Absence escrita por Thalita Moraes


Capítulo 40
Flashback 02


Notas iniciais do capítulo

Acho que isso deve ser bom para alguns de vocês. Os capítulos vão aumentar um pouco.
Decidi aumentar um pouco mais os capítulos, porque aqueles capítulos de 700 palavras estava começando a ficar cada vez menores para mim. Era muita pouca palavra para o tanto que eu queria escrever.

Por exemplo, eu estava sem inspiração para esse capítulo, mas eu consegui dobrar a quantia de palavras que eu costumava escrever.

Consequentemente, a espera entre os capítulos será um pouco maior.



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Flashback 02

Enquanto sentava-se na cozinha quente com Spetto-san, tomando um chá e assando um bolo no forno à lenha, Lucy sentiu-se como uma criança novamente. Lembrou-se daquela vez que passara tempo o suficiente na cozinha para sujar-se ao máximo, enquanto tentava fazer um oniguiri para seu pai. Achara que seu pai ficaria feliz, mas o presente não foi recebido com o mesmo carinho que foi dado. E enquanto chorava baixinho na porta, Spetto-san surgiu para seu conforto.

Lucy sempre pôde contar com Spetto-san para lhe confortar. Naquela época de inocência, longe de seu pai e de sua mãe, ela pôde chamar Spetto-san de família e contava-lhe tudo. E agora, quando podia podia se dar ao prazer de sentar-se à cozinha com Spetto-san, sem ter de se preocupar com o que seu pai iria achar de estar protelando suas atividades, Lucy se sentia melhor. Apesar de ainda estar com o rosado preso em sua mente.

Spetto-san tinha até oferecido um quarto para Lucy ficar enquanto estivesse trabalhando na missão.

Ah, se aquele momento pudesse durar. Se ao menos, Lucy pudesse ficar ali naquela vila calma — e mesmo que não fosse calma, ela a faria ficar calma — sem ter que se preocupar voltar para ver as duas únicas pessoas das quais não queria ver tão cedo. No entanto, ela sabia que, em breve, quando terminasse a missão que veio fazer, teria de voltar para a guilda.

Enquanto isso, elas conversavam e colocavam o papo em dia.

— Esse Natsu parece ser uma peça. — Spetto-san disse entre uma risada.

— Ele realmente é. — Lucy disse, rindo mais um pouco. Então pararam. E Spetto-san olhou profundamente nos olhos de Lucy, quase como se pudesse ver a mágoa acumulada.

— É tão bom poder te ver novamente. — Ela disse. — Apesar desses seus olhos. Você me parece mais triste do que aquele dia em que perdera sua boneca no porão.

Como se Natsu pudesse ser comparado com uma boneca perdida. Lucy, acabando por terminar o assunto ali, enquanto pensava novamente naquilo que a incomodava. Então, ela acabou distraindo-se e desconcentrou-se. A verdadeira tristeza escondida em seus olhos se revelaram.

— Oh, meu anjo. Quem fez isso com você? — Spetto-san disse. Lucy olhou para ela um tanto confusa. — Quem quebrou seu coração?

— Ninguém quebrou meu coração. — Lucy disse, descontrolando-se e deixando a tristeza sair em sua voz.

— Não é o que seus olhos me dizem. — Spetto-san disse. Lucy fechou os olhos e virou-os para o outro lado. Ela não queria dizer nada. — Vamos, me diga. Você sabe que pode me dizer o que quiser.

Lucy olhou para Spetto-san considerando a proposta. “Será que... Se eu finalmente colocar isso para fora, se eu finalmente contar isso para alguém, será que eu consigo me livrar disso?” Lucy pensou consigo mesma. Então, respirou fundo e contou num suspiro:

— Bom, tem esse cara...

— Tem sempre um cara.

— É, bom... Recentemente eu descobri que gosto dele.

Spetto-san escorou seu braço enquanto olhava para Lucy com um sorriso. “Mas como essa menina cresceu...”

— Mas ultimamente, ele tem andado muito com uma amiga de infância dele. E não tem dado muita atenção a mim... — Lucy disse, apertando a xícara de chá de leve por nervosismo.

— E você contou a ele como se sente?

— Não, mas...

— E como espera que ele lhe dê a atenção que deseja se você não toma a iniciativa? — Spetto-san disse, num conselho. Um chiado chamou a atenção das duas, e então Spetto-san levantou-se para preparar a água. — Acho que você deveria dizer a ele.

Esse não era o problema. O problema andava sempre com ele e tinha cabelo branco e olhos azuis. Andava sempre com um sorriso e toda a guilda a amava. Lucy não queria odiá-la, não queria sentir aquilo por Lisanna, mas aquele sentimento de raiva apenas se desenvolvera cada vez mais e mais a cada momento em que via os dois juntos, num estranho sentimento de possessão.

