Depois do que aconteceu hoje a única coisa que eu queria era me jogar no Tártaro. Como pode ser tão burra Annabeth? Estava na cara que os dois ainda se amavam. Eu dizia isso para mim mesma enquanto chorava e saía correndo para o meu chalé.  Eu pensando que ele me amava, mas não, ele preferiu aquele pesadelo ruivo chamado Rachel Elizabeth Dare.   Vocês devem estar se perguntando o que aconteceu de tão ruim hoje. Bom acho melhor eu explicar desde o começo.   Acordei com os raios do sol entrando pela janela. Olhei no relógio que marcava sete horas, me levantei e tomei um banho rápido. Vesti um shorts jeans, uma camiseta laranja do acampamento e deixei meu cabelo loiro solto. Eu estava muito feliz, porque hoje eu e o Percy completamos seis meses de namoro. Fui tomar café e notei que ele não estava lá. Onde aquele cabeça de algas se meteu? Deixei esse pensamento de lado e sentei junto com meus irmãos na mesa de Atena. ―Bom dia Annabeth! ―Disse Thomas meu irmão mais velho. ―Bom dia. ― Respondi sorrindo. ―Quiron pediu para mim te avisar que ele quer falar com você na casa grande depois do café. ―Tudo bem, obrigada por avisar.   

        Tomei meu café normalmente e segui para a casa grande. Sr. D não estava então eu não precisava me preocupar em bater na porta. Enquanto esperava Quiron, ouvi um barulho vindo do andar de cima. Peguei minha adaga e subi silenciosamente as escadas. O barulho parecia ter vindo do quarto da Rachel. Abri com cuidado a porta e quando vi aquela cena meu mundo parou. Rachel beijava Percy apaixonadamente e ele correspondia sem hesitar. Quando perceberam que eu estava ali se separaram bruscamente.

        ―Espera. Annabeth? Mas você... ―Perguntou Percy confuso apontando para Rachel.

―Eu... Eu posso explicar... ― Rachel começou a falar, mas eu a interrompi.

        ―Não, não precisa explicar eu já entendi, mas da próxima vez Percy, seja homem o suficiente para terminar comigo antes. ― Eu disse isso segurando as lagrimas que se formavam, não ia demonstrar fraqueza. Virei e saí andando normalmente, mas quando cheguei à porta comecei a correr.

        E assim foi o meu lindo dia. Joguei-me na cama e chorei como nunca havia chorado antes, quando de repente alguém bate na porta, bate não, quase derruba a porta.

        ―Annabeth, abre a porta, por favor, precisamos conversar. ― Ele disse isso com uma voz de choro, mas eu não iria ferir meu orgulho abrindo aquela porta.

        ―Conversar sobre o que Percy? Eu vi com meus próprios olhos você me traindo com ela. Podia pelo menos terminar comigo antes! ― Eu gritei para ele limpando as lagrimas. ―Só me deixe em paz.

        ―Olha Annabeth, eu nem sei direito o que aconteceu, mas sei que precisamos conversar. ―Percy parecia muito confuso. ―Se você não abrir essa porta eu vou arrombá-la!

        ―Vá em frente, quebre tudo como fez com meu coração! ― Eu disse levantando a voz de novo. ― Vá embora eu não quero falar com você nunca mais.

        ― Tudo bem eu vou, mas não vou desistir de você tão facilmente. ― Ele disse isso com uma voz de choro que eu nunca tinha ouvido e foi embora.

        Eu fiquei lá, chorando, em vez de deixá-lo explicar o que aconteceu, não eu fui orgulhosa de mais. Minha mãe estava certa, eu nunca deveria ter me apaixonado por ele. Como eu odeio Afrodite. Primeiro Luke, que nos traiu indo para o lado de Cronos e agora Percy me traindo com aquele pesadelo ruivo. Já chega, eu disse para mim mesma, já fui traída de mais. Eu sabia o que deveria fazer, a única coisa que me deixaria livre. Vou entrar para a Caçada com minha melhor amiga Thalia. Fui até o banheiro para mandar uma M. I. (mensagem de Iris) a ela, abri a janela para deixar o sol entrar e tentar fazer um arco-íris. Joguei um dracma e disse:

        ―Ó deusa Íris, aceite minha oferenda. Mostre-me Thalia Grace com as caçadoras. ―A imagem tremulou e mostrou uma garota punk com cabelos pretos e olhos azuis elétricos. ―Thalia! ― Eu gritei, parecia que ela não tinha me visto ainda e acabou se assustando.

        ―Annabeth! Deuses Annabeth, você quase me matou de susto. ―Ela disse me fuzilando com os olhos.    

―Estou feliz em vê-la também. ―Disse eu emburrada.

―Me desculpe então ok? ―Ela sorriu, mas seu sorriso se desfez em seguida. ―Aconteceu alguma coisa? Parece que você estava chorando...

Contei tudo a ela, não sei se ela estava com raiva, ódio ou pena, pois sua face era indecifrável. Praguejou em grego antigo por uns cinco minutos e voltou a me encarar.

―Já terminou? ―Perguntei sarcástica.

―Eu vou matá-lo com minhas próprias mãos. ―Ela disse ignorando minha pergunta. ―Se bem que isso não parece nada com o Percy que eu conheço. Ele pode ser lerdo, burro, idiota, mas não traidor. E você não deixou ele se explicar. ―Incrível como ela consegue mudar de ideia tão rápido.     

―Eu não preciso de explicações. Já me decidi Thalia, quero ser uma Caçadora.

