Darkness escrita por Airi


Capítulo 1
Apenas um conto.


Notas iniciais do capítulo

Bom, eu não posto nada a séculos né? Mas fico feliz em dizer que essa não é uma história comprida, é pequena, só tem este capitulo e é meio . . . hm, trágica. hahaha, como sempre. Espero que gostem. Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/371848/chapter/1

Sentada a beira do enorme lago, olhando para seu próprio reflexo distorcido, ela pensava. Estava em um tempo não muito distante, onde ainda tinha tudo nas mãos, em um tempo onde jamais se passaria por sua mente perder tudo, apenas para salva-lo. Ele não deveria ter o mínimo valor a seus olhos, havia sido traída, deixada para trás e a única coisa que conseguia pensar era porque ele não havia aceitado a chance de viver que ela havia lhe dado. Tão...burro, tão cheio de si e mal acreditava que todas as suas ações eram para confortar-lhe e amenizar sua dor, seu fardo de viver. Tudo em vão. E para que? O orgulho que o consumia a cada dia.

 Apertou as mãos contra a grama, amassando um punhado que pinicava sua palma, abaixando a cabeça aos poucos, deixando que os cabelos negros deslizassem por seus ombros e cobrissem totalmente sua face desesperada. Ela não entendia, seu coração havia sumido junto com o resto do que acreditava, as mentiras dilaceravam o que tinha restado de sua alma, que logo seria consumida por mais uma loucura do desespero. A menina queria desistir, deixar que aquele ser que lhe rondava há dias levasse sua alma amarga e solitária, mas algo a impedia. Um focinho molhado roçava em seus cabelos de leve. O tigre. Seu animal companheiro estava deitado, com o enorme corpo branco estendido no chão, próximo a seus pés, com a cabeça levantada, lhe chamando a atenção. Ele sabia no que ela estava pensando, afinal, eram um só.

“Não.” – ele alertou. – “Eu não vou deixar que você faça isso.”

- Eu quero. – ela retrucou amarga.

 “Se eu deixar que você o aceite aqui, será nosso fim.”

- Não me importo com minha existência.

 O tigre levantou-se rápido com as palavras afiadas dela. Sentindo-se culpada por dizer aquilo, ela mudou de idéia, levantando o rosto assustado, que continha lagrimas de saudade e tristeza. Deixando que seus olhos azuis celestes encontrassem com os de seu animal, jogando-se sobre ele, o abraçando pelo pescoço e aninhando o rosto ao pelo macio, enquanto lhe acariciava a orelha.

- Sinto muito, prometo nunca mais falar uma besteira dessas. Sabe que eu não estou em condições de pensar.

“Então não o deixe entrar.”

- Eu infelizmente não consigo controlar isso. – ela disse entre soluços, arrependida. – Ele se alimenta do meu medo, da minha angustia. Da minha derrota.

 O tigre a compreendia, entendia que mal podia pensar, suas forças haviam se esvaído rapidamente ao entrar em contato com o desastre que ele havia provocado. Talvez se tivesse a repreendido corretamente, ela não estaria tão sem esperança e tão sem vida. Mas naquele momento, ele sabia exatamente o que aconteceria. Dessa vez, ela estaria sozinha, pois o preço a se pagar seria alto demais.

 Ela havia desisto de si mesma, para que ele vivesse.

 Aos poucos, o tigre afastou-se dela, que por sua vez não compreendeu. Ele estava a abandonando também? Com os olhos arregalados e chorosos, a pequenina o encarava, enquanto passinho por passinho, o felino se afastava.

- Não. – ela balbuciou.

 Ele não podia voltar. Sua proteção não era mais necessária naquele lugar. Mesmo com os protestos quase que silenciosos, ele não voltou, continuou se afastando. Enquanto ela permanecia sentada, com uma das mãos apoiando o peso do corpo, e estendia a outra, tentando agarrar a figura quase fanstamagorica do felino, que à medida que se afastava, via o quanto ela estaria indefesa sozinha.

 “Somos um. Mas esta não é uma batalha que eu possa lhe acompanhar.”

- Não. – ela continuou um pouco mais alto. – Eu quero você comigo, você faz parte de mim, é minha força, não pode me deixar.

“Você escolheu lutar esta batalha sozinha.”

