“And I'm yours
'Til the earth starts to crumble and the heavens roll away”

Capítulo 16 - Bishop Knife Tricks

A próxima vez que Lena abriu os olhos, ela percebeu que estava deitada em sua própria cama e com todas as suas memórias de volta. Ela respirou fundo, sentindo uma pontada no peito - culpa, por ter esquecido Edmundo ao ter sido tão descuidada. Mas estava tudo acabado. A Feiticeira foi derrotada de uma vez por todas, expulsa para a sempre da verdadeira Nárnia, onde nunca deveria ter entrado. Ela poderia finalmente aproveitar o pós-vida junto com Edmundo e seus amigos, sem nunca se preocupar com mais nada. Estava tudo acabado e era isso que importava.

Mas então ela se lembrou porque viajou nas sombras com tanta pressa que chegou desacordada.

Sua mãe.

Lena sentou-se em um sobressalto e sentiu sua cabeça pesando e a visão embaçando. Sentiu a ponta do colchão se remexendo e uma mão delicada - e familiar - empurrando seus ombros para que se deitasse novamente.

— Calma, minha querida. - uma voz aveludada disse suavemente. - Ainda está fraca, não se levante de uma vez.

Assim que Lena conseguiu focar sua visão na pessoa que estava sentada ao seu lado, ela se levantou novamente e jogou os braços ao redor de Brenda.

— Mãe! - exclamou, abraçando-a forte contra si. Depois a afastou um pouco à procura do ferimento, encontrando-o enfeixado e vendo muletas de madeira apoiadas ao lado da cama. - Está tudo bem? Já pode andar?

— Está sim, querida, não se preocupe. - ela disse com uma voz doce, acariciando o rosto da filha e a observando com um olhar de bondade. - Já tem alguns que retornamos. Você esteve desacordada por quase cinco dias, ficamos preocupados.

— Desculpe. - Lena sussurrou e se sentiu quase como se estivesse sendo repreendida.

Mas Brenda soltou uma risada leve e balançou a cabeça.

— Não há nada com o que se desculpar, você só se esgotou um pouco mais do que deveria. - ela disse. - E suas memórias?

— Tenho todas de volta. - Lena respondeu, meio pensativa. - Como isso aconteceu?

— O feitiço se quebrou quando você tirou aquela bruxa de dentro de mim.

Lena soltou um sorriso meio sarcástico ao modo como sua mãe se referiu à Feiticeira Branca.

— Mas agora que garanti que você está bem, eu devo te deixar ir. - Brenda disse, mudando de assunto. Ela tinha um sorriso nos lábios que dizia que sabia do segredo guardado pela filha. - Até porque tem alguém muito preocupado com você aguardando lá embaixo. Foi um pouco complicado mandá-lo ao menos tomar um banho para manter a higiene, ele quase não saía do seu lado.

Lena não conseguiu evitar o sorriso radiante que abriu em seus lábios quando percebeu a quem sua mãe se referia. Levantou da cama o mais rápido que conseguia sem que isso resultasse em uma tontura e se encaminhou até a porta.

— Lena. - ouviu sua mãe chamando-a e quando se virou, com a mão já na maçaneta da porta, percebeu que sua mãe sorria com orgulho e amor e seu coração se encheu de alegria. - Edmundo é um garoto incrível e eu consigo ver de longe o quanto ele se importa com você e te ama. Estou muito feliz por você.

Parecia impossível, mas o sorriso de Lena se abriu ainda mais.

— Obrigada, mamãe.

E saiu do quarto, praticamente voando pelos corredores à procura do rei mais novo. Mal se importou com os criados por quem passava, que perguntavam se estava tudo bem ou se havia melhorado o suficiente para se levantar da cama. Nem mesmo se importou com a fadiga que começou a atingir seus músculos, retardando um pouco sua corrida. Ela só parou quando entrou na Sala dos Tronos e viu ali Edmundo, vindo do corredor do outro lado onde estava. Percebeu o momento exato em que ele levantou os olhos do chão e toda a sua expressão de iluminou. Lena soltou uma pequena risada e levantou o vestido, para que conseguisse correr mais e chegar até ele.

Eles se chocaram no meio do caminho, entrelaçados em um abraço forte. Edmundo fungou e enterrou seu rosto da curvatura do pescoço dela, segurando as lágrimas que ameaçavam escapar. Ficaram ali pelo que pareciam horas, apenas aproveitando a presença um do outro e sabendo que agora teriam toda a eternidade juntos. Parecia até mesmo um sonho, principalmente depois de tudo que passaram e tiveram que enfrentar para chegar até ali.

Do corredor onde Edmundo saiu, Lena viu Pedro, Caspian e Lúcia surgindo. Pedro resmungava, querendo saber o que era todo aquele barulho. Parou no portal da entrada quando viu o irmão e a cunhada abraçados e abriu um enorme sorriso. Lena percebeu então que Lúcia e Caspian pararam ao lado do loiro, mas o que chamou sua atenção foi os dedos entrelaçados deles. Lena se afastou um pouco de Edmundo, apenas o suficiente para que pudesse ver seu rosto.

— Lúcia e Caspian? - ela perguntou, meio risonha.

Edmundo olhou para o casal por sobre o ombro rapidamente e deu de ombros.

— Parece que se acertaram enquanto estiveram fora. - ele sorriu e analisou-a de cima abaixo, procurando analisar se ela estava realmente bem. - Está tudo bem?

— Estou ótima. - o sorriso de Lena era radiante. - E com minhas memórias de volta.

O sorriso de Edmundo se abriu ainda mais. Nem pensou duas vezes em puxá-la para mais perto de si e pressionar seus lábios contra os dela. Lena suspirou e se deixou envolver no beijo, sentindo o gosto dos lábios de Edmundo e ficando inebriada. Colocou uma das mãos na nuca dele enquanto a outra se entrelaçava nos cabelos negros e o puxou para mais perto, aprofundando ainda mais o beijo. Tudo estava perfeito e ela nunca se sentiu mais feliz. Estava nos braços do garoto que amava, com a mãe se recuperando no castelo e sabendo que passaria a eternidade com aqueles que considera sua família. Estava tão eufórica que nem mesmo percebeu Pedro passando por eles, brincando que já não aguentava mais estar cercado por casais e que precisava arranjar alguém também para não passar a eternidade como vela para os irmãos.