Virei-me lentamente e deparei-me com um alto menino de cabelos vermelhos. Sua roupa pouco parecida com as dos outros alunos chamava a atenção: Jaqueta de couro preto, como as de roqueiro sobre a sua blusa combinando com o cabelo. Sabia que o conhecia, mas simplesmente não lembrava quem era. Vendo minha confusão, o moço exclamou:

– Não se lembra de mim? Seu melhor amigo? – deu uma risada ao terminar a frase. Percebendo que nada passava pela minha mente, fez uma cara mal-humorada e novamente a frase “Alerta Vermelho” passou pela minha mente. – Castiel, o aluno mais bagunceiro do ensino fundamental. – Disse por fim, revirando os olhos.

Devo ter feito uma cara muito assustada, porque ele riu. Rosa ficou do meu lado observando toda a cena, talvez mais confusa que eu. Tentei falar qualquer coisa, mas só conseguia pensar em duas perguntas: Como o Castiel, o menino que mais me infernizava durante os meus quatro terríveis anos do ensino fundamental, estava bem à minha frente, na Sweet Amoris? E como ele estava tão mudado? Bonito, eu diria.

Rosalya me cutucou, fazendo-me voltar à realidade. Castiel estava caminhando na direção oposta, já se afastando.

– O que houve aqui? – Rosa me perguntou, com uma expressão muito curiosa.

– Eu... Estudei com... Ele. – Disse olhando o vazio, tentando organizar as lembranças. – Castiel detestava a todos, mas parecia ser diferente comigo. Ele era pior, mas não fazia isso para os outros rirem. Ele só gostava de me irritar... É tudo que me lembro.

O sinal tocou, creio que estavam testando-o. Virei para Rosa e disse que voltaria para meu quarto, sem comer nada. Ela apenas concordou com a cabeça e continuou seu caminho para a cantina.

*****

Primeiro dia de aula, tecnicamente. Levantei já sentindo o peso da rotina cair sobre meus olhos. Fiz minha higiene matinal e parei em frente ao armário.

– Quantas roupas! – Suspirei. – Não tenho mais minhas combinações de sempre.

– Se quiser minha ajuda é só pedir, bobinha. – Rosa sorriu ao meu lado, já tirando uma calça e uma blusa, ambas muito bonitas e jogando em cima da cama. Pegou meus antigos tênis amarelos, um dos únicos que não foram embora junto com meus pais, e colocou no pé da cama. – Pronto, uma roupa perfeita para arrasar corações.

“Como ela consegue fazer isso?” foi tudo que consegui pensar. Me vesti e saí junto com minha melhor amiga para o pátio. Ele estava repleto de alunos, todos bem vestidos e arrumados, assim como em todos os primeiros dias de aula. Pude ver os gêmeos Thomson se enturmando com um grupo de pessoas, mais adiante vi Leigh e Lysandre sentados num banco, conversando. Só então meu olhar parou em Nath, que me encarava com um sorriso discreto. Ele viria até mim, se não fosse uma mãozinha cheia de anéis e pulseiras pousar em seu ombro. Assim que ele virou na direção da mão, o rosto de Ambre apareceu, com a expressão desdenhosa de sempre. Suspirei e fiz uma careta.

– Que cara é essa? Está com ciúmes da amiguinha do Nathaniel? – Rosa riu.

– Antes fosse. Aquela é a irmã dele, sempre me perseguiu e me detestou. O motivo? Não existe. Ninguém merece aquela criatura.

– Nem se estresse, se eu ver essa menina implicando contigo, o cabelo dela mudará de loiro para vermelho sangue.

Nem pude rir, porque só de falar em cabelo vermelho sangue, Castiel surgiu no meu campo de visão. Me olhou com seus olhos escuros e sorriu exibidamente, passando para os corredores dos clubes logo em seguida.

– Aquele menino te irrita mesmo, hein? – Comentou Rosalya.

– Shiemi! – Nathaniel exclamou, com uma expressão surpresa e confusa – Você viu aquele garoto? Eu... Eu me lembro dele. É o...

– Castiel. – Dissemos juntos. Ele me olhou com certa raiva. Castiel e Nath, o representante da turma e o encrenqueiro. Nunca se deram bem.

– Não posso acreditar, mudo pra cá achando que tudo ia ser mil maravilhas e vejo esse... Esse... – Não conseguiu completar a frase, apenas suspirou com força.

– Calma, moço! – Rosa disse, contendo a risada. Realmente, era um pouco engraçado ver Nath tentar xingar alguém. – Shiemi me contou das peripécias do vermelhinho, mas agora ele já tem 16 anos, creio que não incomodará vocês.

– É, você deve ter razão. – Nath se acalmava. – Mas se ele vier me provocar ou provocar a Shiemi...

*****

Estava no clube de jardinagem, tentando ao máximo prestar atenção ao que a professora dizia. Infelizmente meus pensamentos vagavam pra qualquer lugar longe, diferindo de Nath para Cast, de Armin para Lysandre, de Alexy para...

– Kentin, você fará dupla com a Shiemi. Quem sabe assim você consiga passar seus dons para essa pequena desastrada. – A professora sorriu com graça, mas eu não consegui fazer outra coisa a não ser arregalar meus já grandes olhos. Eu iria fazer dupla com Kentin? Não acredito! A minha felicidade logo deu lugar a preocupação. Será que ele iria topar?

Olhei para o fundo, onde ele costumava ficar e não o vi. “Só pode ter fugido da aula”. Assim que virei para frente, suspirando, uma voz me assustou.

– Oi. – Era Kentin. Ele estava do meu lado, com uma pá e dois pares de luvas. Fiquei sem reação por um instante, até que ele perguntou, se mostrando desconfortável. – Vamos fazer logo esse trabalho?

– Ah é, claro, o trabalho. – Ri constrangida. – Vamos.

Começamos a lidar com um canteiro de alface, nossa escola estava empenhada nesse assunto de sustentabilidade. Iríamos fazer uma horta para o próprio consumo dos alunos. Por incrível que pareça, eu consegui abrir um pacote de sementes sem derrubar tudo no chão.

– Parabéns! – Kentin finalmente disse algo, assim que cobri as sementes com terra. – Achei que não conseguiria fazer isso.

– Você está brincando comigo ou tentando fazer com que eu me sinta mal?

Eu mesma me surpreendi com a pergunta que fiz. Foi algo tão involuntário que só parei para pensar no que disse depois que as palavras já tinham causado uma cara feia em Kentin. Suspirei.

– Desculpa, não queria deixar o clima mais chato do que já está. – Droga, será que eu não consigo mais fingir que está tudo bem? O que está acontecendo comigo?

– Olha, Shiemi... Eu sei que pareceu que eu não gosto de você – “E tinha como parecer o contrário?” – e eu nunca quis que você se aproximasse de mim. Não novamente. – Ele suspirou pesadamente. – Desculpa. Acho que fui muito estúpido com você. – “Acha?” – Não quero que continue assim. Podemos... Não sei... Ser... – Ele hesitava. – Amigos?