 Suas palavras saiam suplicantes, pendido para que ele ficasse. Sozinha ela não agüentaria, estaria desolada de um mundo perfeito no qual havia construído com tanto esforço, mas que havia sido quebrado por uma alma impiedosa, que martelou sem dó seu palácio de vidro.

“Eu não posso, sinto muito.”

 Como suas ultimas palavras, o tigre branco abaixou sua cabeça, lhe dizendo o tão temeroso adeus e passou a correr em direção ao bosque. Naquele instante, ela se levantou e passou a correr atrás do felino, gritando por seu nome, pedindo para que ficasse, para que não a deixasse.

 Entre soluços e com os pulmões em brasa, a morena correu até não poder mais, seguindo os passos de suas memórias tão queridas, tirando força de sua esperança já massacrada, para tentar impedir que seu ultimo companheiro fosse embora para sempre, a deixando com aquele outro ser, que a rondava.

- Por favor! – ela berrava. – Eu não consigo derrotá-lo sozinha!

 Não houve resposta. Mas ela sabia que deveria ter ouvido o tigre, que ele tentou protegê-la daquela farsa, que a cada palavra venenosa daquele monstro rastejante, que conseguira corromper ele, o felino lhe avisava, lhe alertava e pedia. Mas seu coração era maior e tinha espaço até para os impuros.

 Pura ingenuidade.

 Sua bondade não passava de um prato cheio para aqueles que sabiam mentir se aproximar e lhe pedir afeto. Eles sabiam que não seriam questionados, que ela aceitaria de bom grado qualquer criatura que precisasse de cuidados. Nenhuma boa, nenhuma intenção nobre lhe foi verdadeira, eles só queriam corrompe-la, destroçá-la e fazer daquela pequena humana o verdadeiro caos.

 Seria divertido vê-la daquela forma, caída, sem esperanças, jogada ao chão, sem o sorriso amoroso que tanto se esforçava para dar, sem suas metas. A diversão do momento era destruí-la.

 Sem o tigre, a menina se via sozinha, afundando em seus pensamentos, enquanto caia ajoelhada no chão, respirando fundo. Ela sabia que estava sendo observada, sua queda era esperada por todos. Aqueles muitos olhos acobreados e brilhantes, escondidos entre arvores e arbustos, riam dela e cochichavam sobre sua história.

 A loucura tomou conta dela, de fato, era o esperado e o que todos deliravam de curiosidade para ver. Como seriam aqueles lábios infantis, dominados por um sorriso irônico e assassino?

 Dias se passaram e aquela paisagem acolhedora e quente como uma brisa de verão sumiu. Trocando o Pai sol pela mãe Lua, deixando que as estrelas e o céu noturno tomassem conta do cenário, onde apenas a lua servia como luz para que se pudesse enxergar as montanhas, o lago e o bosque. Ela jamais havia se comunicado com a noite, tinha medo do escuro que ela produzia, mas seus visitantes e futuros assassinos gostavam mais daquela paisagem, deixando a cada momento mais e mais macabra sua terra dos sonhos.

 Eles haviam dominado tudo, todas as planície estavam infestada com aquelas criaturas rastejantes, que chamavam por seu nome, que lhe diziam coisas horríveis, fazendo sua cabeça delirar. Seu sagrado território, agora as moscas e cheia de vermes.

- Eu prefiro morrer. – comentou amarga, enquanto pisoteava uma criatura. – A ter que dividir espaço com vocês.

 Não tinha volta, suas emoções agora eram puro ódio, ironia e sarcasmo. Ria de qualquer coisa que matasse no caminho, seus olhos não eram mais amigáveis e sim clamavam por vingança, avermelhados e opacos, onde apenas morte encontrava-se capaz de lhe preencher integralmente, porém por muito pouco tempo. Seu corpo, antes frágil, agora era forte o suficiente para não se importar com ferimentos provocados por criaturas que ainda tentavam lutar por suas vidas.

 A lembrança de como era ser gentil não lhe vinha mais, e quando tentava surgir em sua mente, era ignorada ou pisoteada por todos os outros sentimentos que a dominavam. Estava perdida, mudada e acabava com tudo o que encontrava pela frente. Não sobrava nada a sua volta. E foi assim que ela continuou por um longo tempo.

 Até o atual dono do lugar, surgir.

