Não sabiam se a noite já havia caído, pois as muitas nuvens barravam qualquer raio de sol que tentasse passar.

Era um dia particularmente escuro. Desconsolador, medonho e escuro. Parecia que o céu estava de luto, e quem prestasse atenção poderia até ver as milhares de almas recém-assassinadas ziguezaguearem no ar, buscando a entrada do paraíso no tempestuoso céu negro.

Nada de sol, nada de raios, nada de fogo, nada de calor, nada de luz.

No meio do cenário ensanguentado, entre os corpos desmembrados de soldados, havia duas irmãs feridas, sentadas - ou caídas - próximas ao corpo sem vida de um homem de meia-idade, com cabelos grisalhos e a barba malfeitas, e o encarando com tristeza.

A menor encostou a cabeça no ombro da maior, fechando os olhos.

Começava a chover.

Gotas finas e cristalinas pousavam pesadamente no solo e na pele das jovens, encharcando-as.

-- O céu está chorando? - perguntou a vozinha baixa da pequena. A respiração fraca se perdia e suas própias lágrimas se misturavam às lágrimas das nuvens.

-- Está. - respondeu, quase num sussurro, a irmã mais velha. - O céu está triste.

-- Papai também está chorando?

O silencio se estendeu por muito e muito tempo.Ninguém mais falou nada por muito e muito tempo. A respiração da criança parou de uma vez, e o corpo jovem despencou sobre o colo da menina.

Nada de barulhos. Apenas soluços.

Odeio guerras.