A Domadora - Os Prenúncio dos Quatro Elementos escrita por Maria Beatriz


Capítulo 9
Capítulo 8 - A Charada do Oraculo


Notas iniciais do capítulo

Ninguém disse se seria legal ou não mostrar o outro grupo de domadores, mas achei que seria legal escrever o capitulo e acabei fazendo ele bem grande, espero que não tenha ficado cansativo.



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Havia uma grande quantidade de plantas arbustivas, com árvores altas e o solo inundado. Isso vinha devido ao fato de que o escoamento das aguas era lento, isso fazia com que houvesse uma quantidade grande de limo e lama no local, e também dava um ar sombrio para pântano. O sol estava prestes a se por e isto, poderia fazer com que o grupo que caminhava ali se preocupasse, no entanto, aquilo parecia não ser tão importante no momento.

-Maldito! - E com essas palavras, o silencio que permanecia naquele lugar se desfez, graças a dois garotos que pularam de dentro da imensidão de arvores altas, caindo sobre uma quantidade grande de agua. Ambos debatiam-se naquela agua suja.

-Me solta Amelia. - Ele não gritara, havia dito aquelas palavras de maneira calma, o que deixou a garota mais irritada, em seguida a mesma que atendia por Amelia, apertou com mais forças o pulso do garoto contra a terra lamacenta. Estavam em uma parte mais alta do solo úmido do pântano, no entanto, era lama e ambos estavam ainda mais sujos.

Amelia apertou os olhos carmesins e continuou encarar no fundo dos olhos azuis do garoto. Ela deveria ter uns catorze anos, seu rosto estava sujo de lama, mas era possível ver a sua expressão irritada e seu olhar furioso. Seus cabelos castanhos avermelhado eram cortados abaixo de seu queixo, a franja caia-lhe sobre o rosto e isso lhe dava um ar sombrio. Usava um vestido preto de mangas compridas e largas e a saia ficava na altura de seus joelhos, com a bainha das mangas e saia vermelha, igualmente como o cinto largo que usava na cintura.  Calçava botas de couro pretas abaixo de seus joelhos. Era uma domadora, seu youkai tinha a aparência de um gato de pelagem negra e olhos que brilhavam em um tom avermelhado, ao seu redor era possível ver a aura de tom vermelho sangue que exalava, estava descontrolada e com raiva.

-Por que você não se preocupa? Cellesty está ferida e você nem ao menos a ajudou quando caiu do barranco... Ciel, seu maldito!

Ele parecia não se importar com aquilo, mesmo que fosse o único a lado da outra integrante do grupo quando o acidente acontecera, mas mesmo que ele tentasse, não poderia fazer nada a respeito no momento. Tomou impulso e empurrou a garota que estava sobre si, fazendo com que a mesma caísse na água e em seguida levantou-se, dirigindo-se para a mesma imensidão que arvores que viera.

-Não iria fazer diferença... - ainda de costas para ela murmurou em tom baixo e calmo, um tanto que frio? - Se eu tivesse caído junto dela, teríamos dois membros do grupo feridos. - Mexeu levemente os cabelos negros e úmidos, batendo com as mãos a roupa em seguida, em uma tentava inútil de tirar a lama. Deveria ter mais ou menos a mesma idade que a garota, seus cabelos eram repicados e curtos, com a franja que lhe caia sobre os olhos azuis. Usava um casaco negro presos com varias fivelas de couro sobre uma ou duas camadas de blusas, com a gola alta que cobria parte de seu rosto, deixando ainda mais a mostra seus olhos azuis claros. Vestia calças pretas e sapatos marrons. Ele também era um domador.

Ela tem o temperamento forte. - Uma voz feminina e calma tomou conta de seus pensamentos, junto disto, lhe veio em mente à imagem de um lince de pelagem cinzenta e olhos verdes. Aquele era o seu youkai.

Lynx... Eu sei disso. - Respondeu mentalmente ao seu youkai, à Lynx.

Ainda bufando, Amelia levantou-se e fitou o garoto de costas, ora ele nunca se importava, ora ele não fez nada, ora ela ainda estava deveras irritada. Por um breve momento pensou em retrucar o que ele dissera, mas foi interrompida por uma figura masculina e conhecida que chegara ofegante onde estavam.

-Encontramos... - O de cabelos loiros começou ofegante. - Uma das feras... Rezon está a distraindo e eu vim chamar vocês.

Ciel não respondeu nada, apenas suspirou e adentrou as arvores a sua frente, provavelmente seguindo para onde estavam os outros integrantes do grupo.

-Como está Cellesty?

