Amor escrita por CarolTaisho


Capítulo 17
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Por volta da meia-noite

Assunto: Você

Querido Inuyasha, desta vez eu lhe agradeço (em primeiro lugar). Obrigada pela tarde. Obrigada por permitir olhar através de uma estreita fresta para dentro de seu baú de sentimentos. Pelo que pude ver, estou convencida de que você é a mesma pessoa que escreve.

Inuyasha, eu o reconheci. Você é o mesmo. Você é um só e o mesmo. Você é real. Eu gosto muito de você! Durma bem.

20 minutos depois

Fw: Querida Kag, na palma da minha mão esquerda, mais ou menos no meio, onde a linha da vida, cruzada por vários franzidos, vira em direção à artéria, aí se encontra um ponto. Eu o observo, mas não consigo vê-lo. Eu me fixo nele, mas ele não se deixa fixar. Posso apenas senti-lo. Eu o percebo também quando estou de olhos fechados. Um ponto. Ele me parece tão forte que fico tonto. Quando me concentro nele, algo repercute até os dedos do pé. Dá uma comichão, faz cócegas, esquenta, perturba. Ele acelera minha circulação sanguínea, governa minha pulsação, determina o ritmo das batidas do meu coração. E na cabeça surge uma sensação embriagante parecida com uma droga, que amplia minha consciência, transpõe meu horizonte. Um ponto. Eu poderia rir de alegria, pois ele me faz tão bem. Poderia chorar de felicidade, por possuí-lo e ser totalmente atingido por ele.

Querida Kag, na palma da minha mão esquerda, onde se encontra o ponto, hoje à tarde, deve ter sido por volta das 16h, aconteceu ali, à mesa de um café, um imprevisto. Minha mão queria pegar um copo d’água. Mas aí vieram deslizando a seu encontro os dedos de outra mão, macia, que tentaram freá-la, desviar-se dela, evitar a colisão. Quase conseguiram. Quase. Por uma fração de segundo, a ponta macia de um dos dedos tocou a palma da minha mão. Foi um toque suave. Eu o guardei para mim. Ninguém vai tirá-lo de mim. Eu posso sentir você. Posso reconhecer você. Posso reconhecer você novamente. Você é real. Você é meu ponto. Durma bem.

Dez minutos depois

Re: Inuyasha!!! Como isso foi lindo! Onde se aprende algo assim? Agora eu preciso de um pouco de uísque. Não se preocupe. Vá dormir. E não se esqueça do ponto. O melhor que você faz é cerrar o punho em volta dele. Aí ele fica protegido.

50 minutos depois

Assunto: Três uísques e eu

Querido Inuyasha, nós ainda ficamos acordados um pouquinho e conversamos sobre você, o Inuyasha material. (Nós: três uísques pequenos e eu.) Ocorreu a mim e ao primeiro uísque que você se esforça para se controlar na minha presença, em relação a palavras, gestos e olhares.

Isso não é necessário de maneira nenhuma, diz o primeiro uísque, que me conhece bem. (Nesse meio-tempo ele foi bebido por completo, infelizmente.) O segundo uísque, que também já se foi de lá pra cá, desconfia que você decidiu há muito tempo não chegar mais perto de mim do que a caixa de entrada do e-mail, e até o meio de uma bem iluminada e segura mesa de café, diante de dúzias de olhos por testemunhas. Nesse contexto, acredita o segundo uísque, nossa conversa dessa vez foi agradavelmente calorosa, cordial, sincera, pessoal, quase íntima e até mesmo meia hora mais longa do que o planejado. Haveria boas chances de que mantivéssemos esse tipo de encontros aos domingos em um café, até a nossa aposentadoria, quando jogaríamos paciência juntos ou até mesmo uma rodada de tarô, desde que nossos parceiros também participassem. (“Kanna” tem com certeza um talento natural para isso.)

Agora, o terceiro e já um pouco saidinho uísque perguntou quanto o nosso encontro falou às suas sensações físicas. (O uísque as chamou grandiloquentemente de “libido”. Eu respondi que não deve ter sido tanto assim.) Ele queria saber de mim se eu achava que era verdade que você só começou a me achar atraente lá pela terceira taça de Bordeaux, mais ou menos. Afinal, com café e água você deixa de lado qualquer interesse pela minha aparência. Eu respondi: “Uísque, você está realmente enganado. Inuyasha é um homem cujos sentimentos, não importa de qual natureza e quão fortes, ele pode concentrar num ponto no meio da palma de sua mão.

