Acordei com uma brisa fresca soprando em meu rosto cansado. Polly estava no sofá e eu dormia sentada na mesa. Me levantei com dificuldade da cadeira dura e caminhei com o corpo doendo, fui até o banheiro.

No espelho, vi minha cara amassada com marcas de cabelo, e folhas, como tatuagens da cor da pele. Lavei o rosto e escovei meus dentes. Eu e Polly passamos a noite toda trabalhando nas fotos do Collin. Eu havia montado um livrinho de fotos com frases de músicas que ele gosta como Boys don't cry do The Cure, que é a banda preferida dele.

Modéstia a parte, fizemos um ótimo trabalho. Revendo aquelas páginas, me senti bem, como se uma chama ardesse em mim. Uma chama de esperança.

Fui até a sala e chamei Polly. Ela fez alguns grunhidos e disse que estava cansada, mas não se levantou. Resolvi então tomar um banho.

A água percorria meu corpo e depois descia pelo ralo levando meu cansaço e minha preocupação, pelo menos parte dela. Depois do banho eu iria acordar Polly e então ia para o hospital. Era o último dia do Collin lá. Isso me deixava tão feliz que eu mal cabia em mim.

John recebera alta e eu ia levá-lo para a casa da mamãe. Assim, quando eu voltasse, seria a vez do Col ir pra casa. Ele só tinha que passar pelos testes para saber se seu corpo não apresentara rejeição com o novo rim.

Alcancei a toalha que estava pendurada no box e me enxuguei. No meu quarto, coloquei a primeira roupa que me pareceu razoável. Me joguei na cama forçando para não dormir. Olhei no relógio, meu irmão sairia daqui a meia hora. Eu tinha que ir.

–Polly, vamos, eu tenho que levar o John pra casa. - balancei o braço dela.

–Eu não posso ficar aqui? - ela pediu.

–Tudo bem, mas eu vou lá na casa da minha mãe. Tem certeza que quer ficar? - perguntei.

–Tenho, se não for voltar hoje avisa.

–Legal, tem comida na geladeira, espero que saiba usar o microondas. - eu ri e ela tacou uma almofada em mim - E você sabe onde fica a chave extra. To indo, beijos.

Ela nem me deu atenção, logo já estava roncando. Essa é minha melhor amiga, a roncadora Polly.

**

Na recepção do hospital, eu esperava a recepcionista de cabelo oleoso, a mesma que eu ofendi antes , arrumar os papéis do meu irmão.

–Você já pode buscá-lo, ele te aguarda no quarto. - ela fingiu um sorriso e depois revirou os olhos.

–Obrigada. - falei tentando ser simpática.

Andei até o quarto onde os meninos estavam. John já me esperava sentado na cama.

–Bom dia sr.Bolinho de arroz. - eu disse abraçado ele.

–Bolinho de arroz? - ele franziu o cenho e eu ri.

–Esquece. - balancei a cabeça e me dirigi para Collin - Oi.

–Bom dia. - ele me beijou - Amanhã você vem me buscar também?

–Claro. - eu o beijei de novo.

–Tiff, vamos logo antes que eu vomite o único rim que me restou. - John falou atrás de nós.

–Tudo bem, vamos. - eu me afastei de Collin e peguei a mochila do John.

Me despedi da Naoume e do West, que parecia ter se entendido com o Collin. Eu e John entramos no fusca, e eu deixei ele escolher o CD, só porque seu gosto musical era igual o meu.

–Que tal Janis Joplin? - ele levantou o CD e eu assenti.

Piece Of My Heart tocava e enchia meus ouvidos. A melhor sensação do mundo é estar em uma estrada com o vento bagunçando seus cabelos levemente molhados e seu CD favorito tocando ao fundo.

Olhei para John e vi que ele também se sentia assim, ele sorriu para mim. Aquele sorriso, sem palavras para descrevê-lo. Sorri de volta e voltei a prestar atenção a estrada. Daqui pra frente, tudo seria diferente, tipo, melhor.