Before Leaving' escrita por Codinome Clarisse


Capítulo 6
What happened to you?


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpa pelos erros, caso encontrem algum. E realmente espero que gostem. Boa leitura...



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Diferente de mim, ela sorriu quando nossos olhares se encontraram. Seu sorriso exibido fora brotando aos poucos em seus lábios, com traços de alívio se misturando a ele.

– Good night, suicidal boy! – Ela disse, ignorando minha pergunta.

– Hãn? – Falei distraído. Não conseguia parar de encará-la e imaginar o que lhe tinha acontecido.

– É inglês e tal... – Ela revirou os olhos. – Nunca frequentou a escola?

– O que houve com você? – Repeti.

– Não vai me convidar para entrar nem nada? Hoje está mais frio do que na outra noite... – Meus olhos ainda estavam fixos nela. Quase não acreditavam no que viam.

– Quem é? – Meu pai gritou da sala, trazendo-me de volta a realidade.

– Hum, er, lembra-se da Alexis, pai? – Perguntei-lhe.

– Mas é claro! Que ótima visita, não?

Ignorei meu pai. Segurei a mão da garota ruiva, arrastando-a para dentro de casa. Sinalizei para que ela subisse as escadas enquanto esgueirei-me para a sala:

– Pode nos dar um minuto? Preciso conversar com ela... – Meu pai deu um sorriso estranho.

– E depois diz que não namoram, hum.

Revirei os olhos.

– Quando ela descer, er, não fica encarando... E não faça perguntas, por favor.

– Perguntas sobre o que?

– O Senhor vai saber quando ela descer. Por favor...

– Tudo bem.

Dei as costas para meu pai, que voltara sua atenção para a TV, e subi a escada às pressas. Pulando os degraus de dois em dois.

Entrei no meu quarto e ela estava deitada na cama encarando o teto.

– Quase não acreditei quando vi... – Ela falou sem desviar seus olhos para mim. E riu. – Até duvidei de que estivesse no lugar certo.

– O que aconteceu com você? – Repeti.

Ela ergueu o corpo, mas permaneceu sentada na cama. Seus olhos pareciam fugir de mim. Envergonhados talvez... Ela deu de ombros.

Permaneci parado ali, um pouco antes da cama, em pé. Querendo não acreditar no que via.

Alexis estava machucada.

Mas não era uma daquelas coisas bobas, fáceis de ignorar. Havia uma fissura em seu lábio inferior, que parecia querer se abrir toda vez que ela falava algo – pude imaginar o sangue escorrendo lentamente pelo pequeno corte. Um hematoma tentava se esconder abaixo da maquiagem meio borrada em uma das maçãs do rosto. E outra fissura perto da sobrancelha, pouco maior que a outra, tentava passar despercebida atrás das mechas que lhe caiam sobre o rosto.

– Posso passar a noite aqui? – Ela rompeu o silêncio.

– Não devia ir a um hospital, delegacia ou sei lá? – Fui me aproximando aos poucos.

Ela fez que não com a cabeça.

– Tem certeza? – Me sentei na beirada da cama, ao seu lado.

– Posso ou não? Tudo bem se não quiser... – Ela foi se levantando.

Segurei sua mão, impedindo-a que fosse a qualquer lugar.

– Pode me dizer o que houve?

– Nada demais. Não tem que se preocupar com isso...

– Acho que será meio difícil ignorar.

– Pode tentar.

– Pode ser que eu não queira.

– Não fará diferença se eu disser.

Fiquei ali, olhando para ela sem saber o que dizer ou o que pensar.

– Meu pai pediu pizza e tal...

– Pizza é o que há!

Sorri que nem bobo.

– Posso tomar um banho?

– Não precisa pedir permissão... A não ser que queira me convidar para ir junto. – Dei um sorriso debochado. E ela me deu um empurrão de leve.

– Você é péssimo! – A garota ruiva riu.

Dei de ombros e sorri. Novamente sem saber o que dizer, tentando não bombardeá-la com perguntas.

– Tudo bem se eu pegar alguma roupa da sua irmã... E tal? – Ela perguntou enquanto se levantava e seguia até o corredor. Fiz que sim com a cabeça.

– Sem problemas... Sabe onde encontrar, não é?

– Uhum...

– Vou estar lá embaixo...

– Tudo bem... Até daqui a pouco. – Alexis dera seu sorriso exibido mais uma vez e lançou uma piscadela em minha direção segundos antes de sumir corredor adentro.

Entre uma mordida e outra meu pai vibrava com o final do jogo que passava na TV. E eu mal conseguia engolir um pedaço de pizza sequer.

Minha mente agitada não conseguia parar de pensar nela. E no hematoma em sua bochecha. E nos cortes em seu lábio e sobrancelha.