— Esse não é o problema... — Lucy murmurou num tom que Spetto-san não ouviu. E aperto um pouco mais forte a xícara, dessa vez com as duas mãos. Sua franja caiu sob seus olhos e sua mente foi sombria o suficiente para fazer-se lembrar da imagem dos dois juntos mais uma vez.

— Porque, talvez, se ele souber o que você sente, talvez, ele possa lhe dar atenção.

Esse não era o problema. Lucy não queria que ele lhe desse aquele tipo de atenção. Ela queria que Natsu a visse, a chamasse e a visitasse da mesma maneira que fazia com Lisanna o tempo todo. Da mesma maneira que ele costumava fazer antes. Antes de Lisanna chegar e estragar tudo.

Porque a Lisanna estragou tudo.

E nessa linha de pensamento, um pouco descontrolada, Lucy apertou a xícara forte demais. O vidro rachou e quebrou-se na mão de Lucy. O restinho de chá que ainda havia dentro do copo espalhou-se juntamente com os cacos de vidro pela mesa.

— Desculpe. — Lucy disse, enquanto balançava a mão molhada.

— Não pense nisso. Você se machucou? — Spetto-san disse, ignorando a sujeira da mesa, pegando a mão esquerda de Lucy para analisar. Havia um fileto vermelho na palma de sua mão. Uma marca vermelha bem no meio da mão esquerda. Parecia ser uma ferida grande. — Isso vai deixar marca.

Spetto-san correu para pegar um pedaço de papel toalha, passando pela palma da mão de Lucy, secando-a, enxugando o sangue.

— Sorte que foi um corte pequeno. Vá ao banheiro e lave essa mão que eu cuido disso aqui. — Spetto-san disse e Lucy levantou-se e foi ao banheiro.

Ao que Lucy levou a mão direita para abrir a torneira, um choque passou por seus dedos, mais precisamente entre o mindinho e o anular. Uma dor aguda no meio da palma de sua mão. Lucy virou a palma de sua mão para si, como um reflexo e vira um pedaço de vidro triangular de dois centímetros de largura, cravado na palma de sua mão, enterrado, cortando bem encima da linha do coração. Aquilo, com certeza, iria deixar uma marca.

Então abriu a torneira com a mão esquerda e enfiou ambas as mãos debaixo d'água. Puxou o pedaço de vidro com força, sua mão inteira ardeu. Colocou o pedaço de vidro metade avermelhado ao lado da torneira e começou a esfregar sua mão, numa tentativa de limpar o sangue.

Ela tinha ganhado uma nova linha.

O sangue deixou de escorrer, mas mover sua mão tinha se tornado difícil. Os dedos ardiam e o machucado doía.

Perguntou para Spetto-san do banheiro:

— Você tem algum band-aid ou algo do tipo?

— Tenho, está na segunda gaveta do armário do banheiro. — Ela disse, um pouco distraída para se tocar. Lucy abriu a gaveta e encontrou um band-aid. Começou a preparar seu curativo, quando um vulto na janela a assusta. Parou para procurar o que tinha passado por ali e distraiu-se tanto que nem ouviu quando Spetto-san perguntou: — Porque, ficou feio?

Quando não ouviu a resposta de Lucy, Spetto-san saiu da cozinha e abriu a porta do banheiro, chamando-a. Assustou-se com o vidro manchado em sangue ao lado da pia e as gotas vermelhas caídas na pia.

— O que aconteceu? — Ela disse antes mesmo de processar o que estava vendo. — Você se cortou?

— Sim, mas não foi muito profundo. — Lucy disse enquanto Spetto-san puxava sua mão e a livrava da faixa.

— Não foi muito profundo? Isso aqui vai deixar uma bela cicatriz e você diz que não foi muito profundo? — Spetto-san disse e puxou a gaveta. Tudo bem que ela estava exagerando, não foi tão profundo. Lucy lembrava isso sobre ela, ela era muito exagerada. — Vamos enfaixar isso antes que comece a sangrar mais ainda.

Spetto-san colocou um algodão úmido encima da ferida e passou a faixa por volta da mão, acabando por cobrir a marca da Fairy Tail. Ela sentiu-se ruim quando viu que a marca sumiu por debaixo das faixas, mas ao mesmo tempo ficou aliviada. A cada vez que olhava para sua mão e via a marca da Fairy Tail, lembrava-se de duas pessoas que não queria se lembrar. Talvez não fosse uma completa má ideia de mantê-la escondida por um tempo.

— Parece que tem alguma coisa queimando. — Lucy disse.

— Meu Deus, o bolo! — Spetto-san disse, saindo em disparada para a cozinha. Enquanto isso, Lucy observava a faixa em sua mão. Era mais sutil do que aquela tatuagem rosa, lembrando-a constantemente que ela tinha um lugar para onde voltar. Talvez ela deixasse daquela forma por mais algum tempo.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo sai dia cinco. Mais precisamente, meia noite.