Eu e Mitsuki saímos, fomos ao shopping, vimos um filme de comédia romântica que pareceu agradar mais ao Mitsuki do que a mim, comemos sorvete e depois voltamos, conversamos, rimos, senti que estávamos mais próximos... E isso era realmente muito bom.

Ao chegar ao templo, meu único lar, notei o quanto vazio estava... Meus adorados espíritos descansavam nos fundos, era uma noite agradável, mas... Solitária... Ninguém visitava o templo já havia tempos... Ninguém precisava de minha ajuda... E isso me deixava fraca... Meus poderes não eram necessários e ia perdendo ás forças... Já ouvi histórias de que deuses foram esquecidos e bem, seus finais não fora muito felizes...

Entrei no templo e Mitsuki exausto pelo dia já estava no quinto sono, Tomoe... Não o havia visto desde que chegará...

Entrei no meu quarto e tirei o casaco, era frio, o inverno por mais que estivesse prestes a terminar fazia frio, olhei pela janela e o céu estava pintado num laranja, abrindo-se num leque de tons de vermelho e laranja, uma bela vista... Dirigi-me ao banheiro, despi-me com um pouco de dor nos ombros.

Droga... Os sinais de que estou enfraquecendo...

Liguei o chuveiro e deixei que a água quente descer por minhas costas, arrepiei-me com o contato de minha pele fria com a água quente, minhas costas ficaram vermelhas com o contato da água quente, e onde quer que a água passava deixava-me vermelha... Ser branca desse jeito da nisso...

Fiquei ali divagando sobre minha desilusão amorosa, no quanto os filmes de comédia romântica fazem parecer tão fácil...

Respirando o ar umedecido me deixei levar, deixando a água varrer as dores... Minha única esperança era que eu pudesse pelo menos ter sucesso... Ajudando outros a desfrutar melhor o triunfo que é um amor correspondido e vivido.

Ouvi de longe passos, mas não era na madeira do templo e sim no cascalho do lado de fora, como assim?

Estou confusa. O vento soprou,mas parecia mais uma brisa não um vento frio de inverno, e então eu senti.

Alguém veio visitar o templo.

Desliguei rapidamente o chuveiro, cambaleante devido ao meu corpo molhado enrolei-me numa toalha e corri para o canto de orações numa das laterais do templo.

Senti cada parte do meu corpo se regozijar e fortalecer-se, aquele desanimo e preguiça sumiram, alguém acreditava, tinha esperanças em mim, senti cada árvore, cada planta, cada parte do templo sair de seu breu e brilhar, tudo ganhara vida novamente, inclusive... Esperanças que eu mantinha escondidas.

Sentei-me numas almofadas que tinham no canto de orações, do lado de fora era diferente do lado de dentro, no lado de dentro era um lugar para a deusa ficar enquanto seus seguidores faziam suas preces, era um lugar onde ninguém entrava a não ser que a deusa permitisse,no lado de fora havia almofadas em baixos e longos bancos de bambu, uma mandala estava presa no topo do teto de proteção contra a chuva, tinha velas para ser acesas como oferendas, assim era dividido.

Estava ainda toda molhada, e apenas de toalha, mas ninguém estaria ali para me incomodar, uma vela fora acesa, depois outra, e depois outra, era um rapaz, eu sentia sua presença, seu coração estava tão aflito quanto o meu... Não conseguia vê-lo, mas sentia sua presença.

Todo o meu corpo estava relaxado e sadio, como nunca estivera antes... Entendo a força daqueles deuses que nuca são esquecidos...

Deus do amor... Bem por mais que eu... Não tenha plena fé em você... Não tenho a mais quem recorrer... Me ajude... Oque é um coração aflito... Sabe oque é? Que pergunta boba a minha... Um deus não sofre... Ainda mais o deus do amor... Desilusão... Traição... Dor... Conhece este sentimento? Já o sentiu? Sabe... Não o desejo nem mesmo para o meu maior inimigo... Tem sido insuportável para mim... Ver aquela que amo... Com alguém que pensava ser meu amigo... Deus, minha namorada... Ela me traiu durante praticamente 3 meses de um namoro que teve 7 meses... Pensei que poderíamos ter um amor mais duradouro mas não... Meu melhor amigo... Ou melhor um que pensei ser... Era seu “amante”....

Tem sido extremamente difícil seguir em frente... Acho que a amava até de mais... E isso é estranho, nunca me apegara tanto a alguém e quando finalmente acho que me encaixo em algo na realidade estou mais deslocado do que nunca estive... Queria que reconquista-la mas... Ela se foi, fugiu com o novo amante... É dezoito anos é uma idade em que mais se perde as pessoas amadas...

Deus do amor, suplico a você que me ajude a viver sem ela, que me ajude a concertar este coração quebrado que por mais que tenha sofrido... Que continuar a amar... Deus eu te faço esta prece, e espero que tenha me ouvido... Essa foi minha esperança... E deixo-a contigo... Espero que minhas oferendas sejam de seu agrado.

