A Night Call escrita por Faejinni


Capítulo 1
Will you be my king?


Notas iniciais do capítulo

Dona Nunah betou, e encontrou tanto erro nessa coisa que eu tenho certeza de que ela merece um troféu, palmas, confetti, The Final Countdown tocando no volume máximo, etc. Te amo sua linda -qqq

O nome desse "capítulo" parece meio aleatório, eu sei... Mas vai fazer sentido. Eu espero.



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Eram três horas da manhã. Charlie acordou assustada com o som de uma música de heavy metal qualquer que colocara como toque do celular. Cambaleando, ela andou até a cômoda onde deixara o aparelho e o atendeu, com a voz embargada:

                                 “Que é que você tem na cabeça?”

“Charlie?” Uma voz grossa respondeu, fazendo a ruiva uivar.

“Dean Winchester, você comeu cocô?!” Ela berrou, batendo a mão na testa. “Por que diabos você está me ligando às três horas da matina?! Você perdeu o juízo, garoto?!”

“Desculpa. Eu só... Não consigo dormir.” Dean disse. “Tem algo me deixando meio inquieto. Ansioso até.”

Um momento de silêncio se seguiu antes de Charlie bufar e perguntar: “E o que é isso?”

“Isso...?” Dean repetiu confuso.

“É. Conte-me o que te aflige.” A ruiva replicou, sorrindo.

 “Bem... Não é um algo.” Dean disse pesadamente, e Charlie não pôde conter uma risadinha.

“Ah, então é um alguém!” Charlie disse divertida. “De repente, essa conversa ficou mais animada! Vamos, então me fale quem é a sortuda ou o sortudo que está mexendo com seu coração, capitão!”

Dean bufou.

“É a garota Lisa?” Charlie perguntou calmamente.

“Pelo amor de Deus, não!” Dean retrucou. “É outra pessoa.”

“E quem é ela?” Charlie insistiu.

Dean hesitou.

“Dean? Está vivo?” Charlie perguntou, arqueando uma sobrancelha depois de minutos de silêncio.

“Não é ‘ela’, Charlie.” Dean sussurrou.

“Oh.” Charlie suspirou antes de completar: “E quem é ele? Eu conheço?”

“Você conhece todo mundo, Charlie.” Dean comentou.

“Sim, eu conheço. O que é conveniente, hm?” Charlie retrucou. “Vamos, me dê um nome.”

“Err... Hmm... Castiel Novak.” Dean disse; o nervosismo claro em sua voz.

“Que?!” Charlie berrou, divertida. “Você tem uma quedinha por Castiel Novak, o irmão tímido da minha amiga Anna?!”

“É, Charlie.” Dean respondeu simplesmente, meio encabulado.

“E como vocês se conheceram?” Charlie disse, cruzando as pernas e sorrindo, como uma garota de 13 anos ouvindo sua bff falar sobre sua paixonite. O que não era exatamente muito diferente do que ela estava realmente fazendo, excerto pelo fato de sua bff ser um cara do ensino médio, capitão do time de futebol.

“É uma longa história.” Dean murmurou.

“Eu tenho tempo.” Charlie replicou. Dean suspirou pesadamente.

“Certo, certo.” Disse ele. “Foi mais ou menos assim...”

-

No primeiro dia de aula, graças ao Sam, eu cheguei um pouco atrasado na primeira aula. E graças à minha infinita e maravilhosa sorte (e perceba a ironia nisso), a primeira aula era justamente de QUÍMICA.

Quando eu entrei, todos estavam divididos em duplas. Bem, todos menos um garoto de cabelos escuros bagunçados e olhos azuis que estava sentado na bancada próxima à janela.

“Que ótimo começo de ano, Mr. Winchester.” Mrs. Masters resmungou, gesticulando na direção do moreno solitário. “Vamos, entre logo. Sente próximo à Mr. Novak. Ele será como seu marido, Dean Winchester. Todos aqui estão meio que presos às suas duplas até o fim do ano. Então parabéns e se sente.”

Eu estava um pouco chocado, mas sorri e andei até meu lugar até o final do ano. Mrs. Masters recomeçou seu “falatório químico”, e como pra mim isso é pior que grego, acabei simplesmente prestando atenção no meu parceiro, que anotava os detalhes da aula com precisão. Ele nem olhada para mim, Charlie, você tinha que ver. Juro que até fiquei meio ofendido, afinal, todos falam comigo. Mas principalmente, fiquei curioso. Ele era muito diferente de todas as outras pessoas que eu já conhecera, e eu não conseguia entender o que tinha nele de tão interessante.

-

“Que fofo.” Charlie comentou. “Não sabia que você era um voyeur.”

“Todos nós temos os nossos momentos.” Dean replicou divertido.

“Enfim, bonitinho... Continue.” Charlie disse.

“Certo”. Dean respondeu, voltando a narrar sua história.

-

Foi assim pelo resto da semana. Na semana seguinte, porém, eu não consegui mais me conter. Castiel copiava a matéria, concentrado, quando eu disse:

“Então...” Comecei, passando a mão no pescoço. “Castiel, certo?”

Ele assentiu, ainda em silêncio. Bufei.

“Você sequer fala?”

“Falo.” Castiel respondeu no piloto automático.

“Ah.” Eu murmurei meio envergonhado. “Bem, eu sou Dean Winchester.”

“O capitão do time de futebol, eu sei.” Castiel disse, ainda concentrado na tarefa que tinha de fazer. “Todos sabem.”

“Nossa.” Eu disse, de um jeito meio afetado. “Cuidado, isso tem um forte sabor de amargor!”

