A Domadora - Os Prenúncio dos Quatro Elementos escrita por Maria Beatriz


Capítulo 14
Capítulo 13 - Escarlate


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por comentar o último capítulo Just Targaryen!


Eu aumentei esse capitulo, então acho que seria uma boa ideia vocês re-lerem ele, certo? Ou, então procurar onde haviam parado antes.



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Desta vez não sentira a mesma sensação enjoada que antes, nem mesmo meus olhos arderam devido à luz branca que nos envolvera. Mas estava um pouco zonza e a sensação de estar mais fraca, apenas isso. Mas acho que se deve a outro fato que aconteceu enquanto estávamos na Luz...

Pisquei algumas vezes, estávamos em uma cidade. Isso era impossível negar, pois havia varias casas e ruas. Olhei ao redor rapidamente procura do grupo, eles estavam próximos de mim. Denzel e os gêmeos estavam bem, acho que talvez, melhores do que eu. Fallen estava um pouco mais afastada, com as costas escoradas na parede do beco, ela estava com uma expressão de quem iria vomitar.

Yoru aproximou-se dela, que apenas fitava o chão.

-Você está bem? - perguntou.

-Parece que irei vomitar a qualquer momento... - Fallen coçou os cabelos enquanto levantava o olhar e observava Yoru. Ela respirou fundo e tentou retomar a postura.

Retirei o colar e o coloquei novamente no bolço de minha calça, dei as costas e olhei o que havia ao meu redor.  O sol estava se pondo, o que deixava o céu com a típica pigmentação alaranjada. Também pude sentir uma brisa leve e fria percorrer o lugar onde estávamos, dei alguns passos aproximando-se da saída do beco mal iluminado. No chão, algumas partes da rua estavam cobertas por uma fina camada de areia perto do cordão, sobre a pavimentação de pedra. Não, não era um deserto, disso eu poderia ter certeza... Dei alguns passos e sai do beco, fitando a rua erma que se estendia para direita e esquerda, terminado apenas em uma enorme casa de cores escuras... Pisquei duas vezes enquanto virava meu rosto para a direita, apertei meus olhos e tentei visualizar o símbolo gravado na porta daquele casarão.

 Uma estrela de oito pontas...?!

Sim, era definitivamente isso, uma estrela de oito pontas inclusa em um círculo. Conheço aquele símbolo... Tentei ignorar isso e olhei na minha direção esquerda, a rua se estendia por mais alguns metros, talvez umas oito ou dez casas, não sei exatamente. Mas no final, era possível ver as ondas do mar e o sol se pondo atrás dele, sem contar, o cheiro que vinha devido ao vento. Estávamos em uma cidade localizada perto de uma praia. Permaneci alguns instantes parada, apenas vislumbrando o sol se pôr por completo e ouvindo o som das ondas se chocando, era uma visão bonita até. E as coisas poderiam estar bem mais simples, se não fosse o fato de que, estávamos na cidade na qual havia alquimistas.

Respirei fundo e virei de costas, voltando para onde os outros estavam. Mas fui interrompida e acho que ninguém teve tempo de avisar-me... Senti apenas ser arremessada contra o chão, minhas costas bateram com brutalidade contra as pedras e pude sentir que o corte, que havia em meu torso, acabara abrindo, pois senti o sangue quente manchar mais as minhas roupas. Tomei impulso e empurrei com força o ser que pulara de cima do telhado, e, aliás, havia caído em cima de mim. Ele levantou-se rapidamente, mas antes que completasse tal movimento, Denzel segurou a gola das costas do casaco que usava e o puxou com força, deixando-o ainda mais distante de mim.

Antes de levantar, passei a mão no local onde levara a facada, eu acertara ao pensar que estava sangrando. Pude sentir os olhares assustados sobre mim, devido a isto, embora apenas ignorasse. Com um pouco de dificuldade fiquei de pé, mesmo que meu corpo estivesse ainda mais dolorido.

-Quem é você?! - Denzel indagou o garoto que saltara de cima de uma das casas.

