lhe. - Mas se você arruinar o Campo Espectral...será um caos!

A expressão de Alice mudou para pena.

- Não se preocupe, Valerie - falou. - Darei um desconto à você. Natasha e sua mamãezinha serão menos afetadas.

Meu sangue ferveu e a ataquei como uma louca. Ninguém quis intervir, mas a raiva que havia dentro de mim me fazia forte. Alice e eu tombamos no chão, onde tentamos nos arranhar na cara uma da outra.

- Você é louca! - gritei quando fiquei em cima dela.

Ela grunhiu; um som gutural de raiva.

- É tarde de mais! Não há como voltar atrás!

Quando ela falou, um deja vú me ocorreu. Parei de atacá-la e corri até a janela. De fato, vários carros começavam a adentrar Scarabas. E isso não podia acontecer.

- Pense na sua avozinha, Valerie - Alice acrescentou, continuando. - Ela terá uma grande surpresa quando um monte de gente estranha aparecer na fazenda...

Tive um sobressalto. Eles iriam pra fazenda!

- Vamos voltar! Agora!

O tempo parecia contra nós. A casa da fazenda parecia ter ficado mais distante. Senti uma pontada no braço direito e levantei a manga da jaqueta e engoli.

Era a ferida do corte que Alice fizera no parque, quando acessei as memórias de Annie. Parecia inflamada. Mas não havia tempo para me preocupar com isso.

- Ai! - gemi.

- Valerie? - Claire percebeu.

- Não é nada. - não quis preocupá-la.

Por sorte, não havia nada de estranho na fazenda. Todos estavam reunidos na sala, e nos olharam estranho. Estávamos sujos, cansados e ofegantes.

- Vovó, tem que me escutar - falei antes que ela abrisse a boca. - Os Blake não são o que pensa.

- Mas por que estão sujos? E onde estavam? - contestou ela.

Antes que respondêssemos, a porta dos fundos foi escancarada, e os Blake apareceram. Ao ver a faca brilhante e envenenada que Alice empunhava outra vez, minha ferida no pulso reclamou.

Vovó arregalou os olhos.

- Alice! Mas o que é isso?!

- Cala a boca, velha - ela grunhiu. - Estou cansada de ser simpática. Eu nunca gostei desse lugar.

- Valerie...tinha razão... - balbuciou vovó. Suspirei aliviada.

Vovó caiu no sofá e fui ampará-la. Fuzilei Alice com o olhar. Ela não iria fazer isso com a minha família.

- Ela não precisa disso, Valerie. A cova dela já está quase pronta.

Aí eu não aguentei. Parti pra cima dela com toda a raiva. Então, tudo virou uma confusão. Todos tentaram me impedir, mas continuei.

- Sua vadia! - gritei. - Ela acolheu você!

Minha ferida no pulso parecia em chamas, e fraquejei. Alice viu uma brecha para me empurrar e me atacar com a faca.

Mas aí aconteceu.

Na defensiva, eu tentava desviar da faca. Com raiva, Alice se atrapalhou toda e acabou enfiando a faca em si mesma.

Aí tudo parou.

Ela engasgou, em choque, e caiu de joelhos. Rony a amparou. Alice segurou a haste ao redor do peito; perto do coração.

- Alice! - Rony gritou, desesperado.

A ferida então ardeu, e eu caí também; fraca.

- O que tá acontecendo?! - vociferou Steve, me amparando.

- Não...sei... - sussurrei, sentindo que estava suando. Ele viu a ferida e me olhou sério.

- Valerie... - disse ele. - Não me diga...

- Vivos não podem entrar no mundo dos mortos... - sussurrou Alice, fraca. - Mas também não precisa estar totalmente morto...

- O que você fez com ela! - gritou John.

- Amiga... - Claire choramingou. Todos formaram uma roda ao redor de mim.

Eu iria me juntar aos outros fantasmas? Alice iria também?

- Preciso fazer isso... - murmurei, engasgando. - Vou voltar...vou derrotar a Vingativa...isso vai acabar...

Senti o ar sair dos meus pulmões. Minha visão embaçava. Senti a vida esvair de mim, enquanto Steve me olhava quase chorando.

A última coisa que vi foi minha mão se entrelaçar na dele e o ambiente ao nosso redor mudar antes de eu ser silenciada para sempre.


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Notas finais do capítulo

Será que a Valerie morreu gente??? Será o fim??? :O haha
Não percam o próximo!
Xeroo témais!



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