Christabel escrita por Ana Cláudia


Capítulo 3
Capítulo três - Na Margem do lago.


Notas iniciais do capítulo

Bem, nesse novo capítulo, vemos Christabel um tanto confusa com a atitude de Davi, e nessa confusão toda na festa no lago, acaba encontrando um velho amigo, que trás revelações de fatos macabros ocorridos no Céu.
É agora que eu gostaria de dizer, e vou dizer, que a história enfim conseguiu um rumo mais claro. Espero que goste. Até a próxima. ;)

Ana.



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Encarei a margem por alguns minutos, o lago estava coberto de neblina densa o que fazia o outro lado ficar praticamente invisível ao olho nu. Eu não pensava mais em nada, quase me esqueci de que Amélia poderia está no outro lado fazendo só Deus sabe o que, com Edward. Meus pensamentos estavam nesse momento bagunçados até de mais, respirei fundo e tentei ligar as pontas de uma vez por todas.


Davi era o meu maior problema agora, eu fui uma idiota em concordar em ajudá-lo, nunca em todos esses anos eu me deixei levar por algo tão idiota assim. Eu errei no passado, eu sei. Não posso culpá-lo, como também não posso ficar aqui chorando pelo leite derramado. Meus olhos arderam de uma forma mais forte e quase insuportável, eu poderia evitar chorar, ou apenas ficar triste... não há nada que eu possa fazer, as lágrimas começaram a cair lentamente, tentei me lembrar da última vez que chorei assim sendo Sophie, mas logo percebi que essa era a primeira vez.

Limpei as lágrimas, respirei fundo e andei até a margem quando alguém me puxou pelo braço.

— Está um pouco frio para nadar.

— Onde você estava? – perguntei evitando os olhares debochados e escrupulosos de Amélia.

Pelo menos ela parecia normal, até aqui.

— Andando por ai, o outro lado não me agradou, deixei Edward lá e peguei carona em um barquinho com um carinha estranho chamado Joey. – terminou ela com um longo sorriso, estranhamente depois disso acabei me sentindo um pouco melhor.

— Quem é Joey? – perguntei enquanto voltávamos para a fogueira.

— Não sei... Eu só queria voltar e de repente ele estava saindo de lá. Ah, ali está ele! – ela disse apontando para trás da fogueira.

Joey era alto e loiro, tinha a pele pálida e os olhos pareciam ser azuis, ele olhou para Amélia e acenou um olá, eu abaixei os olhos para os meus pés e continuei caminhando até Jéssica que murmurava alguma coisa para Mandy.

— Antes tarde do que nunca! – exclamou Mandy dando uma palmada nos meus ombros.

— Cadê todo mundo? A festa mal começou e... Ah, eu adoro essa música – Amélia começou a dançar quando me dei por conta de que ela havia bebido.

Jéssica sorriu mais alto que o normal, foi quando ela exclamou algo parecido com “vamos pegar uma bebida para a gente” e a segui. A música estava cada vez mais alta, paramos perto de uma barraca com um balcão, e todo tipo de bebida alcoólica; provavelmente ilegal. Reconheci Joey, ele estava encostado no banco lendo o que parecia ser uma revista em quadrinhos. Aproximei-me enquanto Jéssica falava com o balconista que por acaso era da minha turma de biologia.

— Oi – disse ao me aproximar de Joey.

— Olá – respondeu ele ainda sem tirar os olhos da revista.

— Minha amiga Amélia que veio com você do outro lado do lago...

— Sim – ele disse ainda sem tirar os olhos da revista.

— Ah... Nesse caso eu vou indo, foi um prazer Joey.

Pude ver com clareza seus olhos se levantarem da revista e encontrarem os meus, um sorriso torto apareceu no canto de sua boca o deixando perfeitamente divino, ele sorriu voltando a olhar para a revista, quando percebi que ele não falaria mais nada me virei e voltei para Jéssica.

— Igualmente, Christabel. – ele disse.

Na hora em que virei para olhá-lo novamente ele não estava mais lá. Senti um frio atravessar minha espinha, como ele sabia? Joey... Quem era ele? Um anjo, nefilin, que era ele?