―Olha Annabeth, acho melhor você esperar um pouco, esfriar a cabeça antes de tomar uma decisão. ―Ela disse bem mais calma. ―Vamos fazer o seguinte, eu te ligo de novo em uma semana, se você ainda quiser se juntar a Caçada tudo bem, mas ainda é muito cedo para tomar essa decisão.  

―Tudo bem, acho que você tem razão. ―Respondi.

―E não faça nenhuma besteira Chase. ― Disse ela sorrindo.

―Não se preocupe, não vou. ― Mas eu já tinha tomado uma decisão. Iria sair do acampamento.

        Era uma da manhã. Eu estava pronta para deixar o acampamento. Coloquei minhas roupas, néctar e um pouco de ambrosia em uma mochila com mais algumas coisas que achei necessário e saí do chalé silenciosamente com meu boné de invisibilidade. Deixei uma carta explicando tudo para meus irmãos e fui até o chalé de Percy deixar sua carta. Entro com cuidado para não fazer barulho, ele estava tão lindo dormindo e estava babando como sempre. Lembrei-me de quando ele chegou inconsciente ao acampamento e fiquei cuidando dele. Quando ele acordou a primeira coisa que eu disse foi: você baba enquanto dorme. Ri sozinha me lembrando disso, deixei a carta em cima da cômoda e saí.

        Decidi ir à praia um pouco, para pensar. Caminhei alguns metros acompanhando o mar e me sentei em uma rocha lembrando dos bons momentos que tive aqui com Percy. Não sei quanto tempo tinha se passado então decidi que estava na hora de ir.  

        Eu estava passando pela casa grande quando escuto duas vozes que infelizmente conheço muito bem. Percy e Rachel estavam discutindo. Cheguei mais perto e fiquei espiando pela janela.

        ― Olha Percy, me desculpe, por favor. Eu estou realmente arrependida do que fiz, não foi certo usar aquela poção de transformação. ―Ela dizia chorando, parecia desesperada, por um momento fiquei com pena dela. Espera ai Annabeth, ficar com pena da garota que roubou seu namorado? Não, ela não merece isso.

        ―Desculpas não vão trazê-la de volta Rachel! ―Ele gritava e balançava a minha carta na frente dela. ― Eu já li a carta para você, ela não vai voltar. ―O coitado já estava chorando. ― Eu a amo, mas agora a perdi Rachel, para sempre... ― Ele falou isso tão baixo que quase não ouvi.

        ―Eu sinto muito... ―Disse ela e ficou encarando o chão. De repente ela arregalou os olhos.

        Olhei para o mesmo lugar que ela e vi a minha sombra. Como sou estúpida. Eles poderiam ter visto antes, mas estavam ocupados demais discutindo.

        ―Percy... Eu acho que não estamos sozinhos... ― Ele olhou para onde ela olhava e percebeu minha sombra. Comecei a andar para trás, mas tropecei em alguma coisa e foi ai que eu apaguei.

        Acordei e percebi que estava num lugar totalmente branco. A enfermaria. Minha cabeça doía muito. Olhei para o lado e vi Percy segurando minha mão. Quando percebeu que eu estava acordada abriu o maior sorriso que eu já tinha visto.

        ―Annabeth, graças aos deuses você acordou! Como esta se sentindo? ―Ele perguntou preocupado. ―Você dormiu por dois dias. Pensei que não ia mais acordar.

        ―Eu estou bem não se preocupe cabeça de algas. Só uma dor de cabeça. ―Ele sorriu com o apelido e eu tive que sorrir também.

        ―Annie... Olha sobre o que aconteceu...

―Esqueça isso Percy, eu ouvi a conversa de vocês na casa grande, sobre a poção de transformação. Mas como descobriu que não era eu?

―No começo eu não percebi, mas depois eu perguntei que dia era esperando que ela ou você ah, enfim, esperando um presente ou que pelo menos me desejasse feliz aniversário de seis meses, mas ela simplesmente disse: acho que é quinta feira. ― Ele disse essa ultima parte com uma péssima imitação da minha voz e começamos a rir. ― Eu não disse nada sobre isso na hora, pois pensei que tinha esquecido e então ela me beijou.

―Onde ela conseguiu aquela poção? ―Eu perguntei tentando esquecer a cena do beijo.

―Provavelmente com alguém do chalé de Hermes. ― Ele disse sorrindo. ― Naquele dia que você deixou a carta, eu fiquei desesperado, pensei que nunca mais veria você. Procurei você em todos os lugares. ―Ele estava quase chorando. ―Fui conversar com a Rachel porque eu precisava saber o motivo de tudo isso. Ela disse que me amava e que só fez isso por amor, mas percebeu tarde de mais que era um erro. E depois acho que você já sabe. ― Ele disse com um sorriso muito fraco.

―Eu quero pedir desculpas, se eu tivesse deixado você se explicar, nada disso teria acontecido.

―Eu sei disso, e não precisa se desculpar, todos tivemos culpa, mas esta tudo bem agora, não é? ― Eu assenti e ele me beijou.  Foi um beijo calmo, mas cheio de amor e carinho. Tenho que admitir que senti falta de seus beijos. Essa briga serviu para me mostrar o quanto preciso dele e parece que ele precisa de mim também.

―Eu te amo sabidinha. ―Ele disse entre o beijo. Eu sorri e respondi.

―Também te amo cabeça de alga e feliz aniversário atrasado.

―Feliz aniversário para você também...