“Não foi minha intenção.” Castiel disse, finalmente virando-se para me encarar com aqueles olhos azuis penetrantes, e mesmo sem ter consciência daquilo, foi ali que eu perdi. Ele tinha um sorrisinho discreto no rosto, e havia ironia em sua voz. Ele acrescentou logo em seguida: “Assim como acho que não foi sua intenção citar Orgulho e Preconceito.”

Eu simplesmente o encarei sem expressão por um momento, antes de mudar de assunto. “Você faz ideia do que essa mulher está falando?” Perguntei, arqueando as sobrancelhas ao gesticular discretamente em direção à professora.

“Cadeias de carbono, abertas e fechadas.” Castiel respondeu. Eu franzi o cenho. “Química.”

“Isso é muito complicado.” Gemi.

“Não é não.” Castiel apontou os desenhos esquisitos em seu caderno, que eu acredito que sejam as tais cadeias. “Veja, a cadeia fechada é essa, onde os carbonos foram ‘figuras geométricas’. Quando não formam, ela é aberta. Se, além da figura geométrica, há também carbonos para o lado de fora, então a chamamos de cadeia mista. Entendeu?”

Hesitei. “Não.”

“Bem...” Ele riu. “No que você é bom?”

“Futebol.” A resposta foi automática.

“Além disso.” Ele replicou, revirando os olhos.

“Não... Não sei.” Eu balbuciei.

“Talvez história? Inglês? Música?” Ele continuou pressionando. “Você tem que ser bom em algo... Alguma matéria...”

“Eu não sei, Cas!” Eu disse, trincando os dentes. Ele ruborizou e voltou-se novamente para o quadro. Eu acho que só consegui pensar com clareza novamente depois de respirar fundo e contar até dez. “Desculpa.”

“Tudo bem.” Ele respondeu algum tempo depois. “Eu só achei... Estranho você me chamar de Cas.Nós nem nos conhecemos direito...”

“Você não gosta?” Perguntei meio nervoso.

“Não! É bom. Juro.” Ele sorriu. O alarme do fim da aula tocou, e antes que eu pudesse me despedir, ele já tinha ido. A pergunta “no que você é bom?”, porém, continuou ecoando em minha mente.

-

“Dean.” Charlie disse baixo.

“Sim?” Ele respondeu, também baixo.

“Por que você o chamou de Cas?” Ela perguntou rindo.

“Eu não sei, Charlie.” Dean sorriu. “Só soou... Certo.”

A risada da ruiva, antes discreta, agora em muito lembrava o riso de uma hiena. “Quem diria? Dean Winchester está realmente apaixonado!”

“Às vezes você é um saco, Charlie Bradbury.” Dean bufou, e a garota sabia que ele estava vermelho.

“Bem, de qualquer maneira, Dean... Isso foi há meses atrás. Vocês se aproximaram depois disso? Como você percebeu que gosta dele?”

“Calma, gafanhoto.” O garoto brincou.

“Deeeean.” Charlie gemeu. Paciência era um dom que ela não possuía.

“Certo, certo...”

-

Toda aula de química nós conversávamos, sobre tudo e um pouco mais. Porém, algumas semanas depois, numa quinta feira (se me lembro bem), eu cheguei cedo na escola. Cedo demais. Não havia quase ninguém ali. Juro, ruiva, nem parecia nossa escola. Quando eu estava quase desistindo de achar algum conhecido para matar o tempo, eu enxerguei um garoto de cabelos escuros bagunçados, concentrado num livro, e sorri... Cas é inconfundível, juro.

“Hey, Cas.” Eu disse, sentando-me ao lado dele no banco. Castiel tirou os olhos do livro com um sorrisinho meio surpreso no rosto.

“Será verdade, ou meus olhos estão me enganando?! Dean Winchester, cedo na escola?!” Ele brincou, mas percebi algo estranho em sua voz. Ele parecia... Preocupado.

“É... Quem diria?” Eu sorri, de uma forma afetada, e depois me odiei por isso. “O que está lendo?”

Castiel encarou o livro sem expressão por alguns segundos, antes de piscar e responder: “Bem... É, hmm... O Hobbit. Estou relendo.”

“Ah.” Eu suspirei, incomodado por saber que havia algo de errado com o garoto. Pensei por alguns segundos se deveria perguntar o que era, até decidir por sim e emendar: “Então... Me conte o que há de errado.”

“Não há nada de errado, Dean.” Ele replicou, rápido demais para soar verdadeiro. Eu bufei.

“Sim, há. Você está disperso... E nervoso.” Eu falei, e ele corou. “Vamos, Cas, me conte o que aconteceu.”

“Não é nada demais, Dean, sério.” Ele murmurou.

“Se não fosse você não estaria assim.” Eu retruquei.

Ele suspirou pesadamente antes de dizer, num tom baixo: “São só... Bem, alguns meninos. Eles... Têm algum problema comigo, ou sei lá. Ficam... Me ameaçando e-”

“QUE?” Eu berrei, interrompendo-o. “Quem são eles? Eles te ameaçaram como? Por que você não me falou?!”

“Dean, é besteira. Você não precisa... Se irritar com... Nada disso.” Ele estava sussurrando, e algo me dizia que não era por querer discrição, mas por vergonha. E isso me irritou ainda mais. “Aliás, você não precisa se indispor com seus súditos por minha causa.”

“Com meus... O que?” Eu arregalei os olhos.

“Seus súditos.” Ele repetiu rindo. Eu também riria, afinal, adoro as piadinhas de realeza que ele faz, mas estava muito irritado.

“Quem são eles? Me dê nomes.” Eu perguntei novamente.

“Eu não... Sei nomes.” Cas afirmou, mas eu não senti firmeza em sua voz. Não questionei, porém.

“Eles te ameaçaram como?” Perguntei.

“Com... Isso.” Ele me passou uma folha de caderno dobrada ao meio. Dentro, estavam escritas coisas como “Deus odeia bichas”, “Gays têm que morrer”, “Vamos acabar com você, viadinho!” e mais baboseiras homofóbicas. Eu arfei.