Não, ele não era exatamente um garoto, deveria ser um pouco mais velho que Fallen e tinha quase a mesma altura que Denzel. Tinha cabelos ruivos escarlates, eram lisos e em um comprimento abaixo de seu queixo e repicados. Seus olhos eram em um tom de castanho escuro, quase negros e sua pele era clara. Vestia um casaco comprido de cor marrom, sobre uma camisa branca. Carregava uma bolsa de couro ocre, com a alça transpassada para o lado e usava calças pretas e botas marrons, também usava óculos.

-Não interessa... - Ele retrucou enquanto virava a cara e encarava um canto qualquer.

Esse garoto pode ser o elemento fogo.                                                                       

Arcano? Por que não falou mais nada?

Não achei que seria útil... - Nem vou responder...

Respirei fundo, espero que Arcano esteja certo. Se bem, que ele estava antes. Todavia, as coisas pareciam fáceis demais... Isso significa que ainda vai acontecer algo mais complicado e definitivamente, espero estar errada sobre isso.

-Solte-o, Denzel. - Falei calmamente.

Denzel obedeceu, mesmo que ainda protestante.

O garoto iria preparar-se para correr, mas antes disso, aproximei-me dele rapidamente e em um movimento rápido e brusco, segurei a gola de sua caminha e o empurrei contra a parede. Com o punho cerrado em direção ao seu rosto, encarei seus olhos castanhos e escuros.

-Quem é você? - Repeti a pergunta de Denzel, talvez um pouco mais grossa do que ele...

Eu deveria estar com uma expressão demoníaca. Pois ele me encarou com os olhos arregalados, contudo, logo em seguida voltou à expressão normal.

-Já disse que não interessa.

Apertei com mais força a gola de sua camisa e o puxei, empurrando-o novamente em seguida, com mais força do que antes, fazendo que resmungasse algo. Ah, ele iria responder sim...

-Eu perguntei, qual é o seu nome. - Falei enquanto cerrava meus dentes e meus punhos, sem contar, que aquilo não fora uma pergunta, mas sim, uma afirmação.

-Ben... - Ele começou hesitante. - Benjamin.

Arqueei uma sobrancelha, ainda estava faltante algo.

-Benjamin Break. - Ele parecia ter desistido.

-E então... - Abaixei meu punho, mas permaneci segurando a sua camisa. - O que estava fazendo? - Falei com a voz mais calma.

-Eu estava fugindo... - Ele virou o rosto na direção da saída do beco, fiz o mesmo que ele. -Daquilo...

Parado em frente à saída do beco, havia uma fera. Não era tão grande quanto à outra que eu vira na floresta, não deveria chegar nem a dois metros de altura. Bufei, era tudo que precisávamos... uma fera...  Encarando-nos... Não, ela encarava Benjamin. Soltei a gola de sua camisa, vendo que o mesmo não tentara fugir. Respirei fundo, eu precisava mata-la. Tentei juntar todas as forças de meu corpo e concentrar-me, eu estava fraca, havia perdido sangue e não havia nem ao menos tratado daquilo, mas teria de me esforçar agora, eu precisava. Caminhei em direção à fera, que por sua vez apenas encarava Benjamin de longe, com seus olhos negros e estranhamente infernais. Parei de frente para ela, a alguns passos de distancia, todavia, o animal parecia não ter nem ao menos notado minha presença.

Mas ainda lembro-me do que Rezon dissera.

Fiz com que uma luz azulada brilhasse em minhas mãos, era minha aura e eu iria usar os poderes de Arcano. Aos poucos a luz tomou a forma de minha espada de gelo, apertei com força seu punho e levantei sua lamina branca. Novamente respirei fundo, ainda estava receosa.

E então corri até a fera.

Em um golpe rápido saltei na direção da fera e arranquei sua cabeça, caindo de pé a alguns passos de distancia e no meio da rua. Ainda de costas e com as mesmas arcadas, pude reparar que no movimento rápido que eu fizera, minha capa acabara caindo sobre meu rosto e tapando parte do mesmo. Tomei a postura correta enquanto desfazia minha espada e virei de costas ainda ofegante, fitando apenas o corpo da fera que se tornava pó.

