O Que Não Tem Remédio... escrita por Finchelouca


Capítulo 6
Azar no jogo, sorte na vida


Notas iniciais do capítulo

Queria agradecer ao MarliN pela recomendação e dedicar o capítulo a ele.
Mas também quero reforçar a dedicatória dessa fic a minha filhota do coração, Flavinha, que deve se ver um pouco nesse cap...
Beijos a todos e espero que gostem!



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Cuidar de Ariel foi algo com que o Sr. e a Sra. Hudson não tiveram grandes problemas. Rachel era residente de enfermagem em uma maternidade e tinha muito jeito com bebês, e Finn tinha um irmão mais novo, vários primos e os filhos dos primos, então muito cedo aprendera coisas como trocar fraldas, dar banho e colocar pequeninos para dormir, aprimorando cada uma das tarefas na medida em que sua família só crescia.

As cólicas que eram comuns nos primeiros meses de vida de qualquer bebê, deixando-o irritado e muito choroso, não assustaram os dois, que sabiam muito bem que aquilo aconteceria. Pais de primeira viagem, no entanto, nunca estariam realmente preparados para a preocupação e o abatimento de ver sua princesinha ficar doentinha pela primeira vez. Até ter certeza absoluta de que não eram nada além de sintomas de uma gripe normal a febre, o nariz escorrendo, a respiração ofegante, a tosse e a dificuldade para mamar, os dois sofreram bastante junto com a própria Ariel.

Rachel ainda estava de licença maternidade e foi ela quem percebeu a temperatura alterada da filha. Felizmente Finn já havia passado a trabalhar apenas em casa, no seu próprio negócio de corretagem, para alguns clientes que tinha fidelizado, e conseguiu, apesar de seu próprio coração também muito apertado, fazer com que a esposa entregasse a menina a ele e fosse telefonar para a pediatra, que os tranquilizou.

"É só gripe, Rachel." Disse a Dra. Dany, docemente. Estava acostumada com pais ligando, até no meio da madrugada, o que nem era o caso. "Insiste até ela pegar o peito, porque a amamentação é a melhor coisa pra imunidade do bebê, como você sabe. Coloca um pouquinho de soro no narizinho pra aliviar... e, se a febre subir apenas, você pode dar aquele antitérmico infantil que a gente usa lá no hospital." Recomendou.

"Não pode mesmo ser pneumonia, né?" A jovem mãe perguntou, aflita. "Eu posso levá-la até o hospital, pra você examinar e a gente se certificar." Sugeriu.

"Se você for ficar mais tranquila, vocês podem vir, claro." Concordou. "Mas, Rachel... eu não vejo necessidade. Uma temperatura de 37,5 é só estado febril... e tudo mais que você me descreveu não indica nada além de uma gripe comum." Reafirmou e, finalmente, a outra mulher sossegou e decidiu apenas continuar observando a criança, que, em poucos dias, já não tinha mais quase nenhuma tosse nem fungava, e voltara à temperatura normal.

Quando, mais tarde, por volta dos oito meses da garotinha, seu primeiro dentinho começou a nascer, a agitação, o chororô, a gengiva inchada e avermelhada, o estado febril e a dorzinha de barriga que veio junto, causada pelo fato de Ari colocar tudo o que encontrava na boca para morder, e nem sempre as coisas estarem limpas, não preocuparam tanto, mas representaram várias noites em claro, mesmo assim.

"Você passou a noite toda aqui, meu amor?" Rachel perguntou, de forma retórica, acariciando os cabelos de Finn, que estava todo torto cochilando na poltrona do quarto da filha, que a mulher usava para amamentar. Tinha sido a primeira de três noites em que a morena conseguira dormir mais de cinco horas, mas, ao acordar, ela não tinha encontrado o marido na cama dos dois, nem a filha no cercadinho que eles tinham colocado no quarto deles, para que ela dormisse perto.

"Logo depois que você dormiu, ela começou a chorar muito, mas, como você tem plantão hoje, eu achei melhor não te acordar." Ele comentou, com a voz rouca de sono.

"Mas eu nem ouvi... ela se acalmou rápido?" Perguntou, preocupada.

"Se acalmou, sim, mas eu achei melhor trazê-la pra cá e ficar com ela aqui... ou ela podia chorar de novo e te acordar." Explicou.

"Obrigada, amor... mas não precisava!" Afirmou, sincera. "Vem! Eu vou te colocar na cama, pra você descansar direito." Ofereceu sua mão a ele, que a segurou, levantando-se.

"Precisava, sim! Você tem plantão e eu posso dormir durante o dia, quando ela dormir."

"Eu não vou hoje... a Sugar pode trocar comigo." Decidiu. "Você não dorme há dias e ela não vai dormir tempo suficiente pra você descansar." Observou e ele não disse nada, cansado demais até para argumentar.

Porém nem todas as primeiras vezes foram ruins, é claro! Quando, pouco depois de completar onze meses, Ariel tentou dar alguns passinhos, sozinha, e acabou caindo sentada, os pais a olharam tensos, esperando que chorasse, mas ela olhou de volta para os dois e deu uma daquelas risadinhas gostosas que fazem qualquer pessoa rir junto. Quando Rachel e Finn levaram sua bonequinha para conhecer o mar, se divertiram muito com as caretas que ela fez, sentindo a areia em seus pezinhos, ao ser colocada no chão, e o gosto salgado da água em suas mãozinhas molhadas, ao colocá-las na boca.