“Cas... Eles estão zombando de você porque acham que você é gay?” Perguntei chocado. Ele hesitou.

“Eles estão zombando de mim porque sabem que eu sou gay.” Ele corrigiu.

“Ah.” Eu disse, imerso em pensamentos. Depois completei: “Que babacas.”

“Dean.” Cas sussurrou, agarrando minha camisa com uma mão enquanto apontava para dois caras do time de futebol discretamente com a outra. “São eles.”

-

“Quem eram os filhos da puta?” Charlie perguntou, irritada. Não é preciso dizer que ela realmente se envolve com as histórias que escuta/lê. Dean deu uma risadinha discreta.

“Você sabe...” Ele disse lentamente. “Aqueles garotos do meu time... Uriel e Zack.”

“Argh, idiotas.” Charlie gemeu. “Continue.”

-

“E ai, Winchester?” Os dois me cumprimentaram com tapinhas no ombro, mas eu estava em choque demais para responder com qualquer outra coisa senão um “oi” fino e desanimado. Eles saíram e eu enfiei meu rosto entre as mãos.

“Dean, deixe pra lá.” Castiel pediu baixinho, e sua respiração quente fez cócegas em meu pescoço (ele se aproximou da minha orelha para falar). “Eles não são os primeiros e provavelmente não serão os últimos.”

“Que?!” Eu perguntei, o encarando em choque.

“As peculiaridades de ser quem eu sou.” Castiel disse rindo, mas havia uma verdade trágica por trás daquilo, assim como a palavra “gay” subentendida. O sinal bateu, e fomos pra aula.

-

“Por favor, Dean, me diga que você não deixou isso barato!” Charlie berrou.

“Charlie, eu me chamo Dean Winchester.” O garoto disse, revirando os olhos. “Você realmente acha que eu deixei isso barato?!”

Charlie riu alto. “Então continua!”

-

Bem, na hora no almoço, naquele mesmo dia, eu encontrei os dois próximos a um armário (não me pergunte de quem).

“Hey, Winchester.” Uriel me cumprimentou; cumprimento esse que ignorei para ir direto ao ponto. Coloquei minha mão no ombro de Zack, estendendo a folha de papel com as ofensas. Os dois se entreolharam antes de Uriel pegá-la de minha mão.

“O que significa isso?” Eu perguntei, enquanto Uriel a observava.

Ele replicou: “Não faço ideia, cara.”

“Não banquem os idiotas... Eu já sei.” Eu disse, tentando manter a calma.

“Certo, nós zoamos um nerd viadinho.” Zack finalmente abriu o jogo. “E daí?”

“Ah, claro! E daí se o ‘viadinho’ tem sentimentos?! Vamos zoar ele, afinal, ele é só um nerd viadinho... Deve ter até sido feito pra isso, né?!” Eu zombei, num tom mais alto.

“Larga do nosso pé, Winchester.” Uriel grunhiu.

“É, desde quando você virou guarda costa de nerd?! Ele já veio denunciar a gente?! Ô raça...” Zack concordou.

Eu respirei fundo por alguns segundos (para não chutar a bunda dos dois algumas vezes) antes de dizer: “Ele é meu amigo. E se fizerem algo com ele de novo... Vocês ou qualquer um... Guardem minhas palavras: Eu ACABO com a raça de vocês.”

“O que ele é?!” Uriel continuou a instigar. “Seu namoradinho?!”

E foi ai que minha paciência se esgotou, e eu o suspendi pelo colarinho e o encostei no armário. “É sério... Se você fizer algo com ele, Uriel, ou com qualquer um... Eu juro que você não vai querer estar perto de mim quando eu descobrir. Mas nem vai adiantar, porque eu vou lhe procurar pela escola toda e lhe dar a maior surra da sua vida. Você conhece meu chute, e sabe que seu traseiro vai ficar meio estragado se eu lhe der uns cinco daqueles.” Pausa. “Já sabe. Você também, Zack.”

Eu o soltei. Quando me virei para ir embora, Castiel estava lá (no meio do grupo de pessoas que havia se formado, logicamente, pra ver a briga... mas como eu já disse, Castiel é inconfundível), de olhos arregalados de surpresa e tentando suprimir um sorrisinho.

-

“Dean Winchester, o bravo cavaleiro sempre disposto a defender sua princesa... Bem, príncipe, da garra dos terríveis brutamontes do ensino médio! Bravo!” Charlie brincou, e os dois riram, porque Dean adorava piadas sobre realeza. Depois, Charlie não pôde deixar de perguntar: “Mas... E Cas? Ficou chateado?”

“Bem...”

-

Não exatamente. Ele saiu andando logo depois que eu o vi, e eu fui atrás dele. Quando ele alcançou seu armário, virou-se e murmurou: “Você não deveria ter feito isso, Dean Winchester.”

“Eu não ia deixar barato.” Eu repliquei, sorrindo. Ele abaixou a cabeça.

“Eles vão voltar, e vai ser pior.” Ele comentou. “E vai pegar mal pra você também... Vão começar a espalhar boatos... Dizer que você é meu namorado, que é puxa-saco de nerds... Você vai ficar mal falado, Vossa Majestade.”

Eu sorri de orelha a orelha. Mesmo numa situação assim, ele estava preocupado... Comigo!

“Cas, deixe que falem.” Eu disse simplesmente.

Ele me encarou com aqueles olhos azuis penetrantes: “Dean...”

