Army of Darkness 2 escrita por VinnieCamargo


Capítulo 2
A Vida é uma Vadia


Notas iniciais do capítulo

Enfim, não sei quantos de vocês vão continuar com AOD, mas aqui está o segundo capítulo :)
Eu não gostei muito do resultado final pois fiquei com preguiça de revisar por uma terceira vez.
Enfim, tá aqui. Espero que curtam.



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Billy Bob odiava aquele tipo de merda.

Todo maldito sábado Laurie insistia para que o almoço ocorresse na casa de sua mãe.

E ele simplesmente odiava aquele tipo de merda. Qual é o significado em ter dúzias de frangos, porcos, vacas e até bois vagando pelo seu terreno esperando o momento certo para serem abatidos para virarem uma carne suculenta e gorda se todo sábado de manhã ele tinha que comer aquela bosta que a sogra faz naquele fogão novo e caro que ela comprou em catorze vezes naquele shopping ridículo?

Não, Billy Bob não via nenhum sentido naquilo tudo e as coisas não iriam ficar daquele jeito. Não mesmo.

Sem tirar os olhos da estrada, Billy suspirou.

– Laurie – ele bufou.

Laurie ergueu os olhos da própria tarefa de lixar as unhas violentamente. Droga, Billy odiava limpar os pedacinhos nojentos de unha que ficavam no assento da caminhonete e ao longo dos anos tinha deixado aquilo muito claro para Laurie, mas droga, naquele instante ele tinha outras coisas para serem ditas.

– Que foi Billy.

Aquilo soou mais como uma exclamação do que como uma pergunta. Laurie sempre insistiu que as coisas deveriam ser feitas de seu jeito. Aquilo corroía Billy.

Talvez ele estivesse sendo insensível demais com todos os efeitos colaterais que sua esposa estava passando com tudo aquilo.

Ele mesmo estava sendo muito insensível com tudo aquilo. Porra, era seu irmão.

Billy honestamente não podia fazer nada. Laurie e Harold tinham sido amigos por anos, e aquilo era estranho demais para Billy, pois Harold era seu irmão. Billy não era melhor amigo de Linda, sua cunhada e esposa de Harold, e aquilo sequer era justo e sequer fazia sentido em sua mente cansada. Mas ele também não culpava ninguém.

Harold e Linda haviam saído na semana anterior atrás de Gabrielle, sua filha adolescente que havia desaparecido. Harold e Linda ainda não tinham retornado, e aquilo estava desestruturando toda a família.

Billy sequer odiava almoçar na sogra. Ele até gostava. Deus, ele amava e a comida não era uma bosta. O fato era que Billy só estava confundindo as coisas em sua própria mente e descontando raiva nos pensamentos errados. Ele estava indo na casa da sogra para ajudar a família nas buscas e – almoçar – era uma das últimas coisas a serem feitas naquele sábado. Mas o tradicionalismo predominava – MICHIGAN - e ele só seria capaz de se referir a ir à casa de sua sogra naquele sábado como um almoço.

Seria uma benção se fosse apenas um almoço. Sim, seria ótimo.

– E se... – Billy descarrilou na frase, incerto de onde continuar.

– E se o quê? – Laurie interrompeu suas unhas e o encarou.

– E se... e se seja o que for que tenha acontecido com Gabrielle também aconteceu com Harold e Linda...

– Jesus! – Laurie quase cuspiu. – Billy, ele é seu irmão.

– Você... você tá certa.

– Fale algo do tipo perto do seu pai que ele te come vivo.

E aquilo era verdade. Seu pai era um homem – já no fim dos oitenta – mas um homem surpreendente. Era do tipo que se agarrava no último fio de esperança e nunca mais soltava, mesmo pressionado a deixar ir.

– Papai não vai ouvir isso.

Laurie resmungou alguma coisa que Billy não se preocupou em entender. Laurie fazia aquilo muito. O tempo todo Laurie dizia coisas insanas mascaradas em resmungos e...

– Meu Jesus!

Billy percebeu aquilo um segundo depois.

– Puta que pariu – ele soltou.

Ele freou a caminhonete automaticamente. Ali na estrada, a alguns metros de distância, havia uma pessoa caída – uma garota, ele percebeu os retalhos do que costumava ser um belo vestido de festa – e essa garota estava caída, de rosto para o chão, envolta numa poça de sangue.

– Pode ser Gabrielle – e foi tudo o que Billy foi capaz de dizer para Laurie antes de abrir a porta da caminhonete e sair.

– Billy eu – Laurie não terminou seja o que for que ela ia dizer.

Billy se aproximou calmamente. Uma parte dele queria que aquilo que estava se afogando em seu próprio sangue, se afundando em seus próprios restos fosse Gabrielle, e outra parte não queria - a parte orgulhosa que quer tudo do jeito como sempre foi – Gabrielle bem.