– Boa noite senhorita Sobieski. – Disse meu pai quando passou pela escada pouco antes de entrar na cozinha, com seu prato sujo.

– Oi senhor Johnson... – A garota ruiva falou em resposta enquanto terminava de descer os últimos degraus. – Boa noite.

Em seguida ela se esgueirou para a sala.

– Sobrou algum pedaço? – Me virei para ela, que vinha em direção ao sofá.

Ela vestia um short de pijama listrado, um pouco curto demais, que se escondia atrás da blusa de moletom comprida. Seu emaranhado ruivo estava preso num rabo de cavalo mal feito, deixando que algumas mechas lhe caíssem sobre o rosto numa tentativa frustrada de esconder os machucados.

– Poderia não ficar encarando e tal? – Ela falou ao se sentar no sofá, ao meu lado.

– Desculpa... – Voltei os olhos para a TV.

Alexis se curvou sobre a mesinha de centro e pegou uma fatia de pizza, em seguida afundou-se no sofá.

Ambos envolvidos pelo silêncio desconfortável.

– Tudo certo por aí? Eu já vou me deitar. Se precisarem de algo, estarei lá em cima. – Meu pai nem se permitiu entrar totalmente na sala para falar, tampouco esperou uma resposta. Em poucos segundos pôde-se ouvir seus passos pesados subindo os degraus.

A garota ruiva me olhou por alguns segundos e deu um sorriso de canto.

– Posso? – Ela fez um sinal em direção ao controle.

– À vontade...

Os canais começaram a mudar com segundos de intervalo entre eles.

– Está tudo bem? Precisa de alguma coisa ou sei lá?

Alexis não respondeu. Pareceu nem ter me escutado. Continuava apertando o botão, mudando os canais, até que por fim deixou o controle de lado.

– O que é isso?

– Shh... Você vai gostar. – A garota ruiva deslizou seu corpo pelo sofá até grudá-lo contra o meu. Senti meu corpo vibrar, e torci para que ela não tivesse percebido.

Ela estava concentrada no seriado que passava. Era uma maratona de final de temporada sobre um drama médico estranho. Parecia uma daquelas séries que só garotas assistiam.

– É sério que você gosta disso? – Fiz uma careta.

– Você vai gostar, shhhh.

Ri baixinho e obriguei-me a prestar atenção no drama médico que passava.


Pouco mais que quarenta minutos depois os créditos finais começaram a subir pela tela, anunciando assim o final do primeiro episódio da maratona de quatro episódios seguidos. Meus olhos pesavam e eu mal conseguia enxergar qualquer letra que fosse na tela da TV. Minha mente vacilava entre o mundo real e irreal, misturando a realidade ao mundo dos sonhos e vice-versa.

– Não aconteceu muito depois que você foi embora... – Sua voz não era mais do que um sussurro perdido em meio à trilha sonora de Grey’s Anatomy. – A gritaria bizarra que presenciara... Era o namorado inútil da minha mãe que estava lá em casa.

– Ele fez isso? Você contou para alguém? – Senti seu corpo estremecer. Não sei se deveria, mas enrosquei meus braços mais ao seu redor. Como se fosse possível fazê-la esquecer daquilo.

– É complicado...

– Imagino... Mas não é desculpa.

– Eu estou bem...

– Quer que eu dê um jeito nisso? Eu dou.

– Calma aí, projeto de psicopata. – Alexis se desfizera de meus braços, sentando-se no sofá. – Não pode querer sair por aí descendo o pau em meio mundo.

Ela riu.

– Mas ele...

– Esquece que falei alguma coisa, certo? Certo! – Suas palavras se sobrepuseram às minhas.

Meus olhos não conseguiam desviar dos dela. E eu não sabia o que dizer ou o que pensar, novamente.

Alexis tinha esse jeito tanto faz. Meio que dando a entender que não estava nem aí para nada ou ninguém. Que tinha toda força do mundo consigo e nada poderia lhe derrubar. Mas mal sabia ela que seus imensos olhos verdes destruíam toda essa sua fantasia de super garota. Sabe aquele lance sobre “os olhos são as janelas da alma”? Talvez esse venha a ser o caso. Seus olhos não combinavam com a faixada que ela impôs a si mesma. Demonstravam uma fragilidade tremenda.

– Se precisar de alguma coisa, é só dizer...

Ela sorriu e piscou para mim:

– Claro... Qualquer coisa eu te chamo para esquartejar o corpo e enterrá-lo.

Encostei-me novamente no sofá, deixando meu corpo afundar no mesmo.

– Depois eu que sou péssimo, não é? – Fiz uma careta debochada.

Não demorou muito e ela se aninhou novamente em mim. Obrigou-me a terminar de ver a maratona do seriado feito para garotas. Eu estaria mentindo se dissesse que achei ruim.


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Notas finais do capítulo

Comentários são sempre bem-vindos :)'



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