“Olha, nada do que esses caras falaram sobre mim ou fizerem pra mim vai me afetar. Sério.” Eu disse. “Eles são só dois idiotas. Eu ainda sou o capitão... Minha palavra é muito mais considerada do que a dos dois. Aliás, não há vergonha alguma em ser gay, e se quiserem acreditar que eu sou, eu não ligo.” Pausa. “Não se preocupe com meu trono, Castiel Novak. Por ora, ele está são e salvo.”

“Por ora.” Ele ressaltou. “Mas se continua andando comigo, quem garante?”

“Ninguém.” Eu respondi. “Mas não importa, sabe? É só um trono bobo. Em primeiro lugar, eu nem sei como eu o ganhei. E posso dizer com toda certeza que não dou a mínima pra ele.” Pausa. “Na verdade, é até bem chato.”

Ele riu. “Não vejo como.”

“Ter que agradar os outros é muito chato. Agradeça todos os dias por não ter que passar por isso.” Eu respondi, passando a mão pelo cabelo.

“E quem disse que eu não tenho?” Castiel perguntou enquanto colocava a combinação do cadeado do seu armário.

“Tem, é?” Eu perguntei sorrindo.

“Não de um reino como você, mas de senhor meu pai e de senhora minha mãe.” Ele comentou irritado. “Eles são as duas criaturas mais exigentes que já conheci. Se não for perfeito, então pra eles não serve. São assim com tudo... Casa, roupa, carro, móveis... Filhos...”

“Uh.”

“É.” Castiel suspirou pesadamente. “Não me admira que Michael, Lucifer Gabriel tenham ido embora assim que atingiram a maior idade... Um foi trabalhar em sabe lá deus aonde, e os outros dois foram para a universidade. Agora somos apenas eu e Anna. Até penso em fugir, também, porque toda essa pressão acaba com qualquer um. Acho que por isso tenho poucos amigos.” E ele riu, mas eu estava meio triste por ele. “E a sua família?”

“Ah, você sabe...” Eu murmurei. “Eu e Sam, nós... Perdemos nossa mãe muito cedo. Incêndio. Desde então, papai é um alcoólatra, e por isso que nós nos mudamos para a casa de um casal de amigos dele, Bobby e Ellen, há uns cinco anos. Ele vem nos ver de vez em quando, mas dificilmente sóbrio. Pobre homem.”

“Coitado.” Castiel comentou tristemente.

“Sam nem se lembra da mamãe, sabe? Ele era bem novo...” Eu comentei. “Eu tinha uns quatro anos, o que significa que ele devia ter uns... Seis meses? Algo assim. Triste.”

“Sente falta dela?” Cas perguntou baixinho.

“Direto.” Eu respondi. “Mas sabe, Ellen é um amor de pessoa. Uma segunda mãe. Bobby também é um ótimo pai... Só fico imaginando como nossas vidas seriam diferentes se minha mãe não tivesse esquecido o fogão ligado e tal...”

“Sinto muito.” O moreno disse, colocando distraidamente a palma da mão no meu peitoral, o que me fez ter um pequeno arrepio. Foi bem rápido, sabe? Mas eu fiquei me sentido meio esquisito.

“Tu-tudo bem.” Eu gaguejei. Ele riu. “Enfim, eu tenho que ir almoçar. Sabe como é... Treino mais tarde. Não quero desmaiar nem nada.” Pausa. “Vejo você depois?”

“Absolutamente.” Ele respondeu baixinho, e eu não pude evitar sorrir rapidamente.

“Está certo então.” Eu disse, colocando a mão no ombro dele. “Até mais, Novak.”

E então eu fui pra cantina me sentindo um idiota por virar um molenga perto daqueles olhos azuis. E mais ainda, por não tê-lo chamado pra almoçar comigo.

-

“Ah, Dean!” Charlie disse, gradativamente aumentando o tom, o que fez a fala terminar como gritinho. “Vocês são provavelmente o casal mais fofo que eu já vi!”

“Tirando pelo fato de que nós nem ao menos somos um casal.” Dean retrucou.

“Mas... Mas ainda podem ser!” A ruiva não poderia estar mais animada.

“Como já, Charlie?” Dean bufou.

“Dean, você gosta dele!” Ela replicou, gesticulando loucamente (o que Dean obviamente não viu, mas não teve dificuldade nenhuma de imaginar).

“Mas... Charlie... Ele é um... Cara!” Ele gemeu. “Eu sou o capitão do time de futebol. Eu tenho uma reputação. Eu não posso simplesmente... Chamar um cara pra sair!”

“Dean, não tem nada de errado nisso, pelo amor de deus!” A garota revirou os olhos. “Bissexualidade é normal. Assim como também é normal que pessoas heterossexuais se apaixonem por pessoas do mesmo sexo. A vida é curta demais para ficar preso em pequenas caixas que só fazem te limitar! Pelo amor do pai, pense fora da caixa, garoto! E talvez... Sei lá... Saia do armário.” Pausa. “Aliás, desde quando você se importa com reputação e merdas como essa?”

“Eu... Não me importo.” Dean bufou.

“Exato!” Charlie gritou. “Não se importa, e nem nunca se importou!”

“Mas... Mas...” Dele começou a gaguejar. “Mas Charlie, ele não gosta de mim. Não assim.”

“Ah.” A ruiva revirou os olhos.

“É” O garoto murmurou.

“E quando você perguntou pra ele?” Ela perguntou, sorrindo por já saber a resposta.

“Eu... Não perguntei.” Ele disse emburrado, e completou a ouvir a gargalhada da amiga do outro lado da linha. “Mas olha, eu tenho quase certeza que ele não gosta de mim, e-”

“Já é o suficiente pra mim.” Ela interrompeu.

                                  “Que?” Dean perguntou confuso.      

“Dean, eu te conheço melhor do que ninguém.” Ela suspirou. “E se tem algo que eu sei, é que você sabe se diminuir. Se você tivesse quase certeza de que ele não gosta de você, você diria que tinha certeza absoluta. Se você disse que tem quase certeza, é porque você mesmo acha que ele gosta de você, mas não quer admitir porque não quer se permitir ter esperanças. Fofo.”