Havia dado certo.

E eu, ficara ainda mais cansada. Embora, ouvi o barulho de palmas, fiquei confusa e fitei os cinco que me encaravam do beco, mas acho que eles estavam mais ambíguos do que eu.  Rolei meus olhos fitei o lado da rua, que havia o casarão, era de lá que o barulho de palmas vinha.

E para a nossa “sorte”, a rua não estava tão desértica quanto parecia.

Havia um grupo de três pessoas se aproximando, sendo que eram dois homens e uma mulher. Um deles caminhava na frente, ele batia palmas e sorria sarcasticamente. Era tudo que precisávamos.

-Bravo! - Ele diminuiu o ritmo das palmas e por fim parou, enquanto aproximavam-se de onde eu estava. Também pude reparar que usavam casacos negros com o símbolo da estrela de oito pontas bordado em branco do lado esquerdo de seu peito. Embora, ele usava o casaco comprido e fechado, o que deixava apenas a mostra a calça preta que usava e os sapatos da mesma cor. Seus cabelos eram loiros escuros, levemente avermelhados e tinha olhos verdes. - Fazia um bom tempo desde a última vez que vi um domador.

Eles pararam de caminhar a alguns metros de distancia, nesse momento pude reparar que o outro homem, que caminhava mais afastado, segurava a coleira que estava presa a corrente de um cachorro. Mas não era qualquer tipo de cachorro... Tinha três cabeças e os pelos eram castanhos, quase negros e com uma leve pigmentação carmesim. O Cérbero estava em silencio e permanecia apenas encarando-nos. O homem que segurava sua coleira deveria ter mais ou menos a altura do que o outro, talvez um pouco mais baixo. Embora, tivesse os ombros mais largos e aparentava ser mais forte, enquanto outro era alto e esguio. Ele vestia o casaco comprido de maneira desleixada e estava com o fecho aberto, deixando a mostra a camisa e calça que usava. Seus cabelos negros tinham um corte baixo e bem curto, embora, não pude ver seus olhos da distancia onde eu estava.

-Digo o mesmo, alquimista. - Respondi, com uma leve ironia em minhas palavras.

-Vejo que soube reconhecer quem nós somos! - Ele deu um passo à frente, ficando mais perto de mim e afastado do grupo. - E também, que encontrou o elemento fogo.

Parece que você acertou mais uma vez.

E parece que eles sabem demais...

E no exato momento que os outros se aproximaram, o cachorro pregou os olhos em Benjamin. Começando a latir loucamente, com as três as cabeças fazendo um barulho deveras assustador e um tanto que, insano? Aquilo era assustador... Ele babava e latia, embora, não aparentasse ter raiva, apenas parecia querer pular no pescoço de Benjamin. Aquele animal era assustador! E também, era bem raro. Ele latia de maneira ameaçadora enquanto o homem que segurava sua coleira forçava-se para manter-se no mesmo lugar, tentando pregar na pavimentação de pedra os próprios sapatos para que não fosse arrastado. E Benjamin... Bem, ele parecera ter ficado assustado ao perceber que o Cérbero ficara daquele jeito ao vê-lo.

Mas havia um problema...

Eles sabiam do elemento. E provavelmente, da profecia. E eu tinha que saber como.

-A historia da profecia dos quatro elementos se espalhou rapidamente em todos os mundos. Acho que a Trevas soube disso antes do que a Luz - Ele parecia estar lendo meus pensamentos e aquilo me deixara ligeiramente incomodada -. Nossos sacerdotes previram isto também, na verdade, previram que você chegaria. E que essas outras crianças,... - ele mexeu a cabeça e olhou na direção onde estavam os garotos, mas permaneci a encara-lo. -... Viriam juntos.

Ele fitou-me novamente, contudo, rolou os olhos e olhou sobre os ombros na direção do outro homem, que ainda segurava o cão que latia loucamente. 

-Aran! - Ele chamou o outro homem, recebendo apenas um olhar rápido em resposta. - Poderia fazer esse animal parar de latir?! Isto está começando a ficar irritante... - Ralhou e depois voltou sua atenção a mim. Enquanto o cão silenciava-se com um gemido de dor, embora, não me importei em ver o que havia feito. - Muito prazer, meu nome é Raynê Saron. E você, é...?

