A iluminação era precária – as lâmpadas presas ao teto mais pareciam apenas enfeites -, a escuridão caia sobre o palco como um mando encobrindo tudo. Alguns feixes de luz piscavam vez ou outra, revelando alguns rostos. Os acordes ecoavam em meio a gritos, parecia não ser preciso anunciar qual seria a próxima música. Sonny aproximou-se da borda do palco, apoiando uma das pernas sobre a caixa de som e curvou-se. As fãs esticavam os braços tentando tocá-lo

Smiles and her laughter
It’s the only thing that I’ve been waiting for a time

Sua voz saiu um pouco baixa, seu olhar não estava voltado para o publico como de costume. Ele parecia olhar para o lado, na direção do guitarrista, Matt. O rapaz por sua vez estava concentrado em sua guitarra.

Regardless of our distance and our hope...Grows greater
Trapped by pretty eyes and letters for all time
The only thing that I’ve been waiting for

Podiam-se ouvir as vozes, as pessoas acompanhando a música. Verso por verso. Sonny andava pelo palco, o cabelo úmido de suor aderindo a sua pele. Seu olhar perdido entre o palco e o guitarrista.

I hope its something worth the waiting
'Cause its the only time that I ever feel real
Thunderstorms could never stop me
'Cause there's no one in the world like Emily

Sonny olhava para Matt como se cada palavra cantada fosse para ele. Deixava que o eufórico público cantasse a ultima palavra do refrão, para ele de nada importava cantá-la.

Antes de pisar no palco havia reforçado a promessa que fez para si mesmo na manhã daquele dia: iria criar coragem e livrar-se do que lhe sufocava. Mas mais uma vez, ali, diante de Matt toda a sua coragem e força desapareciam. Diante daqueles olhos tudo parecia tão difícil. Sentia uma pressão quase sufocante sobre si e, sabia que aquilo era apenas o começo.

Jogou o capuz de sua blusa sobre a cabeça, afundando as mãos nos bolsos e caminhou sob a fina chuva até o carro. Seu coração falhou uma batida ao sentir o perfume de quem acabara de sentar ao seu lado. Não precisava desviar seu olhar da rua já pouco movimentada para confirmar que era ele. Seu coração falhou mais uma batida quando sentiu o calor da mão em seu ombro.

Virou-se, mas não pode dizer nada já que os lábios do outro o calaram. As mãos de Matt segurando-lhe o rosto delicadamente. O toque foi intensificado, as línguas dançando juntas em perfeita sincronia. Podia sentir a respiração quente batendo contra sua pele e cada pêlo do seu corpo arrepiando-se.

“Sonny... Sonny...” Abriu os olhos lentamente. O rosto de Matt estava a poucos centímetros do seu. “Já chegamos ao hotel.”

Sonny olhou em volta, Travis se espreguiçava saindo do carro enquanto Derek tirava algumas coisas do porta-malas.

Queria se socar ou quem sabe pular na frente do primeiro carro que passasse. Mais uma vez ele esteve frente a frente com Matt e não consegui declarar-se. Bufou, saindo do carro desanimadamente. Talvez fosse melhor esquecer aquilo – guardar para si, enterrar no fundo de seu coração -, afinal nunca teria coragem de revelar que Matt era o dono de seu coração e pensamentos.

Fim.