Ele é um homem que jamais teria a ideia de demonstrar para uma mulher de que ele gosta que ela o agrada, ou jamais dizer a ela frente a frente: Eu gosto de você! Isso seria muito constrangedor para ele.” Aí o terceiro uísque revidou: “Para a Kanna, ele com certeza já disse isso umas mil vezes.” Sabe o que eu fiz com o terceiro uísque depois disso, querido Inuyasha? Eu acabei com ele. E agora vou dormir. Bom dia!

Na manhã seguinte

Assunto: E aí, Kag!

Como foi mesmo que você escreveu depois de nosso encontro? Eu repito: “‘Obrigado, Kag foi fraco, querido Inuyasha. Muito fraco. Muito aquém de suas possibilidades.” E como foi mesmo que você se referiu ontem à noite a nosso segundo encontro? Eu repito: “Afinal, com café e água você deixa de lado qualquer interesse pela minha aparência.” Foi fraco, querida Kag. Muito fraco. Muito aquém de suas possibilidades.

Três horas depois

Re: Me desculpe, Inuyasha. Você tem razão, a frase soa estúpida. Se você a tivesse escrito, eu teria caído em cima de você. O e-mail todo é lastimável. Frívolo. Melindrado. Abusado. Petulante. Iiiiiih! Mas acredite em mim: NÃO FUI EU QUE O ESCREVEU, FORAM TRÊS

UÍSQUES! Estou com dor de cabeça. Vou me deitar de novo. Tchau!

Na noite seguinte

Assunto: Kouga

Me desculpe, Kag. Mas de novo eu tenho de me basear em suas palavras (e nas de seus uísques). E, portanto, eu lhe pergunto, sério e sem brincadeira, bem de acordo com minha natureza: por que eu deveria demonstrar que me interesso por sua aparência? Por que deveria dizer que você me agrada bem diante de você? Por que eu deveria me aproximar de você além da metade da mesa de um café bem iluminado? Você não pode querer que eu agora me apaixone também “fisicamente” (ou libidinosamente, como o álcool se expressou) por você! O que você ganharia com isso? Eu não entendo, você vai ter de me explicar. Acima de tudo tem uma coisa que você tem de me explicar, minha querida. No café, você desconversou de novo de modo elegante. Há meses, sim, desde Boston, que você foge desse tema. Mas agora eu quero saber. Sim, eu realmente quero saber. Exclamação, exclamação, exclamação, exclamação.

Aqui vai meu questionário número um: Como vai sua relação? Como estão as coisas com o Kouga? Como estão as crianças? Como vai sua vida? Questionário número dois: Por que você retomou o contato comigo depois de Boston? Como você vê hoje as circunstâncias que levaram à nossa separação? Como você pôde desculpar o Kouga? Como você pôde me desculpar? Questionário três: O que lhe faz falta? O que posso fazer por você? O que você

quer fazer comigo? O que devo ser para você? Como serão as coisas conosco daqui pra frente? Elas têm de ir pra frente? Para onde? Revele-me por favor: PARA ONDE? Pense alguns dias sobre as respostas, pelo menos temos todo o tempo do mundo. Boa noite, Inuyasha.

Cinco horas depois

Assunto: Impressões

Mais algumas palavras sobre meu indisponível ou irreconhecível “interesse por sua aparência”, querida Kag. Por favor, transmita a seus ex- e futuros uísques: “Eu gosto de você.” E isso eu digo com 0,0 álcool no sangue. É bom ver você. Você é linda de ver. E eu felizmente posso olhar para você a qualquer momento. Não tenho apenas uma centena de impressões de você. Também tenho você impressa em mim. Tenho um ponto de contato na palma da minha mão. Posso lhe observar dali. Posso até mesmo acariciar você. Boa noite.

Três minutos depois

Re: Quanto à sua pergunta: “O que posso fazer por você?”, você a respondeu agora mesmo.

Acaricie meu ponto de contato. Querido!

Um minuto depois

Fw: Vou fazer isso. Mas não faço isso por você, e sim por mim. Afinal, só eu posso sentir esse ponto, ele me pertence, querida!

50 segundos depois

Re: Engano seu, querido! Sempre há duas pessoas num ponto de contato. 1) O que é tocado.

2) O que toca. Boa noite.

Três dias depois

Assunto: Questionário um

A Kirara vai completar 18 anos. Ano que vem ela termina a escola. Tenho falado com ela somente em inglês e francês, para ela praticar. Desde que comecei, ela simplesmente não fala mais comigo. Ela quer ser aeromoça ou pianista. Eu aconselho a ela uma combinação: pianista de voo, pianista voadora, aí ela não teria concorrência. Ela é bonita, magra, estatura mediana, loira, tem a pele clara e algumas sardas, como a mãe tinha. Ela está “saindo” há meio ano com Miroku. “Sair” com Miroku significa que ela chama de “Miroku” qualquer pessoa, do sexo masculino ou feminino, com quem ela vara as noites. Oficialmente, ela passa as noites na casa dele. O pobrezinho sabe disso, mais infelizmente não tira qualquer proveito. “O que é que vocês ficam fazendo o tempo todo?”, eu pergunto. Ela sorri, da forma mais infame que pode.