Não é Gabrielle. Por entre o rosto escondido no meio de uma confusão de cabelos e – meu deus do céu – sangue, existe um rosto belo de uma garota que ele não conhece. Ele sabe que não é Gabrielle, pois os cabelos da garota no chão são escuros, num contraste assustador com sua pele ultra pálida, diferente de Gabrielle, que herdou os cabelos loiros de Linda.

– Em nome de Deus... – Billy solta. Seja quem for e o que quer que tenha acontecido, Billy não consegue entender porque alguém faria isso com uma menina. Ele não sabe se ela foi atropelada, não sabe o que diabos aconteceu com ela, não sabe se realmente quer descobrir o que aconteceu, mas naquele momento torce para ela ficar bem. E se fosse Gabrielle? E se fosse a filha dele?

Billy lança um olhar de horror para Laurie, e por um segundo espera de coração que ela o entenda. Laurie não tira a bunda da maldita caminhonete.

– Quem é, Billy Bob?

Billy sequer ouve. Ele dá um passo automático para trás quando a garota abre os olhos, e sente uma leve onda de auto repulsa por um instante.

O que o pai da garota faria?

– Você tá bem, menina?

A garota olhou direto nos olhos dele. E ele mais uma vez se vê imaginando o horror que passou diante dos olhos dela. Ele reconhece uma vítima de atropelamento, e de fato aquela garota não é uma.

A garota se retorceu e esticou um dos braços – AI MEU DEUS – existe uma ferida enorme no toco onde sua mão e uma boa parte de seu pulso costumava estar. O machucado adquiriu um tom cinza e duas pontas compridas – os ossos do braço – estão enrolados por um tipo de musgo verde escuro - algo que um dia foram artérias - coisa que se vê apenas naqueles seriados da TV – The Walking Dead – algo assim.

Billy sequer sente muito por seu pensamento.

– Meu Deus!

Billy não desejaria aquilo para ninguém. Ele se abaixa e quase cai ao ver que o braço arrancado da garota – ainda está com ela.

– Jesus.

Billy tapa a boca, reprimindo o vômito. Ouve o som da porta da caminhonete batendo – Laurie está vindo – e sequer ouve o ritual que aconteceu consigo mesmo segundos antes – acontecendo com ela.

Billy encara aquilo por um momento, tentando começar em algum lugar. Ele fica de pé e abaixa-se novamente, ignorando os gemidos nervosos de sua mulher.

Seus olhos nunca deixando o braço arrancado.


A vida é uma vadia.

Billy não discordava daquele pensamento. E esse mesmo pensamento saía e voltava como um martelo batendo num prego.

Ele não culpa ninguém. Ele só quer levar ao hospital essa garota que balança tontamente de um lado para o outro na carroceria devido aos buracos que a caminhonete enfrenta naquela estrada do caralho do rabo de Michigan.

Laurie não tira os olhos do braço ensanguentado enrolado na blusa de flanela nova que Billy estava vestindo, balançando no painel.

Billy não consegue imaginar o braço sendo recolocado nessa garota. Billy não consegue se imaginar vestindo qualquer blusa de flanela novamente.

Billy não conseguiu pensar em muita coisa. E naquele instante, se tivesse olhado no retrovisor, talvez pudesse ter mudado seu próprio destino usando a .38 que estava embaixo de seu assento.

Billy nunca chegou a ver os dois olhos amarelos e viciosos da garota acordada na carroceria – encarando sua alma.

A porta do lado de Laurie foi aberta e sua esposa foi sugada para a estrada numa explosão vermelho-sangue – meu Deus é sangue – Billy reconheceu o gosto por uma das gotas que havia entrado em sua boca.

No momento seguinte, veio o último grito de Laurie antes de sua cabeça ser devorada numa mordida violenta pelo pneu traseiro, Billy viu pelo retrovisor os cérebros sendo jorrados para o alto pelo atrito com as rodas em alta velocidade.

Billy tentou gritar – ainda vendo o corpo de sua esposa decapitada sendo deixado para trás, ainda vendo o spray de sangue chovendo pela estrada, ainda dentro da caminhonete em movimento – e só aí percebeu os dedinhos gelados fechando ao redor de sua traqueia.

– Você está tão morto – A garota da estrada disse pausadamente e sem emoção, mas com uma voz embargada num tom horrivelmente grosso e sombrio – que teria eriçado todos os pelos de Billy se ele não estivesse com tanto, tanto medo. Ele já tinha urinado na própria calça.

– Eu... – se continuasse vivo, Billy nunca entenderia o motivo de tentar argumentar. Aquilo parecia ter a mesma emoção de um leão que agarra sua presa. E presas não argumentam.

Presas morrem.

Billy sentiu seus pulmões explodindo em busca do ar. Aquela putazinha demoníaca tinha uma força do inferno.

Os olhos de Billy se fecharam e seu último pensamento foi que talvez esse fora o mesmo destino de Harold, Linda e Gabrielle.


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Notas finais do capítulo

Gostou? comente.
Não gostou? Faça o que quiser, críticas são bem-vindas.
Até o próximo capítulo - não sei quando ele sai.
Obrigado.



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