Tóquio, Japão. O ano era 1987. Na mansão Kido, só vida mansa. As batalhas haviam acabado e os Cavaleiros de Bronze passaram a viver suas vidas como adolescentes normais. Claro que, de vez em quando, iam até a Grécia resolver um ou outro probleminha como algum desertor, Cavaleiro Renegado, semideuses querendo dominar o mundo ou simplesmente, uma briga de amazonas por causa de uma escova de cabelo.

Saori também estava vivendo uma vida normal, bem, não tão normal assim, afinal ela ainda era uma deusa e, como já foi citado, vez ou outra aparecia um semideus querendo perturbar. Apesar da idade, ela voltou a assumir os negócios da Fundação GRAAD que, embora tenha sido criada para ajudar jovens desamparados, tinha sociedade com inúmeros empreendimentos, desde baias petrolíferas, até fábrica de doces. Mesmo sendo uma moça responsável, Saori ainda era adolescente e, como toda garota tinha seus sonhos e ídolos.

Foi em uma tarde, como muitas outras que tudo aconteceu. Os Cavaleiros de Bronze estavam na sala de TV assistindo um filme, enquanto Saori resolvia alguns assuntos da Fundação no escritório. Seiya estava deitado no sofá comendo pipoca, Ikki sentado em uma poltrona com os braços cruzados, Shiryu e Hyoga dividiam outro sofá e uma tigela de pipoca e Shun estava deitado no chão lendo uma revista em quadrinhos. Tudo parecia tranquilo quando um grito de Saori, vindo do escritório foi escutado. Os Cavaleiros saíram correndo para o local, mas quando chegam lá, apenas encontraram a deusa de pé atrás da escrivaninha, segurando uma carta com a mão esquerda e a direita tapando a boca. Fora isso, apenas Tatsumi estava no local:

–Saori-san, por que você gritou? Recebeu alguma carta ameaçadora? – preocupou-se Seiya.

–Não! Não foi isso Seiya! – respondeu a deusa, retirando a mão da boca, mas mantendo o olhar espantado.

–Então... Por que você berrou? – interrogou Shiryu.

–É que... Que...

–Quê...?! – Ikki tentou arrancar algo.

–A fábrica de chocolates Country Bar, com quem a Fundação GRAAD mantém sociedade pediu capital para fazer um comercial do seu novo chocolate Wafer...

–Ah, entendi! – concluiu Shun – Você gritou porque eles querem muito dinheiro, é isso?

–Não é isso... É que... Eles contrataram o Menudo para estrelar o comercial. – falou, completamente histérica.

–Contrataram quem?! – exclamaram todos os garotos ao mesmo tempo

–Ah pelos deuses! Vai me falar que vocês nunca ouviram falar do Menudo?

–Espera! – interrompeu Shun. – Você está falando daquele grupo porto-riquenho de garotos que rebolam que nem um bando de garotinhas usando collant?

–O sujo falando do mal lavado, hein Shun... Sua armadura é rosa! – irritou-se Saori, jogando a carta na escrivaninha – Eu acho bom não ouvir nenhum comentário desse tipo enquanto eles estivem presentes, ouviram?!

–Ah, vai ser um sacrifício não fazer nenhuma piadinha, mas tentarei ficar de boca fechada, Saori-san. – respondeu Seiya.

–Tentarei confiar nas suas palavras, Seiya... – A jovem deu um suspiro e virou-se para o Andrômeda, sorrindo – Falando em Menudo, Shun, depois eu devolverei aquele LP deles que você me emprestou, está bem?

Todos os rapazes olharam torto para o irmão de Ikki, que se encabulou e respondeu:

–É... É... Está certo, Saori-san. Assim eu devolvo logo para a Miho-san*, ela estava me cobrando já...

–Ah, sim claro... Miho-san... – desconfiou, Shiryu.

–Chega de Blábláblá!!! – exclamou a jovem – Vão logo se arrumar porque quero vocês apresentáveis para quando os meninos chegarem.

–Espera aí... – Manifestou-se o, até então, calado, Ikki – Você tá querendo dizer que eles vão ficar aqui na mansão?