“...”

“Olha, não é nada demais.” Charlie continuou. “Chegue pra ele, e diga como se sente. Eu sei que pra você isso é terrível, mas... Fazer o que? É o preço a se pagar. O pior que pode acontecer, e acredite em mim quando eu digo que eu duvido que vá, é ele não corresponder... Bem, seus sentimentos. Ai é só se utilizar da sua melhor poker face e manter a amizade. E se tudo for como eu acho que vai ser no final do dia meu novo casal favorito vai ser definitivamente... Canon.”

“Canon?” Dean repetiu confuso.

“Esqueça.” Ela bufou.

“Mas Charlie... E se eu estragar nossa amizade?” Dean gemeu. “Quer dizer... Eu não sei lidar com caras. Nunca... Tentei antes.”

“Ding dong, you are wrong.” Charlie bufou. “Vamos ser francos aqui: Você é quase um... Gay.”

“Que?!” Dean berrou.

“Estou falando sério.” Ela continuou. “Quer dizer, acho que ser meio gay deve ser um requisito básico para ser capitão de um time esportivo escolar, porque vamos combinar... Você tem de resolver os dramas de um bando de caras que sabe se barbear mas não consegue convidar uma garota pra sair do jeito que se deve. Você sabe lidar com caras.”

“Mas e o status quo?” Dean acabou por apelar, depois de pensar por alguns minutos.

“Já disse pra você: Pense fora da caixa.” Charlie revirou os olhos.

“...”

“Acabaram seus argumentos, boy?” Ela riu.

“Bem, sim.” Ele admitiu, e ela se sentiu verdadeiramente vitoriosa.

“Ah, o amor é lindo.” Ela comentou rapidamente.

“Como eu faço isso, Charlie.” Ele parecia suplicar. “Como diabos eu chamo... Um cara pra sair?”

“Bem, depois de ouvir um breve resumo da história de vocês dois...” A ruiva disse, colocando um dedo na boca distraidamente. “Eu diria que, se tem algo que não pode faltar... São piadas de realeza.”

...

“Você tem certeza?” Ele não poderia estar mais nervoso.

“Claro, coração.” Ela riu. “Confie em mim: Se você consegue chamar uma mulher pra sair, chamar um cara é moleza. E eu digo isso, bem, por já ter tentado com ambos.”

“E mesmo assim, acabou preferindo as mulheres?” Dean riu.

“Ah, Winchester, você me conhece...” Charlie tinha um sorriso imenso no rosto. “Adoro um desafio.”

“Claro que sim.” Ele replicou, também sorrindo.

“Agora... Vá dormir.” Ela disse bocejando. “Porque você não pode estar todo estragado para o dia de amanhã. Aliás, nem eu posso. Mas... Fazer o que? Pra mim não tem mais jeito.”

“Foi mal.” O garoto riu.

“Foi mal mesmo. Você me liga as três da matina, me enrola com uma história linda... Você acha que eu não percebi que na verdade é tudo um plano seu pra ser a única pessoa bonita da escola amanhã?” Ela bufou.

“Tchau Charlie.” Dean se despediu.

“Tchau seu bundão.” Ela brincou.

“Eu te amo.” Ele comentou, como se a mandasse escovar os dentes.

“Eu sei.” Ela disse, desligando a ligação, e o telefone. Precisava de pelo menos calmas três horas de sono antes de acordar e passar mais trinta minutos para esconder suas olheiras de panda.

“Dean Winchester, você ainda me paga.” Ela disse sorridente, embrulhando-se em seu cobertor e dormindo apenas alguns minutos depois.

...

Quando ligou o celular pela manhã, Charlie não pôde deixar de rir ao ler a última mensagem de Dean: “Acho que vou vomitar”

“Parece a sétima série toda outra vez, huh?” Ela replicou calmamente.

Dois minutos depois veio a resposta: “Na sétima série eu já estava com minha segunda namorada.”

Charlie revirou os olhos: “Relaxa, Dean. É certamente uma coisa nova, mas não é nada demais também. Só tente não ficar nervoso, pelo amor de deus. Eu quero uma declaração espontânea e bem feita.”

E essa Dean não demorou nem um minuto pra replicar: “Tudo bem. Sem neura.”

“Elementar, meu caro Watson.” Ela disse. “Sem neura. Relaxa e seja... Espontâneo. Se parecer forçado, ele vai achar que você está zoando com a cara dele. Aliás, se você pretende chegar mais cedo... Já não deveria estar no caminho?”

“Merda.” E a ruiva quase podia sentir naquelas palavras o tom de voz do amigo.

“Vai, vai.” Ela enviou sorrindo.

...

Assim como no dia que Dean descobriu sobre a sexualidade de Castiel e todo o resto (que fora alguns meses antes, e desde então os dois estavam cada vez mais próximos, se é que isso possível de se fazer sem que sexo seja envolvido depois de um tempo, mas tudo bem), Dean chegara cedo à escola. Assim como naquele dia, esta estava bem vazia. Porém, dessa vez, Dean estava à beira de um ataque de nervos. E dessa vez, como se fosse combinado, ele não conseguia achar o moreno de jeito nenhum.

Quando estava quase pirando de vez, ele viu uma garota ruiva no corredor, e ela não era Charlie. O que só podia significar...

“Hey.” Dean repentinamente à garota do corredor, que se assustou. “Desculpa por aparecer de repente. Você é... Anna Novak, certo?”

Ela assentiu lentamente. “Ah, ótimo. Eu sou...”

“Dean Winchester.” Ela completou calmamente.