Ouvi o som do buque de flores caírem em cima do chão, algo tão suave mas eu ouvi, ele jogou alguns yiens .

Sua oferenda foi aceita, me senti mais forte do que nunca, eu nunca rejeitaria uma suplica dessa...

“Oque é um coração aflito... Sabe oque é? Que pergunta boba a minha... Um deus não sofre... Ainda mais o deus do amor... Desilusão... Traição... Dor... Conhece este sentimento? Já o sentiu?” Suas palavras ribombavam em minha mente... Sim sei oque é... Sim um deus sofre... Mais do que você imagina... Conheço-os muito bem... Ah meu querido... Não tens ideia do quanto um deus pode sentir...

Sabe eu despertei alguns poderes como surgir em qualquer lugar mas não muito longe da onde me encontrava, conseguia exorcizar sem problemas e estava mais forte sabia oque fazer, oque falar, era como se uma verdadeira deusa se apossasse do meu corpo.

Fechei os olhos e quando os abri estava sentada numa das almofadas ao lado do rapaz... Ele tinha os olhos dum azul cobalto magnifico, tinha cabelos negros um tanto bagunçados, a pele branca, tão branca quanto a neve, seu rosto seria perfeito se não fosse por uma cicatriz que embaçava seu rosto, do canto do olho esquerdo até o queixo, uma fina linha se alastrava por seu rosto, mas ainda sim isso não o deixava de ser um belo rapaz, vestia blusão preto, jeans gastos, e estava sem seus sapatos.

Ele me viu e assustou-se com minha presença.

–Olá.- disse sorrindo para ele, reparei que eu vestia jeans e uma blusa de mangas cumpridas vermelhas e felpuda, meus cabelos estavam presos.

–Quem é você?- perguntou atônito.

–Que pergunta rude, que tal ser mais educado com uma dama ?- indaguei, nestes momentos eu não controlava direito minhas ações elas simplesmente fluíam naturalmente.

–D-desculpe, não foi minha intenção, e-eu só fiquei surpreso com sua presença.- gaguejou com um pequeno rubor na face.

Sorri gentil e peguei o buque de flores que ele havia trazido.

–Bela oferenda. - disse cheirando o doce cheiro das flores.

Ele assentiu e voltei a falar.

– Sabe a tempos que este lugar não é visitado... - digo um tanto triste, uma brisa açoita-nos e fecho os olhos sentindo cada partícula fluir ao meu redor, um aroma de cerejas era notável.

– Mas ele tem sido bem cuidado. - observou o rapaz olhando ao redor.

–Com certeza tem. – sorri e olhei-o nos olhos.

–Sabe... Apenas aqueles com o coração aflito procuram abrigo nos braços da deusa... Seu coração esta aflito?- pergunto olhando no fundo de seus olhos azuis cobalto. Ele ruborizou com meu contato visual, ele fechou os olhos, olhou para o céu e suspirou, mas nada respondeu.

–Oras não deixe uma dama esperando respostas, é falta de educação. – repreendi-o, ele suspirou e desculpou-se.

– Não te conheço... Não falarei sobre um assunto com um estranho.- disse se levantando, mas apressei-me e segurei sua blusa ele olhou para trás, olhei-o e vendo que não sairia convidei-o a sentar-se novamente.

–Rapazinho, seja paciente, respostas não são coisas dadas a toa.

–Não estou entendendo nada. – indagou.

–Calma rapaz, não seja apreçado. – ele suspirou e encarou-me.

Sorri gentilmente e encostei em seu braço, ele ficou rígido, mas levemente apertei seu braço e uma onda de calor envolveu-nos, ele estava um tanto assustado mas não se desfez de meu toque, de seu braço arrastei minha mão e parei em seu peito, senti seus batimentos cardíacos, e novamente a mesma onda de calor invadiu-nos, seu coração batia descompassadamente.

– Um coração... Uma alma... Um ato... Uma maldição... A tristeza prevalece, mas esperança não morre nem mata... Um calor falta... Um buraco se abriu e a garota fugiu... Roubaram seu orgulho... Seu amor... Por mais doido que seja... Por mais difícil que seja... Acalmar este seu coração- pressionei mais forte minha mão em seu peito e ele arfou. – Seu coração ainda quer amar... Não se preocupe querido, a ajuda virá, mas isso apenas se você aceitar... Um coração partido é difícil de consertar, mas com uma benção menos dolorido será, por que alguém na sua vida o ajudara... E quem sabe seja alguém que você nunca pensou poder se apaixonar.

Tirei a mão de seu peito, ele ainda estava um tanto perturbado, mas senti que estava aquecido e reconfortado.

–Quem é você?- indagou o rapaz.

