Capítulo 2: Dançar No Meio Da Noite

As coisas chegam mais rápido quando você não as está esperando. A primavera chegou correndo muito rápido, talvez como um esquilo.
E embora o mundo bruxo parecesse bastante grande e aconchegante o suficiente, Ronald aceitou o pedido de Hermione e foi conhecer os pais da garota. Molly beijou suas duas bochechas gorduchas e permitiu que o garoto fosse com a condição de que levaria casacos extras. Hermione não sabia como ela imaginava que o mundo real fosse.

Era estranho para ele lá fora. Não havia objetos voadores ou quadros que se movimentavam nas vitrines das livrarias, nem tampouco becos que vendessem artefatos mágicos. Quando entraram em um Taxi, Rony perguntou inúmeras vezes se os dois estavam voando. Isso rendeu olhares estranhos vindos do motorista e risos infinitos vindos de Hermione.
A casa de seus pais ficava em uma rua estreita e comprida, quase defronte a uma enorme torre. Havia quadros nas paredes e sobre as estantes e prateleiras. Quadros por toda a parte.
— Deixe-me adivinhar... — Rony disse enquanto a Sra. Granger os levava até a cozinha — Eles não se movem, não é?
— Não, Ron. — Hermione riu — Não se movem.

Os pais de Hermione eram extremamente calmos e confiantes. A Sra. Granger havia feito panquecas americanas com melado e o Sr. Granger ria o tempo todo das perguntas vindas do rapaz em sua sala.
Quando a noite começou a cair por sobre aquela tarde de sábado eles ainda estavam falando sobre a batalha. Os pais da garota jamais cansariam de ouvir sobre aquilo, e continuavam com medo de que a filha se machucasse (isso era estranho, pois eles já haviam ouvido a mesma história por pelo menos três vezes e sabiam que ela não teria ferimentos graves).
Às dez horas, quando todos já estavam muito bem alimentados e limpos, Hermione estendeu um cobertor sobre o sofá onde Rony dormiria naquela noite. Seus olhos se esbugalharam quando a garota disse que era a hora de dormir, e ele ficaria sozinho durante a noite.
— Mas Hermione!
— O que há de mal nisso, Ronald? — ela disse, franzindo a testa.
— Você sabe como essa letrevisão me assusta! — o garoto respondeu suplicante, apontando para a estante à sua frente.
— Televisão, Rony. — suspirou — Televisão.
Não podendo evitar um sorriso, a garota deu vida ao curioso objeto. Ronald abriu sua boca, abismado. Aquilo era como um quadro com muitos cenários diferentes. Encantado, sentou-se no chão diante da tela.
— Aonde você vai agora? — Rony perguntou quando notou um movimento discreto.
— Só pegar um pouco de chá. — e Hermione desapareceu na escuridão.
Então os dois sentaram no tapete macio da sala de estar, Ronald com sua bocarra aberta e olhos perplexos, Hermione fazendo a maior força que conseguia para não rir, e beberam o chá.

Foi bastante engraçado quando os pais de Hermione os encontraram dormindo profundamente com suas xícaras e televisão fora do ar. Então o Sr. Granger cobriu a filha e preparou seu café.
Era um dia muito bonito, e a temperatura contribuiu para que todos fossem à praia juntos. Rony era a única pessoa lá a usar calças jeans, e ele também não quis se aproximar da água depois de avistar boias (que aos seus olhos pareciam muito mais com animais).
Eles ouviram música e a Sra. Granger deu a Ronald um rádio pequeno que funcionava com pilhas, e depois que os pais da garota prometeram fazer uma visita, os dois voltaram À Toca.

O sol estava se pondo quando aparataram na montanha, com um estalido. Então Rony colocou seu cobertor laranja sobre a grama e os dois se sentaram nele.
— Eu acho que primavera está nos dando olá. — o garoto disse, apertando os olhos sob a luz solar.
Hermione sorriu enquanto tentava pentear os cabelos ruivos de Rony com a ponta dos dedos. Então, sem avisos, ele lhe estendeu uma margarida.
— Quer coloca-la no meu cabelo? —perguntou ela, colocando uma mecha de cachos brilhantes para trás.
Então a delicadeza nasceu e Ronald esticou uma das mãos grandes demais até conseguir encaixar o caule da florzinha entre o emaranhado de cabelos castanhos.
Hermione ajudou-o a dobrar o cobertor, e correram de volta à toca pelo meio dos jardins e hortas em miniatura.

— Ronald, querido! — Molly suspirou aliviada ao vê-lo adentrar o casebre.
— Olá mamãe. — então deixou as malas ao lado da porta e abraçou-a.
Hermione lembrou-se, então, de Rony. Ronald Weasley, com aquele narizinho sujo e braços magros demais, abraçando Molly. Ela parecia muito grande próxima a ele antes, mas tão pequena agora...
Então Molly veio com suas mãozinhas para apertar a garota bem nas bochechas, e levou-os para a cozinha que cheirava a bolo e laranjas frescas.

Rony e Hermione sentaram-se em sua cama antes de dormir.
— Eu gostaria de ter uma letrevisão. — o garoto comentou aleatoriamente durante mais uma partida de xadrez.
— Uma televisão? — a garota riu, empurrando o braço de Rony.
— Uma televisão!
Era incrível como ele parecia inocente com aqueles pequenos espaços entre seus dentes da frente.

Quando Rony ligou seu rádio e colocou-o com cuidado sobre a cama, dançando, Hermione deixou de tentar parar de rir e deu uma grande gargalhada. Ele franziu as sobrancelhas e observou-a.
— O que foi? — ele perguntou, contrariado.
— Nada, é só que... — a garota gargalhou mais uma vez vendo como seus cabelos estavam apontando para cima — É só que você dança de uma forma bastante engraçada!
— Então me mostre. — Rony levantou-a por um dos braços — Me ensine como dançar!

Os dois se deitaram algum tempo depois, observando o céu pela janela aberta. Hermione estava sendo embalada pelo cheiro aconchegante dos cabelos ruivos de Rony quando ouviu-o murmurar.
— Olá de novo, primavera.
— E grama verde. — ela murmurou de volta, sonolenta.
— Céu azul sem nuvens.
— E dançar no meio da noite sem nenhuma razão especial...