“Sexo” ainda é a melhor explicação que os jovens, nada inclinados a dar informações, insinuam nessas circunstâncias. Ele se autoexplica. Kirara não precisa perder seu tempo com isso. Ela só tem de suportar uns monólogos pedagógicos sobre sexo seguro.

Shippou tem 14 anos. Ele ainda é uma criança. É sensível e apegado. Sente falta da mãe, ele precisa muito de mim. Ele mantém a família junta, bem próxima, com um enorme esforço.

Uma energia que ele não tem na escola. A cada dois dias ele me pergunta se eu ainda amo o pai dele. Inuyasha, você não tem ideia do jeito como ele me olha quando pergunta isso. Para ele, não existe nada melhor do que nos ver felizes, e ele é nossa interseção. Às vezes ele empurra o pai para meus braços literalmente. Ele quer forçar nossa proximidade. Ele percebe que a estamos perdendo aos poucos.

Kouga, ah, sim, Kouga! O que devo dizer Inuyasha? Por que tenho de lhe dizer, justamente para você? Já é bem difícil admitir isso para mim mesma. Nossa relação esfriou.

Ela não é mais um caso de amor, ela é pura disciplina mental. Não posso acusá-lo de nada, infelizmente. Ele nunca tem pontos fracos. É a pessoa mais generosa e altruísta que conheço.

Gosto dele. Admiro sua integridade. Prezo a sua atenção. Eu o admiro por sua calma e inteligência.

Mas, não, não é mais um “grande amor”. Talvez nunca tenha sido. No entanto, nós éramos tão felizes com ele, ao encená-lo, ao simulá-lo um diante do outro, para nos estimular mutuamente, para mostrá-lo às crianças, de modo que elas se sentissem aconchegadas. Depois de 12 anos de palco a gente se cansou de nossos papéis de esposos perfeitos. Kouga é músico. Ele ama a harmonia. Ele precisa da harmonia. Ele vive a harmonia. NÓS a vivemos juntos. Eu decidira ser uma parte do todo. Se me retiro, derrubo tudo que construímos.

Kouga e as crianças já vivenciaram um colapso e tanto. Não pode acontecer outro. Não posso fazer isso com eles. Não posso fazer isso COMIGO. Eu nunca me perdoaria. Você entende?

Um dia depois

Assunto: Inuyasha?

Olá, querido, o gato comeu sua língua? Ou você está pacientemente esperando pelas partes dois e três da minha saga familiar?

Cinco minutos depois

Fw: Você conversa com ele a respeito, Kag?

Seis minutos depois

Re: Não, eu me calo diante do assunto, Inuyasha. E isso intensifica o efeito. Nós sabemos muito bem o que está acontecendo. Tentamos fazer o melhor possível. Inuyasha, você não deve achar que eu sou mortalmente infeliz. Sei usar o espartilho. Ele me estabiliza e protege. Só tenho de prestar atenção para que ele um dia não me deixe sem ar.

Três minutos depois

Fw: Kag, você tem 35 anos!

Cinco minutos depois

Re: Trinta e cinco e meio. E Kouga tem 49. Kirara tem 17. Shippou tem 14. Inuyasha tem 37. Hektor, o buldogue da sra. Kaede, tem nove. E Wasiljew, a pequenina tartaruga dos Houjo? Aí eu tenho de perguntar, me lembre, Inuyasha! Mas o que você quer dizer com isso? Aos 35 eu ainda não sou velha o suficiente para levar adiante essa responsabilidade? Não sou velha o suficiente para saber o que devo a mim e à minha vida, para saber o que devo levar em conta a fim de ser fiel a mim mesma?

Quatro minutos depois

Fw: Você, de todo jeito, é jovem demais para já ter que cuidar para que um dia não falte ar dentro de seu apertado espartilho, minha querida.

Um minuto depois

Re: Enquanto Inuyasha Taisho cuidar para que haja ar fresco por e-mail, ou ao vivo na mesa de um café, eu não vou ter uma insuficiência respiratória.

Dois minutos depois

Fw: Essa foi uma boa saída, querida Kag. Posso lhe lembrar de que muitas de minhas perguntas ainda estão sem resposta? Você as salvou ou eu devo enviá-las novamente?