-Não precisa saber o meu nome. - Por algum motivo, isso foi como um deja vu, pois Benjamin fizera o mesmo antes, embora, quem falara agora fora eu.

Ele suspirou demonstrando uma falsa desistência.

-Está bem. - Ele girou os calcanhares e fitou Benjamin de longe. - Mas o garoto fogo deve vir conosco, não é? - Acho que aquela fora uma tentativa praticamente inútil de ser gentil.

-Eu também estava fugindo deles... - Vi Benjamin cochichar, embora tivesse desviado o olhar para outro lado, como se tentasse disfarçar um pensamento que fora alto demais.

-Desculpe, não ouvi o que você disse! - Raynê disse, aumentando o tom de voz na direção de Benjamin.

 -Er... - Ele ponderou antes de articular algo, talvez estivesse pensando no que dizer. Mas acabou por apenas entreabrir a boca, preparando-se para falar e desistindo ao final.

-Vamos, Raynê! Isso é perda de tempo! - A mulher que até então permanecera calada, finalmente manifestou-se enquanto aproximava-se de Raynê e gesticulava as mãos. Ela tinha a mesma altura que eu, embora, suas botas não tivessem salto e as minhas tivesse um salto baixo. Tinha cabelos castanhos escuros, eram presos em varias tranças nagôs* e o que deveria ficar solto estava preso em uma cola. Ela tinha pele morena e olhos negros, talvez fossem mais claros, contudo, devido à escuridão que se tornara a rua de noite, não pude ter certeza. Também usava brincos grandes de argolas, acho que deveriam ser douradas, mas não pude ter certeza. Vestia o mesmo casaco comprido e preto, também estava aberto e por baixo ela usava um top e calças de cor preta.

-Espere Isra. Nós apenas estamos conversando, não é? - Ele encarou-me e a outra mulher pareceu não ficar muito confortável com aquilo.

-Não tenho nada para falar. - Respondi seca mais uma vez. Já estou começando e desejar voltar para Temesia logo...

Sai de onde estava e caminhei em direção ao grupo, entretanto, senti meu pulso ser segurado com uma ligeira força, impedindo-me de seguir. Bufei, praguejei, amaldiçoei-o e parei de caminhar no mesmo instante, o que ele queria afinal?! Não o conheço e não tenho nada a ver com ele.

-Me solta. - Falei cerrando os dentes e preparando-me para materializar minha espada novamente.

-Está bem. - Ele soltou meu braço e segui caminhando em direção ao grupo. - Mas o garoto fogo vem conosco, não é? - Novamente ele tentara fingir uma simpatia forçada, sorrindo de maneira parecia estar insistindo em ser o mais convincente possível. O que de certa forma, estava começando a me irritar.

-Ele está conosco! - Aumentei meu tom de voz, apenas por estar um tanto que longe deles e encarei Raynê brevemente sobre meus ombros.

-Isso mesmo! Eu tô... Com eles! E sô esse tal elemento da profecia - Benjamin disse atrapalhado, embora, parecia estar um tanto que, receoso? Enfim... Acho que ele estava era na verdade com medo.

-Eles não são boa coisa. - Sussurrei ao parar de frente para Denzel.

-Percebi isso. - Respondeu no mesmo tom de voz baixo, para que não nos escutassem.

Virei de costas para Denzel e encarei Raynê.

-Se ele está com vocês... Então acho que é melhor irmos! - Ele acenou e saiu caminhando, os outros dois fizeram o mesmo, levando o Cérbero junto. Fiquei apenas encarando-os com meus olhos semicerrados, seguindo-os até sumirem completamente do meu campo de visão.

-Muito obrigado, mas acho que tenho que ir agora. - Benjamin falou rapidamente e deu alguns passos à frente, já se preparando para fugir. Todavia, não podia o deixar ir, e se fosse realmente o elemento fogo? Iria sumir e teríamos que passar mais um longo tempo atrás dele, novamente... Procurando o inserto, mesmo que até agora, não parecera ser demasiado impossível.