 O loiro se recompôs e tomou a postura certa, em seguida encarando Amelia que agora aparentava estar mais calma. Ele deveria ter uns vinte anos, seus cabelos eram curtos e repicados, divididos para o lado, tinha olhos ambares e expressavam preocupação. Era alto e vestia um casaco branco e comprido, nas barras havia listras pretas, no entanto, devido à lama que fazia parte de todo aquele lugar, seu casaco estava bastante sujo. Sob o casaco branco usava uma blusa de gola alta na cor preta. Vestia calças igualmente pretas como a blusa e calçava botas feitas de couro. Usava também um coldre de ombros, no qual prendia a bainha de suas duas espadas. Ele também era um domador, todos daquele grupo eram domadores.

-Ela está bem, Rezon disse que poderia cura-la. - Amelia amenizou a expressão preocupada de seu rosto. - Mas agora vamos!

A de olhos carmesim assentiu e seguiu correndo na mesma direção que o loiro, adentrando na imensidão de arvores altas. Não havia uma trilha que levasse até o grupo, então era preciso ter cuidado para não esbarrar nos caules das arvores e também, não atolar os pés na lama. Após um ou dois minutos correndo o mais rápido que puderam, finalmente chegaram a uma clareira inundada de agua, nesta estava Ciel lutando com uma espécie de espada “invisível” contra a fera. Havia também, um homem de cabelos negros ali. Suas vestes eram azuis, sendo que usava um casaco azul sobre uma camisa branca e um colete cinza escuro. Usava calças igualmente azuis, calçando botas cinza com fivelas de ferro que ficavam sobre a calça abaixo dos joelhos. Seus cabelos estavam bagunçados e seus olhos negros sob os óculos de armação quadrada e fina, demonstravam preocupação pela outra mulher que estava deitava sobre a raiz de uma das arvores. Ele estava ajoelhado ao lado do corpo desacordado com suas mãos sobre a perna direita da mulher, irradiavam uma aura prateada e ele parecia concentrar-se ao máximo em tentar curar o ferimento da colega.

-Randy! Me de cobertura está bem?  -Amelia encarou o loiro, este apenas assentiu enquanto desembainhava suas espadas e fazia com que uma luz dourada brilhasse em suas mãos, envolvendo as duas espadas que segurava. A aura dourada aos poucos se desfez, envolvendo apenas as mãos do domador, no entanto, as laminas das espadas que antes eram prateadas, agora eram douradas. Seu dom era esse, podia fazer com que qualquer objeto se tornasse de ouro por tempo indeterminado enquanto segurava-o.

Não era preciso pedir cobertura, até porque, havia apenas uma fera ali. No entanto, a outra fera poderia aparecer, não é? A aura vermelha de Ameilia brilhou em suas mãos, fazendo com que duas manoplas vermelhas formassem-se, ela mexeu os dedos como se tivesse as ajustando-as em suas mãos e sorriu vitoriosa. Em seguida, ainda com a aura vermelha exalando de seus punhos, correu na direção de uma das arvores a sua frente, não pensou uma nem duas vezes, apenas socou o chão com força, fazendo com que o tronco da arvore se despendesse do solo, derrubando-a no e caindo em frente dos outros dois integrantes do grupo que não lutavam. O tronco da arvore havia formado uma espécie de barreira em frente a eles, o que não deixaria a fera passar e não interromperia o homem que tentava curar a outra integrante do grupo.

Ciel elevou ao máximo o poder de seu youkai, fazendo com que o ar cortante de sua espada invisível ficasse mais afiado. E aquele era o seu poder, unia a quantidade necessária de ar ao redor e o transformava em um objeto invisível, seja ele cortante ou não, seja ele arremessável ou não. Diferente de Amelia, que concentrava todas as forças de seu corpo em seus punhos ou em qualquer outra parte que quisesse. Ciel tomou impulso e correu na direção da fera, o animal deveria ter uns dois metros de altura, talvez mais, mas ele não se importou e tentou golpear o pescoço do animal, este por sua vez desviou, mas sua presa ainda era o garoto.

Com as espadas douradas em mãos, Randy correu na direção da fera e golpeou lhe as costas, cravando a lamina das duas espadas e as retirando rapidamente, ainda dando tempo para que caísse de pé no chão.  Ciel entendeu a ideia do colega, sendo assim, novamente correu em direção à fera e tentou acertar um de seus braços, já que não conseguira acertar sua cabeça. Por sorte, ou por agilidade e velocidade, conseguiu arrancar fora o braço do animal, fazendo com que o mesmo rugisse de dor e o sangue azul respingasse em todos, talvez até mesmo os outros dois que estavam mais afastados acabaram sujando-se devido a isto.

