O Que Não Tem Remédio... escrita por Finchelouca


Capítulo 1
...remediado está




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Rachel caminhava de um lado para o outro, nervosa, com o bendito papel na mão. De poucos em poucos minutos, parava e lia novamente o que estava escrito nele, como se tivesse esperança de que as palavras tivessem mudado, enquanto ela gastava o chão da sala do apartamento com seus passos pesados. Porém, obviamente, a cada leitura, ela continuava lá: a prova da sua irresponsabilidade e das consequências de ter se deixado levar pelo momento e ficado com a cabeça no mundo da lua.

Fazia por volta de dois meses que ela e Finn tinham voltado a namorar, depois de brigar porque ela achou que ele tinha tomado um remédio que ele não tomara, e agora eles podiam estar prestes a se desentender de novo porque, dessa vez, ela pensara ter se medicado e não o fizera. Ter ficado três dias seguidos sem tomar anticoncepcional, porque estava aérea pensando no então ex-namorado, fora uma atitude absolutamente idiota, e estar grávida era a consequência óbvia com uma grande tendência a ser desastrosa.

Ela ainda era uma estudante universitária sem um emprego e um salário realmente bons, e ela e Finn não somente não eram casados, como moravam juntos havia pouquíssimo tempo, e nunca tinham falado sobre filhos a não ser de brincadeira. Ela sabia que ele gostava de crianças e que tinha jeito com elas, mas talvez ele ainda quisesse esperar alguns anos antes de dar um passo tão sério e definitivo como o de colocar alguém no mundo por quem se ficará responsável, no mínimo, durante os dezoito anos seguintes.

Finn ainda demoraria para chegar e ela precisava fazer alguma coisa para se acalmar, ou teria um ataque do coração a qualquer momento. Assim, colocou o exame em cima da mesa e pegou o telefone, pensando em ligar para um de seus pais, mas mudou de ideia bem rápido. Já estava suficientemente tensa sem ninguém julgando seus atos, então era melhor não adicionar mais este elemento à equação. Em vez dos números dos Berry, buscou na agenda o de sua melhor amiga, que costumava ser uma boa ouvinte e ter um jeito bastante positivo de encarar qualquer negócio.

"Nossa, amiga! Eu tava pensando em você." Sugar atendeu a ligação, depois de apenas dois toques.

"É engraçado como você sempre sente quando tem alguma coisa errada comigo, Suggie. Nem os meus pais acertam tanto!"

"E o que aconteceu?" A amiga perguntou, preocupada, mas serena.

"Eu não vou fazer rodeios com você, amiga... eu to grávida."

"Ué, mas como isso aconteceu?" Questionou surpresa, mas com a mesma calma de antes, e Rachel teve a certeza de que havia contatado a pessoa certa. "Espera... me deixa reformular. Eu sei como acontecem essas coisas, é claro." Riu. "Mas você não tava tomando pílula?"

"Tava. Eu tava, sim, tomando pílula."

"E mesmo assim..."

"Eu comecei a me sentir estranha... a enjoar com cheiros com os quais eu to super acostumada... a chorar sem motivo e... os meus seios estão sensíveis. Mas, justamente por causa da pílula, eu não tava achando isso nada demais... achei que era tensão, cansaço."

"E?" Perguntou a outra garota, pela primeira vez mostrando alguma alteração na voz.

"E... eu não fiquei menstruada esse mês, quando a cartela acabou. Aí, sim, eu juntei umas coisas com as outras... e me lembrei também que, no mês passado, minha menstruação tinha sido super fraquinha... e comecei a ficar com medo. Quando eu cheguei hoje lá no hospital, a primeira coisa que eu fiz foi o exame e... é isso. Eu fiquei tão nervosa que a Dra. Addison me mandou pra casa."

"Acho que eu vou pedir pro Artie voltar a usar camisinha. Eu pensei que a pílula era mais segura do que é." Comentou Sugar, distraída. "Ai... desculpa, Rach! Que falta de sensibilidade a minha, cara... ficar falando de mim! Você quer que eu vá pra sua casa? Eu chego rapidinho."

"Não precisa... de verdade. Eu só queria falar com alguém, mas a verdade é que, em uma hora e meia ou duas, o Finn vai chegar, e é melhor eu estar sozinha. Eu preciso contar de uma vez pra ele."

"Entendo. Mas, qualquer coisa, eu to aqui."

"Eu sei." Afirmou, suspirando. "E Suggie?"

"Hum?"

"A pílula É segura! A sua amiga é que é uma... cabeça de vento." Lamentou. "Depois que eu confirmei a gravidez, eu me dei conta de que eu comprei a pílula três dias depois da data correta... porque a cartela anterior tinha terminado três dias depois do que deveria." Bufou.

"Oooops!" Foi a reação quase involuntária da menina, mas ela demonstrou ser realmente tudo o que Rachel pensava dela ao acrescentar: "Eu sei que você não queria ou esperava por isso, Rach. Mas a verdade é que vai dar tudo certo! Ninguém que eu conheço está melhor preparada que você pra ser mãe. Eu nunca conheci ninguém tão cuidadoso e habilidoso com bebês como você... e ninguém que tenha tanto gosto em cuidar dos outros."

"Obrigada... apesar de você ser suspeita." Sorriu, finalmente.

"E ninguém tem pais tão compreensivos como os seus... e só o meu namorado é mais carinhoso e apaixonado do que o Finn é por você. Não tem erro!" Falou com tanta convicção que quase convenceu a futura mamãe.

As duas se despediram e Rachel ligou a televisão, para tentar se distrair enquanto esperava Finn. Contudo, a estratégia só atrapalhou, porque em um dos canais estava sendo exibido um documentário sobre partos que fez a morena sentir um arrepio de medo de que seu momento de dar à luz chegasse, em outro estava passando um reality show em que uma babá tentava controlar verdadeiras pestes, fazendo Berry temer não saber lidar com a educação do filho, e, em um terceiro, havia alguém cozinhando um prato com frutos do mar cuja aparência a fez correr para o banheiro.

Ao voltar à sala, pensou em colocar uma música, mas algo dentro dela já estava se transformando e ela se deu conta de que precisaria encarar tudo aquilo. Enjoos, mudanças no corpo, o parto, choro de criança, mamadeiras e fraldas fariam parte do seu dia-a-dia dali em diante, e isso não era opcional.

Ela não tinha a menor ideia de que reação esperar de Finn, mas, mesmo que ele não ficasse a seu lado, mesmo que pedisse para ela se mudar de novo, ela seria mãe. Com ou sem a aprovação do namorado, ela teria um bebê em mais ou menos sete meses, pois aborto não era nem mesmo um assunto a ser discutido.

Ainda que estivesse em pânico e, pelo menos por enquanto, não estivesse feliz com a notícia como sabia que deveria estar, afinal um filho é sempre uma benção, reconhecia que seu destino estava traçado. Teria que lidar com ele, com ou sem a presença de Finn, e dar todo o seu amor e a melhor vida possível ao ser humano que começava a se desenvolver dentro dela. Mesmo que não conseguisse fazer isso ainda, precisaria aprender a focar apenas no lado bom do que acontecera.

Afinal, segundo dizem, o que não tem remédio, remediado está.


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