“Ah, esqueci que a maioria das pessoas me conhece por causa... Bem, do time de futebol.” Ele murmurou. “Bem, eu queria saber... Você viu o seu irmão?”

Ela riu. “Ele foi até o armário.”

“Armário, claro!” Dean quase berrou. Como não pensara nisso antes?! “Obrigado, Anna.”

“De nada.” Ela disse, enquanto ele já se afastava apressado. “Hey, Dean?”

Ele voltou. “Sim?”

“Não é pelo time de futebol que eu sei de você.” Ela disse rindo.

“Não?” Ele estava meio surpreso.

“Bem, não exatamente.” Ela riu. “Charlie já tinha me falado de você, sabe? Primeiro eu até achei que ela era afim de você, até descobrir que vocês eram só amigos e que ela tinha uma queda por uma menina mais nova chamada Gilda.” Pausa. “Mas sabe... Ultimamente, Castiel estava muito solitário. Os amigos dele, Balthazar e Rachel... Bem, eles saíram da escola. E ele estava muito sozinho, porque ele é tímido e porque nossos pais exigem demais do garoto para ele ter tempo de pensar em... Amigos. Então eu devo dizer que foi um alívio saber que ele tinha um novo amigo, mas fiquei preocupada quando descobri quem era esse amigo, mesmo que ele me garantisse que você era, diferentemente do que eu achava, um cara legal. Sabe, Dean... Ele gosta muito de você. Então... Não pise na bola.”

“Não vou.” Dean respondeu, encarando a garota ruiva que em pouco lembrava a Charlie. Tinha algo de autoritário em sua voz, e Dean não sabia o porquê, mas não conseguiria negar-lhe um pedido nem que quisesse. E ele não queria, acredite, não mesmo.

“Bom.” Ela sorriu. “Vai lá, então.”

E Dean foi, na velocidade mais rápida em que se pode andar pela escola sem parecer maluco. O que pra ele não era rápido o suficiente.

-

Castiel estava debruçado em seu armário, procurando um livro de geometria que só podia estar ali. Busca essa até então, frustrada. Ele bufou, ao pegar um livro com uma capa semelhante, só para depois perceber que na verdade era um livro de filosofia que se esquecera de devolver para a biblioteca. Foi quando ele sentiu uma mão forte em seu ombro.

“Hey, Cas.” A voz forte de Dean o tirou de seus pensamentos, fazendo-o virar quase instantaneamente.

“Olha só... Dean Winchester, cedo na escola pela segunda vez no ano? Isso já pode ser considerado um recorde.” Ele disse sorrindo.

“Se você soubesse a hora que eu fui dormir ontem, cara, você ficaria ainda mais impressionado.” Dean deixou escapar, passando a mão nervosamente pelos cabelos.

“E por que você foi dormir tarde?” O moreno perguntou, franzindo o cenho de um jeito tão... Ele. Dean não conteve um risinho.

“Ah, você sabe... Eu liguei para Charlie Bradbury, minha amiga e parceira no crime.” Dean disse, rindo de nervoso. “Ela estava me dando uns conselhos. Botando minha cabeça no lugar do jeito que só ela consegue.”

“Ah, que ótimo.” Castiel murmurou.

“É cara, ela dá os melhores conselhos do mundo.” Dean concordou.

“E eu posso saber que conselhos maravilhosos são esses?” Cas perguntou meio distraído, tentando voltar a procurar seu livro, mas sendo impossibilitado pelos belos olhos verdes do outro garoto.

“Você vai, se eu conseguir tomar coragem de... Executá-los.” Dean disse pausadamente, para evitar gaguejar e coisa e tal.

“Como assim?” Cas franziu o cenho novamente.

“Ah, cara... Eu sou péssimo nisso.” Dean murmurou, passando a mão nos cabelos novamente.

“Nisso o que?” O moreno não sabia se deveria ficar confuso ou preocupado. Talvez os dois.

“Sentimentos.” Dean respondeu simplesmente.

Castiel hesitou. “Dean.”

“Cas, eu sei que aquela ruiva vai me matar, mas eu vou ser bem direto aqui.” O de cabelos mais claros cuspiu, por saber que se falasse mais devagar ia se enrolar e gaguejar, e isso era tudo do que ele não precisava naquele momento. “Desde aquele primeiro dia, na aula de química, quando a professora me jogou como seu parceiro de laboratório, e eu praticamente lhe vi sussurrar um ‘droga’ baixinho... Eu acho foi ali que eu estava perdido. Porque eu sempre achei que gostava de garotas, mas de repente vem você com... Seu cabelo bagunçado, seus olhos azuis penetrantes e... Bem, me ignorando completamente. Cara, você era tão... Diferente. Você me fascinou, droga. E quando eu te conheci, bem... Droga, tudo piorou. Porque você não só parecia ser perfeito, mas realmente era perfeito. Não aquele ‘perfeito’ de, você sabe, não ter defeito, mas justamente por você dar o seu melhor para aceitar seu defeitos, ou para conviver com eles. Droga, isso foi o que eu sempre quis fazer... E nunca consegui. E você com esses seus olhos azuis, e sua perfeição não perfeita... Bem, era óbvio o que ia acontecer. O que já tinha acontecido faz tempo, aliás, mas eu demorei pra entender que aquela coisa estranha que eu sentia no estômago eram as tais das borboletas. Demorei pra entender que, bem... Eu estou apaixonado por você, Cas.”

Dean teve que respirar fundo depois que finalmente terminou a fala que ele tanto ensaiara, e que mesmo assim, pra ele, fora longe de perfeita. Mas quando ele abriu os olhos, o moreno sorria.

“Dean, eu...” A voz de Castiel saiu inconscientemente num sussurro. Ele ainda estava surpreso demais para formular frases com a rapidez que deveria. Era como se ele estivesse em câmera lenta. “Foi a coisa mais... Bonita que alguém já me disse.”