-Merda... Eles me deixaram de fora, de novo...! - Amelia resmungou ao ver que ficara de fora, no entanto, para sua alegria - ou não - viu entre as arvores um animal com cerca de quase três metros de altura, sua pelagem era em um tom azul, seu corpo era de um ogro e o rosto de um felino, era bem maior do que o outro animal que estava ali. A segunda fera deveria ter vindo atrás da outra e agora estava ali, encarando-a.

Vendo que Randy e Ciel estavam quase acabando com o outro animal - este por sua vez já havia perdido os dois braços e uma perna -, Amelia correu na direção do ouro animal, com os pulsos cerrados e a luz avermelhada brilhando ao redor. Aos poucos a imagem do gato negro de olhos vermelhos formou-se ao seu redor, pulou sobre o a raiz de uma das arvores, em seguida subiu sobre outra raiz, tomando impulso e pulando em direção à fera. Acertou o peitoral do animal com um soco, o que fez om que a fera caísse sobre uma quantidade grande de terra mais afastada de onde ela estava.

O animal ficara imóvel, talvez estivesse desacordado. Amelia suspirou e tentou caminhar em direção à fera, embora, sentiu seus pés começarem a afundar na lama, em poucos segundos suas canelas já estavam atoladas na terra. Era sem sombra de duvidas, areia movediça. Céus, no que estava pensando, não deveria ter se afastado dos outros. Naquele momento, sentiu raiva de si própria por tamanha à burrice que fizera e ao mesmo tempo, lamentou-se por estar naquela situação. Quando deu por si, já havia afundado até a cintura e a fera começara e levantar-se.

-Randy! - Gritou chamando o loiro, no entanto, não obteve respostas. - Ciel...

-

Havia arrancado a cabeça da fera, aos poucos o que sobrara havia se tornado pó. Ciel desfez a luz azul marinho que brilhava em suas mãos, fazendo com que sua espada também se desfizesse. Entretanto, sua atenção foi tomada pelo grito de Amelia, rapidamente fitou Randy que colocava duas espadas na bainha novamente e aparentemente não ouvira o mesmo que ele.

-Rezon... - Murmurou para o homem que ajudava a outra integrante do grupo. Esta, por sua vez, colocou o braço sobre ombro do homem de cabelos negros ao seu lado. Tinham quase a mesma altura, o que facilitara ao caminhar, mesmo que a mulher estivesse mancando. - Você ouviu isso?

-Amelia gritando? - deveriam ser uma resposta, mas acabaram saindo como uma pergunta preocupada. O que fez com que a mulher que o usava para se apoiar, encarasse os dois com seus olhos castanhos escuros, demonstrava estar preocupada e espantada ao mesmo tempo. Seus cabelos eram castanhos e longos, bastantes lisos, sua pele era morena e os olhos eram levemente repuxados. Usava um espartilho de couro marrom quase negro, sobre uma blusa branca de mangas largas, vestia calças pretas e apertadas em suas pernas, calçava botas de couro marrom que ficavam sobre a calça abaixo do joelho, também usava luvas de couro negras. - Cellesty, você consegue caminhar sozinha?

- Acho que consigo. - De fato, ela havia resvalado e caído de um barranco, o que resultou em ficar desacordada por alguns minutos e a perna direita quebrada. No entanto, Rezon havia a curado, mesmo que ainda doesse um pouco, mas logo iria passar. Então, sim, ela podia caminhar sozinha. Desfez o meio “abraço” que fizera para se apoiar e tentou ficar de pé, com cuidado se equilibrou com os dois pés no chão, em seguida deu dois passos, mesmo que ainda duvidosa de não conseguir ficar em pé sem ajudada. - É, consigo sim... - Deu mais alguns passos desajeitados em direção a Ciel.

-Randy, cuide de nossas coisas e fiquem aqui. - Ele encarou o loiro e Cellesty, em seguida fitou o de olhos azuis. - Ciel e eu vamos procurar Amelia.

Rezon pegou a bainha de sua espada que estava sobre a raiz de uma das arvores e a prendeu em seu cinto, se fosse à outra hora, provavelmente iria brigar consigo mesmo por ter sido tai descuidado e ter deixado sua espada jogada sobre a raiz de uma arvores, embora, agora não poderia se preocupar com aquilo. Em seguida, revirou uma das mochilas que se encontrava ali e pegou três adagas pequenas que havia dentro de uma delas, prendo-as junto da bainha de sua espada no cinto que usava.

