Pietro Manson

 Eu estava na cozinha observando o saco da pipoca rodar dentro do microondas enquanto Melanie cantava uma musica da Malu Magalhães (Moreno).

 Esperei impaciente a pipoca dando voltas e voltas. Nunca vi um microondas que contasse os segundos tão devagar quanto o meu.

 -Você é sinônimo de bipolaridade.

-E você de idiotice. –Retrucou Melanie.

 Suspirei e me sentei ao seu lado no sofá, com uma bacia cheia de pipoca em uma mão e uma cerveja na outra.

-Pensei que nós íamos assistir Amizade colorida. –Abri a garrafinha de cerveja e tomei um pouco. Olhei para Mel.

-Por que você não assiste Uma linda mulher? –Foi sarcástica.

 A caixinha do DVD de Amizade colorida estava esquecido em um canto da minha mesinha de centro enquanto a do DVD de Guerra mundial Z estava aberta sem cd ao lado da TV.

-Você é tão gentil. –Suspirei com a minha própria ironia.

 Amizade colorida era um bom filme, uma comedia romântica sim, mas era diferente e realista. Melhor que zumbis.

 Comi toda a pipoca sozinho enquanto Melanie assistia ao filme. O filme terminou e eu estava totalmente entediado.

-O que vamos fazer agora, Pi? –Me perguntou, como se sua vida não fizesse mais sentido depois do fim do filme.

-Podia me explicar a sua atração por hipotermia. –Me referia a noite passada e na primeira noite, queria entender o por que dela sair na rua a noite na chuva.

 Deu de ombros.

-Eu precisava sair.

 Eu sabia que não conseguiria mais que isso. Me levantei e fui colocar a bacia vazia na pia, Mel me seguiu. Sentou-se em cima da mesa, balançando as pernas como uma criança.

-Vou ir tomar um banho, ta bom? Eu já volto, pode ficar a vontade ai.

-Eu vou ficar.

-Eu sei que vai.

 O dia estava meio nublado, mas ainda assim liguei o chuveiro no gelado. Melanie não parecia notar o quanto ela estava tentadora dentro daquela roupa— minha camiseta e minha cueca. Nunca me cansaria de dizer o quão linda ela era, porque era a verdade. Aposto que aviam muito mais garotos correndo atrás dela—apesar dela ser a ignorância em pessoa—mas ela estava na minha casa, usando as minhas roupas.

 Tomei um banho e me vesti com apenas uma bermuda. Ouvi a voz do Esteban Tavares cantando a musica Segunda-feira enquanto descia as escadas. Mel estava do mesmo jeito, ainda sentada na mesa balançando as pernas. Bebia o liquido de uma garrafa com os dizeres: Jose cuervo especial. Me lembrava de ter ganhado a um tempo atrás de Luca.

 Olhava para o teto imersa em pensamentos, nem pareceu notar que eu a observava.  Só depois de alguns minutos notou minha presença e olhou para mim.

-Peguei sua bebida. –Mostrou a garrafa para mim.

-Tudo bem. –Dei de ombros e me sentei em uma cadeira perto dela.

-Acho que sou um imã para decepção.

 Gostaria mesmo de descobrir cada mistério que devia se esconder por trás daquelas ironias e daqueles olhos cor de chocolate ao leite.

-Por que acha isso? -Olhei para ela, mas ela olhava para o nada.

-Ninguém consegue ser feliz perto de mim, nem eu mesma. –Bebeu mais um pouco. percebi que a garrafa estava bem mais vazia do que eu esperava.

-Eu não acho que isso seja verdade.

-Eu estou bêbada, me ignore idiota. –Riu.

 Passou pela minha cabeça fazer todas as perguntas que sondavam minha mente, aposto que ela responderia a cada pergunta com a verdades mais verdadeiras do mundo. Mel tinha “capacidade alcoólica de zero vezes qualquer numero” como ela mesma dizia. Mais alguns minutos e ela começaria a falar coisas estranhas. Pulou da mesa, a segurei por pouco. Cambaleou até a sala e desligou o som.

-Não comeu nada, a bebida sobe mais rápido.

-Bebe comigo? –entregou a garrafa em minha mão e apoiou uma de suas mãos em meu pescoço, olhando dentro dos meus olhos.

 Pensei em dizer que não, mas talvez ela precisasse daquilo, daquela distração idiota e perigosa que era o álcool.  Dei um bom gole na garrafa, a bebida queimou minha garganta. Melanie sorriu e virou a garrafa mais uma vez em sua boca, sem tira-la da minha mão.

-Por que estamos bebendo? –perguntei.

-Estamos comemorando. –Ela declarou como se fosse obvio. Pareceu ficar animada. Se soltou do meu pescoço e se deitou no sofá.

-E estamos comemorando o que exatamente?

-Eu sei lá, use sua imaginação. –Deu de ombros.

-“O dia em que o Pietro conseguiu a Melanie pra ele.” –Eu disse mesmo isso alto?

 Me deitei por cima de Mel, envolvendo suas costas com um braço e com a outra mão segurei sua coxa. Ela colocou uma mão em minha nuca e a outra em minhas costas.

-Sabe o que eu queria? –Perguntou.

-Não acho que você possa querer algo que não seja eu. –A informei.

  Imaginei nós dois juntos, como namorados. Imaginei algo que eu já vinha imaginando a tempos. Imaginei eu fazendo Melanie feliz.

-Mas, tipo... Eu não posso querer mais nada nunca mais? –Enrugou a testa e mordeu os lábios.

-Claro que pode. –Sorrimos um para o outro. –Você pode me querer mais a cada dia.

 Suspirou e soltou um “Ah” prolongado, como uma criança que acaba de descobrir algo ruim. Fez bico.

-Mas eu queria tanto um cachorro. –Ela parecia realmente decepcionada, e bêbada, muito bêbada.

 Eu ri.

-Você pode querer isso também.

 Ela sorriu e me deu um selinho.

-Obrigado Pietro. –Ficou seria de novo. -Ooh Pietro?

-Sim Melanie.

-Também quero outras coisas. Esse lance ai é negociável?

-Sim Melanie.

 Ela sorriu, mas logo ficou seria de novo. Um silencio absoluto.

-Ooh Pietro?

-Sim Melanie.

-Acho que estou bêbada.

-Sim Melanie. – Ri. –Você esta bem bêbada.

-Ooh Pietro? Você esta bêbado?

- Não Melanie.

-E você gosta de mim? –Perguntou, fazendo bico de novo.

-Gosto Mel, gosto muito.

 Soltou o ar que parecia estar preso em seus pulmões.

 Eu estava totalmente concentrado em não esmagar Melanie com o meu peso, mas ela não parecia nem notar que eu estava ali.

-Ooh Pietro...

-Sim Melanie.

-Ou faz ou sai de cima. –Sorriu sem os dentes, exibindo sua covinha.

-Sim Melanie. –A beijei.