— Parece que viu um fantasma, Sophie – disse Jéssica quando cheguei perto dela.

— É... Eu estava conversando com um garoto e ele sumiu de repente... Acho que... Deixa pra lá – disse logo quando percebi que ela me olhara de um jeito estranho.

— Então, o que vai querer? – ela perguntou apontando para a prateleira coberta de bebidas extremamente fortes, a pesar de não fazer efeito quase algum no meu organismo, pedi:

— Vodca, pura. O balconista, um tanto confuso virou e pegou uma garra, despejou dois dedos em um copo de vidro e perguntou:
— Quer que eu misture com alguma coisa?
— Quero pura. – eu disse ainda olhando para as mãos em cima do balcão.
— Obrigada, pode deixar a garrafa – eu disse tirando dinheiro do bolso do meu sutiã pelo decote. Ele me olhou perplexo.
— Não vai nem pedir a identidade dela? – perguntou Jéssica, que até a pouco tempo observava a cena boquiaberta. Ele sorriu.
— Aqui não tem dessa. – disse se retirando. Jéssica levantou uma elegante sobrancelha e continuou me observando beber, ela então depois de alguns segundos disse:

— Você nem ao menos faz careta ao beber isso.

Eu sorri.

— Não. – Disse ainda sorrindo evitando ao máximo que as lágrimas de raiva voltassem a cair.

— O.K. Então – ela disse voltando para a fogueira. Não fiz menor movimento quando ela me deixou sozinha, continuei bebendo evitando os olhares dos outros alunos da escola, e até mesmo de um velhinho que parecia mais um mendigo sentado no outro lado do balcão me encarando. Voltei ao copo em minha mão, não bebia assim há muito tempo, nunca fui disso. E por mais estranho e estúpido que pareça, a última vez foi pelo quase mesmo motivo, “raiva de Davi”. Eu o odeio por ter feito isso, há algum tempo atrás eu teria corrido atrás dele e o enfrentado, mas agora não, agora é diferente... Joey, o jovem louro que nem ao menos ficou para se explicar, o jovem louro que por acaso trouxe Amélia do outro lado do lago quando eu pensava em apenas nadar ou me enviar para lá sem ninguém ver, o jovem louro que por um acaso me chamou de Christabel, o jovem louro... Como não o reconheci? Como não consigo saber quem ele é? Balancei minha cabeça vária e várias vezes tentando ao máximo esquecer por um simples minuto tudo isso, entrementes isso acaba me deixando ainda mais chateada e triste. Foi ai que me lembrei de algo, uma lembrança... A mais triste...


Era início da primavera, as árvores começavam a florir. Debrucei-me sobre a sacada da varanda, lá fiquei alguns minutos contemplando Toscana. Estávamos em meados do século XIX, Davi logo voltaria, ele estava perto da árvore mais alta e mais debruçada, era um carvalho velho, mais velho que qualquer árvore dessa região. Quando percebi que Davi demorava mais que o normal para retornar a fazenda, fui até ele.

— Davi... Ele virou, estava usando a mesma roupa de sempre, um velho traje preto de camurça com botas de couro, ele tinha o mesmo corpo humano, que mesmo bonito, tinha um aspecto doentio.

— Você já deveria ter ido há muito tempo. – disse ele.

— Davi... Eu... Eu não conseguia dizer nada, Davi estava magoado comigo, magoado por eu ter feito o uma coisa muito, muito errada...

— Eu... Então isso seria um adeus? – perguntei pegando seu braço.

— Christabel, vá para o inferno. – e essa fora a última coisa que ele disse.


Eu errei com Davi. Bati a cabeça várias vezes com as mãos.