-Vamos? - Encarou Ciel, por fim, correram na direção das arvores sumindo da visão dos outros dois que se encontravam ali.

-

Já havia afundado o suficiente para não poder mexer nenhum membro de seu corpo, a fera havia levantado e caminhava na sua direção. Seria esse seu fim? Morta pela areia movediça ou desmembrada e comida por uma fera? Por algum motivo, preferia a primeira opção...

Fechou seus olhos e prendeu a respiração, mesmo que ainda estivesse com uma das mãos para fora da areia, não iria ajudar muito naquela situação. Ainda de olhos fechados sentiu a areia começas a subir em seu rosto, ou, melhor dizendo, sentiu seu corpo afundar o suficiente para seu rosto começar a afundar.

E então, sentiu sua mão ser puxada com força para fora da areia, aos poucos desafundando seu rosto e seu corpo. Ainda receosa Amelia abriu os olhos e fitou Rezon que puxava seu braço, não demorou muito e sentiu o outro braço ser desafundado da areia, o mesmo sendo segurado por Rezon e aos poucos, saia por completo da areia movediça.

Pelos deuses, estava à salva!

Por fim, foi puxada completamente da areia, o que resultou em desequilibrar-se e cair com o rosto afundado na lama, Rezon por impulso afastou-se da garota que em seguida levantou o rosto sujo de lama.

Bufou e levantou-se, limpou o rosto sujo de lama e talvez, um pouco de musgo também. Depois, fitou Rezon que a encarava com a expressão divertida.

-Desculpe... Mas a sua expressão, parece até que irá matar alguém a qualquer momento... - Ele suspirou a tapou a boca para não rir.

-Eu poderia ter morrido.  Você me ajuda e ainda por cima ri do que aconteceu?! - Bateu na saia de seu vestido com raiva, estava completamente suja.

Você deveria ter trazido uma muda de roupa extra... - Ouviu a voz masculina de seu youkai ecoar em sua mente.

 É eu sei Wana...

-Voce veio sozinho? - Amelia olhou ao redor a procura da fera, mas ela não estava ali?

Rezon olhou sobre o ombro da garota antes de falar, fitando as arvores que estavam atrás dela.

-Ciel veio comigo... - ele voltou a fitar a garota. - Mas acho que ele levou a fera para outro lugar...

Amelia olhou para o céu por um instante, o sol já estava se pondo quase por completo, o que significava que o aquele lugar logo se tornaria uma completa penumbra e isto poderia ser perigoso para todos. Não pensou mais nenhuma ou duas vezes, correu na direção onde havia alguns galhos de arvores quebrado, aquele lugar provavelmente a fera havia passado, por sorte seria o mesmo para onde Ciel a levara.

Rezon revirou os olhos e seguiu a garota correndo. Ela era realmente louca.

Correram por pouco tempo, poderia ter sido mais rápido se não tivesse tantas arvores e limo ao redor, se não tivesse tanta lama e raízes, se não tivesse pedras e partes inundadas... O céu havia se tornado completamente negro, a temperatura já havia caído e logo, provavelmente, iria nevar. Finalmente pararam de correr, estavam em uma clareira completamente inundada e também, finalmente havia encontrado o garoto.

Ciel por sua vez estava ajoelhado no chão, que deveria ter agua até uns vinte centímetros acima dele.  O garoto estava ofegante e com as costas arcadas fitando a agua a sua frente. Estava completamente exausto e o animal que estava sem um dos braços aproximava-se dele.

Rezon pegou uma de suas adagas e a jogou certeiramente no olho da fera que apenas rugiu de dor e o sangue azul começou a escorrer. O mais velho iria preparar-se para jogar outra, mas foi interrompido.

-Arranque... a cabeça...! - Ciel disse em voz alta e ao terminar a frase, caiu por completo no chão afundando o rosto na agua, havia caído de bruços, desmaiado.

A de olhos carmesim, que até então não fizera nada ao chegar, correu na direção do garoto desacordado e virou-o para cima, ajoelhou-se ao seu lado e segurou seu tronco. Em seguida para que não ficasse com o rosto afundado na agua levantou seu rosto e colocou-o no colo. Enquanto isso, Rezon fitava as coisas confuso, Ciel dissera para ele que deveria arrancar a cabeça no animal, certo? Mas e se não desse certo?

Rezon desembainhou sua espada e correu até a fera, esta por sua fez já regenerava o braço que fora arrancado. Tomou impulsou e pulou, acertando o pescoço do animal, fora certeiro e arrancara a cabeça.

Caiu no chão de pé, com as costas flexionadas para baixo devido à pressão que tomara ao chegar ao chão, lentamente virou-se na direção da fera enquanto ficava com as costas eretas.