Rapidamente aproximei-me de Benjamin, ficando de frente para ele e encarando-o seriamente.

-Você disse que estava conosco. - Ele olhou-me e não conseguiu fingir ter ignorado, tentando passar caminhando reto, mas impedi-o novamente colocando a mão em seu peito e empurrando-o, ligeiramente. - Deve explicações sobre essa história de ter sido chamado de “garoto fogo”.

Ele respirou fundo, novamente demonstrou desistência.

-Está bem... Acho que realmente devo explicações. - Fechou os olhos por um breve momento, voltando a abri-los em seguida. - Mas antes, deveríamos ir para outro lugar. Eles não vão desistir facilmente... Nunca desistem. - Entendi a quem ele se referia e assenti, deixando-o passar e seguindo-o por fim.

Saímos do beco que estávamos e dobramos a esquerda, indo na direção da praia. Talvez eu não reparasse antes, mas a rua estava deserta, o que é realmente estranho. Pois não aparenta ser uma cidade abandonada, ou algo do tipo, ainda mais por ser o lugar onde se encontrava a sede dos alquimistas.

-Por que esse lugar parece abandonado? - Yume disse em voz alta, talvez estivesse esperando uma reposta de quem pensasse primeiro, mas eu estava preocupada demais com a mesma pergunta que ele.

-Por causa da fera. - Benjamin respondeu, embora, permaneceu a olhar para frente.

-Então, eles basicamente mandaram as pessoas não saírem de dentro das casas, apenas por causa de uma fera? - Denzel perguntou constatando o obvio e dando ênfase no “uma”.

-Sim.

-Mas ela não parecia ser um grande perigo. Existem algumas bem maiores, que podem causar bem mais estragos. - Comentei. A que vimos na floresta, por exemplo, era pior do que essa. E acredito que, as que o grupo de Rezon matou, deveria ser ainda mais hostis, pois apenas ao julgar o estado que estavam...

-Para você não... Mas eles devem esconder alguma coisa. - Benjamin disse enquanto finalmente alcançávamos a praia.

De onde estávamos, era possível ver as ondas ao longe, movimentando-se com agressividade e chocando-se com força novamente ao mar. Era uma visão até, bonita ainda mais por ser noite, mas se não fosse por um “porem”... Não gosto de praia. Senti minhas botas atolarem na areia, conforme íamos caminhando e ela tornava-se ainda mais molhada. Bufei.

Reparei que Denzel notara a minha expressão e dera um risinho de canto.

-O que foi? - Perguntei.

-Você não gosta de praia, não é?

-Está tão na cara? - Deveria ter soado como uma afirmação, não como pergunta.

-Sim.

Considerei aquilo como assunto encerrado e, continuei a seguir Benjamin. Também pude ver, que um pouco distante de onde estávamos, havia uma espécie de deposito abandonado. Era feito de madeira e tinha um telhado meia água, e acho que, devido ao lugar onde se localizava, parecia ter uma estrutura bem velha e corroída. Um local abandonado, provavelmente.

Não demorou muito para que nos aproximássemos dele, Bajamin parou de frente a porta e retirou a trava de madeira, logo em seguida abrindo-o - acho que não seria preciso ressaltar muito, que aquele lugar estava ligeiramente escuro.

 Paramos de caminhar, mas ninguém se manifestou para entrar.

-Não se preocupe, o lugar está abandonado e antes ele era um deposito para pescadores. E não vou sequestrar ninguém, se é isso que querem saber. - Articulou Benjamin.

-Mas esse lugar, ele não fede a peixe? - Yoru torceu o nariz fazendo uma careta, imagino no que ela pensara...

-Não, eles só guardavam as ferramentas. - Ele entrou sem pensar muito, logo em seguida pude ver uma luz ser acesa dentro do local, ele deveria ter ligado um lampião.

Suspirei, ninguém se mexera para entrar e não que eu esteja confiando demais em um estranho, mas o que Arcano falara... Fiquei intrigada e precisava saber quem ele era - se bem, que não sou lá um exemplo de não confiar em estranhos.