– Ah isso não importa.- sorri terna para ele e novamente uma brisa soprou, mais gelada mas com o mesmo odor de cerejas, a primavera estava por vir, ele olhou para a saída do templo e então fechei os olhos, e quando os abri estava no telhado do templo vi aquele rapaz novamente procurando por mim lá em baixo. Ele suspirou passou a mão pelo rosto.

Obrigada por meu ouvir... Deusa.

Deu ênfase no feminino de “Deus”, ele não é bobo... Sorri e balancei as mãos no vento, a mandala fazia um doce som com o vento a balança-la.

O rapaz se retirou, e só então percebi que... Queria que ele ficasse mais tempo... Uma saudade imensa penetrou meu coração quando o perdi de vista, ou era o sono se fazendo presente ou se era realmente saudade...

Respirei fundo e percebi o quanto eu sou vulnerável... É corações quebrados são facilmente enganados, e sensíveis... A qualquer sentimento.

Respirei fundo e quando olhei para o lado Tomoe estava sentado ao meu lado com uma xícara de chá em mãos.

Estendeu-me uma das xícaras que aceitei.

–Vejo que tem melhorado Nanami.- disse olhando a lua que se postava na noite estrelada.

–Obrigada.- disse bebericando o chá, um doce gosto de maçãs e canela beijaram meu paladar, meu favorito.

Observei-o com o canto dos olhos, os cabelos cumpridos presos num rabo de cavalo baixo, o kimono branco com detalhes em azul cobalto, que me fizeram lembrar do rapaz de cabelos negros, aqueles lindos olhos cobaltos... Hipnotizantes, não sei como não vacilei estando tão próxima.

Tomoe também era deslumbrante, os olhos de um roxo exótico, olhos que carregavam uma grande mágoa de um passado um tanto perturbador... As mangas dobradas até os cotovelos, um cinto dourado prendia a cintura o seu kimono, ele estava tão belo esta noite... No inverno... Era quando ele mais ficava fechado, quando ele usava suas vestes mais bonitas e tudo isso para honrar... Uma garota a qual amou... E talvez ainda ame... Queria poder ler sua mente... Mas eu podia ler suas emoções... Mas apenas com um toque... Não arriscaria me chamaria de louca.

– Vamos Nanami, já esta tarde amanha temos muito a fazer... O festival de recomeço está por vir, precisamos ensaiar. - disse simplesmente e pulou deixando-me sozinha no telhado.

Só senti que estava chorando quando as lágrimas salgadas tocaram-me os lábios, fechei os olhos e quando abri-os estava em meu quarto, desatei a chorar... Eu não queria deixar de amar também... Mas era difícil esquecer algo que nunca nem ao menos começara.

Me sentia vazia... Precisava que o mesmo fosse preenchido, queria amor, algo que nunca experimentei, precisava ter alguém para amar e ser correspondida... Não me importaria se fosse um Yokai, não me importava se fosse humano, nem ao menos se este humano tivesse olhos azuis cobalto...

Meus prantos molhavam meu rosto e travesseiro, mas ao pensar no rapaz de antes... Uma chama acendeu em meu coração, o mesmo calor que sentira no momento em que encostara em seu braço, sentia neste momento, minhas lágrimas foram cessando com o tempo e então descobri que a única maneira de livrar-me da dor deste amor sofrido era amar um outro alguém.

E assim cai num sono profundo.

Acho que azul cobalto é minha cor favorita agora...

Autora POV’S

Uma fina chuva caia no breu da noite, sem cessar, a chuva ia caindo sobre o chão fundindo-se com o orvalho da grama, o doce cheiro de dama da noite (a flor) era presente no ar.

Um rapaz caminhava sobre a fina chuva que ia formando um fino véu sobre ele, os cabelos já úmidos, os olhos de um profundo azul focavam o céu chuvoso, não tinha frio. A mão pousava sobre o peito, onde o calor havia permanecido confortando-o num momento de aflição.

Aquela garota o intrigara, tão gentil e segura, aparecera misteriosamente, sumira misteriosamente, sumiu num piscar de olhos... Quem era? A veria de novo? Perguntava a si mesmo, o rapaz continuava sua solitária caminhada, seguindo seu rumo ao nada.

Queria vê-la de novo... Aquele belo sorriso, aqueles olhos grandes e o vermelho de suas vestes caiam tão bem na garota...

Quem era ela?

Ele pensou em voltar para procura-la, mas... Estava cansado, mas no dia seguinte voltaria lá...

Um sentimento tão puro. Realmente corações partidos são mais facilmente influenciados por pequenas oportunidades... Por coisas um tanto minuciosas... Mas mesmo assim é de pequenas coisas que se vem as grandes... Quem sabe...

A deusa possa amar... O rapaz com a cicatriz recuperar-se... E quem sabe no fim... A chuva passe e um recomeço esteja a vir.