Três minutos depois

Re: Eu salvei tudo que você já me mandou, meu querido. Por hoje chega. Boa noite, Inuyasha!

Você é um bom ouvinte. Obrigada.

No dia seguinte

Assunto: Questionário três

Vou desconsiderar seu estranho questionário dois por completo. Prefiro pular logo para o presente.

O que me falta, Inuyasha? – Você. (Antes mesmo que eu soubesse que você existia.)

O que você pode fazer por mim, Inuyasha? – Estar aí. Escrever pra mim. Ler o que eu escrevo. Pensar em mim. Acariciar meu ponto de contato. O que eu quero fazer com você, Inuyasha? – Isso depende da hora do dia. Em geral: ter você em minha cabeça. Às vezes: também lá embaixo.

O que você deve ser para mim, Inuyasha? – A pergunta dispensa resposta. Você já é. Como as coisas devem ficar entre nós daqui pra frente, Inuyasha? – Como estiveram até hoje. Se as coisas devem ir para a frente entre nós? – Sem falta. Para onde? – Para lugar nenhum. Simplesmente adiante. Você vive sua vida. Eu vivo a minha vida. E o resto nós vivemos juntos.

Dez minutos depois

Fw: Mas aí não vai sobrar muito para “nós”, minha querida.

Três minutos depois

Re: Isso depende de você, meu querido. Eu tenho grandes reservas.

Dois minutos depois

Fw: Reservas de insatisfações. Eu não vou poder satisfazê-las, minha querida.

50 segundos depois

Re: Você não tem noção do que é capaz de satisfazer, meu querido, o que você pode satisfazer e o que você já satisfez. Não se esqueça: você possui toneladas de baús de sentimentos. Só tem que arejá-los oportunamente.

15 minutos depois

Fw: O que me interessaria saber: algo mudou por conta de nosso último encontro, Kag?

40 segundos depois

Re: Com você?

30 segundos depois

Fw: Primeiro: com você?

20 segundos depois

Re: Não, primeiro com você?

Um minuto depois

Fw: Ok, primeiro comigo. Mas primeiro você tem de responder às perguntas que faltavam. E essa é uma oferta justa, minha querida.

Quatro horas depois

Assunto: Questionário dois

Por que eu retomei contato com você depois de Boston? Por que, afinal? – Porque os “três quartos de ano de Boston” foram os piores da própria divisão oficial dos anos em quatro partes. Porque o homem das palavras saiu de fininho da minha vida sem dar uma palavra. Covarde, saiu pela porta dos fundos da caixa de saída do e-mail, porta essa que estava trancada com uma mensagem pavorosa da comunicação contemporânea. A mensagem me acompanha até hoje em meus sonhos (e quando a tecnologia quer ser má, ela retorna à minha caixa de mensagem): ATENÇÃO. MUDANÇA DE ENDEREÇO ELETRÔNICO, blá-blá-blá. Inuyasha, nossa “história” ainda não havia terminado. A fuga nunca é o ponto final, apenas seu adiamento. Você sabe disso muito bem. Caso contrário você não teria me respondido, nove meses e meio depois.

Como eu penso hoje a respeito das circunstâncias que levaram à nossa separação virtual? – Inuyasha, que pergunta é essa? Que circunstâncias podem ter sido essas? A coisa toda entre nós dois tomou uma proporção muito grande. Muito grande ou muito pequena. Muito pequena para seu investimento emocional, sua entrega ilusória. Muito grande para o ganho prático, seus benefícios reais. A empreitada Kag não compensou. Você perdeu a paciência comigo. Essas, meu querido Inuyasha, foram as circunstâncias que levaram à nossa separação virtual.

E agora vai ficar animado: Como pude perdoar o Kouga? – Inuyasha, eu li essa pergunta pelo menos umas vinte vezes. Não a entendo, realmente não entendo. PELO QUE eu deveria ter perdoado o Kouga? Por ele ser meu marido? Porque ele ficou no caminho de nosso amor por e-mail? Porque ele no fim das contas lhe empurrou para a fuga? Inuyasha, qual o objetivo de sua pergunta? Isso você vai ter de me explicar.

Bem, e para finalizar: como eu pude lhe perdoar? Ah, Inuyasha. Eu sou subornável. Bastam belos e-mails seus – e eu perdoo tudo, até mesmo pausas dramáticas de nove meses e meio. Pronto!!

Dez minutos depois

Sem assunto

Então, meu querido, e agora você vai me contar se algo mudou com você depois de nosso encontro. (E, é claro, o quê.) Um beijo no rosto e um carinho no ponto de contato da palma de sua mão, Kag.

 

 


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Notas finais do capítulo

Até a próxima!



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