Entrei dentro do depósito abandonado, sendo seguida pelo grupo, logo finalmente todos estavam lá dentro. Benjamin trancou a porta, impedindo do vendo e areia da praia entrarem. Embora, as janelas feitas igualmente de madeira, batiam-se, mesmo que fechadas. Por dentro o lugar não era lá o mais organizado que já vira. Havia uma mesa ao fundo sob uma toalha, também havia uma cama desarrumada e encostada na parede do lado esquerdo. Enquanto no lado direito depósito, havia um banco vazio feito de ferro. O soalho era de madeira e conforme alguém se mexia, fazia com que o mesmo rangesse. Era um lugar bem bagunçado, principalmente pelas varias coisas espalhadas e colocadas de maneira desorganizada.

-Sentem-se - disse Benjamin. - Ou melhor, façam o que quiser, logo vou ir embora deste lugar mesmo. - Ele retirou a bolça que usava e a colocou em cima da mesa, logo em seguida retirando mais algumas coisas de dentro da mesma e desviando toda atenção para elas.

Fallen sentou na cama, com as costas arqueadas e as mãos colocadas sobre os joelhos, ela já deveria estar começando a irritar-se com as correntes em suas mãos, que até então eu quase esquecera. Yume e Yoru a seguiram, e sentaram ao seu lado, sendo assim, sobrara apenas o banco, que por sinal, Denzel já se sentara. Respirei fundo, não estava com cabeça para sentar e ficar parada.

-Então, Ben, que história é essa de “garoto fogo”? - Indaguei, cruzando meus braços.

-Hã... - Ele pareceu confuso, logo em seguida sentou sobre a mesa, colocando os óculos sobre a testa e impedindo que os fios cabelos caírem sobre seus olhos. - Eles cismaram sobre aquela tal profecia e achavam que eu era o tal garoto fogo ou elemento fogo... Não sei direito.

Ele não sabia mentir.

-E não é? - Arqueei uma sobrancelha.

-Er... Bem. - Ele parecia tentar encontrar as palavras certas para dizer. - Desde que eu cheguei aqui, nessa cidade, o tal de “Raynê” e o grupo dele junto daquele cachorro dos infernos, vive atrás de mim. Admito que motivos não faltassem, eu roubei, arrumei brigas e outras coisas, mas eles eram os únicos que estavam sempre no meu pé. Os outros alquimistas nem se importaram tanto com a minha chegada à cidade, apenas eles...

-E em que cidade nós estamos? -interrompi.

-No Porto de Freedom.

-E de onde você veio? - Perguntei.

-Por que quer saber?

-Apenas diga.

-Garden. E você? - Ele deveria estar brincando comigo, só pode.

 -Argos, fica na cidade de Temesia, Terra.

-E por que veio?

-Eu que estou fazendo as perguntas. - Falei séria e ele silenciou-se. - E então, você é ou não o elemento fogo? - Voltei a perguntar.

Benjamin ponderou antes de falar, piscou algumas vezes fitando as estruturas de madeira que ficavam no teto.

-Acho que... Sim. - Ele terminou a frase em um suspiro longo, como se fosse algo errado a dizer.

-Então prove. - Ok, acho que agora eu acabara falando como ele.

-Como?! - Indignou-se. - Quer que eu coloque fogo onde estamos? - Ironizou.

Ele se entregou. - Já estava começando a repara na falta dos comentários de Arcano.

Olhei ao redor, colocar fogo no local onde estávamos não era demasiada uma ideia inteligente e muito menos, aconselhável. Olhei para Yume, ele estava sentado ao lado de Yoru e ambos estavam em silencio, talvez apenas torcendo para que não se metessem na ideia de provar o que Benjamin afirmara. Denzel estava fitando-me com uma expressão de “Você parece uma louca!”, realmente, tentei ignorar. E Fallen, ainda permanecia com as mãos acorrentadas...

-Derreta as correntes que estão presas nos pulsos dela. - Apontei para Fallen, que me olhou com os olhos azuis arregalados.