O resto do corto do animal pendia para frente, iria cair sobre Amelia e Ciel, se não tivesse se transformando em pó, aos poucos a imagem dos dois colegas parados atrás do animal começou a se formar, enquanto a fera transformava-se no pó brilhante como sempre.

Ainda confuso - e um pouco desesperado - Rezon ajeitou seus óculos, que por sorte não caíram devido ao que fizera antes e fitou aquilo com os olhos negros arregalados.

-Ela não deveria... - Disse ainda sem acreditar no que vira, de um lado, o pó brilhante que a fera se transformava, era até uma cena bonita. Mas não conseguia acreditar que havia sido assim, tão fácil mata-la, ela não deveria ter morrido somente com a cabeça decapitada.

Amelia piscou duas vezes e fitou um Rezon atônico.

-Deu certo? - Ela arregalou os olhos carmesins.

-Acho que sim. - Ele ainda parecia não acreditar que matara a fera somente com um golpe, aquilo era praticamente considerado impossível. Mas de um lado, mais fácil, pois desmembra-las era perigoso e, furar seus olhos era difícil.

-O que vamos fazer agora?

-Acho que devemos voltar... - Caminhou até Amelia e levantou o corpo desacordado de Ciel, o garoto era magro e não tão alto, então, colocou-o sobre seus ombros e seguiu caminhando na mesma direção que vieram, sendo seguido por Amelia.

E agora ainda precisavam achar o oraculo.

-

Já havia anoitecido, o lugar tornara-se praticamente uma completa penumbra, era iluminado somente pela luz da lua, que por sua vez, estava cheia. O grupo havia matado as duas feras, o que significava que seu trabalho estava quase cumprido.

-A gente tá andando em circulo... - Resmungou Randy, enquanto quebrava o silencio.

Ninguém respondeu, Amelia continuou a caminhar ao lado de Cellesty, que apenas deu de ombros. Ciel estava com um dos braços apoiados nos ombros de Rezon, estava cansado e machucado, - praticamente desacordado no momento -, mas havia se recusado a ser curado pelo colega.

-Serio... Alguém sabe onde fica o templo? - Novamente o loiro resmungou indignado, enquanto atolava um de seus pés na lama, rapidamente resmungou alguma coisa e desatolou o pé, voltando a caminhar junto com o grupo que quase o deixara para trás.

Rezon parou de caminhar o que fez com que todos que o seguiam fizessem o mesmo.

-Você tem razão... - Rezon ponderou antes de responder - Não sabemos onde fica o templo.

-O Conselho é tão preocupado conosco que nem se deu o trabalho de nos mandar um mapa... - o loiro voltou a reclamar, enquanto caminhava em direção a uma rocha coberta por espécies de plantas trepadeiras. - Eles poderiam ter dito pelo menos onde ficava o local. Um ponto de referencia também seria bom... - Ele provavelmente iria completar a frase, mas ao encostar as costas na pedra, perdeu o equilíbrio e acabou por cair, sendo que não era uma pedra e as plantas não eram trepadeiras, serviam apenas para tapar a entrada para uma espécie de caverna, ou buraco, não poderiam ter certeza, pois o loiro caiu e sumiu completamente da visão dos outros integrantes do grupo.

Todos encaram a cena, atônicos.

-Você viu? - Amelia apontou para as plantas que se mexiam voltando para o lugar, ela abaixou a mão, mas permaneceu com os olhos carmesins estralados.

-Deve ser uma passagem secreta. - Cellesty aproximou-se de onde Randy deveria estar antes. Passou suas mãos nas plantas, parecia analisa-las e por um breve momento fechou os olhos, abrindo-os novamente em seguida. - Eu acho que o templo deve estar próximo - ela olhou na direção dos três - Bem... Acho que vou indo também! - E por fim, pulou para dentro do buraco que havia ali, sumindo completamente da visão dos outros três integrantes que sobraram do grupo.

Rezon deu um passo para frente, enquanto apoiava Ciel em seus ombros.

-Você não vai... - Amelia iria completar a frase, mas foi interrompida.

Rezon deu uma breve analisada onde Cellesty pulara, em seguida retirou seus óculos e os guardou no bolço interno de seu casaco.

-É um buraco, deve levar para outro lugar do pântano... - Ele arrancou algumas plantas que serviam para tampar a passagem. - E tem razão, não vou pular. - Ela se sentiu aliviada por um instante com o que ele dissera. - Você vai pular. E deve levar Ciel com você. - Rezon largou o garoto e ajeitou sua mochila, então pulou para dentro da passagem, assim como Cellesty fizera antes.