 Não era uma noite qualquer. A menina havia aceitado seu destino por completo, esquecendo-se até do motivo que a fez entrar em colapso, mas não era nenhum motivo importante, seu estado atual era muito melhor e mais vivo do que qualquer outro estado em que ela já estivera. Sentia o poder em suas mãos, o sangue fervia em suas veias, sua mente vivia em transe e sentia-se única.

A melhor.

 Era o ultimo restante, no qual ela pisoteava com gosto, enquanto o bicho ria de sua própria desgraça. Engraçado, ela até que tinha algo em comum com eles naquele momento, eram todos malditos, excluídos. Filhos do nada.

- Isso! – uma voz brincalhona veio do outro lado. – Eu sabia que conseguiria.

 Aquela voz não lhe era estranha. Irritada, virou-se e o encarou com ódio.

- Veio buscar seu premio?

- Hm. Mais ou menos isso, minha princesa. – ele comentou ainda animado. – Viu como você fica mais bonita assim? De preto, ensangüentada, irritada.

 Naquele momento, ela passou a olhar para si. Não tinha parado um minuto sequer para reparar em seu estado. Suas roupas, antes brancas, agora eram negras, e suas pernas estavam ensangüentadas, e ela sabia que o sangue não era seu. Olhou para as mãos, sentindo certo sentimento estranho de aperto no peito, quando percebeu que aquelas mãos angelicais e delicadas que possuía, agora estavam manchadas e cortadas. Levou as mãos ao rosto, enquanto arregalava seus olhos e ajoelhava-se diante dele.

- Eu fiz o que você queria. – ela dizia baixo, ainda em choque. – O que foi que eu me tornei?

- Ora! Não comece a falar besteiras. – o bicho falou irritado, se aproximando. – Você fez o que você quis, eu só te dei... – ele fez uma pausa dramática, puxando o queixo da menina para cima, analisando seus olhos culpados. - ...uma mãozinha.

- Não! – ela berrou, empurrando o braço dele para longe, se afastando. – Você me controlou!

- Você também possui ódio e escuridão dentro de si, minha cara. Isso foi apenas uma pequena amostra do quanto tinha guardado em você.

- Eu não sou esse tipo de pessoa!

 A pequena afastou-se o máximo possível, mas seus braços e pernas foram rapidamente presos por grossas correntes negras, que lhe apertaram e tiraram sua força. Ainda tentando lutar, a menina se sacudia, mas a criatura estava impaciente e decepcionada.

- Você fez tudo sozinha, destruiu tudo por si só, fez um belo trabalho e agora está querendo pensar no que fez? – dizia com certo desprezo e falso tom de tristeza, enquanto se aproximava. – Você me deixa de coração partido assim, sabe, eu achei que estava criando uma ótima filha.

- Filha? – ela respondeu com desdém. - Você tirou tudo o que eu tinha, me fez acreditar que tudo era mentira e...

- Pare!

 A criatura berrou, realmente irritada, segurando a cabeça da menina com força, fincando suas unhas compridas e escuras em sua carne branca, com seus olhos presos aos dela.

- Você foi usada, a culpa não é minha se você é uma idiota que achava que nada iria acontecer a esse seu lugar mesquinho e bondoso. E agora o que? Você está sozinha e nada irá te salvar.

- Eu mesma posso me salvar.

 A risada aguda após o comentário da menina, veio juntamente com uma encenação da criatura, que lhe estendeu o dedo, tocando seu nariz.

- Você fez um trato comigo, se lembra? Sua alma é minha. Não existe salvação para uma alma condenada.

 É mesmo. Em meio a tantos devaneios, a menina nem percebeu o quanto havia sido controlada por aquela criatura que estava em sua frente. Seu esforço havia sido em vão, e ela mesma havia jogado fora toda a esperança, havia se desfeito dela, apenas para manter um contrato com aquela coisa que estava prestes a levar-lhe a seu devido lugar.

 Uma lagrima rolou por sua face. Ela havia percebido, tarde, porém havia percebido seu erro. Ninguém havia deixado que ela caísse. Ela preferiu cair sozinha e salvar a todos, até seu tigre ela havia abandonado. Tola. Era isso o que ela era. Com a cabeça baixa, a menina soltou o peso do corpo, deixando que as correntes lhe segurassem.

- Chega. – dizia a menor cansada. – Talvez seja assim que a minha história termine. Talvez deixar tudo para trás seja minha sina. Droga, eu jamais quis parecer covarde e agora? Eu sou pior que isso. Eu mereço ser levada.