Duas semanas depois dos primeiros passos, veio a primeira palavra. Era uma tarde de domingo e Sugar estava na casa dos Hudson, reclamando do namorado, enquanto Finn lavava a louça, e Rachel ia secando e guardando tudo. A miniatura de gente, que era uma mistura perfeita dos pais, estava em seu carrinho com uma boneca no colo, mas seus olhos estavam atentos aos movimentos e à voz da melhor amiga de sua mãe.

"Eu to virada no samurai!" Sugar avisou. "Ele que ouse chegar perto daquela loira aguada de novo pra ele ver! E ela? É bom ela ficar bem longe ou aquela carinha de fuinha dela vai ter um encontro intenso com a minha mãozinha aqui."

Rachel e Finn se olharam, não rindo porque, por mais que achassem o jeito de Sugar divertido, sabiam que ela estava falando sério e ficaria chateada. Ariel, porém, começou a rir sem parar e, se havia alguma dúvida de que ela estava gargalhando às custas da Srta. Motta, essa dúvida acabou quando ela abriu a boca e emitiu o seu primeiro som com significado reconhecível.

"Dida!" Falou e continuou rindo, alheia à surpresa dos adultos, que pararam tudo o que estavam fazendo. "Dida... dida." Repetiu, mais alto.

"Ela falou comigo!" A madrinha se derreteu com o apelido carinhoso balbuciado. "Você falou, meu amor?"

"Deus! A primeira palavra da minha filha foi pra desmiolada da sua melhor amiga." Finn falou no ouvido de Rachel, sem que a outra jovem escutasse, pois ela estava pegando a afilhada no carrinho e se deliciando com a honra de ter sido a primeira pessoa que a afilhada chamou por um nome ou apelido. Ela o cutucou com o cotovelo, como se o estivesse repreendendo por falar de sua amiga, mas riu, ao mesmo tempo, sabendo que ele, na verdade, gostava de Sugar quase tanto quanto ela, atualmente.

A primeira vez em que Ariel recebeu amiguinhos para brincar foi também muito divertida. Kitty e Rachel saiam muito com ela e Chloe e, apesar de pequenas, e de terem uma diferença de um ano e meio, as duas se adoravam. Viviam se abraçando e a mais velha tentava ensinar novas palavras à menorzinha, e ficava radiante cada vez que ela conseguia dizer uma delas. Então, quando Kitty reclamou sobre não estar tendo muito tempo com Ryder, pareceu a Rachel uma solução mais do que natural se oferecer para ficar com as crianças da prima de Finn.

"Não precisa trazer pijama, porque o Finn continua tendo pelo menos um pra cada uma das crianças aqui, pra emergências." Rachel avisou, enquanto combinavam tudo. "Outro dia mesmo ele comprou um pra Chloe, porque viu que o que tinha aqui já tava mais pro tamanho da Ari."

"Okay, Rachel. Vocês tão sendo uns amores, como sempre."

"Que nada! Eu tenho certeza que vai ser um prazer pra mim e pro Finn." Riu.

Não poderia estar mais certa! Foi uma noite especial, porque ela estava aprendendo muita coisa sobre a filha e o aprendizado se intensificava com outras crianças por perto. Finn, por sua vez, parecia ter sido talhado para cuidar de crianças. Ele não tinha os pijamas para uso dos filhos de seus primos em casa a toa, mas porque adorava e torcia pelas emergências que faziam sua casa ficar cheia de pequenos a quem poderia ensinar coisas, com quem poderia brincar, e cujas histórias, ideias e opiniões espontâneas o encantavam muito mais do que a conversa de qualquer adulto.

Não era somente Ari quem experimentava coisas pela primeira vez, naquele momento. Eles experimentaram muitas primeiras vezes também, graças a terem se tornado pais, como chegar atrasada ao trabalho, no caso de Rachel, ou não poder ir a um jogo de futebol americano com Puck, no caso de Finn. De uma coisa, no entanto, Finn não abriu mão, que foi o jogo de pôquer com os amigos, toda semana. Ainda que, para não ficar fora dele, tenha tido que transferi-lo para seu próprio apartamento, quando a noite do jogo coincidia com um plantão de sua mulher.

O que ele não pode evitar, contudo, foi perder, pela primeira vez desde que a tradição tinha começado, todas as fichas para os outros rapazes, em uma dessas noites. Não somente a presença da filha o distraiu, evitando que conseguisse blefar com habilidade, como as cartas não cooperaram nem um pouco com ele, naquele momento.

Estava irritado e xingando muito, e os rapazes se aproveitavam para irritá-lo ainda mais, implicando com suas derrotas, até que sentiu dois bracinhos abraçando suas pernas e ouviu o melhor dos sons escapar dos lábios de sua princesa mais nova.

"Papa.. cóuo." Do seu jeito, ela pediu que ele a pegasse nos braços e, então, nada mais importou ou tirou o sorriso de seu rosto.

Ele podia ter azar no jogo, mas não só tinha muita sorte no amor, como dizem que acontece. Ele tinha a maior sorte que poderia querer, na vida!


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