Amelia rapidamente segurou Ciel que estava cambaleando, fitou o céu rapidamente, como se implorasse para os deuses que aquele trabalho terminasse logo. Tentou ver melhor o que havia naquele buraco, mas estava completamente escuro, então, não era nem possível ver a profundidade, ou, se tinha uma.

Sacudiu os ombros de Ciel que aparentava estar dormindo, o mesmo logo abriu os olhos azuis e encarou-a espantado.

-Não me solte. - Ela o envolveu em seus braços e fez com que sua aura vermelha cingisse-os* completamente - havia concentrado toda a sua força nos mesmos -, em seguida pularam.

-

Resvalou.

Caiu.

E sentiu a terra bater com força em seu corpo. Havia caído em uma espécie de túnel subterrâneo, não sabia onde aquilo iria terminar e nem poderia, pois estava tudo escuro de mais. Podia sentir apenas bater nas paredes do túnel e em algumas raízes que havia ali, enquanto deslizava com velocidade na terra.

Para onde estava indo? Quando terminaria aquele túnel? Não poderia responder, embora, não demorou muito para que pudesse avistar um pouco de luz naquele lugar, o que significava que estava perto da saída.

Novamente caiu. Desta vez, resvalou novamente e parou somente ao sentir suas costas chocar-se em algo feito de pedra. Ainda zonzo Randy resmungou, praguejou e levantou-se com o corpo dolorido enquanto arrumava a bolça que carregava seus pertences - por sorte não havia a perdido quando caíra. Não havia paredes ao deu redor, nem deveria, pois estava na rua e o céu mostrava uma visão privilegiada da lua.

Virou lentamente de costas para onde viera, fitando a viga feita de pedra que batera. Sim, era uma viga e ao lado dela, pode ver vários degraus. Finalmente encontrara o templo. Caminho para outro lado, afastando-se um pouco para poder analisar melhor o templo. Tinha exatamente dez degraus, os quais levavam para uma espécie de área e mais duas vigas que ficavam ao lado da enorme porta que levava para dentro do templo que ficava ligado as montanhas atrás do mesmo.

E era de fato, uma visão bonita. Mas sua atenção foi tomada pelo barulho de alguém se aproximando, na verdade, o barulho vinha de dentro do túnel que o levara até ali, então, provavelmente os outros estavam vindo também.

Não demorou muito e pode ver Cellesty cair no mesmo lugar que ele, no entanto, não caíra de modo tão desajeita quando ele. Randy pensou em dizer algo, mas foi interrompido pelo outro integrante do grupo que chegara logo após da mulher, caindo desajeitadamente perto dela, antes que a mesma levantasse.

Randy aproximou-se dos dois e estendeu as mãos para que segurassem, em seguida, ajudando-os a se levantar.

-Obrigada. - Cellesty bateu em sua roupa, em uma tentativa não muito eficaz de tentar tirar um pouco da sujeira, também pode perceber que com a queda, acabara rascando a manga de sua blusa.

-Onde está Amelia e Ciel? - Indagou o loiro.

-Já devem estar vindo. - E no exato momento em que Rezon terminara sua frase, Amelia e Ciel chegaram, sendo que a garota o segurava e em seus braços exalavam sua aura vermelha.

Amelia levantou-se rapidamente sem muita dificuldade, enquanto Ciel ainda parecia zonzo e tentava inutilmente se levantar.

-Cara, você comeu alguma planta desconhecida por aqui? - Fora um comentário totalmente desnecessário, o que fez com que todos dessem de ombros e Randy não obteve respostas.

Rezon ajudou Ciel a levantar-se, em seguida o mesmo voltou a apoiar-se em seus ombros.

-Não comi planta nenhuma... - Como sempre, Ciel falara com sua típica calmaria fria, enquanto passavam caminhando por Randy. - Mas aquela fera era diferente.

O mais velho do grupo parou de caminhar enquanto Ciel permanecia com o braço apoiado em seu ombro. Rezon pegou os óculos que guardara dentro de seu casaco, colocou-os e fitou o templo.

-Acho que finalmente encontramos - ele encarou Randy serio. - Pelo menos, a sua estupidez foi útil.

-Você me magoou profundamente com isso. - Fingiu-se aborrecido.

-Acho que deveríamos entrar, não é? - Questionou Amelia.