- Eu ouvi direito? – a criatura perguntou eufórica, aproximando-se dela. – Fale. Fale mais alto que eu não ouvi.

- Me lev—

 Antes que a frase fosse terminada, as correntes que dilaceravam seus pulsos quebraram-se e a menina caiu no chão, atordoada e sem entender o porquê daquilo, ela apagou. Já não tinha mais forças para se manter em pé. Uma menina, parecida com a pequena, vinha andando, do bosque. Sua espada reluzia a luz da lua, e sua expressão acabou por amedrontar a criatura, que deu vários passos para trás ao ver que alguém havia conseguido entrar ali. Só havia uma explicação para isso: A menina que estava desmaiada a sua frente, havia recebido uma nova chance. Ela estava perdoada.

- Ela me pertence! – a criatura berrava, sentada no chão. – Vocês não podem fazer isso! Ela pertence às trevas agora!

- Você sabe muito bem que não.

 E aquelas foram às únicas palavras proferidas pela menina, levantando sua espada contra a criatura, que imediatamente quebrou as outras correntes e sumiu. Deixando todo o cenário macabro e sanguinário para trás. O contrato havia sido queimado imediatamente pela menina, que se sentou calmamente ao lado da menor desmaiada e a aconchegou em seus braços, sorrindo enquanto lhe cantava uma canção de ninar antiga.

 Ainda atordoada, a menina abriu seus olhos, sentindo os braços quentes que lhe envolviam. Um abraço familiar e amigo que lhe trazia muito conforto. Seus olhos se encontraram com os da menina, e ela abriu um enorme sorriso.

- V-você. – ela disse baixo. – Você voltou.

- Não fui à única. – a outra respondeu. – Todos estão de volta. Estavam com saudades, queriam te ver.

 Aos poucos, todos o que haviam sumido, voltaram, sentando-se perto delas. Um a um, com uma lembrança e uma memória que lhe preenchiam de bondade novamente. Podia se ouvir as patadas abafadas de seu tigre, vindo correndo a seu encontro, que logo se deitou a seu lado, colocando o focinho gelado em sua bochecha, fazendo-a rir.

- Também senti sua falta. – ela comentou emocionada, acariciando sua cabeça. – Sinto muito.

- Nós nunca te abandonamos, apenas não podíamos desfazer aquilo que você havia criado. Você plantou uma barreira entre nós e não nós deixava entrar de jeito nenhum, como íamos lhe proteger? – sua amiga comentava, ainda lhe apertando contra o corpo. – Não queríamos ver você morrer, sua teimosa.

 Em meio a tanta euforia, uma mão lhe pegou pelo ombro, a apertando de leve. Distraída, a pequena levantou a cabeça para olhar. Era ele.

 Assustada, ela olhou para sua amiga, que ainda mantinha o sorriso e a soltou do abraço, mas ainda continuava perto. Ainda acuada, a menina levantou-se e o olhou de cima a baixo, se aproximando rapidamente, colocando uma de suas mãos sobre seu rosto.

- Você...

 Ele não respondeu, manteve-se quieto e apenas com um sorriso no rosto. Aquilo significava que sua noite havia terminado, seu pesadelo eterno chegara ao fim.

 E enquanto o sol voltava a nascer pelo horizonte, a pequena era abraçada, pelos dois, ao mesmo tempo. Sentindo seu corpo se comprimir no pequeno espaço que havia entre eles, agarrando fortemente um braço de cada um, deixando as lagrimas presas há tanto tempo, fluírem.

- Nunca mais me deixem. – ela dizia entre soluços, e um sorriso infantil.

 A menina, do mesmo tamanho que ela, lhe beijou a bochecha e respondeu.

- Serei sempre sua protetora, jamais irei lhe deixar. Você nunca mais estará sozinha.

 O garoto, que era mais alto, lhe beijou o alto da cabeça, há apertando um pouco mais, enquanto dizia.

- Peço perdão e prometo, não irei embora nunca mais. Não vou deixar vocês.

- Nós ficaremos juntos para sempre né? – a pequena dizia ainda entre lagrimas.

- Sim. – os dois responderam em conjunto. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai? Gostou? Odiou? Deixe um comentário para que eu saiba se meu trabalho está bom ou deve ser melhorado! Obrigada pela atenção e espero que tenha gostado. Até breve!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Darkness" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.