-O que?! - Benjamin e Fallen falaram ao mesmo tempo, ambos deveriam ter ficado incomodados.

-Foi o que vocês ouviram. - Falei, por algum motivo, eu deveria ter rido da expressão que eles fizeram, mas permaneci séria. - Benjamin, derreta as correntes que prendem uma algema a outra.

-Mas e se ele realmente for esse tal elemento? E se eu me queimar por cauda disso?

-Não se preocupe Fallen, ele não vai fazer isso. - Encarei Benjamin. - Não é?

Ele assentiu e resmungou algo que não me importei em ouvir, logo em seguida aproximou-se de Fallen. O que fez com que ela o encarasse com os olhos azuis, parecia querer corta-lo apenas com olhar, sendo que eu não sairia ilesa se ela fizesse isso.

-Poderia pelo menos ficar de pé? - Por algum motivo, tenho a impressão que os dois serão problemas juntos.

Ela bufou, levantando-se logo em seguida, nesse momento pude reparar que Fallen não era tão alta, sendo que de pé ela deveria ficar na altura dos ombros de Benjamin, talvez um pouco menos. Ele encarou-a, embora não pude identificar qual expressão fizera, apenas vi que Fallen estendera os braços, com os cotovelos levemente dobrados. Isso fez com que os dois ficassem um pouco mais distantes que antes. Ele levou até as mãos até as correntes, fitando-as concentrado, enquanto as mesmas ficavam com uma pigmentação avermelhada, ou seja, a típica pigmentação de ferro quente. Logo começou a sair fumaça entre as suas mãos, o que fez com que Fallen fizesse uma expressão assustada, mas logo voltou ao normal, juntamente com o cheiro de ferro queimado. Benjamim permaneceu a segurando-as com as duas mãos fechadas, sendo que uma estava sobre as correntes e outra sob, logo em seguida o ferro começou a voltar para a coloração normal e a fumaça cessara. Pude ver de longe que algumas gotas de suor escorriam da testa de Benjamin, ele parecia ter se esforçado demais, o que significa que se é realmente elemento fogo, não deve ter total controle ainda. Ele soltou as correntes que prendiam as mãos de Fallen, logo as mesmas estavam divididas, sendo que as pontas estavam ligeiramente tortas e com a aparência de terem sido derretidas. E realmente foram, era impossível negar.

Parece que você anda com sorte.

Nem tanto. Lembra-se do deserto de Leoni?

-Obrigada. - Fallen encarou o outro lado do depósito abandonado, então, não pude ter certeza qual fora a sua expressão.

Tateei meu bolço a procura do colar, desta vez não errei o bolço e nem precisei me preocupar e achar o que não perdi. Com cuidado puxei o cordão de ouro e retirei o colar de meu bolço.

-Nós vamos ter que ir agora? - Yoru perguntou, pude ver que ela ficara ligeiramente desanimada em ir, como se quisesse ficar mais um pouco, como se aquilo tudo que havíamos passado fosse diversão.

-Nem todos precisam ir, não vou obrigar ninguém. - Rolei meus olhos e fitei todos eles, fixando Benjamin por ultimo. - Não é? - Abri o fecho do colar e o coloquei, sentindo uma mão pousar em meu ombro.

-Tem certeza? E se ele não vir? - Denzel falou baixo, apenas para que eu escutasse.

-Ele virá.

Fechei meus olhos, eu deveria imaginar para onde eu queria ir, certo? Então, preciso ir para Temesia. Senti que a mesma luz branca que nos envolvera nas outras vezes, bem, ela voltara.

Estávamos finalmente voltando.

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Notas finais do capítulo

E ajudem na campanha: Vamos chegar aos 30 Reviews e ajude garantir novos capítulos!
A imagem ao final fui em quem editei e criei, é tipo um banner, sei lá, mas da um papel de parede legal lol
Duvidas? Criticas? Elogios? Manifestem-se! O que acharam do Ben? O nome dele foi inspirado em uma banda que eu sou fã e.e
Lembrando que: acho que no próximo capítulo teremos um desenho! Mas não vou dizer de quem, tentem acertar se quiser u.u



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