Ninguém respondeu, apenas assentiram enquanto aproximavam-se das escadas feitas de pedra, subiram os degraus sem pressa, pois estavam cansados e aliviados em saber que finalmente havia encontrado o templo, ao menos, era isso que parecia. Não demorou muito e alcançaram a enorme área. O teto era alto e ninguém ousou tentar acertar quantos metros de altura deveria ter. A frente deles havia uma enorme porta, no entanto não era possível ver o que havia dentro, já que estava tudo escuro, uma completa penumbra, muito mais do que na rua.

Eles pararam de caminhar, por um momento admiraram mais um pouco os detalhes ricamente feitos e que aparentavam ter muitos anos de idade.

-Quem vai entrar? - Perguntou Randy, recebendo apenas o silencio em resposta. - Está bem... Eu entro. - Não chegou nem ao menos a protestar e entrou na enorme porta, sendo seguido pelos outros quatro.

Cautelosamente adentraram dentro do templo, não era possível ver muitas coisas dentro, pois estava escuro, Mas com muito, muito pouco da luz que entrava, era possível ter uma ideia de como eram as coisas dentro dele.

Varias tochas que estavam espalhadas pelas vigas começaram a acender-se, o que assustou o grupo e os fez ponderar em sair dali, mas permaneceram imóveis enquanto as tochas acendiam-se rapidamente, de uma maneira inexplicável.

Agora com o templo totalmente iluminado, era possível ver sua arquitetura. No centro do enorme salão - que não aparentava ser tão grande visto de fora - havia uma espécie de poço, mas que de perto era possível ver que estava seco. As paredes eram feitas de pedra, mas tinham uma cor de areia, quase branco. Com vários pilares espalhados nas paredes, sendo que entre eles haviam corredores estreitos e mal iluminados. Ao centro do salão, o chão era mais baixo de forma arredondada, sendo que para acessar esta parte era preciso descer dois degraus, dentro da parte mais baixa haviam quatro pilares colocados em cada lado de circulo.

Encarando o fundo do posso, havia uma mulher de longos cabelos negros, os quais ficavam uns cinco palmos abaixo de sua cintura. Ela era alta e vestia um longo vestido negro que cobria seus pés e arrastava a parte de trás no chão, apenas com um cinto preso em sua cintura e aparentemente, havia apenas uma alça larga em seu ombro esquerdo. A estranha mulher, estava de costas para o grupo, com os braços apoiados na beira do muro baixo que cercava o poço seco, seu tronco estava inclinado como se estivesse vendo algo importante dentro do buraco vazio.

-Já imaginava que chegariam aqui... - Era uma voz calma e melodiosa, mas tinha uma leve pitada de seriedade e amor a si própria, sendo que isso a deixava sombria.

-Nós viemos de... - Rezon deu um passo à frente, iria começar a explicar tudo o que fizeram e que foram mandados fazer, mas foi interrompido:

-Vocês vieram de Temesia.  - Ela virou-se na direção do grupo, agora era possível ver seu rosto de pele branca, pálida demais e seus olhos cobertos por uma faixa de pano cinza, seus lábios esboçavam uma expressão desafiadora. - Querem uma joia sagrada, não é?

-Sim. - Respondeu Rezon ainda receoso.

-Ao menos sabem o que é uma joia sagrada? Sabe o quanto elas são poderosas? - Ninguém respondeu, permaneceram em silencio. - O silencio de vocês significa que não. Uma joia sagrada é capaz de fazer uma pessoa viajar entre os três mundos, com elas é possível ter passagem livre de ida e vinda, sem precisar se deslocar para um portal. Existem varias delas e todas me pertencem, pois ninguém foi digno o suficiente de receber uma. - Ela esboçou um sorriso desafiador. - E vocês, são dignos? Ou melhor, aquele que vai usa-la é digno?

A joia não era para eles, pois apenas foram mandados ir busca-la. Então, eram realmente “dignos”?

Novamente, ninguém respondeu.

-Vejo que vocês têm duvidas sobre isso... - Ela caminhou elegantemente em direção ao grupo, parando de frente para eles a alguns passos de distancia. - Vocês passaram por coisas complicadas ate chegar aqui, não é? - ela virou seu rosto lentamente na direção de Cellesty e Amelia, o que fez com que as duas gelassem por dentro. - Você caiu de um barranco e se machucou, mas por sorte seu companheiro de grupo a curou, não é? - Cellesty não respondeu. - E você, caiu na areia movediça e quase foi morta por uma fera, tudo isso por pura imprudência. Pequena tola. - Amelia apenas encarou o oraculo, se fosse outra pessoa, com toda a certeza tinha uma resposta curta e grossa na ponta da língua. - A areia movediça é uma das coisas mais interessantes aqui no meu pântano. - Ela voltou sua atenção ao loiro, virando seu rosto e caminhando na direção do mesmo. - Você é um completo idiota, atrapalha seu grupo em certos momentos, mas é útil e encontrou meu templo. - Ela encarou Rezon e Ciel. - Você, é o mais velho do grupo, tenta ser o mais responsável e se sente culpado quando alguém se fere, mas mesmo assim, em certos momentos ainda poderá falhar, assim como já aconteceu. Não é?  E você... - Ela virou seu rosto na direção de Ciel. - É extremamente teimoso e cabeça-dura, recusou-se a receber ajuda e ainda por cima, sempre mantem a mente mais fria do que a neve. - Ela do ouvido do garoto e sussurrou: - Seu coração é mais gelado do que sua mente.