Davi poderia ter todos os motivos do mundo para me odiar, e eu só tenho dois para sentir uma pequena frustração dele... Como ele ter passado para outro lado e ter tirado o meu sangue a força. No entanto, os motivos no qual ele se colocou contra mim são absolutamente imperdoáveis, não tenho como concertar o fato de tê-lo traído no passado e acabar caindo em tentação caindo aos braços de um mortal... E acabar gerando uma criança, um nefilin, carregando o meu próprio e sujo sangue... Davi me odeia por isso, me odeia por ter omitido esse fato durante anos, até minha própria filha bastarda o enfrentou, e tive que matá-la, mesmo assim, ele não me perdoou; ele assistiu eu cravar uma espada no peito de minha própria criança; ele me viu chorar durante dias; ele me viu cuspir em cima de todos os anjos... Levantei da bancada e olhei para cima. Era uma noite clara, bonita e inacreditável, e pensar que há quase mil anos atrás tudo isso era novo pra mim. Fui até Amélia que ainda estava dançando, cheguei e lhe dei uma palmada no ombro.

— Quero ir embora – eu disse.

— O que? Ah, Sophie... Só mais um minutinho – ela tentando fazer uma cara de cachorrinho.

— O.K. – assenti ainda frustrada com tudo isso.

Crianças – pensei – no que fui me meter? Corri para o outro lado da fogueira e sentei-me em um banco úmido, era incrível o fato de tudo está dando errado. Eu nunca quis isso, ou melhor, queria, mas não assim... Não desse jeito. Era só ficar em um corpo por algum tempo, até a raiva e o remorso de está no lugar errado bater. Era só isso. Senti o frio correr a espinha quando o vi.

Ayel, um querubim, um dos 19. Eu estava tão feliz em vê-lo, assim como Davi, Ayel mantinha seu mesmo corpo humano, um rapaz loiro por volta dos 20 anos, magro, mas ao mesmo tempo forte e robusto, e tinha olhos castanhos e angelicais. Corri até ele, ele abriu os braços e me envolveu e um abraço quente e demorado.

— Ayel... Quanto tempo... Eu... – não consegui dizer mais nada, ele agora olhava para mim dos pés a cabeça.

— Calma. Christabel, temos a eternidade para isso. – ele disse pondo uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

Eu sorri. Sentamos à margem do lago, ficamos longos minutos conversando sobre diversas coisas, contei ao Ayel tudo o que tinha aprendido sobre os humanos nessa minha mais nova experiência, ele, apreensivo, escutou cada palavra com grande prazer. Depois ele me contou que andou viajando pela Europa e toda Ásia, foi ao Oriente Médio, depois, terminou sua jornada ficando no Novo Mundo.

— ... Fui à vários lugares, quem diria que esses seres poderiam ser tão inteligentes, mas ao mesmo tempo tão idiotas... – ele sorriu.

– Christabel, houve um tempo, quando eu estava descansando minha aura em Berlin que acabei vendo coisas estranhas acontecerem por volta da tão cidade maravilhosa. Não sei bem o que poderia ser, porém, tenho quase certeza de que tem alguma coisa com... Bom, um assunto totalmente diferente do nosso, estou falando dos gigantes, você sabe.

Ayel fez um sinal com a cabeça para o céu, então entendi o que ele queria dizer, os então “gigantes” seriam os Arcanjos, os primeiros celestiais, mais poderosos e mais próximos de Deus. Sendo eles: Miguel, Gabriel, Rafael e Lúcifer. Claro que, Lúcifer não está mais com eles, disso eu tenho certeza, Lúcifer, que fora um dos primeiros a se rebelar diante do Pai, fora jogado ao inferno. Agora, o Arcanjo Negro então caído, recebera vários nomes, nos quais passei a vida toda ouvindo, como: diabo, satanás, satã, anjo negro, besta, dentre outros horríveis.

— Problemas com os Arcanjos, que diabos aconteceram? – perguntei então com um tom irônico. Ayel sorriu muito alto, eu já esperava isso, então sorri junto com ele.

— Entenda – começou ele recuperando o fôlego -, quando eu estava, você sabe, serenando minha aura para uma então próxima jornada, eu vi dois anjos, ou melhor, os senti.

— Quais? – perguntei.