E Dean sorriu, finalmente permitindo-se a calma. Castiel continuou, depois de mais alguns minutos de silêncio: “Sabe... No inicio eu realmente não estava feliz em você ser meu parceiro. Quer dizer... Você é a droga do garoto mais popular do colégio. E além de popular, é atlético, e bonito... Eu confesso que achava que você era um idiota, assim como vários dos seus colegas de time. Mas... Eu não sei. Quando você falou comigo, eu não precisei de mais de cinco minutos de conversa pra perceber que... Sei lá, você era diferente. E depois, bem... Você fazia por mim o que ninguém jamais faria. Quer dizer... Me defender daqueles caras? Ninguém faria isso por mim. Nem mesmo meus pais, se eu pedisse pra que eles o fizessem, o que eu jamais faria. E você fez aquilo simplesmente por mim. Sem segundas intenções, sem truques, sem chantagem... Você meio que se arriscou por mim. E isso, Dean Winchester, foi o que fez com que eu percebesse que eu estava apaixonado por você... Então, bem, acho que agora eu posso dizer que estou realmente aliviado que você sinta o mesmo, e que como sempre, tenha mais coragem que eu pra botar isso pra fora, porque já estava... Bem, difícil guardar isso só para mim.”

E o sorriso de Dean não poderia estar maior. “Por que você... Não me contou?”

“Bem, como eu disse...” Castiel disse calmamente. “... Nem todos têm tanta coragem quanta Vossa Majestade. Alguns de nós, meros camponeses, simplesmente não nos sentimos corretos em... Fazê-lo.”

“Ora... Talvez você não seja o mais bravo dos camponeses, mas com toda certeza... É o mais sábio. E belo.” Dean disse próximo da orelha do moreno, que se arrepiou. “Então, o que você me diz: Você vai ser meu rei?”

Castiel fingiu pensar por alguns segundos, antes de sorrir e dizer: “Pensei que não fosse perguntar.”

E antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa, os lábios do outro já estavam nos seus, e ele não teve outra escolha senão dar passagem para que a língua do rei do colégio pudesse calmamente explorar sua boca. Foi quando foram interrompidos por uma risadinha. Cas parou imediatamente, e Dean reclamou com um gemido, o que fez a pessoa que já ria... Rir ainda mais.

-

“Acho que cheguei bem na hora, certo?” A garota disse, mas só pela risada ele já sabia quem era.

“Droga, Charlie.” Ele reclamou, mas estava sorrindo.

“Você não gostou de eu ter interrompido seu beijo?” Ela provocou. “Bem, talvez agora você saiba como eu me senti em relação ao meu sono. Idiota.”

Dean gargalhou, mas Castiel ainda estava meio envergonhado. A ruiva se aproximou dele, estendendo a mão. Ele a apertou rapidamente, sem desencostar do armário, ou do braço de Dean.

“Bem, eu me chamo Charlie. Charlie Bradbury, caso Dean Winchester tenha sido desnaturado o suficiente para lhe falar sobre mim.” Ela disse, revirando os olhos para o amigo.

“Ele comentou rapidamente.” Castiel disse baixo, rindo um pouco.

“Esse puto.” Ela disse rindo. “Então... Castiel Novak, certo?”

“Sim.” Ele respondeu simplesmente.

“Estou muito feliz em finalmente conhecer a paixonite do meu amigo aqui.” Ela disse, gesticulando na direção do garoto de cabelos mais claros, que não sabia se ria ou se ficava envergonhado. Castiel corou. “Ele me falou muito de você ontem. Aliás, eu devo comentar... Você estava certo, Dean, ele têm olhos lindos.”

“Charlie, pelo amor de deus.” Dean murmurou envergonhado. Ela percebeu.

“Não fica com vergonha da sua amiguinha, coração!” Ela disse, beliscando a bochecha do garoto rapidamente. “Eu já estou indo. Acho que vou aproveitar que o romance está no ar, e puxar papo com uma garota chamada Gilda... Ela é mais nova que nós, mas eu tenho que dizer... Dean, ela é muito linda! Bem, vejo vocês depois, casalzinho.”

E a ruiva se foi, deixando um clima estranho pra trás.

“Não ligue pra ela, Cas, ela é... Maluca.” Dean murmurou meio nervoso. Castiel sorriu.

“Mas... Ela não falou nada demais.” Ele disse divertido. “Mas... Você realmente comentou sobre os meus olhos com ela?”

Dean estava meio corado. “Talvez?” Ele disse de uma forma tão fofa que o moreno não conseguiu dizer nem fazer nada senão se aproximar do outro e puxá-lo novamente para um beijo, não mais demorado que o primeiro graças ao sinal que anunciava o início da aula, que resolvera tocar justo naquele momento.

Dean gruniu. “Alguém só pode estar me tirando.”

Castiel riu antes de dizer: “Vamos, Majestade.”

“Sinto lhe dizer, mas como fiquei muito tempo ocupado lhe procurando, não pude pegar meu livro então... Acho que vamos ter que dividir.” Dean informou.

“Nossa, isso vai ser realmente complicado de ser fazer.” Castiel brincou. “Principalmente se considerarmos o quanto você usa esse livro em sala.”

“Você não presta.” Dean comentou rapidamente, enquanto enroscava seus próprios dedos com os dedos brancos do outro.

...

“Sabe?” Castiel disse (quase cantarolando) no meio da aula de química.

“Hm?” Dean disse, virando-se para encarar o moreno.

“Eu estava errado em uma coisa.” Ele continuou.

Dean suspirou. “Errado sobre o que?”

“Uma vez, alguns meses atrás, eu disse...” Cas sussurrava agora. “Disse alguma coisa sobre você ter de ser bom em alguma matéria escolar e coisa e tal...”