–Mas é lógico! A estadia deles no Japão será rápida e bem discreta. Para não criar alardes, eu dei essa sugestão ao Darrin McGillis, produtor do grupo. Assim, o jato deles pousará no hangar da Fundação e eles virão direto para cá...

–Ah, não me leve a mal, Saori-san... – interrompeu o Pegasus – mas eu vou ficar do mesmo jeito que estou! Inclusive, vou voltar agora para a sala de TV. O filme estava em uma parte muito interessante.

–Pô! É verdade! – exclamou o Cavaleiro de Dragão, seguindo o amigo.

–Então vamos nessa! – seguiu-os também, o Cisne – Eu adoro Dirty Dancing!

–Mariquinhas... – falou o Fênix, fazendo uma cara feia, mas indo atrás dos outros três.

Todos saem, deixando no escritório apenas Shun e Saori:

–Você está do meu lado, não é? – disse a jovem deusa, com uma voz chorosa.

–E ser chamado de Bicha Rosa para sempre?! Nunca! – exclamou Shun, saindo do local – Ikki, me espera!

Saori ficou nervosa, chegou perto da porta e gritou:

–AH! EU NÃO PRECISO DE VOCÊS MESMO! – bateu a porta e depois seguiu para sua mesa – Tatsumi?!

–Sim, senhorita? – respondeu o mordomo, babá e bajulador da moça.

A moça mexeu em umas gavetas e lhe entregou um envelope branco:

–Pegue isso. Eu quero que, com esse dinheiro, você me traga o mais belo vestido rosa bebê que você encontrar. Ah sim, nada muito comprido. Não quero que os meninos do Menudo me achem velha.

–Como a senhorita quiser.

–Mas faça isso rápido. Vou aproveitar esse tempo e tomar um banho.

O criado saiu em busca de um vestido que atendesse as expectativas de sua jovem mestra e, enquanto isso, Saori relaxava em um delicioso banho de espuma. Pouco tempo depois, Tatsumi retornou, deixando o vestido em cima da cama da moça.

Enquanto isso, na sala de TV, os Cavaleiros de Bronze continuavam a assistir Dirty Dancing. Hyoga imitava a coreografia do ator Patrick Swayze e arrancava gargalhadas de seus amigos, quando o videofone tocou. Como Tatsumi e nenhum outro empregado estavam por perto, Shun se levantou e atendeu. Na telinha, apareceu o rosto de um dos pilotos da Fundação:

–Boa tarde, Shun – Saudou o Piloto – Espero que esteja tudo bem.

–Está sim, senhor. Algum problema no hangar?

–Não, nenhum. Eu apenas liguei para informar que os convidados da Senhorita Kido já chegaram e se dirigem para a mansão.

–Pode deixar que avisarei a ela, senhor. Obrigado.

O Cavaleiro de Andrômeda desligou o videofone e informou a Tatsumi, que descia as escadarias, o que o piloto havia lhe dito. Rapidamente, o criado regressou ao quarto de Saori, que já havia saído do banho, se penteado e agora estava atrás do biombo, se trocando:

–Senhorita Kido... – falou, batendo na porta – Posso entrar?

–Entre Tatsumi.

O criado adentrou no recinto e lhe contou a notícia:

–Aiii!!! Já estou terminando de me arrumar, mas estou enfrentando problemas com o zíper! Tatsumi me ajude aqui, por favor? – disse a jovem, saindo de costas do biombo.

–Claro que sim, senhorita.

No andar inferior, Shun já havia informado aos outros sobre a chegada do Menudo a Tóquio:

–Vocês vão ver... – falou Seiya – O tempo em que esses almofadinhas do ocidente estiverem aqui, a Saori-san nem vai ligar pra gente!

–Isso tudo é ciúmes, Seiya? – brincou Shiryu

–Ci-Ciúmes? Por que eu teria ciúmes da...