Após o oraculo terminar de dizer suas palavras que, de uma maneira estranhamente assustadora, havia adivinhado e montado um pequeno perfil de cada um deles. Voltou a falar:

-Devem estar se perguntando por que se de tudo isso, não é? Digamos que sou uma irmã rejeitada das anciãs. - Ela parecia não se importar com aquele fato. - E então, já sabem se são dignos?

Ninguém respondeu, parecia ter perdido todas as palavras.

-Novamente ninguém sabe? Então vou responder por vocês mesmos. - Ela pegou uma moeda - que se sabe lá de onde tirou - e a jogou no ar, pegando-a novamente e encarado qual lado ficara para cima. - Deu cara, bem sortudos vocês. Se tivesse dado coroa, não seriam dignos de ouvir a minha charada. Estão prontos? - Ela fingiu-se animada.

-Diga... - Ciel se pronunciou pela primeira vez em um murmúrio baixo.

- Certas pessoas tentam não magoar as outras, pelo simples motivo de que não querem ser magoadas; Isso acontece frequentemente, assim como diversas outras coisas que as pessoas evitam fazer e dizer; Para você, estes atos podem ser simplificados em apenas uma palavra? - E como antes, disse em tom desafiador.

Novamente, ficaram em silencio. Qual era a reposta? Como simplificar tantas coisas em uma palavra?

-Não sabem? - Fez-se um silencio perturbador.

Passaram-se alguns minutos, embora, aparentassem serem horas intermináveis, todos estavam tensos. Era impossível responde! Como simplificar?

-Vão ou não responder? - O oraculo levantou as mãos, de maneira que puderam ouvir o barulho de passos se aproximando, aos poucos entre as sombras dos pilares começaram a se formar espécies de guerreiros feitos de uma sombra negra, com a armadura preta, mas seus rostos eram apenas sombras.

E se não respondessem, o fim deles seria como o daqueles que recusaram algo que o oraculo os oferecera, tinham que responder o mais rápido possível.

-Medo... - Ciel sibilou e levantou o rosto, encarando o oraculo com a expressão calma de sempre por fim, o que aumentou ou diminuiu a tensão do grupo, pois não sabiam o que poderia acontecer. - As pessoas deixam de fazer certas coisas por medo, algumas tendem a não magoar as outras por medo de serem magoadas, assim como evitamos fazer e dizer certas coisas, pelo simples fato de que temos medos das consequências.

Os guerreiros de sombra sumiram desafazendo-se em sombras e então, o oraculo bateu palmas. Sim, aquela estranha mulher aplaudiu o que o garoto dissera.

-Parabéns meu caro! - Ela parou de bater palmas e desfez o sorriso que se formara em seu rosto. - Você é bem corajoso, mas ainda sente medo como todos nós. Sabia que é o primeiro em muito tempo que consegue acertar a resposta de minha charada?

Ciel deu de ombros, mas ainda recebia olhares atônicos dos colegas devido a sua resposta.

-Acho que vocês realmente merecem... - Em suas mãos uma formou-se uma esfera de sombras negras que aos poucos tomou a forma de um colar. O cordão era feito de ouro e tinha um pingente de rubi, com a armação feita igualmente de ouro. Era sem duvidas, uma peça valiosa e ricamente feita, com detalhes delicados e antigos. - Sei que vocês não vão usar isso. - Ela entregou a joia e Rezon, que guardou com cuidado no bolço de seu casaco.

-Queria um dia poder conhecer quem vai usar essa joia - o oraculo voltou a falar. - Digam a ela que deve imaginar o lugar onde ela quer estar no outro mundo, seja ele qual for. E se alguém estiver com ela, diga para eles ficarem o mais próximo possível dela quando forem ir. - Pela primeira vez a mulher fora amigável com o grupo. - E agora, podem ir. A presença de vocês não me é útil.


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Notas finais do capítulo

Eu nem deveria ter postado, mais ta ai né