“Sim.” Dean disse, estando já meio incomodado de para onde esta conversa rumava.

“Eu estava tão errado, Dean...” O garoto moreno parecia dividir uma única sentença em várias, como um gato velho lentamente se espreguiçando ou coisa assim. “Você não precisa ser bom em nada disso.” Pausa. “Não que eu queria com isso dizer que você não é. Só estou dizendo que... Eu costumava achar que a vida se resumia a isso. Porque era justamente ao que a minha vida se resumia. Lentamente, e eu acredito que graças a você, eu fui começando a ver as coisas de outra forma. E você, Dean Winchester...” Cas sorria ao enroscar seus dedos com os do outro. “Você não precisa disso. Você é uma pessoa maravilhosa, sabe... Do jeito que você é.”

Dean sorriu timidamente, sem saber direito o que dizer. Encostou discretamente a cabeça no ombro do outro e assim ficaram, até o sinal tocar novamente e terem que seguir rumos diferentes, por ora.

...

É claro que, como qualquer relacionamento que Dean já tivera antes, o tão recente relacionamento dele com Castiel Novak, o menino que ele defendera com unhas e dentes dos colegas de time há alguns meses atrás, não permaneceu em segredo por muito tempo. Uma garota presenciou os dois trocando um beijo rápido próximo ao armário de Dean no final da aula, e lá pelas oito horas da noite, ambos já tinham recebido várias mensagens de conhecidos. Alguns, como o Balthazar e uma amiga de Dean chamada Jo, mandaram mensagens de apoio. Alguns, como vários colegas de time de Dean, mandaram mensagens de indignação (e ele revirou os olhos ao lê-las, e logo depois as deletou). A maioria, porém, eram mensagens confusas, e eles (principalmente Dean) tiveram bastante trabalho de explicar o que acontecera para as pessoas mais diversas que tinham seus números e descobriram sobre a fofoca da semana.

No dia seguinte, Castiel não queria ir pra aula. Estar debaixo dos holofotes da escola não era que algo que ele ansiava, e muito menos algo que achava que ia acontecer. Mas aconteceu, e foi de repente. Só de pensar em entrar por aquelas portas sozinho, e ter que aturar risinhos diferentemente motivados... Ele sentia como se fosse colocar pra fora todo o seu café da manhã.

Foi quando teve a brilhante ideia de mandar uma mensagem para Vossa Majestade.

“Winchester, se eu tiver que entrar sozinho naquela escola hoje eu acho que vou vomitar.” Ele digitara com rapidez, e enviara. Alguns minutos depois, veio a resposta:

“Eu sei. Passei a noite toda recebendo mensagens sobre isso. Não pretendia... Expor isso assim. Muito menos de uma forma tão rápida. Me desculpe.” E ele quase pôde sentir o desespero se formando na voz de Dean.

“Está... Bem, está tudo bem.” Castiel enviou simplesmente, não querendo o deixar mais agoniado. Dean respondeu:

“Quer uma carona?”

“Uma carona...?” Cas estava meio confuso com o convite.

“Bem, sim.” Dean respondeu, logo depois acrescentando: “Assim, nenhum de nós teria que... Bem, aguentar a barra sozinho :)”

“É uma ideia... Ótima.” Cas digitou, com um sorrisinho do rosto. “Sabe onde é minha casa?”

“Sim, eu ainda me lembro do endereço.” Endereço esse, que Dean pedira casualmente certa vez, já pensando em uma futura visita surpresa ou coisa assim.

“Certo.” Cas respondeu, um minuto depois. “Estou te esperando então.”

“Está certo, bebê.” Dean só percebeu o quão casualmente o “Castiel” virara “Cas”, e “Cas” virara “bebê” depois de ter enviado a mensagem. “Vamos resolver isso juntos.”

“Absolutamente, Vossa Majestade :)” Castiel estava enviando esta, quando um Chevy Impala 67 parou na frente de sua casa e buzinou suavemente (se isso é possível).

“Castiel, aquele é o carro de quem eu acho que é?” Perguntou a irmã Anna, olhando pela janela. Castiel sorriu.

“Arrã.” Ele respondeu, pegando a mochila.

“Eu não acredito que é verdade!” Anna berrou. “Você estão... Saindo?!”

“Bem, eu acho que sim.” Ele riu. “Tenho que ir.”

“Se prepara, Cas.” Ela comentou, antes que ele pudesse sair. “Hoje o dia pode ser barra pra você.”

“É, eu sei.” Ele murmurou. “Mas quer saber? Tudo bem.”

“Sério?” Anna riu.

“Dean e eu... Bem, nós vamos achar um jeito de contornar isso... Juntos.” E quando Anna viu como os olhos azuis do irmão brilhavam à simples menção do nome de Dean Winchester, não fez mais nada senão sorrir ternamente e assentir. Da janela, ela olhou ele sair e entrar no banco de trás (já que o garoto Sam Winchester estava sentado no banco do carona).

“Bem, talvez Dean Winchester realmente seja muito mais do que um cara legal.” Ela comentou para si mesma. “Bem, pelo menos para o Cas.”

...


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Notas finais do capítulo

Okay. É isso. Gostaram? Odiaram? Deixe alguma coisa ai em baixo, pelo menos pra eu saber que alguém leu essa bagaça.

Ah, há uma explicação de química do meio dessa história, que quem me conhece sabe que não fui eu que fiz (porque eu sou uma negação em exatas). Minha amiga fez, então qualquer erro, contacte http://fanfiction.com.br/u/191417/. Mentira, a culpa de qualquer erro é totalmente minha -q Mas passem pra ler a fic dela, né? Ela merece!

Talvez eu continue. Quem sabe? Obrigada por lerem -q 1bj.