— Bem, fora dois Ofanins, anjos da guarda. – Ayel chegou mais próximo de mim, dessa vem sussurrando ele completou:

— Ezequiel e Daniel. Eles falavam sobre as então passagens que estavam ocorrendo no céu, primeiro pensei que fossem apenas murmurações e boatos, mas, depois que eu vi como depois eles ficaram eu entendi...

“Os Arcanjos estão formando uma nova hierarquia, eles acham que separando todos os anjos de uma nova forma, eles vão consegui o que querem: ordem. E com o ‘eles’ quero dizer: Miguel. Não confino nele, Christabel. Arcanjo Miguel é o príncipe, o primogênito, o mais ciumento, eu sei disso porque caí da casta mais próxima dos Arcanjos, eu era um soldado, um querubim, eu conhecia Miguel e via como o ciúme dele com Deus, o deixavam maluco”.

— Quer dizer que, se então realmente Miguel tem feito isso... É... Por livre e espontânea vontade? Mas ele não deveria cumprir as ordens do Divino? – perguntei frustrada.

— Todos nós sabemos, até mesmo entre nós, caídos, que Deus está ausente. – terminou Ayel agora fechando os olhos e sentido a brisa. Eu assenti, era verdade, depois de longos minutos, perguntei:

— Acha que essa nova divisão irá prejudicar o plano? — A maldição que nos une, foi feita por todos os Arcanjos, com exceção do anjo negro, acho que se realmente Davi achou o medalhão que sela a nossa ligação, então acho que não teremos problemas, esses problemas, Christabel, não são mais nossos. – terminou ele.

— Verdade – eu disse em meio a um suspiro.

— Davi pediu que viesse? – perguntei.

— Sim, ele me encontrou há algumas semanas, eu estava em Nova York quando ele chegou dizendo as “boas novas”, ele está pirado, desde que passou para o lado de Lúcifer, Davi tem estado estranho, não acha? – ele perguntou.

Eu não disse nada, porque nada eu sabia sobre as mudanças de Davi. Só percebi que os valores e prioridades da sua vida passada foram esquecidos, agora ele só pensava em si, não ligava em nada, não ligava em ter tirado meu sangue, não ligava em nada, queria apenas ele, o então seu-novo-mestre.

— Não sei... Davi e eu nos separamos há quase três séculos, não tenho o visto muito... E você, Ayel, já faz 18 anos que não o vejo, encontrou mais algum de nós? – perguntei tentando desviar o assunto “Davi”.

— Não... Tenho estado viajando e me concentrando em entrar nas novidades do que andam acontecendo no céu, como disse essa novidade que acabei de lhe contar, fora uma que soube há quase dois anos, nesse caso, tenho certeza que essa nova divisão de castas já está mais que pronta. – respondeu ele.

— Nem mesmo Cassiel? – perguntei como uma criança mal criada, que não queria de jeito nenhum ouvir o contrário. Ele fez um sinal de “não” com os dedos. Ficamos olhando a margem do lago por mais longos minutos, quando olhei para o relógio no meu pulso.

— Nossa. Está tarde. – eu disse.

— Tem hora pra chegar em casa? – perguntou ele em um tom debochado.

Eu sorri um pouco.

— Quase isso, onde você está hospedado? Podemos nos ver mais uma vez, claro que vamos nos ver, mas eu queria passar mais tempo com o máximo de vocês o possível, afinal, estamos nisso juntos. – eu disse levantando. Ele sorriu graciosamente, eu tinha me esquecido o quanto era lindo.

— Estou no Hotel Claras, posso me encontrar com você, em breve. – ele disse.

Abraçamos-nos mais uma vez como um sinal de tchau, virei para a fogueira que agora estava com um número menor de adolescentes em volta. Amélia estava em um grupo com, Joyce, Jéssica e Mandy. Olhei de volta para Ayel e perguntei:

— Você veio sozinho? Ele fez um sinal de “sim”, depois ao ver que ele ficara curioso, contei-lhe sobre Joey.

— Acho que... Pode ser um demônio que veio com Davi, não duvido – ele bufou.

— É. Também acho – concordei olhando incrédula para minha mão, que o então corte, agora doía mais.

Pelo menos, por fora.
 


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