As palavras de Seiya são interrompidas pelo soar da campainha. Uma das criadas da mansão, já instruída por Tatsumi, foi abrir a porta. Os Cavaleiros de Bronze permaneceram na sala de TV e apenas escutam a moça falando um espanhol carregado com o sotaque japonês:

–Buenas Tarudes. Bienbenidos a mansión Kido. Bueno, ra senyorita Saori Kido todabía no está risto. Poru faboru, me siguen para ir a ra sara de estaru.**

–Gracias. – Respondeu Ricky – Mas, não se esforce falando espanhol. Sabemos falar sua língua.

Guiados pela serviçal, os cinco porto-riquenhos seguem a criada até a sala de TV e, ao adentrar no local, dão de cara com os cinco Cavaleiros de Bronze:

–Sujou! Cavaleiros negros! – exclamou Seiya, assustado.

–Não, sua mula alada! – acalmou-o, Shun – Esses são os garotos do grupo Menudo.

–Ei... – analisou o Dragão – Só eu que reparei aqui um ar de...

–Semelhança? – completou Ruben.

–É... Mais ou menos isso... Hahahahahaha... Eu sou Shiryu.

–Ruben, muito prazer. Você por acaso é o namorado da senhorita Kido?

–Não... – disparou Shiryu em um tom irônico – A Saori-san não tem namorado. Pelo menos, até onde eu sei...

Seiya ergueu a sobrancelha direita e preparava-se para fulminar o Dragão com seus meteoros quando:

–Espera aí! – exclamou Angelo – Eu estou reconhecendo esses caras... Eu os vi na TV ano passado, naquela tal Guerra Galáctica! São os Cavaleiros do Zodíaco!

–Sim, somos nós! – sorriu Hyoga, meio envergonhado.

–Cara! Eu não acredito que estou aqui, frente a frente com eles! Deixe-me ver se lembro... – refrescou a memória, o jovem porto-riquenho, enquanto apontava cada um dos Cavaleiros, ao mesmo instante que falava seus nomes – Seiya de Pegasus, Shiryu de Dragão, Shun de Andrômeda, Hyoga de Cisne e... Ikki de Fênix, não é?

–Isso mesmo! – confirmou o Andrômeda – E vocês... Deixe-me ver se lembro: Ricky, Sergio, Ruben, Raymond... E você... Você é novato, não sei seu nome!

–Angelo!! Cara, você também saca tudo!

–Isso porque o LP é da Miho-san... – resmungou Ikki

–Quantas vezes eu irei repetir, irmão? O LP realmente é da Miho-san. Mas, sempre que estou com ela, a Saori-san, a Eire-san e a Seika-san as escuto conversando sobre o grupo...

–Ah, tá bem Shun, a gente vai fingir que acredita! –riu Hyoga – Mas, eu vi um clipe de vocês há um tempo e vocês eram mais... Digamos que, coloridos. De onde saiu esse couro e esses cabelos compridos?

–É uma longa história. – respondeu Sergio – Acontece que, enquanto estávamos na Argentina...

–Isso não diz respeito a você, Hyoga... – indagou Saori, surgindo na porta do local, contendo o máximo que podia a vontade de gritar e abraçar os ídolos.

–Saori Kido, eu suponho? – sorriu-lhe Ricky, tomando-a pela mão.

–Eu mesma... Prazer, Ricky.

–O prazer é meu – afirmou-lhe o Menudo, beijando-lhe a mão.

Saori deu um sorriso e, com o rosto vermelho, falou:

–Eu... Eu sou uma...

–Grande fã de vocês... – zombou Seiya, imitando a voz da garota.

–Bem, todas as garotas são! – completou Darrin McGillis, produtor do Grupo, entrando no local. – Sou Darrin McGillis, produtor do Menudo. Amanhã nós gravaremos o comercial do Chocolate Wafer, faremos algumas promoções e apenas apresentações na TV.

–Dá um tempo, Darrin! – interrompeu-o Ruben – Você disse que essa viagem seria rápida e perfeita para passearmos pelo Japão.

–Isso. E eu também quero aproveitar para conversar muito com os Cavaleiros do Zodíaco. – disse o pequeno Angelo, com os olhos brilhando.

Shiryu apertou a mão de Ruben e, com um sorriso no rosto, afirmou:

–Podem ter certeza que seremos grandes amigos.